segunda-feira, 28 de junho de 2010

FENÓMENOS PREOCUPANTES OU NEM POR ISSO


Secção de "Auto-estima infantil" na livraria Bertrand do Vasco da Gama. Ver também aqui.

FEIRA DO LIVRO DA RIBEIRA


«A Feira do Livro "Saldos Verão 2010" decorre no Mercado da Ribeira, em Lisboa, de 26 de Junho a 11 de Julho, diariamente, das 10h00 às 19h00. Milhares de livros em fim de edição e em saldo, usados e manuseados, estão à venda a preços acessíveis, com 20 por cento a serem vendidos em “operação fim de stock”. Há também um local onde, diariamente, estão expostos livros com promoções adicionais. Os livros infantis têm também uma forte presença na feira onde, paralelamente, decorre uma venda de utilidades, velharias, discos de vinil, cassetes e CD.»

(Informação enviada pela agência LPM.)

LISBOA BY VIEW-MASTER, ANOS 1950

domingo, 27 de junho de 2010

VIEW-MASTER: A REALIDADE AGORA A CORES




"Não há turistas mal comportados nas Cataratas do Niágara. Como figurantes na maqueta de um mundo perfeito, vivem suspensos no interior dos discos do View-Master, com os seus binóculos e oleados pretos, imunes ao vento e aos salpicos de água, sempre rodando no sentido dos ponteiros do relógio. Se quiséssemos, poderiam rodar até à eternidade, sem nunca tirar os olhos da paisagem.

O View-Master foi uma das atracções da Feira Internacional de Nova Iorque, em 1939, a par da Magna Carta e do ar condicionado. Patenteada no ano seguinte, a invenção partiu do engenho de dois norte-americanos, Gruber e Graves, apostados em recuperar o princípio dos visores estereoscópicos do século XIX: duas imagens bidimensionais que, sobrepostas, dão a ilusão de profundidade. O uso do filme Kodachrome, outra invenção recente do tempo de Gruber e Graves, completou a magia. Com as suas cores saturadas e formato 16 mm, também usado pelo cinema, a realidade nunca foi tão luminosa como através do View-Master. Até os oleados pretos dos visitantes das Cataratas do Niágara adquirem um brilho especial.

Para as gerações de miúdos que nele tiveram um dos seus brinquedos preferidos – o equivalente em sofisticação às actuais consolas de videojogos –, saber que o View-Master surgiu para mostrar o Grand Canyon ou as Grutas de Carslbad é uma relativa decepção. Além de gadget turístico, também foi usado para fins militares, uma ideia aviltante, mesmo sabendo que estávamos na época em que até o mais inocente objecto era olhado como potencial contribuinte para o esforço de guerra.

Mas pouco importa. O View-Master continua a ser o cinema portátil a que tivemos direito, o único onde nunca pagámos bilhete. Fomos os projeccionistas amadores das histórias de Peter Pan, Cinderela, Mickey Mouse e Os 101 Dálmatas, entre tantas outras. Tivemos um vislumbre da Estátua da Liberdade e do Outono no Vermont, sem saber onde era o Vermont. Conhecemos a vida selvagem de África, acompanhando as imagens com legendas típicas dos interlúdios do cinema mudo: «O leão é naturalmente preguiçoso.» Ou: «Jovens elefantes tomando banho.»

Com o View-Master, nunca foi preciso acumular pontos para subir de nível. O jogo era outro. O jogo era só nosso."

(Texto integral da versão publicada no número de 13 de Junho da Notícias Magazine, revista de domingo do DN e JN, na secção "Nostalgia". Imagens originais de view-master digitalizadas com a cortesia do jardineiro honorário deste blogue, Guto Ferreira.)

