quinta-feira, 15 de abril de 2010
ROQUE ENROLE
O ROQUE E A AMIGA
– Roque! – gritou a amiga.
– Que foi? – perguntou Roque, continuando a martelar o salto da bota.
– Chegue cá, ‘tá bem?
Roque olhou o salto da bota, experimentou a sua solidez e, ao pé coxinho, arrastou-se até à sala.
– Que há?
A amiga, sentada no sofá, tinha à sua frente um saco cheio de meadas de lã.
– Vou fazer um pull-over para lhe oferecer no dia dos anos.
– Eu já não faço anos – resmungou Roque.
– Ora, deixe-se disso: entre nós não são precisas essas coisas. O que eu queria, era que você me ajudasse a dobar a lã.
Roque mexeu com os dedos no pé descalço.
– Mas eu tenho ali umas cassettes…
– As cassettes não são para os seus anos e podem esperar dez minutos – declarou, peremptória, a amiga.
– Mas é que eu não sei dobar lã.
– Qualquer pessoa sabe, porque não tem nada que saber.
Roque olhou tristemente a lã. Pegou-lhe e declarou:
– Não consigo descobrir o fio à meada.
– Está aqui a ponta, Roque. Eu agora seguro a meada assim – disse a amiga, executando – e você vai fazendo um novelo.
– Ná, não sou capaz. E tenho ali umas cassettes…
– Claro que é capaz – disse a amiga sem pachorra… – Faça como eu lhe digo, Roque: enrole.
(Pão com Manteiga, a primeira colecção de textos do programa da Rádio Comercial, numa edição de 1980. A geração versada no post anterior também cresceu a ouvir estas coisas.)
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1 comentário:
Tá d'mais!!!
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