segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

AUTORES, ESCOLAS E ETIQUETA


Não escolhi a palavra “etiqueta” apenas porque ficava bem no título. Escolhi-a porque é (também) disso que se trata quando um autor - escritor ou ilustrador - visita uma escola. Tenho constatado, com grande espanto e possível ingenuidade, a falta de qualquer noção de cortesia por parte de muitos professores, quantas vezes a pura e simples má educação. O último episódio passou-se aqui ao lado, em Espanha, durante a residência da DGLB. Não, não é preciso fanfarra nem passadeira vermelha. Bastava que os professores fizessem coisas tão simples como cumprimentar à chegada e à despedida (normalmente há só uma “vítima” que o faz, os outros escondem-se), que não bichanassem em grupinhos no decurso das sessões (tenho sempre a sensação de que falam da minha roupa), ou que não me deixassem plantada à frente dos meninos enquanto vão “só ali tomar um cafezinho” (também acontece). Há notáveis e honrosas excepções a esta vaga de indiferença generalizada? Claro que sim, e é isso que faz continuar: a expectativa de a próxima visita a uma escola não significar o papel de hamster adestrado, rodando, rodando o melhor possível frente ao tirocínio das perguntas do costume: “Quando é que decidiu ser escritora?”, “Quantos livros tem?”, “Em que é que se inspira para escrever?”, etc, etc. Desculpem, mas já não há paciência.

Por estas e por outras é que também subscrevi o documento que estabelece condições para a marcação de visitas de autor (para o ano lectivo 2011/2012), em boa hora idealizado por Alice Vieira, Margarida Fonseca Santos, Maria João Lopo de Carvalho, Luísa Fortes da Cunha e Cristina Carvalho. São sete os pontos considerados: marcação da visita, preparação da visita, despesas com transportes, despesa com alojamento e refeições, número de sessões, som e cachet. Até ontem à noite, eram 39 os subscritores da ideia. Os ilustradores não ficaram de fora. Segue-se a lista de nomes:

Alice Vieira
Ana Nobre de Gusmão
Ana Ramalhete
Anabela Dias (ilustradora)
André Letria (ilustrador)
António Mota
Armindo Reis
Carla Maia de Almeida
Carla Nazareth (ilustradora)
Catarina Fonseca
Cristina Carvalho
Danuta Wojciechowska (ilustradora)
David Machado
Elsa Serra
Fátima Effe
Fernando Carvalho
Francisco José Viegas
Gabriela Sotto Mayor (ilustradora)
Inês do Carmo (ilustradora)
Isabel Minhós Martins
Isabel Zambujal
João Manuel Ribeiro
Jorge Ribeiro
José Fanha
José Vaz
Leonor Xavier
Luísa Fortes da Cunha
Lurdes Breda
Margarida Fonseca Santos
Maria do Rosário Pedreira (escritora e editora)
Maria João Lopo de Carvalho
Miguel Gabriel (ilustrador)
Patrícia Alves (ilustradora)
Pedro Medina Ribeiro
Possidónio Cachapa
Richard Câmara (ilustrador)
Rita Vilela
Rosário Alçada Araújo
Sara Monteiro

18 comentários:

Celeste Simões disse...

Olá Carla!

Ainda bem que distingue as pessoas dentro da minha classe. ;-) É que realmente há de tudo, como em todas as outras profissões, e não podemos ser todos/as "metidos/as no mesmo saco". ;-)
Quanto às despesas e cachets, é claro que concordo, porque todos/as temos de sobreviver de alguma forma. Contudo, por favor, não se esqueçam que as escolas não têm orçamento para estas actividades (ou quase nenhumas) e que o principal são os/as alunos/as e são eles e elas que ganham com a vossa presença nas escolas. ;-)
Bj,
Celeste

angelina maria pereira disse...

Como concordo e...aplaudo!!

Carla Maia de Almeida disse...

Celeste, a questão aqui não é distinguir as pessoas boas das más, muito menos colocar autores vs. professores. Espero que isso não passe pela cabeça de ninguém. Mas os exemplos que dou não são casos isolados, a nem sequer são os piores. Acontecem demasiadas vezes, é tudo. Daí o descontentamento generalizado. Precisamente por sabermos - todos os que ainda se interessam - que "o principal são os/as alunos/as" é que surgiu esta proposta. Oxalá que haja mais gente a subscrever, porque os meios acabam por aparecer.
Todos temos de sobreviver? Permita-me que discorde. Todos temos de VIVER de acordo com os nossos valores, que certamente não excluem os valores materiais, posto que não somos faquires nem vivemos da caridade alheia. O argumento de que as escolas não têm orçamento é que está a minar o pressuposto de que escrever é um ofício como outro qualquer! Que diabo, se eu não entro numa sapataria e peço para me oferecerem umas botas, que bem preciso, por que diabo é que as escolas partem do princípio que é normal e salutar que eu ofereça o meu tempo para, na maior parte das vezes, acabar por perder tempo?
Na verdade, o argumento da Celeste vale para ambas as partes, essa é que é essa...

