sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

BEST OF 2013: AGORA TODOS


A minha intenção para o «Best of 2013» era escolher um livro por cada mês do ano. Acreditem se quiserem, mas só agora é que percebi que me enganei... Aqui fica então a lista dos 12 + 13º mês, com os respectivos links. Agora, para descansar da canseira, vou fechar as portas e só volto no próximo ano. Boas festas a todos os fiéis (e infiéis) do Jardim Assombrado. Leiam muito, sempre, de tudo.

- A Bela História de O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry, Presença.
- Um Atalho no Tempo, Madeleine L'Engle, Oficina do Livro. 
- As Histórias de Terror da Entrada do Túnel, de Chris Priestley e David Roberts, Arte Plural.
- O Último Conto, de Rodolfo Castro e Enrique Torralba, Gatafunho. 
- Contos Completos - Irmãos Grimm, Temas e Debates/Círculo de Leitores. 
- O Senhor Pina, Álvaro Magalhães e Luiz Darocha, Assírio & Alvim. 
- O Caderno do Avô Heinrich, Conceição Dinis Tomé, Presença. 
- Sombras, Marta Monteiro, Pato Lógico. 
- Portugal Lendário, José Viale Moutinho, Círculo de Leitores. 
- A Verdadeira História do Capitão Gancho, P.D. Baccalario, Civilização. 
- Pippi das Meias Altas, Astrid Lindgren e Lauren Child, Booksmile. 
- Tantos Animais e Outras Lengalengas de Contar, Manuela Castro Neves e Yara Kono, Planeta Tangerina. 
- Uma Escuridão Bonita, Ondjaki e António Jorge Gonçalves, Caminho.

BEST OF 2013: A BELA HISTÓRIA DE O PRINCIPEZINHO


Saint-Exupéry entregou-se de alma e coração à composição deste álbum singular, que não se parece com nenhum outro e, no entanto, é rico em referências. O autor ilustrou-o com as suas próprias aguarelas (facto raro que deve ser sublinhado); quis que fosse criado à sua imagem e semelhança mas dirigindo-se a todos. Quis que os seus leitores o reconhecessem no livro, pelos inúmeros ecos biográficos que o ligam à obra e à sua história pessoal, mas quis também que se reconhecessem a si próprios, apelando à memória da infância. É esta a magia e a graça de uma narrativa que nunca se deixa dominar completamente.

A Bela História de O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry, Presença, 2013.

[Há livros que se esgotam na sua época e livros que estão em permanente actualização, mercê da transversalidade de leituras e de uma profundidade simbólica incessante. É o caso de O Principezinho, mas também de Alice no País das Maravilhas, Winnie-the-Pooh ou Peter Pan. O que há de novo nesta edição da Presença não é o texto de Saint-Exupéry, mas o interessantíssimo dossier que o acompanha. Desde o enquadramento histórico da primeira edição americana, em 1943, até aos testemunhos de amigos e amores, passando por excertos de outros livros, desenhos e esboços do autor, fotografias de época, reproduções de capas, um capítulo inédito e, last but not least, um conjunto de textos ensaísticos que reflectem sobre os temas literários, filosóficos, simbólicos e mitológicos da obra. Verdadeiramente imprescindível.]

BEST OF 2013: UM ATALHO NO TEMPO



– Como é que isto aconteceu? Não é uma maravilha? Sinto-me como se tivesse acabado de nascer! Já não estou sozinho! Tens noção do que isso significa para mim?
Mas tu és bom no básquete e coisas – protestou Meg. – És bom nas aulas. Toda a gente gosta de ti.
Por todos os motivos mais irrelevantes – disse Calvin. – Ainda não conheci ninguém, ninguém no mundo com que eu possa conversar. Claro, sei portar-me ao mesmo nível que toda a gente, sei diminuir-me, mas esse não sou eu.
Meg tirou um molho de garfos da gaveta e virou-os uma e outra vez, a contemplá-los. 
Estou toda confusa outra vez.
Oh, também eu – disse Calvin alegremente. – Mas agora, pelo menos, sei que vamos para algum lado.

Um Atalho no Tempo, de Madeleine L'Engle, Oficina do Livro, 2013.

