domingo, 26 de junho de 2011

GERAÇÃO KALKITOS


Para muita gente, os Kalkitos foram a invenção mais marcante desde a roda e do café instantâneo. Compravam-se em quiosques e papelarias, a preço módico, e consistiam numa série de figuras decalcáveis numa folha com um cenário previamente desenhado. Havia sempre um pequeno texto sobre o tema, de uma ingenuidade épica e comovente: «Colecciona-os e vive sempre que queiras as mais excitantes aventuras», prometiam. E era verdade. Com a ajuda de um simples lápis ou de uma esferográfica, qualquer menor de idade teve oportunidade de sentar-se à mesa com Os Vikings, voar com O Barão Vermelho, alimentar os Animais Pré-Históricos, entrar na Cidade Troglodita ou participar no Desembarque na Normandia. Não é exagero dizer que os Kalkitos fizeram mais pela cultura geral de uma geração do que muitos decretos-leis do Ministério da Educação. A sua importância foi tal que chega a surpreender a ausência do nome «Kalkitos» na lista dos nomes próprios autorizados pelo Instituto dos Registos e do Notariado; sobretudo depois de darmos caras com «Liliano», «Lindorfo» ou «Libertário», só para citar três exemplos próximos do «K». Francamente, é impossível que alguém nascido antes de 1980 nunca se tenha lembrado de prestar homenagem a uma das mais extraordinárias brincadeiras do século XX tardio, baptizando o seu filho de Kalkitos Manuel, Pedro Kalkitos ou mesmo Sebastião Kalkitos. São nomes capazes de influenciar o destino de qualquer pessoa e até de uma nação inteira – e se o mundo está como está, é só porque falta colocar um Kalkitos no lugar certo.


(Texto publicado na edição de 26 de Junho da Notícias Magazine, revista de domingo do Diário de Notícias e Jornal de Notícias, na secção "Nostalgia".)

1 comentário:

Anónimo disse...

Oh, é verdade! Os Kalkitos!! E sabes que em Itália também havia? Chamavam-se Trasferelli e o Pierpaolo era um grande coleccionador!!
Beijinhos de nós os três.
Paula