terça-feira, 15 de novembro de 2016

TEMPOS DO TEMPO



DIA DE OUTONO

Senhor: é tempo. O verão foi muito longo.
Lança a tua sombra sobre os relógios de sol
e solta os ventos sobre as campinas.

Manda que os últimos frutos se arredondem;
dá-lhes inda dois dias mais meridionais,
leva-os à perfeição e faze entrar
a última doçura no vinho pesado.

Quem agora não tem casa, já não vai construí-la.
Quem agora está só, longo tempo o será,
fará vigílias, e lerá, escreverá longas cartas
e vagueará, de cá para lá, nas alamedas,
agitado, quando o vento arrasta as folhas.


Rainer Maria Rilke, Poemas I, ed. Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, 1967. Prefácio, selecção e tradução de Paulo Quintela.

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