terça-feira, 27 de setembro de 2016

PEDIMOS DESCULPA PELA INTERRUPÇÃO


«Pedimos desculpa pela interrupção. O programa segue dentro de momentos.» Era assim que se dizia no tempo da outra senhora, quando a televisão era a preto e branco e os telejornais duravam, se bem me lembro, talvez uma meia hora. Agora, a grande obsessão é não interromper o directo, não parar para pensar, não rever a matéria dada. Tudo isto só para dizer que nesta semana e na próxima estarei praticamente ausente do Facebook, blogue e telemóvel, impondo-me uma disciplina estóica e espartana. Tem de ser. Porquê? «Por motivos de força maior», evidentemente. Até já!

domingo, 25 de setembro de 2016

O COMEÇO DE UM LIVRO É PRECIOSO, 25


   «Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.
   Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho.»

Clarice Lispector, A Hora da Estrela, ed. Relógio d'Água, 2002. Originalmente publicado em 1977.

(Ver todos da etiqueta "O COMEÇO DE UM LIVRO É PRECIOSO na «nuvem» ou aqui)

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

COMECEI A DESENHAR PORQUE ERA MÁ ALUNA



Entrevista a Jutta Bauer (com respostas em inglês e legendas em espanhol), Prémio Hans Christian Andersen de Ilustração 2010, que estará este fim-de-semana no Festival Folio, em Óbidos (programa aqui).

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

MARIA TERESA ANDRUETTO EM ENTREVISTA À BLIMUNDA




A argentina Maria Teresa Andruetto, senhora de um profundo e originalíssimo pensamento sobre a escrita e a leitura, foi a jóia da coroa das Palavras Andarilhas deste ano, em Beja. Falámos dela na sequência da atribuição do Prémio Hans Christian 2012 de Literatura, aqui. A Andreia Brites entrevistou-a para a Blimunda de Setembro, que pode ser lida ou descarregada aqui. Copiei três perguntas/respostas para o Jardim Assombrado e permiti-me aplicar uns sublinhados em alguns pontos (em itálico):

AB: Que balanço faz destes últimos trinta anos ao nível da formação leitora na Argentina?
MTA: Desde 1984, quando comecei a trabalhar nesta área, até ao presente houve um desenvolvimento muito grande na formação leitora de professores na Argentina. Também houve um crescimento muito grande da literatura para crianças. Claro que se edita muita porcaria também mas há mais editoras e mais qualidade nos escritores e nos ilustradores e um trabalho maior por parte da crítica. Sobretudo há uma muito maior formação de professores leitores. Há que ver isto de um modo particular: quando digo mais formação estou a pensar em mais inclusão. É muito importante esta diferença: mais quantidade de professores que se formam, maior quantidade de crianças que acedem à leitura nas escolas, porque se trata de escolas públicas. Antes havia uma grande diferença entre algumas escolas privadas, urbanas, de grandes cidades e as escolas públicas de aldeias pequenas e isso mudou. Há muito por fazer, todavia. Há muito para crescer. Temos um governo novo, desde dezembro passado, e não estamos no melhor momento. As pessoas estão a reclamar porque foram suspensos muitos projetos de desenvolvimento cultural, nomeadamente as compras estatais de livros para as escolas públicas de todo o país. Nos últimos dez anos compraram-se 90 milhões de exemplares de livros para as escolas públicas.

AB: E quem escolhe os livros para comprar?
MTA: Em 2008 houve uma mudança que me parece muito importante. Se há uma equipa de cinco pessoas, por mais que sejam excelentes, a selecionar compras milionárias há muita pressão das editoras. Então, em 2008 as pessoas que integravam as equipas de compras de livros passaram a ser à razão de duas ou três por província, professores do secundário e politécnico nomeados para uma comissão de dois meses para ler os livros, com um contrato de confidencialidade para não divulgarem a sua identidade. No total eram 70 pessoas. Isso parece-me que tornou a seleção mais diversificada, não tão urbana, não tão de Buenos Aires, com outras perspetivas e é muito mais difícil encontrar uma maneira de subornar 70 pessoas do que quatro ou cinco. Isso por um lado. Por outro lado, tudo o que se comprou desde 2008 foi para todas as escolas do país, ou seja, uma escola rural na Patagónia recebe o mesmo número de caixas que uma escola de um bairro da capital.

