quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

SEPARADOS À NASCENÇA


De cima para baixo: Neil Young (n. Canadá, 1945) e Nick Cave (n. Austrália, 1957). Em termos musicais, ambos estão a envelhecer bem, muito bem.  

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

OITO VEZES BLIMUNDA


Para quem ainda não reparou, a área do infanto-juvenil tem, desde Junho de 2012, ampla cobertura na revista digital da Fundação José Saramago, sobretudo graças aos contributos de Andreia Brites e Sara Figueiredo Costa. Notícias, reportagem, opinião, críticas de livros e artigos de fundo ocupam aqui um lugar de destaque, como já quase não se encontra na imprensa escrita tradicional. Desde o número de Novembro, o design e paginação têm a assinatura de Jorge Silva/Silva Designers! E, para quem antes tinha dificuldade em fazer downloads «pesados», todos os números da Blimunda estão agora à disposição no Scribd, o que torna tudo muito mais fácil. São oito revistas lindas de ver (e ler), aqui.

sábado, 26 de janeiro de 2013

UMA NOITE ASSIM


Em noite de lua cheia e quase a fechar Janeiro (o mês dos gatos, segundo a tradição popular), aqui fica uma ilustração de Axel Scheffler para O Livro dos Gatos, de T.S. Eliot (Vega). Inspirem-se!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

MAIS HISTÓRIAS DE TERROR


Depois de As Histórias de Terror do Tio Montague e As Histórias de Terror do Navio Negro, eis que acaba de chegar mais um livro de Chris Priestley (Inglaterra, 1958), novamente traduzido por Duarte Sousa Tavares, com a chancela da Arte Plural. Gostei muito mais do segundo e espero que este não me desiluda. Os outros títulos publicados pela Bloomsbury são The Teacher’s Tales of Terror e Christmas Tales of Terror. Venham eles.

(O blogger aumenta e diminui o tamanho da letra consoante os apetites do momento. Coisinha irritante.)

CONTATINAS AO VIVO


Umas adaptadas, outras com texto original do próprio Luís Correia Carmelo, as histórias de Contatinas têm sempre o dom de emocionar os ouvintes, justamente o que se espera de um contador de histórias. O som dolente da concertina ajuda muito, é certo, mas o ritmo, a voz, as pausas e o sotaque são também inseparáveis do registo único de Luís Carmelo, agora editado em CD pela Boca, com acompanhamento musical de Nuno Morão. Quem não conhece, pode ouvir um bocadinho aqui. Amanhã, 25 de Janeiro, no Clube da Palavra ao Vivo no São Luiz, as Contatinas vão ser contadas/cantadas – com desenho em tempo real de António Jorge Gonçalves – numa noite em que são ainda convidados Samuel Úria e Capicua. A partir das 23h30. Promete. E recomenda-se.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

ÁLVARO MAGALHÃES À LER - PARTE 2

(na continuação do post anterior, aqui fica a última parte da entrevista de Álvaro Magalhães que saiu em versão ultra-condensada na LER 119.)


CMA: Tratando-se de obras no mesmo género, o que é que o Lucas Mascarpone vai acrescentar ao Vampiro Valentim? Ou seja, o que vai fazer para não repetir a fórmula?

ÁLVARO MAGALHÃES: Só a fórmula gráfica se repete. A série das crónicas do Vampiro Valentim foi tão bem recebida que decidi reincidir. Foi uma espécie de bis de teatro. Mas há muitas diferenças: passando-se a história de Lucas Scarpone num mundo de gatos, tenho menos constrangimentos na exploração da fantasia e da dimensão sobrenatural. Além disso, no Valentim não há propriamente um personagem central; esse é a família. O grande herói da série é, na verdade, negativo: Adolfo-Mil Homens, o caçador (odeio caçadores!) que representa o homem moderno, desumanizado e solitário, que fala com o retrato do pai e foge das duas vizinhas que o namoram. Por sua vez, no Lucas tenho mais espaço para a construção do herói. Além das aventuras que vive, ele também busca a sua identidade e o teor do seu destino, e passa pelas angústias e pelos júbilos do enamoramento… Ou seja, não é construído pela esfera da acção, mas a partir do seu mundo interno. Também foi feito a pensar no mercado internacional. O Valentim é algo especificamente português, até portuense, e mesmo assim já chegou à Espanha, ao Brasil, até à Coreia do Sul. O Lucas tem um carácter mais universal e talvez ajude a acrescentar a lista dos meus publicados no estrangeiro, que vai em dezasseis

