sábado, 5 de março de 2011

UM PINGUIM NO QUINTAL



UM CÃO CHAMADO PINGUIM


António Mota, que comemorou recentemente 30 anos de carreira literária, sabe como poetizar o registo evocativo sem cair numa nostalgia vã e pomposa. O tempo das braseiras de cobre, da roupa costurada em casa, dos lanches de pão com marmelada, tudo isso faz parte do mundo de Carlitos (uma piscadela de olho ao protagonista da série Conta-me Como Foi?), que um dia encontra, abandonado numa caixa de sapatos, um cachorro sem patas dianteiras. Não é coisa que se resolva com uns pozinhos de magia, não senhor. Com a ajuda das ilustrações expressivas de Alberto Faria, Pinguim é o exemplo de como se pode narrar uma história simples e comovente (e, pelo meio, ainda fazer o reconto de Corre, Corre, Cabacinha), com a mesma naturalidade com que a vida nos acontece, todos os dias.

Pinguim
António Mota
Ilustrações de Alberto Faria
Gailivro

UMA MANTA DE QUINTAIS

Magnólias em Janeiro, ervilhas em Fevereiro, nêsperas em Maio e sardinhas em Junho. Ao longo de doze meses, oito quintais são observados como se mais nada existisse em redor, numa abordagem que tanto deve ao Almanaque Borda d’Água como aos documentários do National Geographic. Desde o Sr. Catarino, louco por árvores e plantas (homenagem a Fernando Catarino, ex-director do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa?), até às Meninas Lopes, loucas por apanhar sol, não há duas personagens iguais. Fazendo uso da projecção paralelística revelada em livros como O Mundo num Segundo ou As Duas Estradas, aqui desfilam situações quotidianas leves e bem-humoradas, sempre enquadradas sob diferentes ângulos pela ilustração. Em travelling panorâmico, vistas aéreas ou planos fechados sobre um personagem, Bernardo Carvalho proporciona ao leitor uma visão detalhada de oito mundos comunicantes, ampliando o texto de Isabel Minhós Martins. Muito bom.

O Livros dos Quintais
Isabel Minhós Martins
Ilustrações de Bernardo Carvalho
Planeta Tangerina

(Este mês, a edição da LER comemora os cem números e, por isso, não houve lugar para críticas de livros, o que incluiu as três páginas habituais das “Leituras Miúdas”. Estes são textos publicados nas edições 95 e 96, sobre dois dos três livros para crianças que este ano foram seleccionados para os Prémios SPA: Pinguim, de António Mota (texto) e Alberto Faria, e O Livro dos Quintais, de Isabel Minhós Martins (texto) e Bernardo Carvalho (ilustração). No mínimo, concorrência difícil - mas leal - para o vencedor, Afonso Cruz, “autor total” de A Contradição Humana, do qual já falámos aqui. A não perder, no blogue Letra Pequena, o trabalho de Rita Pimenta sobre as três obras. Mas que parêntesis tão longo.)

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