sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

KIA ORA 2011


Tal como aconteceu em 2008 e 2009, O Jardim Assombrado dá as boas-vindas ao ano novo com doze horas de avanço, de olhos postos na terra bem-amada a que pertence por nacionalidade de alma ou lá o que lhe queiram chamar. Kia ora, 2011 - que é como quem diz, traduzido do maori, "olá, 2011"!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

PRÉMIOS LIMÃO 2010


Algumas coisas incompreensíveis, delirantes, inanes ou de gosto duvidoso que foram dadas à estampa em 2010, com o pretexto de serem “para crianças”:

Prémio “a Ferreirinha dos pequeninos”

– Pode trazer mais uma garrafa disto?
– Vinho do Porto?
– Exactamente. Aqui o meu colega hipopótamo tornou-se apreciador.
– Revela bom gosto – retorqui delicadamente. – O Vinho do Porto é um dos grandes orgulhos de Portugal.

(Francisco Moita Flores, As Aventuras de Maresia do Mar e Outras Histórias para Aprender)


Prémio “Vais acabar nas Novas Oportunidades, ai vais, vais”

Se António admirava os grandes campeões desportivos, não admirava menos os heróis das histórias e os escritores que tinham sido capazes de as inventar.
– Ainda por cima – gabava-se o avô Francisco, à conversa com os amigos –, o miúdo também adora ler. Vamos lá a ver o que sai dali, porque ele, afinal, tem jeito para tudo.

(José Jorge Letria, A Magia do Círculo Azul)


Prémio “O camisinha amarela”

[Útero]
É resguardado e secreto
com a lição aprendida
pois é nele que começa
o mistério desta vida.
E os espermatozóides
nele encontram ambiente
para que a promessa de vida
possa enfim seguir em frente.

(José Jorge Letria, O Alfabeto do Corpo Humano)


Prémio “Puto, enriquece o teu vocabulário”

Deixem que lembre ainda
O m de merda: dá tanto jeito
Para mandar alguns mm dos tais…
E é nome escorreito:
Vem no Morais.

(José Carlos de Vasconcelos, Arco, Barco, Berço, Verso)


Prémio “E se for só à expressão já vais com muita sorte”

– Vamos agora. Isto vai ser sem espinhas – disse o Tição sem perceber porque é que os outros não acharam graça à expressão.

(Luís Represas, A Coragem de Tição)


Prémio “Assim também eu votava nas presidenciais”

Na cidade de Cata-vento viviam-se dias de grande agitação. Chegara a hora de escolher um novo Presidente que servisse com honra e inteligência toda a comunidade.

(Carmen Zita Ferreira, O Bicho-de-Sete-Cabeças – História de uma eleição democrática)


Prémio “Os malefícios do álcool e do tabagismo”

O António, que tinha tido todas as oportunidades na vida mas nenhuma cabeça para as aproveitar, acabou mal, precocemente envelhecido, com hábitos alcoólicos e sem saber fazer nada, porque nunca tinha aprendido nem querido aprender, e revoltou-se contra o mundo em vez de se revoltar contra ele próprio. Teve a sorte de ir parar a uma instituição social mesmo sem pagar a mensalidade.

(Maria de Belém Roseira, in Contos Pouco Políticos)


Prémio “Depois de ler este livro também já bebia qualquer coisa”

O Riscas não precisou de pensar muito para formular o primeiro desejo, a viagem estava a ser cansativa e precisava de beber algo para seguir a caminhada. Sim, beber era de facto o primeiro desejo.
Largar o grito seria o segundo e talvez o mais importante desejo.

(Sónia Borges, O Riscas)


Prémio “Conselhos aos meus amigos caçadores”

– Os homens são perigosos mas também são estúpidos, Ismael. Eles estão sempre a fazer barulho, estão sempre a falar uns com os outros e em voz alta, ao contrário de nós, coelhos. Depois, eles não sabem caminhar no mato silenciosamente: fazem sempre tanto ruído que, se estiveres atento, vais poder esconder-te antes que eles cheguem próximo de ti.

