«Quais são as vantagens e desvantagens de trabalhar num grande grupo
editorial [Leya]? Imagino que haja constrangimentos.
Sim, eu tinha trabalhado
vários anos numa editora e até aí não tinha de apresentar objetivos, fazer
planos: se ganhasse mais ali, podia ganhar um prémio.
Isso hoje é…
É básico, pois é. Mas na
altura foi uma dificuldade porque não estava habituada a dizer quanto é que vou
vender este ano e se não vender o que é que me acontece. Eu não sabia nada
disto e tive de aprender, como é óbvio. Mas também acho que faz falta uma certa
coordenação. Não se podem lançar livros sem pensar. É preciso perceber se há
público, ver as tiragens, não se pode fazer as coisas de qualquer maneira. Tive
de me habituar a isso. Também tive de me habituar a outra coisa, essa bem mais
difícil, que é a de ter acima de nós pessoas que não gostam de ler, pessoas que
não percebem o que é um livro. Isso é dramático.
Essa era uma das coisas que lhe queria perguntar: se alguma vez sentiu
que as suas decisões dependem de pessoas sem qualquer sensibilidade literária.
Sim, sim, muitas vezes. E
não é só sensibilidade literária. Falo por exemplo de pessoas formatadas
politicamente. Imaginemos: uma pessoa que é de direita e que diz que não se
publica nada que seja de esquerda. Aconteceu-me eu falar de alhos e a pessoa
responder de bugalhos. Aconteceu-me mostrar uma capa, a pessoa perguntar-me de
onde é que era a fotografia, eu dizer que era do Arquivo da Biblioteca do Congresso
e a pessoa perguntar: «Congresso de quê?» Ao longo do tempo aconteceram-me as
coisas mais irreais com pessoas que supostamente são as que mandam em nós. Mas
também percebi que nós temos de ser os primeiros a conseguir vender o livro. Se
eu conseguir explicar a uma pessoa, mesmo que não seja leitora, a importância
daquele livro, porque é que deve ser publicado, acho que chegamos lá.
Aconteceu-lhe querer publicar determinado livro e ele não ter sido
publicado por causa dessas questões, de alguém decidir que não publica porque o
livro não vai vender?
Não quero dizer que sou melhor
do que outras pessoas, mas isso nunca me aconteceu porque acho que sou boa
vendedora. Pode acontecer é eu própria já não ter uma confiança por aí além
naquele livro e então nem sequer o apresentar. Agora se eu achar que o livro
tem condições para ter boas críticas, mesmo que não tenha vendas muito altas, e
para fazer daquele autor alguém no futuro, eu vou e bato-me por aquilo.»
[Maria do Rosário Pedreira, in LER nº 142. Entrevista conduzida por Bruno Vieira Amaral, com fotografia de Pedro Loureiro. A imagem deste post foi retirada do Citador, onde se encontram quatro poemas de MRP.]
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