sexta-feira, 18 de maio de 2012

CARTA ABERTA À APEL, POR LUÍS OLIVEIRA



Carta aberta a Miguel Freitas da Costa,
secretário-geral da APEL

Tomei a devida nota das suas declarações a alguns meios de comunicação social acerca da Feira do Livro de Lisboa. É um dado imediato da observação das suas palavras que bate sempre na mesma tecla, isto é, nunca ultrapassou a superficialidade da análise, satisfazendo-se apenas com os resultados comerciais do evento e com a afluência do público. Falou, claro, em nome da APEL e mostrou-se radiante com os excepcionais resultados da feira.
Na realidade, posso confirmar que o número de leitores foi talvez superior ao do ano passado e também me pareceu que houve mais critério na escolha dos títulos.

Face à crise da economia (a economia capitalista foi sempre ela própria a crise) e de valores humanos, as pessoas começaram provavelmente a pensar que o comboio da História deve mudar de direcção. Por isso, foram guardando algumas economias para adquirir livros em detrimento de outras mercadorias supérfluas.

Foi isto que V. Ex.ª não compreendeu ainda, formatado que está para uma sociedade que não conduz as pessoas no sentido do movimento da emancipação humana. É cada vez mais visível que esta perspectiva só poderá conduzir à catástrofe.

A direcção da APEL não manifestou nenhuma solidariedade para com os cerca de quarenta editores que nesta altura foram atirados para a «desgraça» devido à recente falência da distribuidora CESodilivros.

Ora, todos estes editores são sócios da APEL.

Neste sentido, podemos afirmar que a APEL não existe.

Por último, e voltando à feira, quero dizer-lhe que ela nunca mais será realizada no Parque Eduardo VII, no mês de Abril, porque a maioria das editoras não autoriza esta irracional data.

Se V. Ex.ª não tivesse a cabeça dura, pensaria no local privilegiado que é o Parque Eduardo VII quando o tempo está quente: em tardes de sol, os visitantes aproveitam para se sentarem na relva daquele excepcional jardim, lendo e namorando, numa partilha lúdica da qual têm sido privados nos últimos anos.

Estas palavras são apenas uma tentativa de vos chamar à razão para tantos aspectos da feira, nomeadamente os horários escravizantes (mais de doze horas por dia) que ali são praticados.

Há períodos completamente mortos na feira, mas há interesses dos grandes grupos na abertura ainda de manhã para venderem livros infantis às crianças, configurando uma atitude não democrática e inaceitável da APEL.

Luís Oliveira
Editor da Antígona

1 comentário:

Lídia Borges disse...

Muito mal vai um país que vê os livros apenas números, como negócio...