No último sábado, 23 de Abril, passei por uma livraria de centro comercial e vi uma mãe a ler para o filho. Estava sentada num sofá e lia alto em voz baixa. O miúdo, que devia ter uns dez ou onze anos, apoiava-se num dos braços, numa daquelas posições aparentemente incómodas que os leitores cultivam. O miúdo debruçava-se sobre ela e sobre o livro, e os três compunham um agregado familiar que me deixou comovida e feliz, especialmente porque era Dia Mundial do Livro. Estava quase a encaminhar-me para a secção de Saúde e Bem-Estar, não sei porquê, mas voltei atrás. Pensei tirar-lhes uma fotografia com o telemóvel, à socapa, mas seria demasiado invasivo e, ao fim e ao cabo, não mostraria nada de essencial. Afastei-me, não sem antes ter fixado aquela imagem para sempre. O livro que a mãe lia era o último do Afonso Cruz, Vamos Comprar um Poeta (Caminho). Tinha-o em casa. Li-o nesse mesmo dia e acabei por fazer parte daquela família, fazer parte do dia, fazer parte de tudo. Vou ler-vos um bocadinho:
«O poeta dizia que os versos libertam as coisas. Que quando percebemos a poesia de uma pedra, libertamos a pedra da sua "pedridade". Salvamos tudo com a beleza. Salvamos tudo com poemas. Olhamos para um ramo morto e ele floresce. Estava apenas esquecido de quem era. Temos de libertar as coisas. Isso é um grande trabalho. Sei que muitas mudanças na minha vida aconteceram graças a ele.»
É mesmo um belo livro.
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