sexta-feira, 21 de junho de 2013

RIDERS ON THE STORM



Na última Feira do Livro de Lisboa, comprei, ao preço da chuva, meia dúzia de edições originais da Abril, editora brasileira que nos anos 70 publicava a banda desenhada do nosso contentamento. Zé Carioca, O Pato Donald, Mônica, Cebolinha, Os Monstrinhos, Luluzinha, Disney Especial... Achei até uma raridade de 1976: uma banda desenhada de Li’l Abner, o hillbilly americano criado por All Capp durante a Grande Depressão, que chegou cá com o nome Ferdinando Buscapé (quem se lembra?).

Emocionante, mesmo, foi reencontrar algumas páginas de publicidade que naquele tempo mostravam que o Brasil já estava muito à frente, enquanto nós gramávamos os anúncios da margarina Planta. Esta, dos jeans Staroup, era absolutamente fascinante, na sua sugestão de liberdade e sensualidade inocente (ou não) que por cá só encontrava paralelo – numa perspectiva didáctica – na famosa Enciclopédia da Vida Sexual, da Verbo. Imagino que as doutas consciências a achem politicamente incorrecta, tal como o slogan: “Agora criança também pode.” Para mim, foi todo um imaginário que se acendeu.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

RAINHA TODOS OS DIAS



Embora atrasada, eu sei, não quero deixar de lembrar que a primeira edição do Prémio Manuel António Pina, criado este ano pela editora Tcharan, foi para o livro A Rainha dos Estapafúrdios, de José Eduardo Agualusa (texto) e Danuta Wojciechowska (ilustrações). Parabéns a ambos! Aqui fica a crítica que escrevi para a LER aquando da publicação:

«Uma das premissas dos contos tradicionais é que «os maus não são tão maus como parecem, e os bons são bem piores do que se pensa» (Maria Teresa Meireles). É esse o ponto de partida de A Rainha dos Estapafúrdios, história de uma perdigota «gorducha e desajeitada» que consegue livrar-se do estigma de Patinho Feio e encontrar o seu lugar fora do ninho familiar. Como? Com astúcia, coragem e muita bazófia, tal e qual o Gato das Botas. Os conflitos e as provas dos contos repetem-se, mudando apenas cenários e personagens; aqui, o campo dá lugar à savana, e a hiena e o leão substituem o urso ou o lobo. À estrutura narrativa de base, José Eduardo Agualusa acrescenta um olhar próprio, poético e cheio de humor, isso que seduziu os leitores do (já longínquo) Estranhões e Bizarrocos. As cores quentes e os padrões africanos encontram o seu elemento nas ilustrações de Danuta Wojciechowska, contribuindo para fazer deste livro um encontro feliz.»

A Rainha dos Estapafúrdios
José Eduardo Agualusa
Ilustrações de Danuta Wojciechowska
Dom Quixote

terça-feira, 18 de junho de 2013

PORQUE É URGENTE RESISTIR



«Aos quinze anos, Bolota quebra com dedicação e prazer a resistência da água, a cada braçada. E a novela fecha-se com um passo noutra direcção, nascida provavelmente dessa perda, porque a vida se faz vivendo e resistir implica também integrar e mudar. Em algum momento, todos os leitores o sabem, o pressentem. E mesmo que disso não fique memória, não serão exactamente os mesmos. É isso que este livro faz.» Ler o texto completo aqui.

(Um excerto do belíssimo texto que a Andreia Brites escreveu para o lançamento do Irmão Lobo, na Galeria Monumental, em Lisboa, e que levámos no último sábado à Culsete, em Setúbal. Obrigada, Fátima Ribeiro de Medeiros. Obrigada também ao José Teófilo Duarte, pelo convite no post abaixo, e ao Eduardo, Lena e Luís, pelas fotos e pelo resto.)

sexta-feira, 14 de junho de 2013

IRMÃO LOBO CORRE ATÉ SETÚBAL


Amanhã à tarde tenho o prazer de visitar uma das nossas livrarias de referência, que está de parabéns por tudo e também pelo aniversário: a Culsete, em Setúbal. A anfitriã Fátima Ribeiro de Medeiros fará as honras da casa, como é costume. Vão estar também presentes a Andreia Brites, que fez a apresentação do livro na Galeria Monumental e vai explicar "Porque é urgente resistir", e a Isabel Minhós Martins, minha editora na Planeta Tangerina (uau, ainda não tinha escrito "minha editora"). O António Jorge Gonçalves não pode ir (está de férias e bem merece) mas nós deixaremos os devidos elogios. Sei que a concorrência da praia é grande, mas estão todos convidados a passar pela Culsete.

Para vos convencer (espero), deixo aqui alguns dos uivos mais recentes do Irmão Lobo nos media e redes sociais, obviamente com um grande sorriso de contentamento:

Luís Caetano, Antena 2, Última Edição.
Sara Figueiredo Costa, Expresso.
José Mário Silva, LER (o texto está no site do Planeta Tangerina).
Maria do Rosário Pedreira, Horas Extraordinárias.
Sílvia Souto Cunha, Visão.
Maria João Costa, Rádio Renascença, Ensaio Geral (ao minuto 58).
Andreia Brites, revista Blimunda, da Fundação José Saramago.

