domingo, 6 de março de 2011

A MINHA ESCOLA


O primeiro número da Música & Som foi para as bancas a 11 de Fevereiro de 1977. Conseguiu o prodígio gráfico-ideológico de juntar, na mesma capa, os Abba com os Pink Floyd, e Bob Dylan com Art Sullivan. Nas semanas seguintes, houve protestos contra a inclusão do «principezinho» belga que derretia corações com a sua Petite Demoiselle, mas a revista contestava, na secção de cartas dos leitores: «Não faças o sacrifício de ler Art Sullivan. Respeitamos e compreendemos a tua posição. Só que há leitores (e não são poucos) que exigem o Art. Que fazer?...». Pergunta retórica. Durante os dez anos seguintes, a Música & Som fez muito por diferentes gerações de melómanos, publicando milhares de artigos, crónicas, reportagens, entrevistas, letras de canções, posters, críticas de discos e tudo o que interessasse a um «magazine musical». Muito rock e pop, algum jazz, alguma clássica. Os tops foram oscilando, tal como o preço do papel, e o tempo passou com o seu cortejo de preferências. As capas de Joan Baez deram lugar a Kim Wilde; os Van der Graaf Generator cederam passagem aos Bauhaus; os Tantra abriram caminho para os Heróis do Mar. Mas quando uma leitora de Lisboa escreveu a dizer que «gostaria que no ano de 83 publicassem um poster do Marco Paulo», a Música & Som respondeu, sempre tu cá, tu lá: «Olha, Fátima, temos de confessar que, de facto, não está nos nossos planos publicar qualquer poster do Marco Paulo.» Até 1987, ano em que fechou, os seguidores do rock’n’roll agradeceram a frontalidade.

(Texto publicado na edição de 6 de Março da Notícias Magazine, revista de domingo no DN e JN, na secção "Nostalgia".)

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