CMA: Acha que o Vampiro Valentim levou muitas crianças a ler mais regularmente? Quando vai às escolas (não sei se ainda vai…), sente que o seu público mudou?

ÁLVARO MAGALHÃES: O formato, em que quase tudo o que é narrado é visualizado, é perfeito para a geração das imagens, que chega à leitura com alguma resistência à mancha negra de texto, por melhor que esse texto seja. Porém, mais do que saber que estou a iniciar e a criar futuros leitores, agrada-me a ideia de ter leitores, muitos leitores. O que é um livro? Apenas um conjunto de símbolos mortos. Então chega o leitor, abre-o e as palavras ganham vida, erguendo mundos imensos, inesperados. E também elas encontram o leitor e nele se afundam, por vezes para sempre, como aquelas pedras que as crianças lançam aos poços. Quanto às visitas escolares, já não as faço há uns bons anos. Nem uma. De resto, essas visitas tornaram-se em meras estratégias de venda de livros, mesmo quando querem fazer passar aquilo por outra coisa. Nalguns casos, são mesmo as escolas os únicos sítios onde esses livros se vendem. E ainda há escritores que se gabam de fazer mais de cem visitas escolares por ano. É quase um emprego. Assemelham-se aos antigos vendedores de enciclopédias. Certa vez, uma professora de Bragança anunciou aos alunos a minha visita, no dia seguinte, e um deles ergueu um dedo no ar e perguntou: «Vem cá, como? Ele não está morto?» Tinha razão, o rapaz: escritor bom é escritor morto. Assim, e como tenho a sorte de ainda estar vivo, passei a comportar-me como se estivesse morto. Quando me telefonam de uma escola, a fazer o convite, e perguntam: «Estou a falar com o Álvaro Magalhães?», apetece-me responder: «Sim, daqui fala o morto». Levo a coisa tão a sério que também não me lembro de fazer uma sessão de apresentação de um livro, ou outra coisa qualquer. O único compromisso regular que tenho é com a minha imaginação. E chega.

CMA: A pergunta dá pano para mangas, mas como é que vê o actual panorama da literatura infanto-juvenil actualmente, em relação a tudo o que já observou?

ÁLVARO MAGALHÃES: Vista de longe, parece mais pujante do que nunca, dada a multiplicação incessante de títulos, mas não é verdade. O que predomina são os textos rasos, planos ou pedagógicos, ou os que nem isso são, tudo de uma mediania mais confrangedora do que o silêncio. São os livros dos «inhos» (usam muito os diminutivos, já que eles mesmos são diminutivos), dos lugares-comuns, das adjectivações solenes, das poetizações primárias, ou seja, das «estrelas tremeluzindo nas superfícies dos lagos» e, sobretudo, das «asas do sonho», que tudo resolvem, encobrindo a incapacidade argumental. Felizmente, há também alguns bons livros, frequentemente perdidos na confusão geral ou arredados das prateleiras mais vistas, e felizmente também esses livros já não só da malta do costume, mas também de novos autores, que, finalmente, se dão a ver. Nunca nos faltaram bons ilustradores (e então agora...), mas houve uma altura em que a espécie «escritores» parecia ameaçada. Agora não.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

ÁLVARO MAGALHÃES À LER - PARTE 1



CMA: O seu primeiro livro é Uma História com Muitas Letras (Livros Horizonte, 1982). Nestes 30 anos de carreira literária, quais os momentos que tiveram mais importância?

