domingo, 6 de fevereiro de 2011

OS ANIMAIS NA GUERRA


Há uma cena intolerável em Expiação, o filme realizado a partir desse fabuloso romance de Ian McEwan, em que os cavalos são alinhados e mortos na praia com um tiro na cabeça, como estratégia de eliminação de despojos úteis para o inimigo. Os animais, selvagens ou domésticos, que não planeiam guerras nem as executam metodicamente, são uma das formas de vida que sofre massivamente nestes cenários. Vítimas invisíveis da estupidez humana, fazem parte dos “danos colaterais” que não contam para as estatísticas. Um livro recenseado agora pela The Spectator descreve a função dos animais durante a Primeira Guerra Mundial: Tommy’Ark: Soldiers and Their Animals in the Great War (Bloomsbury). Calcula-se que mais de um milhão de cavalos e mulas foram usados pelo Exército Britânico durante o conflito – desses, apenas 62 mil regressaram. Os restantes foram dizimados pelas bombas, pelo gás, pelos tiros; e pela doença, fome e exaustão. Cães e pombos serviram de mensageiros, enquanto ratos e canários eram detectores “naturais” de ataques de gás. Há, com certeza, histórias menos cruéis e igualmente pungentes, como as dos muitos cães, gatos, coelhos e pássaros – e até macacos e cabras – que foram adoptados como mascotes pelos soldados e tratados como tesouros no meio do inferno. Acredito, como já disse neste post, que os animais representam a nossa possibilidade mais imediata de ligação à Natureza; e que quanto mais inóspito o mundo se torna, mais consciência teremos disso.

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