sexta-feira, 25 de maio de 2012
CONHECER MARIA TERESA ANDRUETTO
Na sequência do post anterior sobre Peter Sis (Prémio Hans Christian Andersen 2012 na categoria de Ilustrador), é mais do que justo lembrar aqui o escritor distinguido com o seu equivalente na categoria de Autor, ambos anunciados ao mesmo tempo na última Feira do Livro Infantil de Bolonha, em Março.
Se Peter Sis é ainda pouco conhecido entre nós, arrisco dizer que o nome de Maria Teresa Andruetto (Argentina, 1954) vai permanecer no limbo dos escritores incógnitos deste importante prémio, por força da quase inacessibilidade da sua obra – mesmo na vizinha Espanha – e do que na autora se evidencia como uma vinculação radical com a experiência interior e subjectiva que faz parte da pulsão literária. Ouça-se esta entrevista arquivada na Audiovideoteca de Buenos Aires ou este resumo breve da sua percepção da literatura para crianças e perceber-se-á melhor o que quero dizer.
Na Feira do Livro Infantil de Bolonha, depois do anúncio do prémio Andersen, houve uma corrida aos livros de Maria Teresa Andruetto. Mais facilmente se encontraria um elefante numa loja de porcelanas... Só o stand do IBBY tinha alguns títulos expostos – para consulta –, além de um dossier fotocopiado com informação sobre a escritora, incluindo entrevistas que podem ser lidas na net. É uma questão de pesquisar.
Em tudo o que ressoa de condescendência e lugares-comuns, o rótulo “infantil” assenta-lhe mal – e ainda bem. Precisamos de mais reflexão e autenticidade, já cá temos fancaria q.b.. Deixo um extracto do livro Hacia una Literatura sin Adjectivos (2009), esgotadíssimo, que ditei para o gravador e depois traduzi. Para Maria Teresa Andruetto, “a pessoa que somos está antes do escritor que poderemos vir a ser”, ideia que subscrevo inteiramente.
“Um escritor não pode definir-se pelas suas intenções, mas pelos seus resultados. Se algo têm em comum os bons escritores de todos os tempos é, justamente, o facto de terem pouco em comum uns com os outros; inclusivamente, às vezes, diferenciam-se ou opõem-se fortemente uns aos outros. Aparece então uma primeira certeza: um bom escritor é um escritor diferente dos outros escritores, alguém que pela essência mesma do que faz contraria a uniformidade que tende a impor-se – resiste, por assim dizer, ao global. Alguém preocupado em perseguir uma imagem do mundo e construir com ela uma obra que pretende universalizar a sua experiência. Olhando então para o que tem de mais privado e de mais pessoal, é como um escritor pode tornar-se universal. E este é o sentido que têm as conhecidas palavras de Tolstoi: pinta a tua aldeia e pintarás o mundo. A criação nasce então do particular, qualquer que seja a particularidade que, como ser humano, caiba a quem escreve. E é a focalização no pequeno que permite, pela via da metáfora, inferir o vasto mundo.”
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