segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

EM NOME DA FILHA



(...) Violência doméstica, violência relacional, violência entre parceiros íntimos, violência em contexto de intimidade: nas páginas que se seguem usei as várias expressões num sentido equivalente. Na primeira parte, conta-se a história de uma adolescente, hoje com 39 anos, que no início da década de 1990 presenciou o assassinato da mãe às mãos do pai. Desde então, muito se progrediu no afrontar de um drama que deixou de ser «doméstico» e se assumiu como uma responsabilidade político-social, dotada de legislação e de intervenção específicas. Na segunda parte, podem ler-se nove testemunhos recolhidos em casas de abrigo (com uma excepção), intercalados com contributos de vários especialistas nesta área, com conhecimentos teóricos e «de terreno». Por fim, na terceira parte, e porque acredito que as histórias têm o poder de curar, proponho a adaptação de um conto dos irmãos Grimm, A Rapariga das Mãos Cortadas, uma metáfora da condição agredida das mulheres; mas também da possibilidade de aceitarmos, corajosamente, as nossas feridas emocionais e seguirmos em frente. Homens e mulheres, juntos, num caminho de absoluta igualdade.
A violência, doméstica ou não, nunca vai acabar, mas não podemos remeter-nos ao silêncio dos não-inocentes. Este é o tempo que nos foi dado a viver. Temos de estar à altura dele. 

(da introdução à reportagem Em Nome da Filha - Retratos de Violência na Intimidade, o meu 12º livro, recém-publicado na colecção «Retratos» da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Fotografia de capa de Valter Vinagre) 

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