sexta-feira, 24 de junho de 2016

LEITURAS DE FÉRIAS, 4: MARY POPPINS


Em 1924, Pamela Lyndon Travers, aliás Helen Lyndon Goff, chegou a Londres disposta a reinventar tudo, a começar pelo nome que lhe foi dado na Austrália, onde nasceu a 9 de Agosto de 1899. A sua biografia é aventurosa e cheia de incógnitas e bizarrias; como o facto de ter separado e adoptado um de dois irmãos gémeos bebés – decisão salomónica eticamente questionável. No documentário que circula no You Tube, o filho adoptivo, Camillus Travers, fala da mãe com uma fleuma bem cultivada, descrevendo Mary Poppins nesta frase lapidar: «Ela é bastante parecida com a minha mãe.» Tal como a mulher que lhe deu origem, ninguém sabe quem é nem de onde vem Mary Poppins, quando num dia de vento aterra na Rua das Cerejeiras, disposta a cuidar das quatro crianças da casa. Ela é «a sua própria obra», para usar a máxima de Madame de Stael («Je suis mon ouvrage.») Ele é única, incomparável, narcisista, excêntrica, misteriosa, ríspida, presumida e insolente. «Ela é diferente. É a Grande Exceção», diz o Estorninho. «Quanto aos sentimentos de Mary Poppins», escreve também P.L. Travers, «ninguém sabia nada, porque ela nunca falava deles». Está tudo dito. Nada está dito (e é melhor assim). O livro foi originalmente publicado em 1934 e está editado na colecção de clássicos da Relógio d’Água, com ilustrações de Susana Oliveira.

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