Maria José Vitorino disse...

Olá Carla! Será sempre salutar conseguir normas de convivência, respeito mútuo e gentileza, melhores e generalizadas ao maior universo possível de pessoas - professores, autores de todo o tipo, gente enfim envolvida nestas iniciativas, que se felizmente já não são pontuais, ainda não se realizam com o profissionalismo (e pelos vistos a urbanidade) que se requer. Por isso, e para que possa divulgar correctamente as propostas que refere, peço-lhe que indique o texto completo subscrito por vós. Muito grata.

Anónimo disse...

Concordo com o primeiro comentário: ainda bem que distingue os professores! Acho muito sobranceira esta sua posição e a dos outros autores que assinaram esse manifesto! A senhora e os seus colegas, do alto da vossa torre de marfim, já pararam um pouco para pensar que são maioritariamente os professores e as bibliotecas que divulgam os vossos livros e as vossas ilustrações? Acaso pararam para pensar que são as escolas, sem meios humanos e materiais, que recorrem a feiras do livro e dão muitas das suas horas para os vender? Não se pode tomar uma posição destas levianamente. Penso que começarão a visitar muito poucas escolas porque não há orçamento e as bibliotecas e os professores fazem verdadeiras acrobacias! Ora esta!...
E se os professores fizessem também um manifesto contra os autores antipáticos?... O que lhe parece?

Ana Margarida Antunes, professora de Língua Portuguesa e elemento da equipa de uma biblioteca escolar que não divulga a escola para não a vincular nem envolver numa opinião pessoal.

Elisabete Fiel disse...

Olá!

Não sei se ajuda...mas tenho uma espécie de protocolo para cada convidado.

1. Envio um mail ou faço um contacto telefónico para manifestar interesse. Aqui, justifico o interesse e questiono as condições: transportes, almoços e jantares, e o pagamento (para ver se podemos...)
2. No caso de aceitarem...pergunto: dietas especiais, na escola mobilizo meio mundo...
3. Quando o pagamento é mais caro...recorremos a parcerias...
4. Mando vir livros para venda e para leitura...
5. Negoceio uma pequena lembrança para o/a convidado/a com a Direcção.
6. As obras são lidas. Há adaptações a teatro, leitura expressiva ou seja lá o que for...com a concordância do autor.
7. Uma semana antes, envio as questões aos convidados. Pode haver rectificações se for caso disso...(nunca houve)
8. Uma semana antes, marco a sala.
9.Uma das turmas é responsável por fazer a decoração da sala, com o máximo de dignidade...pois é assim que recebemos em casa...
10. No dia, dois alunos recebem o convidado à porta da Escola, eu recebo na Biblioteca e acompanho o convidado nas sessões, modero, faço as honras da casa...pois, é a minha «casa» que está em causa, neste caso a escola. Ficava triste se as pessoas não gostassem de estar ali...(A direcção é representada)
11. As turmas que assistem são devidamente preparadas e consciencializadas que está em causa a «nossa pele» e estamos a receber convidados...Felizmente tem corrido tudo bem!
12. Decorre a sessão, sempre a aborrotar...pois o nº de solicitações dos alunos é sempre superior...só permito mais pessoas com o consentimento do convidado. (Rezo para que tudo corra bem...)
13. Há sessões de autografos.
14. Combinamos o que se publica.
15. Os alunos fazem questão em perguntar se o convidado ficou satisfeito com a hospitalidade campomaiorense...


Elisabete Fiel (Agrupamento de Escolas de Campo Maior/ Escola Secundária de Campo Maior)

Prof. Dália Santos disse...

