Imagine-se um mundo onde poetas e artistas
inspirassem medo. Novela para todas as idades ou retrato do poeta enquanto
jovem cão, nada se exclui. Afonso Cruz assinou o Scrapbook da LER de Verão, uma coluna onde se pretende cruzar o trivial com o essencial, sem nunca ultrapassar os 1200 caracteres. Ora (re)leiam:
CMA: Vamos Comprar um Poeta é uma novela distópica ou realista?
AC: Não são
sinónimos?
CMA: Gostaria que este livro fosse lido por quem?
AC: Por toda
a gente, claro. Há sempre a legítima esperança de chegar a pessoas que sabem
ler, mas que (ainda) não são leitoras. Por vezes faz-se alguma confusão entre
uma coisa e outra. Aprender a ler é um trabalho mais ou menos confinado no
tempo, mas ser leitor é um trabalho eterno. É sempre possível interpretar
melhor, é um processo inesgotável.
A cultura
tem um papel muito importante a todos os níveis, ontologicamente e teleologicamente,
por isso espero que nunca seja demais sublinhar isso. Tenho pena de que, por
vezes, os próprios agentes culturais desprezem a profundidade que lhe é
inerente e digam coisas como «a ficção é um escape para uma realidade difícil».
Acho que é muito mais do que isso. A ficção constrói toda a realidade. Todo o
futuro humano depende dela.
CMA: Quando usou a palavra «debalde», imaginou-a
meio cheia ou meio vazia?
AC: No
contexto, vazia. Mas acredito que terá a sua ressurreição, enquanto vocábulo em
desuso, em relação a direitos humanos, democracia, justiça social.
(Mais sobre Vamos Comprar um Poeta aqui.)
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