terça-feira, 22 de maio de 2012

PETER SÍS: MAPAS PARA LER IMAGENS


Nascido na antiga Checoslováquia (Brno, 1949), Peter Sís formou-se na Academia de Artes Aplicadas, em Praga, continuando depois no Royal College of Arts, em Londres. Uma infância e adolescência restritivas deram lugar a uma visão aberta do mundo. Primeiro, por influência da família: pais artistas e uma colecção de livros para crianças trazida dos Estados Unidos pelo avô, na década de 1920, estimularam a imaginação precoce do jovem Sís. O rock’n’roll fez o resto. O pai era autor de documentários e, no regresso das viagens ao estrangeiro, trazia-lhe discos e histórias raras de ouvir entre as quatro paredes da Checoslováquia. Tibet Trough the Red Box (1998) evoca um desses episódios; e em The Wall: Growing Up Behind the Iron Curtain (2007), Sís conta como foi crescer num país onde a vida era «monótona e monolítica».

Tudo mudou em 1982, quando viajou para os Estados Unidos, a pedido do governo checo, para fazer um documentário sobre os Jogos Olímpicos de 1984. Acabou por ficar e pedir asilo político. Maurice Sendak, autor de Where the Wild Things Are (Onde Vivem os Monstros), ajudou-o a entrar no mundo da ilustração. O reconhecimento do Prémio Newbery, da Associação das Bibliotecas Americanas, trouxe visibilidade às ilustrações para o livro premiado de 1987, The Whipping Boy, de Sid Fleischman. Em Nova Iorque – onde reside até hoje – Peter Sís encontrou o meio de que precisava para dar expressão ao seu talento. Das largas dezenas de livros que ilustrou, 25 têm texto da sua autoria.

Sís cruza o olhar documental com a pura fantasia, num registo muito pessoal e, frequentemente, autobiográfico. Cada um dos seus livros é vasto em significados, enviando o leitor para geografias tão distantes como o Tibete ou prestando homenagem a espíritos livres como Charles Darwin ou Galileo Galilei. Exuberante, sim, mas uma exuberância que nada tem a ver com o instinto provocatório de Maurice Sendak ou Tomi Ungerer; antes se revela na acumulação de pormenores visuais, textuais e simbólicos. Fazendo uso frequente da técnica do pontilhismo, faz ilustrações que se assemelham a imagens artesanais pixelizadas, convidando o leitor a demorar-se longamente sobre as páginas. Numa arte que deve muito à cartografia, as ilustrações de Sís lêem-se como mapas, criando a sensação de que há sempre algo de novo para descobrir.

A Árvore da Vida, biografia ilustrada de Charles Darwin, é o único livro de Peter Sís editado em Portugal, com tradução de Ana Paula Faria (Terramar, 2005). Na última Feira do Livro Infantil de Bolonha, o júri do IBBY atribuiu-lhe o Prémio Hans Christian Andersen 2012, na categoria de Ilustração. Era o nome favorito. Ganhou.

(Texto publicado na LER nº 113, aqui com ligeiras alterações.)

Sem comentários: