Fico um bocado sem jeito quando me agradecem notícias, reportagens, entrevistas ou o que quer que esteja relacionado com esta desgraçada profissão que escolhi. Tivesse eu seguido os conselhos dos mais velhos e não teria sido jornalista (muito menos professora ou juíza, como também sugeria o oráculo), mas uma fluente gestora discursiva de línguas estrangeiras – quantas mais, melhor. As minhas raízes são aéreas, como as de certas árvores, e a mobilidade profissional tornou-se um valor que muito prezo. Com uma profissão um pouco mais exportável, a esta hora já me teria posto a milhas deste país cinzento que hoje vai a votos, palavra de honra. Mas enfim... “Vamos em frente que atrás vem gente”, diz-se lá na terra que me legou os melhores genes.
Fico um bocado sem jeito quando me agradecem, dizia, porque parto sempre do princípio que estou a fazer o meu trabalho, pelo qual sou paga – mal ou bem, não interessa. Não, não é falsa modéstia. É claro que gosto de ter feed-back acerca daquilo que faço; gosto que me digam “isto ficou bem” ou “enganaste-te aqui, totó”. Simplesmente, não estou à espera nem de uma coisa nem de outra. É mais saudável assim.
Surpreendeu-me, por isso, um e-mail do editor da Booksmile, Manuel de Freitas, sobre a nota crítica ao Galope!, publicada na última LER e também aqui. Não se trata de um mero agradecimento de circunstância, mas de atenção ao que, curiosamente, foi o aspecto menos conseguido que destaquei no livro: a adaptação do texto para português. Mais do que o fair-play revelado por Manuel de Freitas – e o fair-play é outro valor que muito prezo –, parece-me fundamental compreender que a crítica ao livro infantil não se pode eximir do papel de esclarecer quem lê, acabando de vez com esse preconceito de que não há nada a dizer de livros “fofinhos” e inofensivos que têm pouco texto e muitos “bonecos”. Devemos, pelo menos, tentar. Sem qualquer espírito de cruzada, porque as cruzadas dão sempre mau resultado.
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