(Miguel Sousa Tavares, Ismael e Chopin)


Prémio “Não estive em Woodstock, mas já fui ao Andanças”

Alana aproximou-se das outras ninfas e viu que elas estavam mais alegres. Cantavam com mais vigor, bailavam com mais energia, procuravam as essências mais activas, teciam grinaldas maravilhosas e túnicas delicadas e esvoaçantes…
– A Primavera é como uma festa diária nos nossos corações, explicou a rainha das ninfas. – A festa da alegria e da cor!

(Alice Cardoso, Alana e a Festa da Cor)


Prémio "O problema é que os fios de lã se metem nos dentes"

A menina Adélia era amiga da sua avó e recepcionista do museu. Por ano produzia quilómetros e quilómetros de cachecóis de lã para ajudar meninos carenciados.

(Mariana Roquette Teixeira, O Pintor Desconhecido)


Prémio "Sir Richard Attenbourough de sacristia"

Mas a verdade é que há cobras más, cobras boas e cobras mais ou menos boas e mais ou menos más. O mesmo acontece com os outros animais e também com as pessoas. E por isso devemos sempre olhar e ouvir com atenção, antes de dizermos se uma cobra, animal ou pessoa são maus ou são bons.

(Francisco Alegre Duarte, Joana Serpentina)

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

OS MEUS LIVROS FAVORITOS DE 2010








Encaro sempre com alguma reserva as tradicionais listas “dos melhores livros” do ano findo. São escolhas forçosamente incompletas, determinadas por critérios exteriores (o espaço de página, por exemplo) e outros imanentes à percepção que um crítico tem do seu trabalho. Para quem lê dezenas de livros ao longo do ano, escolher dez pode ser pouco; não é uma eleição fácil, com certeza. Habitualmente, essa escolha reflecte a síntese entre a valorização crítica da obra e o seu lugar no cânone literário; daí que, no meu entender, não faça grande sentido trazer para estas listas de best of aquelas obras “que ninguém conhece mas que deram muito gozo ler”. Posto isto, eis a lista dos meus dez livros favoritos – para crianças e adolescentes – publicados em 2010, tal como sairá na próxima edição da LER.

- O Coração e a Garrafa, Oliver Jeffers (Orfeu Negro)
- A Casa, texto de J. Patrick Lewis e ilustrações de Roberto Innocenti (Kalandraka)
- A Estranha Vida de Nobody Owens, Neil Gaiman (Presença)
- Era Uma Vez Uma Velhinha, Jeremy Holmes (Dinalivro)
- O Livro dos Quintais, texto de Isabel Minhós Martins e ilustrações de Bernardo Carvalho (Planeta Tangerina)
- Meia Hora Para Mudar a Minha Vida, Alice Vieira (Caminho)
- O Livro da Selva, Rudyard Kipling (Tinta-da-China)
- Os Livros que Devoraram o Meu Pai, Afonso Cruz (Caminho)
- O Jardim Curioso, Peter Brown (Caminho)
- Lágrimas de Crocodilo, André François (Bruaá)

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

NOVO LIVRO DA BRUAÁ


O Arenque Fumado, uma interpretação do ilustrador André da Loba para o poema homónimo de Charles Cros (1842 – 1888):

L’Hareng Saur

Il était un grand mur blanc - nu, nu, nu,
Contre le mur une échelle - haute, haute, haute,
Et, par terre, un hareng saur - sec, sec, sec.

Il vient, tenant dans ses mains - sales, sales, sales,
Un marteau lourd, un grand clou - pointu, pointu, pointu,
Un peloton de ficelle - gros, gros, gros.

Alors il monte à l'échelle - haute, haute, haute,
Et plante le clou pointu - toc, toc, toc,
Tout en haut du grand mur blanc - nu, nu, nu.

