segunda-feira, 5 de setembro de 2011

TUDO O QUE SEMPRE QUISEMOS SABER SOBRE SEXO (VÁ LÁ, QUASE TUDO)


A Enciclopédia da Vida Sexual foi publicada em português pela Livraria Bertrand (e também pelo Círculo de Leitores) no ano seguinte à Revolução dos Cravos. No Portugal recém-saído da casca, as capas dos cinco livros que compunham a colecção denotam uma liberdade de costumes hoje impensável. No primeiro volume, dedicado aos 7/9 anos, duas crianças nuas posam descontraidamente numa cadeira estilo Emanuelle, e no segundo (10/13 anos) correm pela praia de mãos dadas, sorridentes e felizes na sua revisitação do Paraíso. Há muito que não se vêem capas assim na secção infanto-juvenil das nossas livrarias, e nem vale a pena explicar porquê. Os autores da Enciclopédia da Vida Sexual, quatro médicos franceses, afirmavam que «nenhuma censura devia existir» e apontavam Camus, Sartre e Malraux como «modelos» para os adolescentes de então. «A educação sentimental é, antes de tudo, uma situação vivida e nada substitui a experiência pessoal», acrescentavam. Quando um livro consegue a proeza de juntar referências a Camus, Sartre e Malraux (e ainda Baudelaire, Diderot, Laclos, Fellini…), ao mesmo tempo que tenta responder a perguntas tão irrespondíveis como «qual é a razão de ser da adolescência?» ou «porquê permanecer casto?», temos obra. Por tudo o que fez pelo esclarecimento de uma geração sem acesso à internet nem aos documentários do canal Odisseia, já para não falar nos Morangos com Açúcar, a Enciclopédia da Vida Sexual merece ser erigida no cânone das leituras memoráveis, sobretudo se foram feitas às escondidas.

(Texto publicado na edição de 4 de Setembro da Notícias Magazine, revista de domingo do DN e JN, na secção "Nostalgia".)

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