sábado, 26 de junho de 2010

VENCEDOR DO PRÉMIO KATE GREENAWAY 2010, 2


Regressando ao post anterior, é preciso dizer que Samuel e Saltitão (Caminho) é um livro a todos os títulos memorável. Não só pelas suas extraordinárias ilustrações a aguarela, guache e carvão, que deram a Freya Blackwood a prestigiada Kate Greenaway Medal, atribuída anualmente no Reino Unido desde 1956; como pelo texto de Margaret Wild, autora de origem sul-africana também amplamente premiada. É raro um livro para crianças conseguir tratar com tanta “magia” (costumo inibir-me de usar esta palavra, mas não desta vez) o tema da morte e do luto – neste caso, de um animal – sem lhe subtrair um pingo de honestidade. Samuel e Saltitão consegue-o, sem lamechices, mas com toda a comoção possível (mal vai quem não se emocionar com este livro...). Curiosamente, Freya Blackwood já tinha ilustrado uma narrativa de teor semelhante, em que a perda de um elemento da família e a relação entre pai e filha foram brilhantemente interpretados por Roddy Doyle. Sobre Her Mother’s Face, ler aqui o post publicado no Jardim Assombrado/LER.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

VENCEDOR DO PRÉMIO KATE GREENAWAY 2010, 1


Anunciámos aqui e confirmou-se ontem:

“A ilustradora australiana Freya Blackwood ganhou a medalha Kate Greenaway de 2010, o prémio de ilustração para crianças mais prestigiado do Reino Unido, pelas suas ilustrações do livro Samuel e Saltitão (Harry & Hopper, no original), com texto de Margaret Wild. O livro, publicado pela Caminho em 2009, retrata de modo comovente o modo como um rapazinho, Samuel, lida com a morte súbita de Saltitão, o seu cão.

Margaret Pemberton, presidente do júri, afirmou sobre o livro vencedor: «Em Samuel e Saltitão, Freya Blackwood prima pelo uso da cor suave, da perspectiva, do espaço exterior e interior, para abordar de forma poderosa o relacionamento pai-filho e a morte de um animal de estimação muito amado. Um tema delicado para as crianças é tratado com grande mestria, e as emoções de Samuel e as suas recordações de Saltitão são expressas visualmente com grande eficácia.»

Esta distinção foi instituída no Reino Unido em 1955 em honra de Kate Greenaway, ilustradora infantil do século XIX. A medalha é atribuída anualmente a um livro notável do ponto de vista da ilustração para crianças. É concedida pelo CILIP (Chartered Institute of Library and Information Professionals).

Freya Blackwood nasceu em Edimburgo em 1975 durante uma viagem turística dos seus pais ao Reino Unido. Cresceu no estado australiano de New South Wales, na cidade de Orange, onde continua actualmente a viver com a sua filha de quatro anos.

As ilustrações de Freya Blackwood para Samuel e Saltitão foram parcialmente inspiradas por um cão que ela própria teve na infância, Furlani, que conheceu um fim igualmente triste e repentino. A ilustradora aponta Maurice Sendak e Shaun Tan como dois dos seus ilustradores preferidos.”

(Informação enviada pela editora.)

CONTADORES DE HISTÓRIAS


Hoje há festa em Montemor-o-Novo. Às 21h00, no pátio da Biblioteca Municipal Almeida Faria, oito contadores de histórias mostram o que valem no Festival Contos de Outra Hora. São eles: Jorge Serafim, Emílio Gomes, António Fontinha, Carlos Marques, Cristina Taquelim, Ana Sofia Paiva, Thomas Bakk e Luís C. Carmelo.

Quem não tiver hipótese de se deslocar até ao Alentejo (1h30 desde Lisboa… vá lá), fique também a saber que Luís Carmelo e Thomas Bakk são os protagonistas dos audiolivros O Mistério do Coiso e Anda Cá Que Eu Já te Conto, com a chancela da BOCA. Segundo palavras da editora (“palavras que alimentam”, pois claro), “os dois volumes inauguram a colecção HOT - Histórias Oralmente Transmissíveis, através da qual queremos registar e actualizar os vários géneros literários da tradição oral e homenagear os contadores de histórias.”

