segunda-feira, 6 de junho de 2011

SCHOOL DAYS


É impossível não sentir nostalgia do tempo em que as escolas tinham os seus «dias especiais». Não, não nos referimos às visitas das televisões, nem às reportagens sobre treinos de pugilato entre alunos e casos de mães extremosas que ajustam contas com os professores. Nada disso. Falamos daqueles «dias especiais» que alcançavam o seu apogeu no dia do passeio escolar, quando uma trintena de miúdos, incrédulos com tanta fartura, era enfiada numa camioneta ronceira com destino a Bragança, parava para comer sandes no parque de Amarante e exultava com o Mosteiro de Santa Quitéria e a fábrica da Tabopan. O dia do passeio era único e irrepetível, tal como o fim do ano escolar, mas também se celebrava o dia da fotografia de turma. Os pais eram avisados com antecedência, para que na data aprazada enfiassem os miúdos numa farpela conveniente, quase sempre igual à dos outros dias. Havia o retrato de grupo, com os meias-lecas lá à frente e as vigas cá atrás, ao lado dos professores. Havia o retrato solitário junto ao quadro, com o livro aberto ao acaso; e havia o retrato na carteira, o único lugar onde a paridade entre marrões e calaceiros era possível. A carteira era sempre a mesma e os alunos rodavam. Ali, rodeados de livros e cadernos alheios, de lápis em punho e olhar cândido no mistério da objectiva, todos pareciam estudantes exemplares. O ciclo da água? Básico. Os sólidos geométricos? Trivial. O Sistema Solar? Corriqueiro. E até os problemas de aritmética pareciam fáceis: alcatifou-se uma sala com sete metros de comprimento e cinco metros de largura com alcatifa a 200$00 o m2. Quanto se gastou? Não faça contas, leitor. A resposta acertada é: «Stôra, depende se pediu factura ou não.»

(Texto publicado na edição de 5 de Junho da Notícias Magazine, revista de domingo do Diário de Notícias e Jornal de Notícias, na secção "Nostalgia". A fotografia foi tirada na escola primária de Moreira, aldeia do Alto Minho, nos meus áureos sete anos. Como se nota, a blusa é tipicamente seventies.)

2 comentários:

sw disse...

Tão giro! Carla, adorei ler. Mas os dias especiais continuam (ainda) a existir, com os passeios de final de ano aos mosteiros e fábricas, com os recados para casa sobre o dia da fotografia (inclusive as vigas atrás e as meias-lecas à frente, de perna cruzada;-) O meu filho anda no 2º ano e talvez exceptuando a ementa do almoço (agora com douradinhos outrora com carapaus), a escola dele não é tão diferente assim daquela que foi a minha.

Carla Maia de Almeida disse...

Olá, Sofia! Obrigada, fico contente por saber isso... um dia também ele sentirá nostalgia destes dias sentimentais. Um abraço