De entre tudo o que importa perceber pela leitura deste livro – imprescindível a quem queira estudar a literatura infanto-juvenil com profundidade –, destaco apenas duas ideias que normalmente andam a par, para mal de todos nós. Ideias, atitudes ou «ilusões» apontadas por um senhor chamado Peter Hunt, que tivemos o privilégio de ouvir há dois anos, na Fundação Calouste Gulbenkian, lembram-se?
«A primeira é que qualquer um pode ser especialista em livros para criança; a segunda, que estamos todos do lado do bem.
Ambas são aspectos de um temperamento muito perigoso. A primeira resulta no anti-intelectualismo, já aqui observado: a ideia – ou não ideia – de que pensar não é muito apropriado nos livros para criança. Logo essa atitude abre caminho para a segunda ideia: a de que os livros infantis, como as crianças, são inocentes e que as ambições de escritores, críticos, pais e do restante de nós são ideologicamente neutras. Por causa disso, fracassamos em perceber que, além de não podemos ser apolíticos, grande parte da ideologia presente nos livros para criança e em torno deles está oculta – e na verdade mascarada como o oposto do que realmente é.»
(Peter Hunt, Crítica, Teoria e Literatura Infantil, ed. Cosac Naify, São Paulo, 2010, pág. 207. A tradução para o português foi feita por Cid Knipel. Ver aqui o livro, que custa cerca de 26 euros, ao câmbio actual.)
«A primeira é que qualquer um pode ser especialista em livros para criança; a segunda, que estamos todos do lado do bem.
Ambas são aspectos de um temperamento muito perigoso. A primeira resulta no anti-intelectualismo, já aqui observado: a ideia – ou não ideia – de que pensar não é muito apropriado nos livros para criança. Logo essa atitude abre caminho para a segunda ideia: a de que os livros infantis, como as crianças, são inocentes e que as ambições de escritores, críticos, pais e do restante de nós são ideologicamente neutras. Por causa disso, fracassamos em perceber que, além de não podemos ser apolíticos, grande parte da ideologia presente nos livros para criança e em torno deles está oculta – e na verdade mascarada como o oposto do que realmente é.»
(Peter Hunt, Crítica, Teoria e Literatura Infantil, ed. Cosac Naify, São Paulo, 2010, pág. 207. A tradução para o português foi feita por Cid Knipel. Ver aqui o livro, que custa cerca de 26 euros, ao câmbio actual.)
8 comentários:
E o que me diz a Carla da tradução? Vale a pena? É que eu tenho o original...
Celeste, tirando uma ou outra parte mais "enrolada", ou um termo que suscita dúvidas, lê-se com fluência e entusiasmo (partindo do princípio que temos entusiasmo por este assunto, claro). A grande vantagem deste livro, em relação ao original de 1991, é que houve uma revisão e adaptação à actualidade - mas sem modificar o essencial do original. Suprimiu-se o capítulo em que ele fala da experiência dele como escritor e acrescentou-se um sobre os novos media (por sinal, dos menos interessantes, a meu ver). Eu penso que é um livro a ter, se alguém for ao Brasil em férias e o puder trazer, já que com portes a coisa deve encarecer bastante. Se já tem a edição original, talvez não valha a pena...
Desconhecia o livro (mas gostei imenso de ouvir Peter Hunt) e agradeço tê-lo dado a conhecer. Esta 'coisa' da literatura infantil e juvenil tem sido tão maltratada ultimamente, entre nós...Cavalgando-se a 'onda' PNL + bibliotecas escolares, assiste-se a uma invasão de livros tão maus (que fazem das crianças imbecis) que dá dó! Felizmente o inverso também acontece: nunca houve livros tão bons! E são estes que nos resgatam!
Tem toda a razão, Angelina. Tantos livros tão maus - e outros tão bons, que começam a sobressair. Parece que também aqui a classe média tem tendência a desaparecer! :-)
Carla, obrigada pela informação. Vou conferir preços. ;-) Just in case...
Muitas vezes, quando os pais me perguntam como reconhecem um bom livro, respondo que esse será um livro que os surpreende a eles. Na senda das palavras de Peter Hunt, creio que o primeiro passo a dar é implicar os adultos que escolhem livros nessa escolha. Acontece, quando perguntamos aos adultos o que pensam de determinado livro, eles responderem sobre a sua utilidade junto das crianças. Ajudar os adultos a terem opinião sobre os livros ajudará a legitimar o livro infantil e juvenil, e isso é absolutamente urgente.
Totalmente de acordo: além da informação transmissível, é preciso implicar nos adultos noções responsabilidade e de valores que só a eles cabe assumir.
Leia-se: "noções de responsabilidade e valores".
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