À apresentação da colecção HOT, que conta com o apoio do IELT – Instituto de Estudos de Literatura Tradicional e se integra na programação final do Festival Silêncio!, junta-se a narração das Memórias de Um Craque, de Fernando Assis Pacheco, por Nuno Moura. Nada mais apropriado para uma tarde de intenso fervor futebolístico, com o jogo Portugal-Brasil, que acontece poucas horas antes do encontro no Jardim dos Sons do Goethe Institut, ao Campo Mártires de Pátria (Lisboa), às 18h00. Eu torço pelos contadores – não de golos, mas de histórias.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O MEU AVÔ, O LEIXÕES E A NAU CATRINETA


“E se me perguntarem porque torço pelo Leixões antes de qualquer outra equipa, não sei se sei responder, mas suspeito que as raízes no Porto e a associação aos pescadores de Matosinhos têm algum peso. O essencial é isto, parece-me: as escolhas futebolísticas também se fazem através de certos imaginários, afectivos, políticos e da memória, mesmo que para tal se ignorem várias outras coisas. Eu sei que o Leixões não coloca em campo jogadores-pescadores cheios de histórias do mar e de lutas por melhores condições de trabalho e de vida, e sim jogadores profissionais, tal como qualquer outro clube, que jogam no Leixões mas que poderiam jogar em qualquer parte. E é aqui que entra o irracional.”

Fiquei a saber que por motivos diferentes – ou nem tanto – partilho com a Sara Figueiredo Costa uma parte desta irracionalidade clubística.

LAICOS DESTE MUNDO, UNI-VOS


Estou há pouco mais de dois meses a morar nos Olivais Sul, a dez minutos a pé da Expo e a outros tantos da Bedeteca de Lisboa, onde este fim-de-semana acontece mais uma Feira Laica. Pretexto para conviver com editoras mui respeitáveis e independentes como A Estante, Ana Oliveira, projecto Apupópapa, Associação Chili Com Carne, Averno, zine B74, Blam Blam + Toys Are Evil, Contraprova, grupo Entropia, discos F.Leote + Ana Menezes, Imprensa Canalha, Mike Goes West, MMMNNNRRRG, Narcolepsia, autor Nevada Hill (EUA), Noori, Oficina do Cego, Opuntia Books, Pedro Gonçalves, Pedranocharco, Quarto de Jade, Reject'zine, Ruru Comix + Latrina do Chifrudo, Thisco...

Melhor do que isto, nos Olivais, só a gentileza das meninas do Happy Grill, explicando, calma e repetidamente, se é mais compensador optar por um Menu Family ou comprar os acompanhamentos à parte. Não caiam é na asneira de confundir os «supremos de porco» com «secretos de porco», a menos que tenham uns canitos em casa a quem dar razões de euforia e contentamento salivar.

JE VOUS EN PRIE

Boa pergunta, Miss Tânia. Se me tivesse lembrado antes... Mas desconfio que nem o próprio saberá responder. Quanto aos pastelinhos, são como as baguettes parisienses. Estão sempre lá, à sua espera.

FOGO À PEÇA


Na Fábrica da Pólvora, em Barcarena, encontram-se as últimas "produções ilustradas" do Alexandre Esgaio: um livro de actividades, outro de culinária e ainda outro sobre profissões extintas. A questão é: como exportá-los para outros lugares?

HIS MASTER'S VOICE


A Gramofone é o exemplo de uma colecção bem conseguida de livros didácticos, que junta o objectivo da aprendizagem de regras de gramática e fonética da língua portuguesa com a desenvoltura da linguagem textual e visual. Para esta qualidade concorrem, desde logo, os nomes dos autores: Alice Vieira, Rosário Alçada Araújo, Margarida Fonseca Santos, Luísa Costa Gomes e Afonso Cruz, nas ilustrações. Sem forçar a nota, conseguiram criar histórias divertidas e irrequietas em prosa e poesia, evitando o ar professoral e a rigidez da temática. Saíram, até agora, quatro volumes – cinco, com este de Rosário Alçada Araújo (na imagem), dedicado às onomatopeias e pontuação. Um novo título da autoria de Margarida Fonseca Santos está para breve. Vejam as capas e informação sobre todos os volumes no site da Texto.

terça-feira, 22 de junho de 2010

SE EU FOSSE TUDO O QUE EU QUISESSE SER


Ontem não houve oportunidade de actualizar o blogue, mas nem por isso a notícia perde relevância. Francisco José Viegas, escritor, editor, jornalista, cronista e director da LER (para ficarmos por aqui... uf), escreveu um livro para crianças, o primeiro de uma colecção intitulada "Se Eu Fosse...". Eu gostei muito. Para já, a capa, a abrir o apetite para as ilustrações de Rui Penedo. Amanhã, às 18h30, nos Pastéis de Belém, em Lisboa, digo mais coisas. Ao microfone. Pois.