ÁLVARO MAGALHÃES: Justamente a publicação desse meu primeiro livro, que foi uma simples experiência, e o facto desse e dos meus quatro livros seguintes terem sido metodicamente premiados. Foi a confirmação de uma vocação forte, um acontecimento decisivo que traçou um rumo imprevisto. Tencionava escrever poesia e, por essa altura, já tinha publicado dois livros de poesia para adultos, mas logo percebi que poesia e literatura infantil, tal como entendo esta última, não eram coisas diferentes. Tenho até a estranha convicção de que só os poetas estão aptos para a melhor literatura dita infantil, a que serve crianças e adultos com igual proveito e fervor. Penso que nos meus livros, com poucas excepções (a série Triângulo Jota e estas duas recentes, o Valentim e o Lucas, que são outras coisas), há uma dimensão poética que é estruturante. E não falo dos falsos brilhos decorativos que são confundidos com o poético, mas algo que está lá enquanto essência e não enquanto resíduo. Algures entre o real e o imaginário há um lugar poético. É aí que nascem todos os meus livros. Outro momento marcante aconteceu no início dos anos 90, quando comecei a série juvenil Triângulo Jota, cujo sucesso foi o impulso de que necessitava para passar a viver (bem, é claro, ou não valeria a pena) exclusivamente da escrita, o que já acontece há mais de vinte anos. Não há vida melhor. Quanto aos tais 30 anos, confesso não dei por nada. Acho que estava demasiado ocupado a inventar histórias, ou então a escolher as palavras que as contam melhor. Mas sinto-me como no primeiro dia, ou seja, pronto para começar. O tempo faz de nós pessoas idosas, mas, na verdade, mudamos pouco.

CMA: Creio que se podem distinguir três grandes blocos criativos (não confundir com bloqueios criativos...) na sua obra. O Álvaro Magalhães poeta, o Álvaro Magalhães do Triângulo Jota e o Álvaro Magalhães do Vampiro Valentim (e, agora, do Lucas Scarpone, no mesmo género). Este caminho corresponde à necessidade de encontrar novas vozes narrativas ou de ajustar-se a um mercado que, em 30 anos, mudou imenso?

ÁLVARO MAGALHÃES: Depois de acrescentar ao bloco do Triângulo Jota os romances juvenis A Ilha do Chifre de Ouro e O Último Grimm, consigo divisar ainda mais dois blocos; um é o dos livros de contos ou pequenas narrativas (”O senhor do seu nariz”, “Histórias pequenas de bichos pequenos”, “Hipopóptimos”, “Três histórias de amor”, “Contos do lápis verde”, os quatro contos da Mata dos Medos, etc), e o outro é o dos textos dramáticos, que são regularmente representados no Teatro da Vilarinha, de que eu e o Manuel António Pina fomos (e eu sou ainda) uma espécie de autores residentes (”Todos os rapazes são gatos”, “Enquanto a cidade dorme”, “História de um segredo”, etc). Gosto da diversidade, sinto-me bem em qualquer registo ou suporte. Encontro até nisso uma marca de prazer. O caso da poesia é diferente, mas tudo o resto se resume a contar uma história com o máximo de eficácia e plasticidade possível. Adaptação ao mercado? Sim, tenho feito adaptações pontuais, pois os leitores vão mudando ao longo do tempo. E as editoras também as fazem. Por exemplo, nesta altura, textos mais facilmente comercializáveis, como o Vampiro Valentim e Lucas Scarpone correm mais depressa do que outros, mais literários, que esperam a sua vez de ver a luz do dia…

(...)

(Parece que o blogger está bem disposto. Esta é a primeira parte da entrevista a Álvaro Magalhães, que tive de passar a «texto corrido» e encaixar nuns modestos 2500 caracteres destinados às páginas da LER 119. Com a autorização do escritor, vou publicar aqui o texto completo, porque vale a pena ler. Sem mais.)