Olá Carla,
Consigo compreender perfeitamente a posição dos autores que assinaram o documento e concordo em absoluto com o pedido feito pela Maria José Vitorino: era bom que divulgasse o texto integral para não melindrar profissionais que tentam desempenhar as suas funções com brio e rigor, talvez assim a colega Ana Margarida Antunes não tivesse escrito o comentário nos termos em que o fez.
Acredito que as situações que refere sejam, felizmente, excepções que mancham o bom trabalho que se vai fazendo nas escolas aquando da visita de profissionais ligados ao circuito do livro. Há comentários feitos ao seu post que documentam boas práticas e o cuidado que é suposto ter... naturalmente!
Não vou referir-me ao modo como trabalho e como estou, por exemplo, a preparar a visita de duas autoras, por coincidência signatárias do documento, Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela, no dia 7 de Janeiro de 2011, no Centro Escolar São Pedro (Agrupamento de Escolas Santa Iria - Tomar), mas asseguro-lhe que serão recebidas como merecem e que tudo está a ser preparado, como sempre, com total dedicação,profissionalismo, rigor, carinho e... etiqueta!
Gostaria mesmo que divulgasse o texto do documento até para que, quem não recebe assim, "aprenda" que é importante fazê-lo e alterar práticas.
Bem haja!
Já agora, desejo-lhe Boas Festas e que 2011 lhe traga muita inspiração para novos livros... estamos à espera! :)

angelina maria pereira disse...

Para que não restem dúvidas, o meu comentário anterior refere-se ao post da Carla!

Anónimo disse...

Ó minha cara autora, haja tento na mão e no pensamento! Valha-me Deus ou a energia universal!... Uma pessoa tem que ler cada coisa!
Os seus colegas autores sabem que divulgou os seus nomes nesta sua insultuosa publicação?!... Não me parece bem: não devia divulgar nomes, já que não publica o documento que assinaram todos à laia de conluio contra as escolas e os professores, que, cada vez mais, têm de "ter as costas largas", bem largas!
Haja respeito pelo trabalho que se faz. Claro que há maus professores, como há maus profissionais em todos os ramos (não sendo, obviamente, os autores uma excepção), mas não pode assim sujeitar toda uma classe a um enxovalho destes e a tão negativa imagem. Olhe que se os professores resolverem deixar de organizar estas visitas ou escolherem outros livros para trabalhar que não os dos autores que assinam o tal documento, parece-me que vocês estarão em maus lençois... haja respeito! Exijo respeito, muito respeito até pelos meus cabelos brancos, que já vão sendo muitos.
Lamento imenso não divulgar a minha identificação, como muito gostaria e como é de carácter, mas fiquei a pensar no que escreveu a minha colega que não identifica a escola... ela tem razão: não posso vincular uma escola a uma opinião que, enquanto professor e cidadão, tenho o direito de publicar. Digo-lhe apenas que sou um professor bibliotecário que já trabalhou, com muita dedicação, muitas e muitas vezes, os vossos livros: refiro-me aos que assinam a petição, o lamento, o manifesto ou lá o que isso seja! Tenho já cabelos brancos que me dão o estatuto de me indignar, chamo-me Paulo e vou identificar-me no seu e-mail, se ele estiver disponível neste blogue.

Carla Maia de Almeida disse...

Pelo teor de alguns comentários (e todos foram publicados, até agora), parece-me que alguns leitores deste blogue – ocasionais ou regulares, pouco importa – estão a fazer uma tempestade num copo de água, tendo em conta que desconhecem a proposta em causa.

Não me compete divulgar a totalidade do documento, tanto mais que este se encontra ainda em circulação; mas, para quem trabalha com o profissionalismo, o empenho e o rigor necessários à promoção dos livros e da leitura, posso garantir que não haverá surpresas. Não se pretendem dietas especiais, decoração exímia das salas ou perguntas enviadas previamente; apenas um acordo de cooperação e protocolo entre escolas e autores, que contribua para os mesmos fins: o aproveitamento do tempo e de meios cada vez mais escassos, e melhores resultados nesta actividade que nos envolve a todos – autores, professores, bibliotecários e alunos (a ordem é arbitrária).

Espanta-me a atitude de desconfiança prévia e, mais ainda, de retaliação e prepotência evidenciada em alguns comentários. Sempre ouvi dizer que “quem não deve, não teme”. Os professores são uma classe profissional fortíssima, com grande espírito corporativo (espero que também não me censurem por enunciar o que toda a gente sabe), capaz de contribuir massivamente para greves gerais e derrubar ministros. Óptimo. Cresci no meio de pais professores e sei o que a casa gasta, para o melhor e para o pior. Acho muito bem que lutem por direitos (e deveres), mas censurar a priori uma proposta que se rege por idênticos princípios é, no mínimo, incoerente.

Li e reli o post que escrevi e não vejo alguma “sobranceria”, “leviandade”, “insulto”, “enxovalho” ou “falta de respeito”. Para quem se queira dar ao trabalho, sugiro que passem os olhos pela etiqueta “Agenda”, em que descrevo algumas das boas experiências que tenho tido nas escolas – e também da frustração que existe quando essa experiência se revela medíocre.