A VIDA GRAÇAS A NÓS


“No lado ocidental de Manhattan há uma velha linha férrea elevada chamada Highline. Durante décadas os seus comboios rugiram muito acima das ruas da cidade, mas em 1980 a Highline foi fechada e esquecida. Sem ter de enfrentar pessoas nem comboios, a natureza viu-se livre para mudar a decoração. Com o passar dos anos, o cascalho e os carris oxidados deram lentamente lugar a flores selvagens e a árvores. E se hoje formos espreitar a linha, veremos um jardim luxuriante que serpenteia acima das ruas e por entre os prédios.”

Assinada pelo autor deste excelente livro, em jeito de posfácio, a descrição faz lembrar o guião de uma série fascinante que estreou o ano passado no Canal de História, A Vida Depois de Nós; ou como seria a Terra se, de repente, o ser humano desaparecesse e a Natureza tomasse conta de tudo. Com base em acontecimentos reais, Peter Brown, escritor e ilustrador norte-americano, desenhou um cenário semelhante, mas com um menino industrioso no papel de jardineiro demiurgo que decide transformar o local abandonado. Best-seller do The New York Times durante quase dois anos, O Jardim Curioso é, pela notável articulação entre a ideia, o texto e as ilustrações, um dos melhores títulos até agora publicados pela colecção Borboletras (Caminho).

Saiba mais sobre Peter Brown no site do autor, Some Brown Stuff.

OBRAS


Há tempos, um inglês descrevia-me o seu fascínio pela palavra “obras”. Estabelecido em Portugal há mais de dez anos, continuava a surpreender-se pelo uso abrangente e multifacetado do termo, por contraste com a objectividade dos ingleses. Enquanto estes especificam o que querem fazer, seja proceder a uma intervenção na via pública (“doing roadworks”), recuperar a fachada de um edifício (“renovate a building”) ou algo mais doméstico como mudar a casa de banho (“get the bathroom done”), a nós basta-nos uma palavra mágica para significar a mesma coisa e coisas muito diferentes. “A minha casa está em obras”, “tenho a cozinha em obras”, “aquela rua está em obras”, “o hospital vai entrar para obras”, “o país está em obras”, “este blogue está em obras”. Até há uma editora que conseguiu criar um slogan – brilhante, diga-se de passagem – a partir do termo: “Oficina do Livro. É bom trabalhar nas obras”.

TOMAR NOTA


Diccionario Historico de Autores de la Literatura Infantil y Juvenil Contemporánea, de Juan Jose Lage Fernandéz. Uma compra previsível para quando atravessarmos a fronteira e formos para aqui.

PEQUENOS PESSOAS


Em Lisboa, a Casa Fernando Pessoa inaugurou recentemente a “Exposição Pequenos Pessoas”, uma mostra de trabalhos realizados por alunos das escolas Engenheiro Ressano Garcia, Fernanda de Castro, Santo Condestável e Vale de Alcântara – visitável até 16 de Julho. O projecto visou a “divulgação e estudo da obra do autor, recorrendo à expressão plástica, à palavra e à partilha de conhecimentos, incentivando o público mais novo (6-9 anos) à leitura e à escrita”. Quase a começar estão oficinas criativas de Verão (3-9 anos), a decorrer entre 28 de Junho e 28 de Julho. O leit-motiv das oficinas, gratuitas, será o heterónimo Álvaro de Campos. Obrigatória a inscrição prévia pelo telefone 213913270.

