quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

PERDER UM EDITOR


Faço minhas as palavras da Sara Figueiredo Costa no Cadeirão Voltaire e da Andreia Brites n’O Bicho dos Livros acerca do afastamento de José Oliveira da Leya. A notícia do Público de ontem falava dele (não falando) como “o editor da Teorema”, uma forma muito especiosa de pôr as coisas, tendo em conta que José Oliveira foi editor da Teorema no último ano e responsável pela edição infanto-juvenil da Caminho nas últimas três décadas e meia. “Assim de repente”, parafraseando a Sara, isso dá quantos milhares de livros e de autores e de leitores? OK. Mas não, não é uma questão de fazer as contas, como dizia o outro que emigrou mais cedo. Basta citar um romance juvenil de 1979 (Rosa, Minha Irmã Rosa, de Alice Vieira), lembrar os prémios Newberry e Andersen publicados na colecção “Caminho Jovens” nas décadas de 1980 e 90, ou ainda as traduções da colecção “Borboletras”, já em 2009, para perceber a longevidade, coesão e excelência do catálogo construído por José Oliveira durante todo este tempo. Para mais pormenores, leiam o post da Andreia.

A notícia atingiu-me pessoalmente, porque José Oliveira foi meu editor na Caminho, e só posso dizer que isso foi uma sorte e um privilégio. Lembro-me do dia em que falei com ele a primeira vez, em Agosto de 2002: estava a preparar um dossier sobre literatura infantil para a Notícias Magazine (sim, é verdade, faziam-se dossiers…) e fui entrevistá-lo depois de três ou quatro horas de sono. Não foi preciso chegar a meio para me dar conta de que estava a fazer uma péssima entrevista. Expliquei a razão, tanto quanto é possível explicar, e ele sugeriu, cheio de paciência e gentileza, que remarcássemos para outro dia. Mas eu não tinha mais tempo e coisa lá se compôs, entre mortos e feridos. Sair incólume dessa primeira impressão fatal foi a parte de “sorte”. O privilégio acabou. É tudo muito estranho.



Para ilustrar este post, escolhi a capa de um dos títulos da colecção “Caminho Jovens”, que o próprio José Oliveira me resgatou do purgatório dos livros esquecidos. Obrigada por tudo.

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