Il laisse aller le marteau - qui tombe, qui tombe, qui tombe,
Attache au clou la ficelle - longue, longue, longue,
Et, au bout, le hareng saur - sec, sec, sec.

Il redescend de l'échelle - haute, haute, haute,
L'emporte avec le marteau - lourd, lourd, lourd,
Et puis, il s'en va ailleurs - loin, loin, loin.

Et, depuis, le hareng saur - sec, sec, sec,
Au bout de cette ficelle - longue, longue, longue,
Très lentement se balance - toujours, toujours, toujours.

J'ai composé cette histoire - simple, simple, simple,
Pour mettre en fureur les gens - graves, graves, graves,
Et amuser les enfants - petits, petits, petits.

DE TI EU CANTO

O livro para crianças de Barack Obama vale a pena? Leia a crítica de José Mário Silva, no Bibliotecário de Babel.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

DEBAIXO DA NEVE


Inspirado pelo postal de Natal da editora Kalandraka - um pormenor das ilustrações de Roberto Innocenti para A Casa, belíssimo livro de 2010 -, O Jardim Assombrado fica coberto de neve à próxima segunda-feira. Boas Festas para todos os leitores e amigos.

PRÓXIMO CURSO DE LIVRO INFANTIL

Já está marcado: dias 2, 4, 9, 11, 16 e 18 de Maio de 2011. Uma parceria CMA/Booktailors.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

THE SNOWMAN, PARTE III



A terceira e última parte do filme. Para mais informações sobre o livro de Raymond Briggs, ver o post anterior.

THE SNOWMAN, PARTE II



A segunda parte.

THE SNOWMAN, PARTE I



Em 1982, a partir do livro de Raymond Briggs recentemente publicado pela Caminho, Dianne Jackson realizou um filme de animação de 26 minutos (The Snowman) que foi candidato ao Oscar e se tornou conhecido também pelo tema musical, Walking in the Air. Continua a ser um clássico do Natal britânico e pode ser visto no You Tube. Esta é a primeira de três partes.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

CLÁSSICOS DE NATAL, 2


Para algo completamente diferente, sugerimos O Boneco de Neve, de Raymond Briggs (Caminho). Aproveito para postar um breve texto dedicado aos livros sem palavras, publicado na edição nº 97 da LER:

"Se há quem pese o valor de um livro para crianças em função da mancha gráfica textual (pouco texto = dinheiro mal gasto), os picture books sem palavras, ainda raros entre nós, são encarados como uma espécie de excentricidade, quase tanto como a expressão «texto visual». Contar uma boa história através de uma sequência de imagens faz o leitor compreender a sua estrutura, desenvolve a capacidade de interpretação, deixa espaço à imaginação e estimula a atenção para os detalhes visuais. Excluindo os livros para as primeiras idades, os picture books sem palavras não têm de ser forçosamente simples, quer na sua concepção estética quer temática. É o caso de O Boneco de Neve (Caminho), de Raymond Briggs, autor inglês por duas vencedor do prémio de ilustração Kate Greenaway, que aborda a questão da morte e da perda com uma frontalidade rara, mantendo-se actual desde 1978. Outros picture books sem palavras recentemente publicados são Migrando, de Mariana Chiesa Mateos (Orfeu Negro), Onda, de Suzy Lee (Gatafunho), Onde Está o Bolo?, de Thé Tjong-Khing (Caminho), Palhaço, de Quentin Blake (Caminho), e Um Dia na Praia e Trocoscópio, ambos da Planeta Tangerina."

CLÁSSICOS DE NATAL, 1


E a propósito de Tim Burton e do post anterior, convém lembrar que uma das edições de 2010 da Orfeu Negro foi, justamente, a versão escrita de O Estranho Mundo de Jack, filme que nunca nos cansamos de rever. Aqui fica a declaração de intenções de Jack Esquelético, na tradução de Margarida Vale de Gato:

«Já me cansa meter medo, sustos e pavor.
Estou farto de ser algo que enche a noite de terror,
Farto de maus-olhados, de infundir alvoroço,
E os meus pés agonizam com a dança dos ossos.
Não gosto de cemitérios, quero mudar de ares!
Deve haver mais na vida que caretas e esgares!»

