quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A RESIDÊNCIA ESPANHOLA, 9


O mau tempo que se fez sentir em Portugal também chegou cá, forte e feio. No sábado à noite, pouco tempo depois de ter colocado os últimos posts, um temporal desabou sobre Barcelona e tudo à volta, fazendo de Can Serrat uma variante de “o monte dos vendavais”. Formou-se uma cascata a poucos metros de casa, que arrastou lama e detritos vindos da montanha, tornando os acessos muito difíceis. Um dos carros quase ia por água abaixo, não fora o travão providencial de um tronco de árvore, também arrastado pela corrente. Uma casa com duzentos anos (as partes mais antigas têm quatrocentos…) não fica indiferente à passagem de uma tempestade destas, mas palavra que nunca tinha sentido as paredes e o chão a tremerem com o ribombar dos trovões. As luzes foram abaixo a meio da noite e o modem “rebentou”, mantendo-nos desligados do mundo até ontem, a tempo de saber da notícia dos mineiros resgatados no Chile. Não têm sido uns dias fáceis, garanto, e pode dizer-se que, por aqui, os humores também andaram bastante nublados. Mas no domingo à tarde, no meio da desolação geral, o Marcel e a Karine apareceram de surpresa, contrariando o que é habitual num dia da semana regido pela regra do “um por todos e cada um por si”, no que toca à alimentação. “Para compensar”, disseram, uma magnífica tortilha de batata veio para a mesa, fazendo-me recuar até Braga e ao final dos anos 1970, época em que me lembro de comer as melhores tortilhas da minha vida, graças a uma vizinha galega que morava no apartamento ao lado. Foi um reencontro inesquecível.

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