quarta-feira, 2 de março de 2016

VER O MUNDO NUM GRÃO DE AREIA



Lançado em 1995 e premiado como melhor livro infantil do ano pelo New York Times e Publisher’s Weekly, Zoom, de Istvan Banyai (Budapeste, 1949), é uma viagem pelo mundo às suas múltiplas escalas, cada ilustração esclarecendo a anterior, numa progressão geográfica e espacial que se desvela na ampliação do pormenor. No corpo humano existem cinco vezes mais células do que estrelas na nossa galáxia. Como pensar esta ideia sem experimentar uma sensação de vertigem? Zoom causa-nos um efeito semelhante. 

Sem texto narrativo, o percurso é governado pela imagem: desenhos de cores vivas e linhas bem definidas, remetendo para a matriz da banda desenhada e do cartoon. Tratada graficamente (um anúncio, uma carta, um selo...), a palavra é apenas usada com um duplo intuito: situar o leitor num itinerário concreto, de uma avenida de Nova Iorque até uma praia nas Ilhas Salomão; e providenciar pistas para a compreensão da imagem seguinte. 

Elemento decisivo, sem o qual se poderia ter caído num exercício de estilo, é a reserva de subjetividade e estranheza permitida ao leitor. O adolescente que dormita à beira da piscina, estará doente ou entediado? O ranchero no deserto do Arizona olha para o televisor ou para a paisagem? Quem escreve desde a América ao chefe da tribo das Ilhas Salomão? Tantas perguntas... Partir da observação do mundo para uma visão unificadora da realidade é algo que tem ocupado místicos, filósofos e artistas; e podemos dizer que neste livro de Istvan Banyai há um pouco dessas três demandas, tal como nos versos de William Blake: «Ver o mundo num grão de areia/e um céu numa flor silvestre/ter o infinito na palma da mão/e a eternidade num minuto.»


Zoom
Istvan Banyai
Kalandraka

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