[Poucos devem ter dado pela edição em português deste clássico contemporâneo da literatura juvenil, numa colecção em que o ponto fraco são sempre as capas, demasiado banais e infantis. Publicado em 1962, nos EUA, arrebatou vários prémios literários, entre os quais o prestigiado Newbery, atribuído pela Associação das Bibliotecas Americanas. Madeleine L'Engle escreveu um romance de ficção científica - tanto quanto se pode dizer que Ursula K. Le Guin escreve livros de ficção científica - protagonizado por três miúdos inadaptados que investigam o desaparecimento misterioso de um cientista numa missão secreta do governo. À época, os conceitos extraídos da física quântica foram considerados estranhos, bem como a linguagem não-infantilizada e a relevância dada à personagem feminina. Rejeitado dezenas de vezes, tal como Harry Potter, o livro acabou por provar o seu valor. E não envelheceu.]   

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

BEST OF 2013: AS HISTÓRIAS DE TERROR DA ENTRADA DO TÚNEL


Laura caminhava em direcção ao portão do jardim, com a sua camisa de dormir branca quase brilhando naquela luz fantasmagórica. Parecia mais um espírito que uma criança mortal, brilhando como um fogo-fátuo enquanto se embrenhava na sombra escura do bosque.
Penélope seguiu-a pelo jardim assim que deixou de correr o risco de ser vista por Laura se esta voltasse e olhasse para trás. Sentia o coração a bater acelerado de excitação enquanto pensava no que deveria fazer a seguir.
Deveria gritar e acordar a casa toda? Laura teria de explicar por que raio andava a deambular pelo jardim à meia-noite. Mas Penélope também.

As Histórias de Terror da Entrada do Túnel, de Chris Priestley, com ilustrações de David Roberts, Arte Plural, 2013.

[Para miúdos e miúdas que gostem de histórias de terror ao melhor estilo gótico, a série de Chris Priestley tem proporcionado excelentes arrepios. O terceiro volume não é tão bom como As Histórias de Terror do Navio Negro, mas anda lá perto. Esperemos que continuem em 2014.]

BEST OF 2013: O ÚLTIMO CONTO


Jacinto era um bom contador de histórias. A sua voz equilibrava-se entre a serenidade e a fúria.

O Último Conto, de Rodolfo Castro (texto) e Enrique Torralba (ilustrações), Gatafunho, 2013. 

[As primeiras linhas de O Último Conto fazem jus a um dos títulos de Maria Gabriela Llansol, segundo a qual «o começo de um livro é precioso». Lançado em edição simultânea no México, Brasil e Portugal, O Último Conto é o segundo livro de Rodolfo Castro (Argentina, 1965) publicado na Gatafunho, depois de A Intenção Leitora, a Intenção Narrativa, sobre a sua experiência de contador de histórias, a viver há três anos e meio em Portugal. É um picture book com marcas de novela gráfica, em que o trabalho do ilustrador Enrique Torralba (México, 1969), com nítidas influências de Shaun Tan, nos remete para um universo onírico mas inquietantemente próximo. Um pequeno tesouro.]

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

BEST OF 2013: CONTOS COMPLETOS - IRMÃOS GRIMM


Era uma vez um jovem pastor que queria casar e conhecia três irmãs de igual beleza, o que lhe dificultava a escolha e o impedia de se decidir por uma delas. Pediu conselho à mãe, que disse: «Convida as três, coloca-lhes queijo à frente e presta atenção a como elas o cortam.» O jovem assim fez. A primeira engoliu o queijo com a casca. A segunda tirou a casca à pressa, mas naquela rapidez desaproveitou as partes boas do queijo e deitou-as fora com a casca. A terceira tirou a casca com cuidado e não descascou o queijo nem demais nem de menos. O pastor contou o sucedido à mãe, que lhe disse: «Escolhe a terceira para tua mulher.» Ele assim fez e viveu feliz e contente com ela.

Contos Completos - Irmãos Grimm, Temas e Debates/Círculo de Leitores, 2013. 

[São exactamente mil páginas que reunem os três volumes de Contos da Infância e do Lar; pela primeira vez numa edição integral em língua portuguesa, com tradução e notas de Teresa Aica Bairos e coordenação científica de Francisco Vaz da Silva. Na introdução, Teresa Aica Bairos adverte não ter partido da edição de 1812, mas de edições posteriores. Se a primeira foi resultado de «um trabalho de recolha etnográfica dirigido a um público adulto», a partir daí, os irmãos Jacob e Wilhelm foram incorporando sucessivas críticas e preceitos morais. «Ao nível do conteúdo, pode dizer-se, generalizando, que os Grimm omitiram alusões sexuais ou eróticas, e emendaram referências a situações de incesto ou de abuso familiar que consideraram perturbadoras para crianças. Em contrapartida, algumas cenas de violência tornaram-se mais gráficas e detalhadas», conclui a tradutora. Uma subversão interessante, quand même...]

