Publicado originalmente em 1973, quando nascia a
última geração autorizada a brincar na rua, Momo
é um romance portador dessa qualidade premonitória que a boa literatura tem o
dom (ou a maldição) de revelar. Escreveu-o Michael Ende (1929-1995), para no
ano seguinte ganhar o prestigiado Prémio de Literatura Juvenil Alemã pela
segunda vez. Em Portugal, conheceu a sua primeira edição em 1984, ano orwelliano. Não podia ter calhado
melhor: Momo é uma distopia do tempo
em que as distopias juvenis não estavam na moda: cidades onde as crianças não
podem brincar, adultos consumidos pelo tédio e pelo trabalho repetitivo, o
mundo dividido em párias e seres produtivos, celebridades espremidas até ao
tutano, bairros tristes e montanhas de lixo nos arrabaldes. Um livro
bem pensado e bem escrito, sem peripécias em exagero a intoxicar o leitor
incauto e com cuidadas passagens descritivas que deixam muito lugar à imaginação. Momo
é o nome da heroína da história, uma menina capaz de entender o que é o tempo.
Só ela poderá interromper o plano inexorável dos «senhores cinzentos», para
quem tempo é dinheiro. Ao que parece, alguns foram esquecidos e ficaram para
semente. Momo é uma reedição da Presença, com tradução de Maria Margarida
Morgado.
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