(...) Violência doméstica, violência relacional,
violência entre parceiros íntimos, violência em contexto de intimidade: nas
páginas que se seguem usei as várias expressões num sentido equivalente. Na
primeira parte, conta-se a história de uma adolescente, hoje com 39 anos, que
no início da década de 1990 presenciou o assassinato da mãe às mãos do pai. Desde
então, muito se progrediu no afrontar de um drama que deixou de ser «doméstico»
e se assumiu como uma responsabilidade político-social, dotada de legislação e de
intervenção específicas. Na segunda parte, podem ler-se nove testemunhos
recolhidos em casas de abrigo (com uma excepção), intercalados com contributos
de vários especialistas nesta área, com conhecimentos teóricos e «de terreno».
Por fim, na terceira parte, e porque acredito que as histórias têm o poder de curar,
proponho a adaptação de um conto dos irmãos Grimm, A Rapariga das Mãos Cortadas, uma metáfora da condição agredida das
mulheres; mas também da possibilidade de aceitarmos, corajosamente, as nossas
feridas emocionais e seguirmos em frente. Homens e mulheres, juntos, num
caminho de absoluta igualdade.
A violência, doméstica ou não, nunca vai
acabar, mas não podemos remeter-nos ao silêncio dos não-inocentes. Este é o tempo
que nos foi dado a viver. Temos de estar à altura dele.
(da introdução à reportagem Em Nome da Filha - Retratos de Violência na Intimidade, o meu 12º livro, recém-publicado na colecção «Retratos» da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Fotografia de capa de Valter Vinagre)
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