BEST OF 2013: O SENHOR PINA


O senhor Pina sentou-se num sofá, a limpar as lentes dos óculos.
«O que farias tu, Puff, se estivesses no meu lugar?», perguntou, por fim.
«Eu? Nada. Quando não se faz nada, as coisas resolvem-se por si.»
«Tens a certeza?»
«Bem, é verdade que, por vezes, ficam um bocadinho estranhas, mas depois lá se resolvem.»
O senhor Pina fez uma acrobacia e ficou de pé.

O Senhor Pina, de Álvaro Magalhães, com desenhos de Luiz Darocha, Assírio e Alvim, 2013.

[Um livro absolutamente iluminado. Que dirias tu, Puff, se estivesses no meu lugar?] 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

BEST OF 2013: O CADERNO DO AVÔ HEINRICH


– Um homem, Heinrich, define-se apenas por três medidas: a capacidade de amar, a capacidade de sonhar e a capacidade de lutar disse-me o meu pai, enquanto a minha mãe lhe limpava o sangue que escorria do nariz.
Depois, trocou de roupa e foi-se deitar. O silêncio que inundava a nossa casa naquela noite latejava como uma ferida infectada. Apenas se ouvia a nossa respiração, entrecortada por breves soluços da minha mãe. Todos estávamos acordados, mas não havia palavras para dizer. 

(O Caderno do Avô Heinrich, de Conceição Dinis Tomé, Presença, 2013.)


[Outra revelação, desta vez na literatura. Prémio Literário Maria Rosa Colaço de 2012, na modalidade de literatura juvenil, Conceição Dinis Tomé conseguiu tratar um tema fortíssimo - o Holocausto - sem incorrer no sentimentalismo. Habilidade narrativa, uma escrita ágil e cuidada, um talento especial para descrever cenários e situações aplicando o conselho de Kurt Vonnegut: faz com que aconteçam coisas terríveis às tuas personagens para o leitor ver de que massa é que são feitas.]

BEST OF 2013: SOMBRAS


Sombras, de Marta Monteiro, Pato Lógico, 2013.

[Ao contrário dos títulos anteriores do «best of 2013», não é possível publicar um excerto porque... é um livro sem texto. Extraordinariamente consistente e original, este picture book puro revela-nos uma visão de autor que coincide com uma visão do mundo, dispensando quaisquer palavras. Imaginando o que as sombras poderiam acrescentar à realidade dos corpos e dos nossos gestos diários, Marta Monteiro protagonizou uma estreia que se poderá considerar a revelação do ano no domínio da ilustração.]

domingo, 15 de dezembro de 2013

BEST OF 2013: PORTUGAL LENDÁRIO


Para cura de crianças engaranhadas não há nada como a Fonte dos Engaranhos. Fica na aldeia de Couços, freguesia de Murias, concelho de Mirandela. A fonte tem fama, mas o leitor é capaz de não saber o que é engaranho. Pois é raquitismo. Ali na região, as mães agarram nas crianças com esse problema e levam-nas à fonte. Despem-nas e mergulham-nas. Quando se vêm embora, deixam lá ficar a roupa que levam, que é para ficar também o mal. Pois esta lenda assenta do desengaranhar próprio dessa fonte.

Portugal Lendário - Tesouro da Tradição Popular, de José Viale Moutinho, Círculo de Leitores, 2013.

[Do Minho ao Algarve, incluindo Madeira e Açores, todos os concelhos do território português estão aqui representados. Um trabalho de recolha etnográfica de referência, que começou por ser distribuído em fichas com o Diário de Notícias e se materializou nesta bela edição. Fica o repto do autor: «Numa época marcada pela globalização, este livro é, todo ele, uma aventura identitária, que ninguém, e por nenhum preço, nos pode retirar. É o tiras!»]

sábado, 14 de dezembro de 2013

BEST OF 2013: A VERDADEIRA HISTÓRIA DO CAPITÃO GANCHO



Ah, James, és tu... Entra. Estava à tua espera. James pisou as pedrinhas brancas que cobriam o jardim.
Ainda descalço? riu-se o inglês, assim que se apercebeu. Olha só para ti! Estás vestido a rigor, mas os sapatos não consegues mesmo utilizá-los! Como hei de chamar-te, rebelde?
Espírito livre soa melhor.

