A atribuição de um prémio a autores de literatura infanto-juvenil (LIJ) deve dar-nos motivos para congratulações, mas é bom que não percamos a capacidade de pensar, para poder fazer cada vez melhor. A Andreia Brites já colocou a questão n'O Bicho dos Livros, ao perguntar “se o autor de um álbum é tanto aquele que escreve como aquele que ilustra”. Estamos perante o problema da interpretação dos textos, no sentido lato de “texto”, que é imanente e estrutural à LIJ.
Ao premiar Afonso Cruz, simultaneamente autor do texto, da ilustração (e do conceito) de A Contradição Humana, a Sociedade Portuguesa de Autores/RTP acrescentou ainda mais confusão aos critérios estabelecidos o ano passado (sobre isto, escrevi aqui e aqui). Se, por um lado, houve muito mais coesão global nas três obras concorrentes, todas de qualidade indubitável (O Livro dos Quintais, Pinguim e A Contradição Humana); por outro, a distinção de Afonso Cruz enquanto autor do texto – porque é o texto que a SPA distingue, esquecendo totalmente os ilustradores – parece-me algo especiosa.
Se há aqui livro que não pode ser minimamente avaliado à revelia da sua componente plástica – e refiro-me à ilustração, ao grafismo, à tipografia e a todos os elementos peritextuais –, esse livro é A Contradição Humana. Se queriam um livro de autor, ele aí está, puríssimo e original. Mas voltamos a ter, por razões diferentes das do ano passado, condições de partida que não são equivalentes para as três obras. O Livro dos Quintais, com texto de Isabel Minhós Martins e ilustrações de Bernardo Carvalho, é um picture book (ou álbum). Pinguim, escrito por António Mota e ilustrado por Alberto Faria é, segundo a designação habitualmente adoptada, um livro “profusamente ilustrado”. Com um público-alvo impossível de balizar (outra marca da LIJ), A Contradição Humana é também um picture book; mas, mais do que em qualquer outro caso, apetece perguntar: quem é que a SPA está a premiar, o autor do texto ou da ilustração? A única forma de resolver isto é afinar ainda mais os critérios de selecção e atribuir um prémio (ou dividi-lo) a ambos, escritor e ilustrador, trazendo mais paridade e legitimação cultural a processos de autoria partilhados – porque é disso que falamos quando falamos de picture books.
Ao premiar Afonso Cruz, simultaneamente autor do texto, da ilustração (e do conceito) de A Contradição Humana, a Sociedade Portuguesa de Autores/RTP acrescentou ainda mais confusão aos critérios estabelecidos o ano passado (sobre isto, escrevi aqui e aqui). Se, por um lado, houve muito mais coesão global nas três obras concorrentes, todas de qualidade indubitável (O Livro dos Quintais, Pinguim e A Contradição Humana); por outro, a distinção de Afonso Cruz enquanto autor do texto – porque é o texto que a SPA distingue, esquecendo totalmente os ilustradores – parece-me algo especiosa.
Se há aqui livro que não pode ser minimamente avaliado à revelia da sua componente plástica – e refiro-me à ilustração, ao grafismo, à tipografia e a todos os elementos peritextuais –, esse livro é A Contradição Humana. Se queriam um livro de autor, ele aí está, puríssimo e original. Mas voltamos a ter, por razões diferentes das do ano passado, condições de partida que não são equivalentes para as três obras. O Livro dos Quintais, com texto de Isabel Minhós Martins e ilustrações de Bernardo Carvalho, é um picture book (ou álbum). Pinguim, escrito por António Mota e ilustrado por Alberto Faria é, segundo a designação habitualmente adoptada, um livro “profusamente ilustrado”. Com um público-alvo impossível de balizar (outra marca da LIJ), A Contradição Humana é também um picture book; mas, mais do que em qualquer outro caso, apetece perguntar: quem é que a SPA está a premiar, o autor do texto ou da ilustração? A única forma de resolver isto é afinar ainda mais os critérios de selecção e atribuir um prémio (ou dividi-lo) a ambos, escritor e ilustrador, trazendo mais paridade e legitimação cultural a processos de autoria partilhados – porque é disso que falamos quando falamos de picture books.
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