terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

MIGRAÇÕES



Estou a traduzir um livro em que os protagonistas são cisnes selvagens de uma espécie endémica da América do Norte, os magníficos cisnes-trombeteiros, cujo canto soa como um trompete. No meio das minhas pesquisas, tropecei neste videoclip que integra a banda sonora de um documentário francês (Le Peuple Migrateur), com assinatura desse romântico incurável chamado Nick Cave. Vem isto a propósito do Dia dos Namorados? Não. Adoro namorar e adoro o número 14, por motivos que nada têm a ver com estas convenções. Mas a música é lindíssima e a letra, idem: uma formulação poética do amor sem fronteiras e sem limites, não como pulsão egoísta de quem tudo quer (e tudo perde), mas do amor como movimento perpétuo entre a impermanência e a verdadeira entrega. O nosso querido Nicholas Edward Cave tem razão: «Love comes on a wing». O amor chega num golpe de asa, feito clarão e sobressalto, mas cresce num trabalho diário de filigrana, com «disciplina», «concentração» e «paciência», porque o amor é essencialmente «uma força activa» e não um segredo mitificado. Disse-o Erich Fromm, psicanalista, sociólogo e filósofo da Escola de Frankfurt, num livro que recomendo, The Art of Loving, traduzido em português por A Arte de Amar (não se deixem desmotivar pela capa), originalmente publicado em 1956 e perfeitamente atual. Um excerto:

«Ter fé requer coragem, a capacidade de correr riscos e de aceitar a dor e a desilusão. Quem insiste na segurança e na cautela como condições primárias para viver, é incapaz de ter fé; quem se isola num sistema de defesa, na segurança da possessividade e da distância, transforma-se num prisioneiro. Amar e ser amado requer coragem, a coragem de acreditar em certos valores - e de arriscar e apostar tudo nesses valores.»

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