domingo, 20 de junho de 2010

O TIGRE NÃO MORREU


Desculpem, mas não é todos os dias que a nossa colecção de cromos preferida – do longínquo ano de 1976 – se revela em todo o seu esplendor na última página de uma revista. Reduzir o herói a uns escassos 1800 caracteres é que é quase imperdoável:

"Por uma nota de vinte escudos, a extinta distribuidora Regimprensa fez chegar às mãos dos fãs uma das cadernetas de cromos mais procuradas de sempre. Para quem se tinha habituado a seguir a série de televisão na RTP, descobrir um Sandokan a cores causou alguma estranheza, mas a bandeira vermelha do Tigre de Mompracem estava de acordo com o air du temps. Herói revolucionário, incansável na luta contra a opressão e a injustiça, Sandokan representa o espírito romântico da pirataria, o fora-da-lei secretamente admirado pelo inimigo: «Quem sabe se eu não tivesse nascido com a pele branca, talvez pertencesse àquele lado…”, diz Lord James Brooke, no cromo 288, ao ver o pirata da Malásia fugir-lhe por entre os dedos. E conclui, com a lucidez dos derrotados: «Mas agora é demasiado tarde.»
No mundo de Emilio Salgari, nem os bons são incorruptíveis nem os maus são sempre odiosos. Lord Brooke mostra-se «um homem sem escrúpulos, mas com o sentido da honra». Koa, um dos fiéis a Sandokan, conspira com os ingleses numa armadilha, mas suicida-se por não poder «resistir à vergonha da sua traição». Lord Guillonk, tio da bela Marianne, a pérola de Labuan, «é um homem frio mas com uma afeição muito grande pela sobrinha». E o Capitão Fitzgerald, que lhe move uma corte diplomática e insistente, é morto «à sombra de uma enorme árvore, gloriosamente, como um militar teria desejado.»
Porém, ninguém se compara à figura de Ianes, o braço-direito de Sandokan, um gentleman de bigode e cigarrilha cuja aparente fleuma não desmerece as origens: «Português, de origem nobre, atravessou meio mundo antes de alcançar Mompracem e de se tornar no melhor amigo de Sandokan. Aventureiro temido, com um passado misterioso, leal, generoso, está sempre pronto para a aventura e sempre com o sorriso nos lábios.»
Ainda se fazem cromos assim?"

(Publicado na Notícias Magazine de hoje, junto com o Diário de Notícias e Jornal de Notícias. Para quem quiser rever imagens da série e trautear a música do genérico em italiano, aqui fica o registo da canção de Claudio Baglioni no You Tube. Todos em coro: “Sandokan Sandokan / giallo il sole la forza mi dà / Sandokan Sandokan / dammi forza ogni giorno ogni notte coraggio verrà / Sandokan Sandokan ...)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

ABECEDÁRIO DE LUÍSA DUCLA SOARES


Do mais recente livro de Luísa Ducla Soares, Brincar com as Palavras, eis um ABC que nos traz qualquer coisa da deliciosa perversidade de Edward Gorey:

“Abecedário Maluco de Nomes”

A é o António, que faz coisas do demónio.
B é o Bernardo, picou o rabo num cardo.
C é a Catarina, a fugir de uma vacina.
D é a Diana, com o sapato se abana.
E é a Elisa, sai à rua sem camisa.
F é o Filipe, para faltar diz que tem gripe.
G é a Gabriela, que se julga muito bela.
H é o Hugo, mais gordo que um texugo.
I é a Isabel, tem mais borbulhas que pele.
J é o João, a beber do garrafão.
L é a Leonor, namora o computador.
M é o Mário, guarda os livros no aquário.
N é a Natália, quando chove usa sandália.
O é a Olívia, lava as unhas com lixívia.
P é a Paulina, põe creme de margarina.
Q é o Quim, nas aulas come pudim.
R é o Ricardo, morde como um leopardo.
S é a Susana, a cavalo numa cana.
T é o Tomás, só de mentir é capaz.
U é o Urbino, come as cascas do pepino.
V é a Vanda, caiu na jaula do panda.
X é a Xana, tropeçou numa banana.
Z é o Zeca, plantou relva na careca.

