quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
ALICE, O SCRIPT
Tão cedo não cometerei novamente o erro de ver o filme primeiro e ler o livro depois, mas o inverso também tem os seus quês. Por razões de trabalho, fui “obrigada” a ler a adaptação do argumento cinematográfico de Alice no País das Maravilhas, o que desencadeou uma espécie de projecção mental paralela da primeira à última página. Vou entrar no cinema com a sensação de déjà vu, o que é chato. As piscadelas de olho a Matrix (filme em que os espectadores se divertem a anotar as múltiplas referências a Alice) são muito mais do que isso; a especulação sobre o facto de Alice ser ou não ser a “The One” atravessa toda a versão de Tim Burton. A cena da resposta do oráculo é… enfim, não quero estragar a surpresa. O resto é Mr. Burton tal como o estamos habituados a ver. Por exemplo, nesta revisitação (ainda mais) lúgubre do Jardim das Flores Vivas, um dos cenários vitorianos de Alice do Outro Lado do Espelho:
“O seu olhar pousou sobre uma fila de flores e, então, deu um salto. Tinham mesmo caras humanas, mas como é que ela já sabia que teriam? Por outro lado, não eram aquelas que, por qualquer razão, ela esperava. Estas caras eram esqueléticas e fantasmagóricas, como se as flores estivessem a morrer à fome. Os olhos delas olhavam, inexpressivos, para além dela e as suas pétalas pendiam, murchas, com as cores pálidas e desvanecidas mal se distinguindo contra o fundo castanho e acinzentado. Nenhuma lhe disse nada, embora duas deixassem o seu olhar errar devagar pela cara dela, e depois os desviassem de novo para o chão.”
(Alice no País das Maravilhas, adaptação de T. T. Sutherland, baseada no argumento cinematográfico de Linda Wooverton para o filme de Tim Burton, edição Dom Quixote)
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