OLHA QUE BOA IDEIA PARA AS FÉRIAS


quarta-feira, 12 de junho de 2013

MANUEL ANTÓNIO PINA EM TESE DE DOUTORAMENTO



Rareando os doutoramentos à volta da literatura infanto-juvenil, é caso para comemorar quando os poucos são dados à estampa. A obra de Manuel António Pina (1943-2012) dá pano para mangas, mas Sara Reis da Silva, professora e investigadora da Universidade do Minho, selecionou um núcleo composto por mais de vinte títulos que começa com O País das Pessoas de Pernas para o Ar e termina com História do Sábio Fechado na sua Biblioteca, passando por Gigões & Anantes, Os Piratas ou O Inventão. De 1973 a 2009, tudo é justificado na tese Presença e Significado de Manuel António Pina na Literatura Portuguesa para a Infância e Juventude, uma edição Fundação Calouste Gulbenkian/Fundação para a Ciência e Tecnologia.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

UMA LUZ AO FUNDO DO COELHO




Pôr o coelho a correr para que surja uma luz ao fundo do túnel. Eu olho para a capa dupla do último livro publicado pelo Planeta Tangerina (novamente, o ilustrador Bernardo Carvalho a solo) e só consigo fazer esta leitura. Mas claro que não pode ser isso... Não pode. Os livros para crianças não se metem na política. Política é coisa muito séria. 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

TRABALHAR NA OFICINA


O Teatro do Bairro e o Pato Lógico juntaram-se para preparar o regresso às férias. Nos meses de Junho e Julho, crianças dos seis aos doze anos vão trabalhar para as oficinas. Isto é exploração da criatividade!

terça-feira, 4 de junho de 2013

PIPPI LANGSTRUMP: O DIREITO À INSURREIÇÃO


“Pouco a pouco, os clássicos da literatura para crianças (ou literatura tout court) vão sendo objecto de novas edições mais arejadas. E, no caso em apreço, já tardava. Desde a década de 1970 que não se encontrava facilmente uma tradução da obra que deu origem à série emitida pela RTP, no tempo em que a televisão era a preto e branco. O texto agora vertido para português por Maria do Céu Mascarenhas segue a nova tradução ilustrada pela inglesa Lauren Child, autora de personagens igualmente irrequietas como Clarice Bean – com a qual se estreou em 1999 – e vencedora do prestigiado prémio de ilustração Kate Greenaway. Dificilmente se poderia ter escolhido um nome mais indicado para esta parceria.


Pippi das Meias Altas (Pippi Langstrump ou Longstocking) foi a mais célebre criação da escritora sueca Astrid Lindgren (1907-2002) e, provavelmente, uma projecção da sua personalidade contestatária e irreverente. «A morte e o amor são os grandes acontecimentos que as pessoas experimentam», afirmou: «Não devemos assustar as crianças, mas elas continuam a necessitar de serem chocalhadas pela arte, tal como os adultos.»

Quando o livro foi publicado na Suécia, em 1945, houve receio de que tão livre espírito não fosse capaz de se tornar suficientemente popular entre os leitores – receio que se revelou infundado, já que as colecções de Pippi venderam mais de 145 milhões de exemplares e foram traduzidas em 91 idiomas, segundo informação da Booksmile, a editora que apostou no regresso desta miúda excepcional. Em vários sentidos. À luz de certas correntes educativas actuais e mesmo do senso comum, Pippi é um caso flagrante do «politicamente incorrecto»: estende massa de biscoitos no chão da cozinha, contrariando as mais elementares regras de higiene. Entra na escola a trote de cavalo, faz orelhas moucas quando a professora lhe pede para não a tratar por «tu» e acaba por desestabilizar a aula com as suas respostas desconcertantes. Quando os bem-intencionados cidadãos da pequena cidade sueca onde vive decidem que o melhor será interná-la num lar para crianças, Pippi mostra a sua força hercúlea e pega nos polícias como se fossem caixas de fósforos.

E, depois, há essa questão incómoda relativa à ordem familiar: Pippi é órfã e vive sozinha, acompanhada por um cavalo e um macaquinho, o famoso Senhor Nelson. E acha uma maravilha, «porque assim não havia ninguém que a mandasse para a cama quando estava a meio de um jogo fascinante, nem que a impedisse de comer todos os chocolates que lhe apetecesse» (já estamos a ver várias testas franzidas…). Sardenta, de cabelos ruivos espetados, um par de meias altas às riscas e de cores diferentes, Pippi sobreviveu à normalização. Sorte dela. E nossa.”


(Texto integral publicado na edição de Maio da revista LER, sobre o clássico da escritora sueca Astrid Lindgren, que acaba de chegar numa nova tradução da Booksmile, ilustrada por Lauren Child.)