Last but not least: sem viver na “vertigem da actualidade”, este blogue tem um carácter noticioso, e todos os assuntos respeitantes aos livros para crianças, à escrita, à literatura e à promoção da leitura merecem, à partida, o meu interesse. Daí a divulgação deste assunto. Não gosto de guerrilhas nem de polémicas – perde-se demasiado tempo, tempo que pode ser aproveitado para pensar, agir e comunicar com outra largueza de vistas. Constatar que este post bateu os recordes de audiência deixa-me ligeiramente triste, ligeiramente perplexa, mas não vou ligar muito. Esta resposta serve para os comentários antecedentes e para outros que se seguirem. Tal como disse, perde-se demasiado tempo.

Teresa Guerreiro disse...

Boa noite. Não entremos em discussões estéreis de quem olha mais para o seu umbigo do que para a "big picture". Compreendo perfeitamente a posição dos escritores e ilustradores e subscrevo o documento que foi elaborado. Não me parece que haja aqui alguma sobranceria ou falta de respeito, apenas o ensejo de dignificar um labor que merece todo o respeito.

Catarina Araújo disse...

Boa tarde,
gostava de saber como poderei ter acesso ao tal documento? Como autora que também visita escolas todos os anos, gostava de ler e caso concordasse com as condições, suscrever.
Obrigada

Anónimo disse...

Há uma grande injustiça da parte dos autores quando se esqueçem que o seu cachet já está incluído:
* no estudo ( logo divulgação ) das suas obras já que por norma uma delas lida e trabalhada na sala de aula;
* há sempre a feira de autor
* divulgação na comunidade educativa da vida e obra do autor em causa
* e muitas horas de bastidores...
A escola é um centro difusor de leitura e de conhecimento e não uma livraria . Não tendo os alunos ordenado penso que a feira do livro de autor, o estudo da obra e a criatividade produtiva que este implica são já uma boa paga... Não concordo com cachets...Até considero deselegante ... O autor paga quanto aos alunos e professores que reescreveram, contaram, recriaram dramatizaram compraram? Um autografo pode custar mais de 10 euros a um aluno... NAO HÀ NADA MELHOR QUE A GENEROSIDADE E QUEM DÁ RECEBE

Anónimo disse...

A minha alma está parva! então a feira do autor, a divulgação do autor e da obra , a reescrita, a reilustração, a pesquisa a recriaçºão não são enough para cachet? Uma escola não é nenhuma livraria... Que falta de generosidade! Um consumismo encoberto... Quem dá recebe...o que os autores querem é dinheiro e não o prazer de sentirem as suas obra cheiradas folheadas comentadas nem que seja para dizer não gosto...ou faria diferente ou foi lindo adorei. QUEM SEMEIA COLHE : umas vezes dinheiro outas vezes afectos

Anónimo disse...

A escola já paga um bom cachet com a feira do autor, o estudo da obra, a divulgação do autor e da obra.... quando recria, reescreve, reilustra... A escola não é uma Livraria e quem dá recebe sempre talvez nao em cachet mas com afecto e retirada da obra da escuridão do desconhecimento. A vinda de um autor à escola está paga com o trabalho prévio. DISCORDO E decepciona-me esta coisa do cachet, dos transportes...A crise retira a generosidade e a vontade de "instruir"

Elsa Vasconcelos disse...

E que dizer de um autor que, uma hora e trinta minutos antes da sessão, pede a alguém amigo que telefone a dizer que não pode ir?!? É a total falta de respeito pelos leitores e por todo o trabalho, dedicação e investimento (temporal e afectivo) de todos aqueles que se empenharam, ao longo de vários meses, a preparar a sessão. Sim, também temos motivos para a indignação. Esta cena inqualificável sucedeu ontem numa escola secundária do nosso país.

Elsa Vasconcelos disse...

Já agora, posso acrescentar que o autor de tão indigna proeza foi o Prémio Saramago 2009 João Tordo. Perdi a vontade de convidar quem quer que seja para ir às BE que coordeno. Também é verdade que é a 1ª vez que tal sucede. Isto não se faz...

Carla Maia de Almeida disse...

Cara Elsa, compreendo a sua indignação mas, como diz, essas situações não são comuns (quero crer). E seria uma pena que desistisse do seu trabalho e destas partilhas tão importantes por causa de uma excepção. Deixe passar... Um abraço. :-)