AB: Foi distinguida com o Prémio Hans Christian Andersen, em 2012, o maior na área da literatura infantil e juvenil. No discurso de entrega do prémio terminou dizendo não conseguir, então, compreender o seu alcance. Hoje já conseguiu?
MTA: Às vezes parece que não aconteceu. Hoje reconheço que o prémio me trouxe muitas coisas. Esse foi o alcance que não previ: talvez não estivesse aqui, não tivesse ido a tantos lugares onde me convidaram se não tivesse os meus livros traduzidos em línguas que nunca tinha imaginado. Nesse aspeto houve mudanças mas na minha relação mais profunda com a escrita não, nem tão-pouco com a minha vida pessoal. Talvez porque já tinha uns bons anos. Também porque na América-Latina já tinha muitos leitores e disso estou muito orgulhosa. Comecei a ser conhecida da periferia para o centro. Primeiro na minha cidade, onde agora há muitas editoras mas na altura não. Comecei a publicar em 1993 e em 2003, passados dez anos, descobri que tinha mais leitores do que pensava. Porquê o orgulho? Porque acredito que o escritor constrói os seus leitores, que constrói o tipo de leitores que quer para os seus livros. Nos primeiros dez anos vendia muito pouco. Ganhava prémios mas os editores reclamavam. Stefano chegou a ser devolvido porque não se vendia. As escolas rejeitavam-no porque ali também foi preciso mudar a condição leitora dos professores. Aí começaram a tolerar questões mais complexas. Bom, fui crescendo com os meus leitores e os meus leitores foram crescendo com os meus livros. Quando o Andersen chegou fiquei muito surpreendida porque nunca imaginei ganhar. Quando fui nomeada pela Argentina comemorei, porque, isso sim, considerei um prémio. Comemorei em família e tudo. O prémio não o esperava. Mas agradeço-o, como agradeço tantas outras coisas que a vida me deu.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

AUDÁCIA E SANGUE-FRIO


Sempre que me pedem uma lista dos livros da minha infância, este não pode faltar: Sandokan - Os Mistérios da Floresta Negra, de Emilio Salgari, uma edição Europa-América traduzida por J. Ferreira a partir do texto integral da terceira edição italiana (publicada em 1903, segundo a nota do editor Francisco Lyon de Castro). Reeencontrei-o há pouco numa feira do livro, a bom preço e em óptimo estado. Fiquei muito admirada quando o li pela primeira vez e não achei o nome de Sandokan nem de Lady Marianne, mas de uma outra dupla romântica e fatal: Tremal-Naik e Ada Corishant, «a virgem do Pagode». Este epíteto causava-me uma grande perplexidade, confesso. «Pagode», ou «estar no pagode», é uma expressão muito usada no Norte, referindo-se às crianças quando estão na brincadeira. Agora, «virgem do Pagode» era muito à frente para os meus escassos oito ou nove anos; só muito mais tarde percebi o que queria dizer. Desta leitura tão marcante resultou também a curiosidade pela deusa Kali e pelas misteriosas Sunderbunds; o arrepio de palavras tão estranhas como «bangaló», «sipaios», «faquir» «brâmanes», «rupias», «tugues», «inexoráveis» e tantas outras; e ainda um fascínio por braceletes como os que envolvem os braços da suavíssima Ada. Ofereçam-me braceletes e juro que me atiro aos tigres com audácia e sangue-frio.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