O NATAL DO BICHO DOS LIVROS


O postal de Natal 2010 do blogue O Bicho dos Livros é assumidamente timburtoniano. Subscrevo e retribuo as hostilidades.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

AUTORES, ESCOLAS E ETIQUETA


Não escolhi a palavra “etiqueta” apenas porque ficava bem no título. Escolhi-a porque é (também) disso que se trata quando um autor - escritor ou ilustrador - visita uma escola. Tenho constatado, com grande espanto e possível ingenuidade, a falta de qualquer noção de cortesia por parte de muitos professores, quantas vezes a pura e simples má educação. O último episódio passou-se aqui ao lado, em Espanha, durante a residência da DGLB. Não, não é preciso fanfarra nem passadeira vermelha. Bastava que os professores fizessem coisas tão simples como cumprimentar à chegada e à despedida (normalmente há só uma “vítima” que o faz, os outros escondem-se), que não bichanassem em grupinhos no decurso das sessões (tenho sempre a sensação de que falam da minha roupa), ou que não me deixassem plantada à frente dos meninos enquanto vão “só ali tomar um cafezinho” (também acontece). Há notáveis e honrosas excepções a esta vaga de indiferença generalizada? Claro que sim, e é isso que faz continuar: a expectativa de a próxima visita a uma escola não significar o papel de hamster adestrado, rodando, rodando o melhor possível frente ao tirocínio das perguntas do costume: “Quando é que decidiu ser escritora?”, “Quantos livros tem?”, “Em que é que se inspira para escrever?”, etc, etc. Desculpem, mas já não há paciência.

Por estas e por outras é que também subscrevi o documento que estabelece condições para a marcação de visitas de autor (para o ano lectivo 2011/2012), em boa hora idealizado por Alice Vieira, Margarida Fonseca Santos, Maria João Lopo de Carvalho, Luísa Fortes da Cunha e Cristina Carvalho. São sete os pontos considerados: marcação da visita, preparação da visita, despesas com transportes, despesa com alojamento e refeições, número de sessões, som e cachet. Até ontem à noite, eram 39 os subscritores da ideia. Os ilustradores não ficaram de fora. Segue-se a lista de nomes:

Alice Vieira
Ana Nobre de Gusmão
Ana Ramalhete
Anabela Dias (ilustradora)
André Letria (ilustrador)
António Mota
Armindo Reis
Carla Maia de Almeida
Carla Nazareth (ilustradora)
Catarina Fonseca
Cristina Carvalho
Danuta Wojciechowska (ilustradora)
David Machado
Elsa Serra
Fátima Effe
Fernando Carvalho
Francisco José Viegas
Gabriela Sotto Mayor (ilustradora)
Inês do Carmo (ilustradora)
Isabel Minhós Martins
Isabel Zambujal
João Manuel Ribeiro
Jorge Ribeiro
José Fanha
José Vaz
Leonor Xavier
Luísa Fortes da Cunha
Lurdes Breda
Margarida Fonseca Santos
Maria do Rosário Pedreira (escritora e editora)
Maria João Lopo de Carvalho
Miguel Gabriel (ilustrador)
Patrícia Alves (ilustradora)
Pedro Medina Ribeiro
Possidónio Cachapa
Richard Câmara (ilustrador)
Rita Vilela
Rosário Alçada Araújo
Sara Monteiro