(Brincar com as Palavras, de Luísa Ducla Soares, tem ilustrações de Joana Alves, Maria João Lopes e Teresa Lima, e ainda um CD musicado e interpretado por Daniel Completo. Ed. Civilização, 2010)

UMA NOVA COLECÇÃO



De Kate Bloom e Emma Pack, chegam hoje às livrarias os dois primeiros títulos de uma nova colecção intitulada As Fadas do Vale Encantado. Segundo informações da Editora Nacional, os enredos desenvolvem-se à volta “de quatro fadas cuja missão é ajudar as crianças a realizar desejos especiais”. Pelo press-release, dá para perceber que são livros de pequeno formato e capa flexível, e custam 5,5 euros cada.

TALENTOS RENOVÁVEIS


O Rapaz Que Prendeu o Vento, de William Kamkwamba e Bryan Mealer, publicado desde dia 4 de Maio em Portugal pela Editorial Presença, venceu o prémio Nautilus Book Awards 2010, na categoria de ecologia, ambiente e sustentabilidade. Os Nautilus Book Awards reconhecem livros que promovam o crescimento espiritual, um estilo de vida consciente e que dêem origem a mudanças sociais positivas. Bestseller do New York Times, O Rapaz Que Prendeu o Vento foi considerado “o melhor livro de 2009” pela Amazon.com e pela revista Publishers Weekly. Mais informações aqui.

(Informação enviada pela editora.)

UMA FLOR PARA JOSÉ SARAMAGO


Retirada ao Jardim Assombrado, a maior flor que ele conseguiria imaginar.

terça-feira, 15 de junho de 2010

AMANHÃ ARREBATAREI UMA BESTA


Amanhã arrebatarei uma besta é o título de uma narrativa gráfica ainda no prelo. A exposição que dá pelo mesmo nome, na Galeria de Papel do Espaço Campanhã, mostra a maior parte do trabalho que deu corpo a este livro. Uma maqueta do livro está igualmente presente para consulta no espaço da galeria.”

Não me importava de dar um salto ao Porto só para ver a exposição do Daniel Silvestre da Silva; sem dúvida, um dos meus ilustradores portugueses preferidos. Licenciado em Artes Plásticas/Pintura pela ESAD de Caldas da Rainha, trabalha em ilustração infanto-juvenil desde 2006, tendo colaborado com autores como Alice Vieira, Ana Saldanha, João Pedro Mésseder, José Jorge Letria, Wang Suoying e Ana Cristina Alves. Vejam o blogue aqui.

O horário do Espaço Campanhã é de terça a sábado, das 14h00 às 20h00. Morada: Rua Pinto Bessa 170 r/c tras., 122 Armazém 4/5 (atrás do BANIF). A exposição deverá ficar até ao fim do mês.

CARLA MATADINHO

Confesso: também me “googlo” de vez em quando. É um exercício com o seu quê de deprimente, logo às primeiras letras. Ainda vou no “Carla Ma…” e já me aparece a endiabrada Carla Matadinho com as suas imparáveis rotinas, uma vida mais animada do que Sunset Boulevard em noite de fim-de-semana. Ele é “Carla Matadinho fotos roubadas”, ele é “Carla Matadinho vídeo escândalo”, ele é “Carla Matadinho fotos namorado”, “Carla Matadinho fotos íntimas”, “Carla Matadinho Maxmen”… Que dizer de tudo isto? O meu momento alto do dia acontece quando tomo café em jejum e sinto os neurónios a reagregarem-se lentamente. Por acaso, já passou.

E DEPOIS DISTO VOU DORMIR


“Era uma vez um menino pobre, que não tinha pai, nem mãe. Tudo estava morto e não havia ninguém mais no mundo. Tudo morto. E o menino andou, procurando dia e noite. E já que não havia ninguém mais no mundo, quis ir para o céu, onde a lua olhava com tanta simpatia. E quando chegou na lua, viu que era um pedaço de madeira podre. E então foi para o sol, e quando chegou no sol, viu que era um girassol murcho. E quando chegou nas estrelas, viu que eram mariposas douradas, estavam espetadas, como se espetam os vagalumes nas árvores. E quando quis voltar para a terra, a terra era um porto destruído. E o menino estava sozinho. Então se sentou e chorou, e até hoje ainda está sentado, sozinho.”