ATELIER PARA CRIANÇAS COM ANA MOURATO


O Jardim Assombrado é fã do espaço Anagrama - Oficina do Sonhos, um lugar onde se põem ideias a mexer e pessoas a partilhar as coisas boas do mundo, livros e não só. Para estarem a par das actividades, o melhor é seguirem a página no Facebook. No próximo sábado vai lá estar Ana Mourato, psicóloga que dinamiza, desde 2005, projectos que envolvem a literatura para a infância e a psicologia do desenvolvimento, destinando-se a crianças e a adultos. Foi uma das convidadas deste ano das Palavras Andarilhas. Desta vez, o atelier é destinado a crianças dos 4 aos 10 anos e começa às 10h30 (cliquem na imagem para ler melhor). O espaço Anagrama fica na Av. de Berlim, 35C, por baixo de umas arcadas (a melhor referência geográfica que consigo dar é aquele restaurante chinês antiquíssimo, situado do outro lado da avenida). E não duvidem: a Ana Mourato é grande!

Inscrições: anagrama.oficinadesonhos@gmail.com/211966088

terça-feira, 13 de setembro de 2016

MESTRE DAHL NASCEU HÁ CEM ANOS




Odiado por uns, amado pela maioria, Roald Dahl nasceu há cem anos, no dia 13 de Setembro de 1916, em Cardiff. Autor de dezenas de short stories adaptadas para as séries de televisão Contos do Imprevisto e Hitchcock Apresenta, foi como escritor de literatura para crianças que se distinguiu, em parceria com o ilustrador Quentin Blake.

Só na década que precedeu a sua morte, a 23 de Novembro de 1990, venderam-se onze milhões de livros do escritor que um número indeterminado de professores, bibliotecários e críticos classificou como «não recomendável». Depois de morrer, em Oxford, aos 74 anos, feito o diagnóstico de leucemia e uma vida inteira de dedicação aos cigarros, álcool e analgésicos, Roald Dahl continuou – até hoje – a suscitar as mais antagónicas reacções.

Nos Estados Unidos, país onde se estreou literariamente com uma narrativa de não-ficção sobre a sua experiência como piloto da RAF (publicada na Saturday Evening Post, em 1942), Dahl é agora irreconciliável com os tempos do politicamente correcto. O seu humor selvático, sustentado numa predisposição intrínseca para a ironia e para o grotesco, atinge especialmente os personagens de adultos, muitas vezes retratados como bárbaros estúpidos e capazes das maiores vilanias contra os mais fracos. Veja-se o casal de Os Tontos (The Twits), Mrs. Trunchbull, a directora de escola em Matilde (Matilda), ou esse desfile de horrores carnavalescos que é As Bruxas (The Witches), uma das suas obras mais polémicas.

A enredos de estrutura transparente, consistindo no reavivar da luta mítica do herói contra o Mal, Roald Dahl acrescentou a singularidade da sua imaginação e a sua memória obsessiva (e o bom trabalho dos seus editores, justiça lhes seja feita). Nos seus livros não há sentimentalismos, mas há afectos e emoções intensas. Nascido em Cardiff, no País de Gales, de pais noruegueses, «vinha de uma família de bons cozinheiros e bons contadores de histórias», como lembra um dos seus biógrafos, Jeremy Treglown. A mãe foi, segundo o próprio, «a primeira influência», ampliada pelo desaparecimento prematuro do pai e de uma irmã, quando ele tinha apenas três anos.

Repetindo o padrão familiar, uma série de acontecimentos trágicos acompanharia a vida pessoal de Roald Dahl, ao longo dos trinta anos conturbados de casamento com a actriz Patricia Neal. Também a experiência dos colégios internos ingleses, com os seus castigos sádicos e permanente clima de bullying, lhe deixou marcas indeléveis. No entanto, muitos dos seus heróis e heroínas – quase sempre crianças – são animados por um espírito combativo e industrioso, expurgado do narcisismo e arrogância de que o autor era acusado, entre outros defeitos. O «gigante amigo», citando um dos seus livros mais felizes, O GAG (The BFG), podia não ter o melhor feitio e carácter do mundo, mas deixou-nos grandes livros, à imagem dos seus quase dois metros de altura.


(Não costumo reeditar textos no blogue, mas creio que este se justifica. Saiu na edição nº 96 da LER, em Novembro de 2010.)