A Verdadeira História do Capitão Gancho, de P.D. Baccalario, Civilização, 2013.

[Na senda de Emilio Salgari, eis um romance de aventuras que faz jus à figura melancólica e atormentada do Capitão Gancho, reconstruindo a sua vida desde o nascimento - como filho bastardo do Rei Jorge IV - até à secreta errância na Índia do império britânico. Crossover fiction da melhor.]

BEST OF 2013: PIPPI DAS MEIAS ALTAS



Tens de compreender, senhora professora, quando se tem uma mãe que é um anjo que está no céu, um pai que é o rei da ilha selvagem, e se passou toda a vida a velejar pelas mares fora, uma pessoa não sabe como é que se há de comportar na escola.

Pippi das Meias Altas, de Astrid Lindgren, ilustrado por Lauren Child, Booksmile, 2013.

[Publicado na Suécia em 1945, o clássico de Astrid Lindgren apareceu finalmente numa boa tradução em português, com ilustrações da inglesa Lauren Child. Uma dupla de força e uma nova vida para aquela que é, provavelmente, a personagem mais anarquista da literatura infantil.]

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

BEST OF 2013: TANTOS ANIMAIS E OUTRAS LENGALENGAS DE CONTAR


1, 2, 3, lá na loja do chinês...
3, 2, 1, há muitas latas de atum.

4, 5, 6, há coloridos papéis...
6, 5, 4, e toda a espécie de sapato.

7, 8, 9, há chapéus p'ra quando chove...
9, 8, 7, e rodas de trotinete.

10, 11, 12, mas a portinha fechou-se...
12, 11, 10, hei de voltar outra vez.

Tantos Animais e Outras Lengalengas de Contar, de Manuela Castro Neves (texto) e Yara Kono (ilustrações), Planeta Tangerina, 2013.

[Vinte lengalengas originais concebidas em torno de um modelo matemático e de um tema: pares e ímpares, contagem decrescente, numerais ordinais, múltiplos de dois, etc. As ilustrações incorporam formas geométricas e numéricas, amplificando o sentido lúdico do texto, sempre muito consistente na sua arquitectura poética. Um livro para pré-leitores e primeiros leitores, a descobrir especialmente por professores e educadores.]

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

BEST OF 2013: UMA ESCURIDÃO BONITA


«Era verdade, tínhamos tempo. A falta de luz também inventava mais tempo para as pessoas estarem juntas, devagar.
Para mim a falta de luz era estar ali com ela, de mãos dadas - os meus lábios na espera dos lábios dela.»

Uma Escuridão Bonita, de Ondjaki (texto) e António Jorge Gonçalves (ilustrações), Caminho, 2013.

[A partir de hoje e ao longo dos próximos dias, vou publicar a capa e um pequeno excerto dos livros de que gostei mais em 2013. Na área infanto-juvenil, claro. Uma Escuridão Bonita, de Ondjaki, o vencedor da 8ª edição do Prémio José Saramago, eu ofereceria a qualquer adolescente apaixonado... se é que isto não é um pleonasmo. António Jorge Gonçalves fez dele uma obra gráfica e visual única. Para todas as idades.]

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

DISFARCES DO MAL


«A literatura infantil não é neutra». Na edição de Dezembro do Le Monde Diplomatique, a propósito de uma recente conferência na Fundação Luso-Americana, escrevi sobre livros para crianças como instrumentos de controlo moral e ideológico, explícito ou não explícito. «É fácil perceber como a negação do Outro contraria qualquer ética do indivíduo, começando por destituí-lo da sua singularidade. O acabrunhamento e a mentira fazem parte das técnicas mais utilizadas, em nome da higienização geral» Ontem, no blogue Malomil, António Araújo deixou um excelente post intitulado «As crianças de Ceaucescu». É precisamente a isto que me refiro. E sim, temos o imperativo moral de não esquecer o mal que nos fazem.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