domingo, 19 de dezembro de 2010

OS CORDÉIS ESTÃO POR UM FIO


Há coisas que desaparecem e outras que vão desaparecendo. As primeiras podem doer mais, mas é uma dor que passa depressa. Um dia vamos à procura da nossa revista ou da agenda anual do costume – e pronto, kaput, já lá não está, desapareceu. Foi «descontinuada», como se diz agora. Ficamos tristes, irritados, conformados – e dali a algum tempo já esquecemos. As coisas que vão desaparecendo, pelo contrário, roubam-nos a consciência aguda da perda, o que significa perder duas vezes. É uma perda em movimento que vai doendo e moendo, na forma verbal mais melancólica de todas, o gerúndio. Só reparamos nas coisas que vão desaparecendo quando precisamos mesmo delas, e isso também causa algum desconforto. Os cordéis, por exemplo. Devíamos ter continuado a guardá-los como faziam os nossos pais e avós, confiantes no provérbio «guarda o que não presta e terás o que precisas»? Os cordéis vão desaparecendo à nossa volta, é verdade. Substituíram-se por fita-cola, aberturas fáceis, fechos reutilizáveis, velcros, molas coloridas, película aderente e outros recursos. Já ninguém se lembra deles para atar os sacos de arroz, nem para um conserto de improviso, nem para fazer o jogo da cama-do-gato. A gaveta das «coisas-sem-arrumação», onde dantes se encontrava de tudo – cordéis, rolhas, parafusos, lápis a meio, fichas triplas, pedaços de arame, escovas de dentes usadas e sabe-se lá o que mais – também já quase não existe nos apartamentos modernos. Mas virá o dia em que vamos precisar de ter um cordel à mão, para desatar o nó do problema. Pelo sim pelo não, talvez valha a pena guardar o próximo cordel que nos calhe em sorte.

(Texto publicado na edição de 19 de Dezembro da Notícias Magazine, revista de domingo do DN e JN, na secção "Nostalgia".)

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

LIVROS A OLHAR PARA O TEJO




É uma livraria infantil que não é só livraria. Também tem brinquedos do género anti-Toys'r'Us e uma série de actividades para crianças e adultos. Tudo para pôr a gente a pensar, a imaginar, a criar. Talvez daí o nome: Cabeçudos. Onde? No Parque das Nações, perto da Torre Vasco da Gama. Passem por lá. Ou por aqui, para começar.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

BOCAGE ILUSTRADO


“Esta antologia poética de Bocage, ilustrada pelo artista plástico André da Loba, destina-se ao público em geral e, muito em particular, ao leitor juvenil.

A explicação é simples. Bocage era, até há cerca de dez anos, um poeta lido e estudado no Ensino Secundário. Mas uma das muitas reformas baniu-o do convívio com os jovens portugueses (que já não associam o Bocage das anedotas ao Bocage poeta).

No curto espaço desta apresentação não podemos fazer uma crítica às políticas que têm apagado dos programas de Português e da memória colectiva nomes incontornáveis da literatura portuguesa. Devemos, contudo, sublinhar bem que Bocage não pode ser esquecido. Ler este poeta é entrar na alma humana, nos seus mistérios, seus desejos e contradições.

Daí estes treze poemas e ilustrações, que nos convidam a explorar o imaginário de Bocage. Conhecer estes sonetos é já, em parte, evocar a vida de um homem e de um poeta apaixonado, exaltado, rebelde, insatisfeito, perseguido, como ele próprio nos diz, pelo mesmo ‘fado’ que atormentou Camões.”

(Excerto do posfácio de Carlos Nogueira à Antologia Poética de Bocage ilustrada por André da Loba. Como já falámos num post anterior, trata-se de uma edição recente da Faktoria K de Livros, chancela da Kalandraka não especialmente dedicada aos mais novos – mas também – que desmitifica uma ideia feita: a maturidade do leitor exclui o direito à fruição de bons livros ilustrados, aparentemente para crianças. Não, não exclui. Esta é a prova.)