Foi postado há pouco tempo no Blogtailors e Pó dos Livros (pelo menos), mas não podia faltar no Jardim Assombrado: “Children’s Story”, uma pequena obra-prima de humor negro, escárnio e sacanice, contada e musicada por Tom Waits. Para quem não saiba, vem no álbum triplo Orphans – variante Bastards (os “bastards” dão sempre as melhores histórias). O texto acima (retirado daqui) é um excerto da célebre peça de George Büchner, Woyzeck, e a animação pertence a Matt Rosemier. Só escapou ao vídeo o riso sarcástico de Tom Waits, no final, tal como vem no disco…

PS – Tenho dúvidas quanto à tradução de “porto destruído”, mas infelizmente não leio alemão para poder comparar com o original.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

SAIAM DA FRENTE


A nossa caixa de correio está prestes a ser abalroada por um rinoceronte.

LER PARA CRESCER

No dia 3 de Julho, a Biblioteca Municipal de Ílhavo recebe o “Ler Para Crescer”, um encontro aberto ao público (mediante inscrição) onde participam José António Gomes (“Literatura infantil e promoção da leitura”), Ana Margarida Ramos (workshop “Como ler um álbum?”), Elisa Sousa (“O livro na família e no jardim de infância”) e Inês Vila (“Ler para crescer”). O programa pode ser consultado aqui.

A ILUSTRAÇÃO EM DESTAQUE

Daqui a um mês, começa na Universidade do Minho (Campos de Gualtar – Braga) o 8º encontro nacional/6º internacional em “Leitura, Literatura Infantil e Ilustração”. Dois dias para falar das linguagens da ilustração do livro para crianças, com comunicações sobre o papel do design, das guardas e outros tópicos habitualmente pouco discutidos. O programa provisório pode ser consultado aqui. Até ao dia 15 de Junho, a inscrição tem o valor de 50 euros, passando para 60 depois dessa data.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O SENHOR MELANCÓMICO



Sob os céus de Lisboa, algures entre as Amoreiras e Campo de Ourique, encontra-se o Melancómico, um possível pen-friend do Senhor Palomar (qual deles?) que carrega o mundo em sacos de supermercado. É o melhor pedaço de televisão que já vi desde Um Mundo Catita. Os quatro episódios, aqui, por partes. Pode começar pelos primeiros cinco minutos, clicando agora no "play".

quarta-feira, 9 de junho de 2010

GENIOZINHO


“Na altura dizíamos-lhe que se trabalhasse muito ainda ia conseguir publicar um livro e isso passou a ser um sonho para ela. No verão passado, quando estávamos de férias ela estava a ler O Rapaz de Bronze de Sophia de Mello Breyner Andresen e disse-nos que não sabia como a autora tinha conseguido publicar o livro porque escrevia como ela”, contou Emília.

Emília é a mãe da menina de nove anos que acaba de publicar um livro de histórias para crianças, a que deu o nome de A Grande Máquina do Tempo. Uma editora de Coimbra, Temas Originais, aceitou publicar o texto; que, segundo se diz nas notícias (aqui e aqui), não encontrou resposta noutras casas. Sinceramente, só espero que a moda não pegue. Não acredito em geniozinhos da literatura infantil que gostam de brincar às casinhas e vão à natação todos os dias, e muito menos em pais babados que admitem que a filha possa escrever como a Sophia de Mello Breyner Andresen. Se a catraia fosse minha, mandava-a já ler The Book of Virtues, do William J. Bennett, com posterior resumo de todos os capítulos.

Esclareço que a imagem acima não é da menina de Vila Real. Fui agora buscá-la à minha colecção de postais pirosos.

PERDAS


Com poucos dias de intervalo, sucederam-se duas perdas de vulto para a literatura infanto-juvenil: João Aguiar e, ontem, António Manuel Couto Viana. Pena, muita pena.

