sexta-feira, 29 de abril de 2016

MAIO, MÊS DO TOURO


Publicado pela primeira vez em 1936, nos Estados Unidos, A História de Ferdinando é um manifesto pacifista contra uma das mais cruéis guerras civis da primeira metade do século XX. Mais do que a história de um touro que se recusa a lutar na arena, Ferdinando é um bom exemplo de literatura para crianças enquanto reflexo do devir histórico; mau grado todas as histórias da carochinha que negam o seu poder político e subversivo (para o melhor e para o pior). Se o texto de Munro Leaf é suficientemente poético para disfarçar a contestação aberta ao conflito que dividiu a Espanha, as ilustrações de Robert Lawson sugerem pistas difíceis de negar. Registamos duas: 12 de Julho, a data mencionada no cartaz tauromáquico, coincidente com o dia do assassinato do esquerdista José del Castillo; e a figura do matador vaidoso e irascível, de bigodinho ridículo e queixo duplo, uma caricatura evidente de Francisco Franco. A História de Ferdinando tem um final feliz, contrariamente à guerra que terminou com a vitória de Franco e subsequente ditadura. Banido em Espanha e na Alemanha de Hitler, o livro dos dois autores norte-americanos foi agora publicado pela Kalandraka, como clássico intemporal que é.

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