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

O REGRESSO DE BEATRIX POTTER



Se excluirmos o merchandising e algumas adaptações simplificadas, como é a tendência editorial das últimas décadas (o caso de Enid Blyton é um dos mais visíveis e desgostantes), há muito tempo que Beatrix Potter andava sumida dos escaparates. A coleção Pedrito Coelho, publicada pela Verbo no início da década de 1990, é quase uma relíquia; já fazia falta uma edição que preenchesse esse vazio de forma sistemática.

Até ao final de 2016, a Pim! Edições, chancela resultante da parceria Europress/Ponto de Fuga, vai publicar mais três volumes dos contos de Beatrix Potter (1866-1943), aproveitando o embalo das comemorações dos 150 anos do seu nascimento. O primeiro tomo saiu neste verão, contando com seis das 23 histórias de animais antropomorfizados, tal como foram lidas entre 1902 e 1930. Não é um trabalho feito ao acaso. À nova tradução de Eugénia Antunes e Paulo Rêgo soma-se o cuidado posto na opção por capa flexível e formato reduzido, a pensar nas «mãos pequenas» das crianças, como desde o início pretendeu a autora.

A tradução dos textos canónicos da literatura para a infância é uma questão inesgotável, pelo menos enquanto houver clássicos a entrar no domínio público e, logo, a possibilitar várias versões do mesmo texto. Resta saber que leitores beneficiam com essas versões reescritas por outros autores, a partir do momento em que o texto original é cortado e simplificado, quer na sua estrutura sintática e vocabular, quem nas suas crescentes camadas de interpretação. 

(...)

[Mais na próxima edição da LER, que deve estar quase, quase aí a chegar...]

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

CITY-BREAKS: OVAR


E já estamos de abalada para o II Festival Literário de Ovar, que este ano tem muitas coisinhas boas (como diria o Bruno Nogueira) para quem gosta da literatura para os mais novos. Para consultar o programa ou ler uma síntese, veja-se o post anterior. Darei conta do que se vai passando na minha página do Facebook, mais prático e rápido do que o blogger-comboio-de-torresmos. Au revoir!

(A fotografia é da edição do ano passado, com o Carlos Nuno Granja, bem-disposto organizador e anfitrião.)

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

2º FESTIVAL LITERÁRIO DE OVAR


Começou ontem e prolonga-se até domingo, com uma programação especialmente interessante para quem gosta de literatura infantojuvenil. No sábado de manhã (11h00), José Fanha encontra-se com Cidália Fernandes para debater o tema «A literatura para a infância: o primeiro impulso para a literacia». A moderação é da jornalista Rita Pimenta. À tarde (15h00), com moderação de Ivo Machado, conversa-se sobre poesia: Rita Taborda Duarte, Maria João Cantinho e Cláudia Lucas Chéu («A poesia: misto de realidade e fantasia»). No domingo de manhã (11h00), Manuela Castro Neves e João Pedro Mésseder conversam sobre «A escrita poética na criação de novos leitores», numa mesa moderada por Ana Margarida Ramos. Pelo meio, sempre no Jardim Cáster, há apresentações de livros e workshops de ilustração com Rachel Caiano e Cátia Vidinhas. A fechar o domingo, lá estarei para moderar o último debate, às 17h00, com os escritores Ana Margarida de Carvalho, Possidónio Cachapa e Pedro-Guilherme Moreira. A pergunta que vai estar em cima da mesa: «Como se defende o autor dos lados obscuros da trama?». A programação completa está aqui.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

ACEITAR QUE NÃO VEMOS, SÓ TATEAMOS


«Não consigo separar a sabedoria do amor; a sabedoria é uma inteligência, uma ciência, uma arte, mas é tudo isso como uma forma de amar. Quando pensamos na grande sabedoria, pensamos naqueles que, vivendo a grande depuração que o tempo opera em cada um de nós, são capazes de conservar uma inocência, uma pureza, um afeto. É sempre necessária uma porção muito grande de amor para chegar à sabedoria.

