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LEITURAS DE FÉRIAS, 8: A ILHA DO TESOURO
Se há razões que explicam a qualidade perene e
universal de um romance de aventuras publicado em 1883, A Ilha do Tesouro (Civilização Editora), uma delas prende-se à
pulsão lúdica própria do ser humano, ao seu desejo de ensaiar e repetir o jogo,
instituído como um fim em si mesmo e, por isso, livre de regras e de retórica.
No fundo, a pirataria. Sobre um género em voga no seu tempo, Robert Louis
Stevenson aplicou o estilo de narrar enérgico e expressivo, sempre comprometido
com a ação, sem maneirismos e moralismos de época. Ao mesmo tempo, divertia-se
(é lícito pensá-lo) a construir personagens dotadas de tal graça e manha que
não desdenharíamos conhecê-las. É reconfortante saber que boa parte delas foram
inspiradas em amigos e conhecidos do autor... Obedecendo à sua moral peculiar,
Stevenson, um cavalheiro escocês que sempre gostou das más companhias, fará os
possíveis para nos confundir, juntando no mesmo barco aparentes virtuosos como
doutor Livesey e requintados sacanas como Long John Silver. Chegaremos a
decifrá-los? Ganharemos a compreensão profunda destes personagens, das suas
motivações e comportamentos? Todo o romance é um jogo de escondidas; e o pacto
estabelecido com o leitor não ficará completo sem que este se atreva a perder,
porque saber perder também é uma das finalidades do jogo. Nada de grave: os derrotados
dão boas histórias.
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