sexta-feira, 18 de novembro de 2016

JOANA ESTRELA, AS MANAS, OS IOGURTES E AS KARDASHIANS



A eterna rivalidade entre irmãos deu o mote a uma (quase) estreia prometedora: Joana Estrela. Nascida em Penafiel, em 1990, e formada em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas-Artes do Porto, publicou um dos mais curiosos livros deste ano. Editado pela Planeta Tangerina, Mana ganhou, e muito bem, o I Prémio Internacional de Serpa para Álbum Ilustrado 2015. Joana Estrela será uma das convidadas portuguesas do primeiro encontro Desfacendo a Raia, que acontece daqui a uma semana em Santiago de Compostela. Já lá voltaremos. Para já, fica a entrevista – em versão «estendida» – que saiu na última edição da LER, secção Leituras Miúdas:

Diz que «o texto e a imagem são melhores quando estão
juntos». Sendo assim, porque é que há tantas relações falhadas?

Todos os consultórios amorosos das revistas cor-de-rosa dizem que o segredo de uma boa relação está na comunicação. Se o texto e a imagem não se conhecem, nem se complementam, nem estão dispostos a adaptarem-se um ao outro, dá em divórcio.

Como reage à resposta «o seu estilo não se enquadra na nossa linha editorial»?

Bem, ao menos responderam.

Gosta de fazer listas. Confesse sete coisas que as/os
irmãs/irmãos mais velhas detestam.
A roupa que desaparece do armário. O último iogurte que desaparece do frigorífico. O gato que adoptou sem me perguntar primeiro. Quando ela cresce e começa a ler livros muito mais inteligentes que eu. Quando se muda para a Holanda. Quando fico eu aqui com o gato dela, e sem companhia para ver as Kardashians (mas com a roupa e os iogurtes intactos!).

Está a trabalhar num projeto sobre Antónia Rodrigues (n. 1580, Aveiro), a adolescente que se vestiu de marinheiro e cortou o cabelo para ir combater no norte de África. Como imagina esta personagem?
Imagino que foi uma mulher desenrascada, corajosa e que, enquanto viveu como homem, carregou o peso de quem vive com um segredo. 

Encontrei temas de Alison Bechdel no seu trabalho: o quotidiano familiar, os desencontros comunicativos, o humor irónico, as questões de género... Bechdel é uma referência?
Não sei o quanto é influenciou o meu trabalho, mas é sem dúvida alguém que gosto muito de ler! Admiro a maneira como ela utiliza a biografia ou autobiografia para falar de temas mais gerais (política, literatura, psicologia...) e vice-versa. Em relação a outras referências, tenho a sensação de que aprendi tudo o que sei de banda desenhada com a Turma da Mónica. Leio esses «gibis» desde que sei ler, e nesses 20 anos devo ter absorvido muita coisa. Sempre gostei que não houvesse heróis nem vilões e que, dependendo de como a história é contada, às vezes és levada a torcer pelos rapazes e os seus planos infalíveis, ou pela Mónica e a sua fúria e arremesso de coelhos de peluche. Não é nada fácil fazer personagens tão complexos parecerem tão simples.


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