ABC DA EDIÇÃO DIGITAL



Aproveitando um momento de tréguas do blogger, que parece apostado em confundir-me com um cliente da EDP ainda-sem-luz-depois-da-tempestade-apesar-de-ter-as-contas-em-dia, quero só lembrar que falta menos de uma semana para começarem os debates do «ABC da Edição Digital». É a primeira vez que se vai falar em Portugal (a sério) dessa coisa ainda tão mirífica que é a edição digital de livros para crianças, por iniciativa da editora Pato Lógico e da Biodroid, empresa produtora de conteúdos e aplicações digitais. Na Gulbenkian, segunda-feira, 28 de Janeiro, um dia inteirinho. Todo o programa e últimas inscrições aqui.  

MAU TEMPO NO CANAL

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

CASA FECHADA


Isto não é bem uma correcção à correcção do blogue Planeta Tangerina, é mesmo um facto. A exposição «A Casa Branca», que deveria estar acessível ao público até 30 de Março, no Palácio Ribamar (Algés), encontra-se «fechada». E porquê? Ao que me disseram a semana passada, in loco, «por não haver alguém para vigiar». Desculpem, não é in loco, é mesmo: está tudo louco. Comprem o catálogo, que só custa cinco euros, vejam as imagens e leiam os textos de Sara Reis da Silva sobre os oito ilustradores que se debruçaram sobre os sete contos (e um texto dramático, O Bojador) de Sophia de Mello Breyner Andresen, a convite da Câmara Municipal de Oeiras e de André Letria, comissário da exposição. Nas imagens: André da Loba (A Floresta), Afonso Cruz (A Árvore) e Madalena Matoso (A Menina do Mar). Os restantes ilustradores, todos de primeira cepa, são Yara Kono, Gonçalo Viana, Tiago Albuquerque, Bernardo Carvalho e João Fazenda.

sábado, 12 de janeiro de 2013

WEST COUNTRY GIRL WITH A BIG FAT CAT


Gatos, café e meias quentes. O começo de um dia inspirador. O título do post é um verso do Nick Cave e a fotografia foi enviada pelo meu querido comparsa ilustrador, Alexandre Esgaio. Obrigada!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

ESCARPAS


Cruzámos os dias de Verão
o destino perseguia-nos com um ímpeto relutante
a listar calamidades
numa ascensão
por escarpas que tínhamos julgado a salvo

Corríamos o litoral com a nossa turbulenta forma
ou deixávamo-nos imóveis a ponto de parecer mortos
entre beleza, sobreposição e perigo
sem grande esclarecimento
a noite despenhava-se
no silêncio da corrente

O vento do mar já conseguiu acalmar muitos corações
mas os nossos não


(«Escarpas», um poema de José Tolentino Mendonça. Do livro Estação Central, Assírio & Alvim, 2012.)

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

CONTOS DE MORTE E REDENÇÃO


O Jardim Assombrado ressentiu-se da época das festas. Vamos lá combater a inércia e voltar ao ritmo habitual; por exemplo, lembrando que já está aí o sexto volume da excelente colecção do Círculo de Leitores/Temas e Debates, «Contos Maravilhosos Europeus». Desta vez, é a Senhora Dona Morte quem dá o mote à colectânea de textos seleccionados, traduzidos e comentados pelo antropólogo Francisco Vaz da Silva.


SE EU FOSSE UM ANIMAL

«O ornitorrinco é um animal estranho porque parece uma espécie de ursito e tem cauda de castor e um enorme bico de pato. É mal definido o que me parece uma boa metáfora. Nós também não somos uma coisa só. Eu sou historiadora pelo menos na perna esquerda e nos cotovelos. A Bibliotecária em mim deve ocupar parte do tronco. A cabeça e as pontas dos dedos brincam com as palavras e contam histórias. O resto não sei, ainda falta descobrir.» Ler aqui a entrevista completa de Raquel Patriarca ao blogue Clube de Leitura. A Raquel começou a colecção «Livros com Bicho» (QuidNovi) juntamente com a ilustradora Marta Jacinto, e do primeiro livro já falámos aqui.