quarta-feira, 8 de junho de 2016

MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA, 2



«Quais são as vantagens e desvantagens de trabalhar num grande grupo editorial [Leya]? Imagino que haja constrangimentos. 
Sim, eu tinha trabalhado vários anos numa editora e até aí não tinha de apresentar objetivos, fazer planos: se ganhasse mais ali, podia ganhar um prémio.
Isso hoje é…
É básico, pois é. Mas na altura foi uma dificuldade porque não estava habituada a dizer quanto é que vou vender este ano e se não vender o que é que me acontece. Eu não sabia nada disto e tive de aprender, como é óbvio. Mas também acho que faz falta uma certa coordenação. Não se podem lançar livros sem pensar. É preciso perceber se há público, ver as tiragens, não se pode fazer as coisas de qualquer maneira. Tive de me habituar a isso. Também tive de me habituar a outra coisa, essa bem mais difícil, que é a de ter acima de nós pessoas que não gostam de ler, pessoas que não percebem o que é um livro. Isso é dramático.
Essa era uma das coisas que lhe queria perguntar: se alguma vez sentiu que as suas decisões dependem de pessoas sem qualquer sensibilidade literária. 
Sim, sim, muitas vezes. E não é só sensibilidade literária. Falo por exemplo de pessoas formatadas politicamente. Imaginemos: uma pessoa que é de direita e que diz que não se publica nada que seja de esquerda. Aconteceu-me eu falar de alhos e a pessoa responder de bugalhos. Aconteceu-me mostrar uma capa, a pessoa perguntar-me de onde é que era a fotografia, eu dizer que era do Arquivo da Biblioteca do Congresso e a pessoa perguntar: «Congresso de quê?» Ao longo do tempo aconteceram-me as coisas mais irreais com pessoas que supostamente são as que mandam em nós. Mas também percebi que nós temos de ser os primeiros a conseguir vender o livro. Se eu conseguir explicar a uma pessoa, mesmo que não seja leitora, a importância daquele livro, porque é que deve ser publicado, acho que chegamos lá.
Aconteceu-lhe querer publicar determinado livro e ele não ter sido publicado por causa dessas questões, de alguém decidir que não publica porque o livro não vai vender?
Não quero dizer que sou melhor do que outras pessoas, mas isso nunca me aconteceu porque acho que sou boa vendedora. Pode acontecer é eu própria já não ter uma confiança por aí além naquele livro e então nem sequer o apresentar. Agora se eu achar que o livro tem condições para ter boas críticas, mesmo que não tenha vendas muito altas, e para fazer daquele autor alguém no futuro, eu vou e bato-me por aquilo.»

[Maria do Rosário Pedreira, in LER nº 142. Entrevista conduzida por Bruno Vieira Amaral, com fotografia de Pedro Loureiro. A imagem deste post foi retirada do Citador, onde se encontram quatro poemas de MRP.]

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