SIGA ESTE BARCO


Paulo Nogueira, jornalista, escritor, crítico literário e um dos maiores “especialistas em generalidades” que conheço, entrou há pouco na blogosfera com o Transatlântico, nome sacado ao penúltimo livro (e ainda o meu preferido). Não confundir com o Transa Atlântica, da MM.

MALASARTES 19


Pelos motivos do costume (work, work, work), este jardim tem estado em pousio nos últimos dias. Nada que uma chuvada de Verão – ou quase Verão – não possa recuperar. Ou então a notícia de que já saiu a nova Malasartes, lida no blogue Bibliotecar. Quem quiser saber o que lá pode encontrar, veja aqui.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

quinta-feira, 3 de junho de 2010

DA HUMILDADE INICIAL DA ESCRITA

“Infelizmente, a literatura infantil continua ainda a ser para muitos adultos campo fértil para exercícios de expiação. Incapazes de se salvarem da sua hipocrisia, agarram na bonecada do costume e lançam ao mundo a sua mensagem pelo tal mundo melhor que são incapazes de construir e pelo higiénico exemplo que nunca o serão.” Ler aqui.

Confesso: não sabia que Sarah The Duchess of York Ferguson tinha uma carreira tão prolixa como escritora de livros para crianças, até deparar com este post no blogue da Bruaá. Logo fui confirmar à Amazon e constatei que sim, que Sarah The Duchess of York Ferguson já escreveu imensos livros para crianças. Que grande talento tenho andado a perder.

O ESCRITOR DAS COISAS SELVAGENS


Apesar de uma obra relativamente curta, o inglês David Almond foi recentemente distinguido com o Prémio Hans Christian Andersen, o mais prestigiado galardão da literatura para crianças e adolescentes. Nas suas histórias não há elfos guerreiros nem vampiros sexy. Bom, para variar.

Não é exacto dizer que David Almond é um escritor realista, mesmo quando descreve com rigor os bairros cor de tijolo das classes trabalhadoras, cercados por baldios e minas abandonadas – uma evocação da sua infância na antiga localidade industrial de Feeling-on-Tyne. Se Hemingway e Raymond Carver são influências visíveis nesta escrita límpida e desafectada, o tema da queda e redenção coloca-o mais próximo do imaginário incandescente de Flannery O’Connor ou William Blake. Forjadas em lugares subterrâneos, a meio caminho entre o real e o sobrenatural, as suas histórias são povoadas por presenças nunca totalmente decifradas pela lógica. Skellig, o sem-abrigo com asas de anjo que se esconde numa garagem em ruínas, sobrevivendo com a ajuda de duas crianças, cerveja e aspirina, inaugurou uma galeria de personagens misteriosas, quase sempre representativas da protecção dos adultos, nunca reduzidos a caricaturas pelo autor. A morte das figuras familiares, a inquietação de crescer e a conquista da autonomia impulsionam as vidas das crianças e adolescentes que se perdem nestes emocionantes enredos. Mas não para sempre.

Skellig é também o título do primeiro romance juvenil de David Almond (O Segredo do Senhor Ninguém, em português), publicado em 1998 e vencedor dos prémios Whitbread e Carnegie. Seguiram-se Kit’s Wilderness (O Grande Jogo) e Heaven Eyes (Um Cantinho no Paraíso), também editados em Portugal. O quarto título, O Meu Pai é um Homem-Pássaro, destinado a um público mais infantil, é uma relativa decepção para quem leu os anteriores. Depois do Prémio Andersen 2010, espera-se que a Presença conclua a publicação da obra de David Almond, em particular de Secret Heart, The Fire Eaters (novamente vencedor do Whitbread) e Clay. As traduções de Fernanda Pinto Rodrigues e Ana Corrêa da Silva souberam preservar a exigência de um escritor cujo trabalho sobre a palavra foi também uma das razões óbvias da atribuição deste cobiçado prémio.

(Texto publicado na LER nº 92. Fotografia de Sara Jane Palmer.)

quarta-feira, 2 de junho de 2010