El Contador de Cuentos, de Saki, pseudónimo do escritor de origem anglo-birmanesa Hector Hugh Munro (1870-1916), tem pouquíssimas hipóteses de alguma vez ser conhecido em português (nem sequer o encontro na Amazon). Publicado pela editora venezuelana Ekaré, foi o livro vencedor na categoria New Horizons – distinção reservada a obras de qualidade vindas dos países árabes, América Latina, Ásia e África – da última Feira do Livro Infantil de Bolonha. Não era suposto estar à venda ao público no stand da feira, mas cada um faz pela vida; e se as grandes editoras europeias ou norte-americanas se podem dar ao luxo de recusar compradores ocasionais, outras não farão o mesmo. Por mim, encantada.
Com ilustrações de Alba Marina Rivera, El Contador de Cuentos narra um episódio passado durante uma viagem de comboio, sendo desde logo admirável o book jacket que envolve o livro, reproduzindo a carruagem. A história começa a ser contada desde aí. Se na capa interior é a imagem do contador de contos que surge destacada – é a única figura colorida –, no book jacket vê-se uma família bem composta mas em estranho sobressalto. A tia, de feições duras e obviamente zangada, repreende as crianças, que por sua vez parecem alheadas da influência que esta lhes pretende impor. Dir-se-ia que estão no mundo delas, um reflexo salutar, como se percebe no fim…
Com ilustrações de Alba Marina Rivera, El Contador de Cuentos narra um episódio passado durante uma viagem de comboio, sendo desde logo admirável o book jacket que envolve o livro, reproduzindo a carruagem. A história começa a ser contada desde aí. Se na capa interior é a imagem do contador de contos que surge destacada – é a única figura colorida –, no book jacket vê-se uma família bem composta mas em estranho sobressalto. A tia, de feições duras e obviamente zangada, repreende as crianças, que por sua vez parecem alheadas da influência que esta lhes pretende impor. Dir-se-ia que estão no mundo delas, um reflexo salutar, como se percebe no fim…
Será assim tão difícil “contar contos que as crianças possam entender e apreciar ao mesmo tempo”, como pretende a tia? O homem que viaja sozinho e partilha a mesma cabine de comboio não está de acordo. Perante a inabilidade da senhora em acalmar as crianças, decide contar ele mesmo uma história cuja protagonista é uma menina “horrivelmente boa”, expressão que cativa de imediato a atenção dos miúdos. Era uma menina tão boazinha, mas tão boazinha, que as medalhas de boa conduta, obediência e pontualidade que sempre trazia pregadas ao vestido – e que chocalhavam tanto, as horríveis medalhas – acabaram por denunciá-la quando tentava escapar de um lobo, escondida num arbusto, tremendo de medo. Não se aguentava o ruído de tanta bondade junta, estão a ver... O seu último pensamento foi: “Se não tivesse sido tão extraordinariamente boa, a esta hora estaria a salvo.” Depois veio o lobo e comeu-a. Eis o que disse a tia, no fim da história:
– “É um conto do mais inadequado que há para crianças pequenas. Acaba de deitar a perder o trabalho de anos de esmerada educação.”
– “Em qualquer caso – disse o homem, enquanto recolhia a bagagem e se dispunha a abandonar o vagão – mantive-os calados durante dez minutos, o que é mais do que a senhora conseguiu.”
– “Pobre mulher! – disse para si próprio enquanto chegava à plataforma da estação de Templecombe –; durante os próximos seis meses, mais ou menos, as crianças não deixarão de a perseguir diante de toda a gente, pedindo-lhe um conto inadequado.”
1 comentário:
Li "The Storyteller" no 1º ano da Faculdade e nunca mais esqueci esse conto do excelente Saki!
Fiquei com muita vontade de conhecer essas ilustrações!
Até amanhã,
Paula
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