Toda a árvore é um microcosmos singular
debruçado sobre o mundo. Dos capilares subterrâneos até ao ramo mais alto,
formas transitórias de vida passam por ela buscando abrigo e alimento. Os
coalas adoram eucaliptos, embora os eucaliptos não gostem de outras árvores à volta.
O carvalho-comum, mais generoso, cresce rodeado pelos seus parentes próximos: o
carvalho-negral, a azinheira e o sobreiro, espécies abundantes na Península
Ibérica. O espírito da floresta manifesta-se também nas comunidades de
sequóias, árvores que assistiram à aventura humana dos últimos três mil anos,
tal como as oliveiras, os embondeiros e os cedros-do-líbano.
Nenhum de nós se lembra, mas houve um tempo em
que as florestas cobriam cerca de metade da superfície da Terra, fervilhantes
de vida. Chegámos ao século XXI com apenas um quinto desse património agora
irrecuperável. A profecia de Macbeth cumpriu-se, mas ao contrário. Preso à
obsessão de se tornar rei, Macbeth repudiou os avisos das três feiticeiras e
duvidou de que algum dia a floresta de Birnan pudesse avançar sobre o castelo.
Mas o inimigo camuflou-se com ramagens e escalou a colina, pondo fim à ambição.
A diferença fundamental é que os soldados de outrora são coisa pouca se
comparados com os atuais exércitos de serras e escavadoras mecânicas. É por
isso que a flor-do-paraíso, originária de Madagáscar, vê as suas flores rubras
extinguirem-se num confronto desigual, como se a própria ideia de paraíso já
não fosse possível entre os homens.
Este livro é belo porque é importante – e é
importante porque é belo. Significa um passeio imóvel por entre 57 árvores e
arbustos de todo o mundo; uma caminhada que se faz admirando as ilustrações
naturalistas de Emanuelle Tchoukriel, traçadas a rotring e aguarelas, detalhando
texturas, cores e escalas. O texto de Virginie Aladjidi convoca o leitor para as
múltiplas dimensões da árvore, um arquétipo de autonomia que não encontra
paralelo no Mundo Animal: nasce, cresce e reproduz-se sem se mexer do seu
lugar. Quando morre, é como se adormecesse em casa. Essa dignidade solitária
que é comum a todas as árvores explica o conhecido aforismo: «as árvores morrem
de pé». Isto, claro, se as deixarmos viver. Comecemos por tratá-las pelo nome
próprio.
Inventário
das Árvores
Virginie Aladjidi
Emanuelle Tchoukriel (ilustr.)
Kalandraka
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