S. Paulo, no momento da conversão, ficou cego para começar a ver. A cegueira é uma metáfora de uma outra visão. É necessário um apagamento, um corte. Quer a experiência da tradução quer a da criação literária nasce de um corte primordial, que é muitas vezes a contemplação do mundo, o espanto perante o real. Esse corte obriga-me a ver as coisas de outra forma. Há que apagar o modo imediato, comum, mais óbvio e aceitar a escuridão, aceitar que não vemos, só tateamos.»

(Da maravilhosa intervenção de José Tolentino Mendonça na recente Festa do Livro em Belém. Para ler na íntegra na Pastoral da Cultura.)

terça-feira, 6 de setembro de 2016

O AR E OS SONHOS


«Foi ela quem fez as malas. Foi ela quem escolheu ir. E escolher já é metade do movimento, é aragem.» As ilustrações sempre elegantes de Fátima Afonso, premiadas com uma menção honrosa do VII Prémio Internacional de Compostela para Álbuns Ilustrados, dão corpo a uma prosa poética que metaforiza o tema da viagem, do movimento e da liberdade. 

Sonho com Asas
Teresa Marques
Fátima Afonso (ilust.)
Kalandraka 

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

CADA VEZ MAIOR


«Certa manhã, ao acordar, o Samuel deu por si na cama transformado num gigantesco hipopótamo.» Se este começo faz lembrar A Metamorfose, não é por acaso. Uma paródia genial ao mestre Kafka, recriando a estranheza e as dores do crescimento.


Tão Tão Grande
Catarina Sobral
Orfeu Negro

domingo, 4 de setembro de 2016

SIZA VIEIRA, O BICHO-ARQUITECTO


E vão onze. Este já estava escrito há algum tempo e a aguardar calendário para publicação. É uma biografia para os mais novos de Álvaro Siza Vieira, que completou 83 anos neste Verão, inserida na colecção «Chamo-me...» (Didáctica Editora) e com ilustrações de João Concha. Escrevi-a com um certo peso na consciência por não perceber nada de arquitectura, mas entre os nomes biografáveis tinha mesmo que escolher alguém de Matosinhos. Começa assim:  

«Sabes o que é um arquitecto? Se fores procurar o significado da palavra ao dicionário (eu sei que sabes, mas procura na mesma) vais poder ler, por exemplo, que um arquitecto é alguém «que projecta ou dirige construções de edifícios». OK, até aqui é fácil. Começas logo a pensar em cidades, casas, fábricas, estádios de futebol, centros comerciais e esse género de lugares por onde passa sempre muita gente. Inclusive tu. Mas logo a seguir o mesmo dicionário diz que um arquitecto «é o que projecta ou idealiza qualquer coisa». Hum… Parece mais interessante.

Projectar ou idealizar quer dizer dar forma concreta a uma ideia que passa pela nossa cabeça e fica lá o tempo suficiente para não ser varrida por outra ideia qualquer. Portanto, se calhar, todos podemos ser arquitectos à nossa maneira, já que todos sabemos usar a cabeça, certo?

Lembras-te de quando eras muito pequeno e tentavas encavalitar cubos de madeira uns nos outros? Não? Espera lá, talvez os cubos de madeira não sejam brinquedos do teu tempo… Mas lembras-te, com certeza, das construções de legos. Ora aí está! Podemos ser arquitectos de brinquedos. E já viste alguém bater claras de ovo em castelo até elas ficarem completamente brancas e tão leves como bocados soltos de nuvens? Pronto, é isso. Também podemos ser arquitectos de bolos.

Agora vou dizer-te uma coisa que talvez te deixe surpreendido, mas juro-te que está escrita no meu dicionário. É incrível, mas aqui diz que um arquitecto pode ser «Deus». Hã?! Como é que é isso? Um «arquitecto» pode ser sinónimo de «Deus»? Hum… Isto parece ainda mais interessante. Quer dizer que, no fundo, um arquitecto é um criador. Bom, eu prometo-te que vamos voltar a este assunto, mas, para já, há algumas coisas que te quero contar sobre mim.»