O último relatório da Organização Mundial de
Saúde (2014) reflecte a proporção desmedida que a violência doméstica atingiu
no mundo inteiro: uma em cada três mulheres será vítima de agressões físicas,
psicológicas e sexuais, pelo simples facto de ser mulher. Está a acontecer,
neste momento. O jornal El País
chamou-lhe «uma pandemia devastadora», num artigo publicado a 25 de Novembro,
Dia Internacional contra a Violência de Género.
Quase um quarto dos países ainda não possui
legislação própria que permita combater este drama humano, mas não é o caso de
Portugal. Sobretudo desde a aplicação do I Plano Nacional contra a Violência
Doméstica, lançado em 1999 e renovado até à presente data, com sucessivos
melhoramentos, têm sido enormes os progressos em matéria de legislação e meios
de intervenção específicos. Falta o mais difícil: mudar mentalidades, formar a
consciência das novas gerações. Desde logo, questionar a existência de uma
hierarquia entre homens e mulheres, atribuindo aos primeiros o privilégio e a
primazia do poder. O caminho a seguir parece ser inquestionável: educar,
educar, educar.
Da autora da jornalista Carla Maia de Almeida,
a reportagem Em Nome da Filha - Retratos
de Violência na Intimidade, é maioritariamente composta por testemunhos de
mulheres vítimas de violência doméstica. Entrevistadas em vários pontos do
país, acederam a contar as suas histórias sob anonimato, por razões
compreensíveis. Essa condição não lhes retira a força nem a pertinência, porque
a essa urgência de partilha correspondeu a vontade de contribuir para a mesma
causa: lutar contra um problema que não é «doméstico», mas de toda a sociedade.
Nas palavras da mais jovem entrevistada, que finaliza a segunda parte do livro,
ficou bem expressa essa intenção: «Quero dizer a todas a raparigas que façam
como eu. Foi só à primeira.»