UMA NOVA EDITORA: BAGS OF BOOKS


Há uma nova (e prometedora) editora portuguesa exclusivamente centrada – pelo menos para já – na publicação de livros para crianças e adolescentes. Chama-se Bags of Books e faz a sua entrada em cena ainda este mês, com um livro ilustrado de Beatrice Alemagna, Depois do Natal. Em 2011, a selecção de escritores e ilustradores mantém-se criteriosa, notando-se um predomínio de nomes latino-americanos: Gabriel Pacheco, Beatrice Rodriguez, Claudio Hochman, Antonio Ventura, Loreto Salinas, Gonzalo Moure e João Vaz de Carvalho. Para abrir o apetite, o catálogo e mais informação já estão no site da editora. Aqui.

Correcção: O primeiro livro editado pela Bags of Books é de Beatrice Alemagna, sim, mas chama-se O Meu Amor. Se tudo correr bem com a distribuição, podem encontrá-lo nas livrarias a partir de amanhã. Quanto a Depois do Natal, sairá em Janeiro, fazendo jus ao título.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

FROM DRAGS TO RAGS


O Pai Natal 2010 do Alex Gozblau é menos drag queen e mais miserável do que o de 2009. A festa acabou e nem sequer estávamos no melhor.

GABRIELA CANAVILHAS E A EXTINÇÃO DA DGLB

JL: Essa integração [da Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas com a Biblioteca Nacional] não decorre apenas da necessidade de redução de custos?
GC: A integração e fusão de institutos, de direcções-gerais e de empresas públicas foi uma medida aprovada pelo Governo no plano de contenção da despesa pública para 2011. É uma decisão que envolve todos os ministérios nesse esforço de redução de meios. A nossa preocupação é que não belisque as actividades desenvolvidas pelas instituições que se vão juntar. Do meu ponto de vista, poderá resultar numa nova fase de afirmação de toda a política do livro e da leitura que estava a ser desenvolvida pela DGLB. O dr. Jorge Couto, director da BN, é uma pessoa altamente capacitada para abraçar este projecto. Está a escolher um rosto para o desenvolver no seio da BN.

JL: E quem vai ser?
GC: Ainda não posso revelá-lo. Mas quero garantir que a integração da DGLB na BN e o seu enquadramento estrutural pode potenciar as políticas do livro de uma maneira mais sustentada.

(Excerto da entrevista concedida pela Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, ao Jornal de Letras, Artes e Ideias, na edição publicada hoje. A questão da DGLB ficou “arrumada” nestas duas perguntas. Parece-me pouco.)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

SIGA A TANGERINA



Estes são dois dos quatro livrinhos que a Planeta Tangerina vai apresentar amanhã, no meio de um apetecível programa de festas que conta com a presença de Andrés Sandoval, ilustrador chileno de Siga a Seta!, e de um passeio pelo Jardim Botânico com Fernando Catarino, o carismático ex-director que ninguém esquece. A festa começa as 16h00, no Museu de História Natural. Está tudo aqui. Que ninguém falte, a não ser, talvez, a chuva.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

FALAR SOBRE O LIVRO ILUSTRADO


Esta semana é um ver-se-te-avias de acontecimentos. Na próxima quinta-feira, no mesmo dia e à mesma hora em que a editora 101 Noites inaugura o Mercado de Natal Alternativo (à Rua de São Paulo, 121, Lisboa), começa uma conferência sobre o livro ilustrado com a escritora Cristina Norton e a ilustradora Danuta Wojciechowska, que debatem a arte de juntar texto e imagem para contar uma história. «Onde e como nasceu a necessidade desta justaposição?», pergunta-se. O público é convidado a entrar e a participar na conversa. Promovida pela Câmara Municipal de Lisboa, a conferência decorre às 18h30 no auditório da sede dos Serviços Sociais da CML, na Av. Afonso Costa, nº 41 (um edifício castanho e modernaço, junto à rotunda das Olaias).