MOCHOS E ESTORNINHOS


No site Rua de Baixo, Andreia Rasga sugere Boa Noite, Mocho!, da veterana Pat Hutchins. Foi o penúltimo livro que traduzi para a Kalandraka (ainda há aí um novo Tomi Ungerer à espera de chegar...) e deu-me um certo trabalhinho, por causa das onomatopeias e das vozes de animais. Agora, por favor, não me digam que os estorninhos «pissitam», porque esse é um verbo que não tenciono conjugar nem sob intimidação. A alternativa que encontrei é igualmente correcta e traduzir também é uma questão de ouvido e de bom senso. Espero que gostem. É um livro especialmente indicado para pré-leitores, muito bom para ler em família. Diz a Andreia Rasga: «Esta história lê-se a cantar, imitando as onomatopeias e repetindo as deixas página a página. Um folhear embalado pelos sons da floresta acordada, enquanto o mocho tenta dormir.» Texto completo aqui.

[Adenda: e enquanto o mocho tentava dormir, a crítica de Paula Pina saía também no Cria Cria.]

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

SOU EU O CAPITÃO DA MINHA ALMA


Repórter e correspondente da LUSA e RTP na África do Sul, António Mateus é um dos mais sérios conhecedores da vida de Nelson Mandela; e se há alguma biografia a recomendar aos adolescentes, neste momento, será esta: Mandela - O Rebelde Exemplar (Planeta). Começa em 1926, quando o pequeno Rolihalahla Mandela é «rebaptizado» de Nelson («como o grande almirante britânico») pela professora primária, e segue por uma vida ímpar em que os acontecimentos são narrados com objectividade e concisão, num encadeamento em género «grande reportagem», com ilustrações sóbrias de Nuno Tuna. A infância e juventude de Mandela ocupam quase metade das 155 páginas, uma opção compreensível, embora gostássemos de ter visto mais desenvolvidos os capítulos sobre os 18 anos de prisão em Robben, quando a solidão e as provações empurraram um homem de carácter para a sua transformação num líder capaz de sentir compaixão pelo inimigo. Na ilha-prisão de Robben, Mandela repetiria como uma oração o poema de William Ernest Henley, cujo último quarteto resume a divisa que sempre o guiou: «Não importa quão estreito é o portão, / Que martírios guarde ainda a minha palma. / Sou eu o senhor do meu destino/ Sou eu o capitão da minha alma.» (tradução de Ana Maria Pereirinha)

THE LAST ACTION HERO


Nelson Mandela (1918-2013). Não será o último dos heróis, mas foi um dos grandes.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

AS MENINAS TAMBÉM SÃO DE MARTE


Acredito que as autoras tenham dado o seu melhor e que estes dois livros sejam bonitos e bem feitos, como é hábito do que traz a chancela da Booksmile. Mas era mesmo necessário cair nestes esterótipos tão fora de época? Meninas etéreas de um lado, construtores da sociedade do outro? Assim não vamos lá. Um estudo recente publicado na Visão explica as divergências de funcionamento entre os cérebros masculino e feminino (aquela história de Marte e Vénus), mas o que me parece mais interessante é o que está no fim do artigo, a saber: os cérebros das crianças são os que apresentam menos diferenças entre os sexos. Não precisamos de cair no oposto, nem deixar de dar bonecas e carrinhos, mas no dia em que toda esta ganga cultural deixar de ter tanto peso, aposto que todos ganharemos.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O TEMPO CIRCULAR


Foi mesmo uma bela noite de contos. Mais ele quisesse contar, mais ouviríamos. Ficou um livro belíssimo, com ilustrações do mexicano Enrique Torralba, a lembrar um pouco as atmosferas surreais de Shaun Tan, mas sem se confundirem com estas. O texto que Rodolfo Castro diz ser «o mais representativo» da sua produção deixa-nos com o incómodo das coisas por acabar, que é também o que nos faz sentir vivos e atentos. Entendam como quiserem. O Último Conto é um dos livros de 2013, absolutamente. Para encontrá-lo já, o melhor mesmo será ir à livraria Gatafunho, que arriscou fazer uma edição diferente do habitual. E agora sim, aqui fica a capa completa.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

SELF PUB

Este ano, A Lebre de Chumbo passou a integrar as listas do Plano Nacional de Leitura em regime de leitura autónoma (4º ano do 1º ciclo). No lado direito do blogue, incluí agora a referência ao PNL, para melhor orientação dos professores que queiram trabalhar os livros. Também podem ver na página da Bookoffice (aqui) as críticas que saíram na imprensa e não só. Um «obrigada» muito especial à Sara Peres pelo seu trabalho tão atento.