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

ANDA CÁ QUE EU JÁ TE CONTO


Não sou especialista em contadores de histórias, mas há uns que me ficarão sempre na memória, como Pep Bruno e Luís Carmelo (mai-la sua concertina). Por isso vou estar na próxima quarta-feira, religiosamente (porque é dia de Imaculada Conceição), na Ler Devagar, para assistir ao segundo número da colecção HOT - Histórias Oralmente Transmissíveis. É uma antologia trilingue (português, espanhol e inglês) de contos e contadores alentejanos, editada em videolivro - o que inclui livro e DVD - pela BOCA. Repetindo: na Ler Devagar, 8 de Dezembro, às 18h30. Toda a informação aqui, no blogue da BOCA.

MAIS KALANDRAKA


Depois de Lisboa (ver post anterior), a Faktoria K de Livros apresenta amanhã no Porto uma das suas mais recentes edições, a Antologia Poética de Florbela Espanca ilustrada por Joana Rêgo. A conversa com a ilustradora será moderada por Emílio Remelhe e haverá leitura de poemas por Adélia Carvalho. Às 21h00, na "nova" Livraria Papa-Livros: Rua Miguel Bombarda, 523.

sábado, 4 de dezembro de 2010

FAKTORIA K DE LIVROS NA LX FACTORY


Parece um jogo de palavras, mas não deixa de ser verdade. A Faktoria K de Livros, uma chancela da Kalandraka dedicada a um público mais alargado, vai lançar hoje as suas últimas novidades: duas antologias poéticas dedicadas a Bocage e Florbela Espanca, ambas com ilustrações de dois autores "muito" contemporâneos - André da Loba e Joana Rêgo, respectivamente. É hoje, pelas 21h30, na Livraria Ler Devagar, à Lx Factory, em Lisboa. Os ilustradores estarão presentes para falar do seu trabalho e haverá ainda leitura de poemas pelos Contos da Lua Nova. Posteriormente, realizar-se-á uma sessão semelhante no Porto.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O ESCRITOR SEM VIRTUDES


Há quem não perdoe a Roald Dahl por ter vivido. Sejamos mais precisos: há quem não lhe perdoe as tentações donjuanescas, especialmente junto de mulheres casadas, nem o facto de se ter divorciado da actriz Patricia Neal depois de trinta anos conturbados, assumindo o affair com uma mulher mais nova chamada Felicity (os escritores nunca escolhem os nomes por acaso), com quem viveu até ao dia 23 de Novembro de 1990, talvez quase feliz. Roald Dahl, de quem falámos na edição anterior da LER, vinte anos volvidos sobre a sua morte, nunca foi uma figura pacífica, como pessoa e como escritor. Proferiu declarações que lhe valeram a acusação de anti-semitismo; e as feministas dos anos 1970 deleitaram-se a procurar sintomas de misoginia nas entrelinhas dos livros. Se os editores necessitaram de uma paciência de Job para lhe atender as exigências e caprichos, os ilustradores com quem trabalhou – incluindo Quentin Blake, com quem estabeleceu a mais sólida parceria – confrontaram-se com o seu calculismo financeiro, a faceta de homem de negócios que se revelou desde o tempo em que era funcionário da Shell. Chamaram-lhe arrogante, competitivo, narcisista, interesseiro e manipulador – só para citarmos alguns dos epítetos levantados na biografia assinada por Jeremy Treglown. E o que tem isso a ver com a literatura? Rigorosamente nada. A boa literatura dispensa a suposta virtude dos seus autores. Só a dependência histórica entre o sistema educativo e o sistema literário parece criar em algumas mentes vigilantes a ideia de que os escritores de livros para crianças e adolescentes tenham de circular numa espécie de recreio almofadado, onde possam cultivar amorosamente a sua «criança interior» sem correr o risco de amar, destruir e duvidar. Roald Dahl escolheu viver. Quem não vive, acaba a escrever sobre sentimentos de coelhinhos cor-de-rosa, acreditando que está a contar a melhor história do mundo.


(Texto publicado na edição nº 96 da LER, na coluna de opinião "Boca do Lobo", secção "Leituras Miúdas". Na foto, Roald Dahl aquando do seu casamento com a actriz norte-americana Patricia Neal.)