sábado, 28 de fevereiro de 2009

NO LAGO WALDEN


“Não eram apenas plantas silvestres, mas entidades vivas e plenas de sabedoria, estas e outras expressões da Natureza que formavam a paisagem do lago Walden. Thoreau empenhou-se em conhecê-las como se conhece um amigo, inscrevendo-as no coração. Quando construiu a cabana, disse: “Antes de acabar a tarefa já era mais amigo que inimigo dos pinheiros; embora houvesse cortado alguns, agora conhecia-os melhor.” E assim, na busca de empatia e intimidade com o mundo à sua volta, chegou a uma conclusão: “Não pode haver melancolia muito negra para quem vive em plena Natureza e mantém os sentidos serenos.”

(Excerto do texto “As florestas”, publicado na Notícias Magazine, secção “Coisas que Fascinam”, em Agosto de 2002. A fotografia foi tirada pelo jardineiro convidado deste blogue em Outubro de 2007, durante as férias em Massachusetts, EUA)

AQUI ERA A CABANA DE THOREAU


“The House that Thoreau Built”, a canção que os Go-Betweens poderiam ter escrito, se não tivessem preferido Jack Kerouac.

REEDIÇÃO DE UM LIVRO IMPRESCINDÍVEL


A Antígona reeditou Walden ou A Vida nos Bosques (1854), de Henry David Thoreau, relato intimista, individualista e panteísta de um homem que amou a Natureza. Nas livrarias a partir de 9 de Março.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

OLHOS PARA LER


A crónica de opinião de Hugo Xavier, "A traição das traduções", publicada hoje no Blogtailors, tocou-me particularmente. Primeiro, porque também me incomodam as más traduções e deficientes/ausentes revisões, motivo imediato para deixar leituras a meio. O livro para crianças sofre especialmente com esta menoridade – sem trocadilhos –, e é no mínimo inquietante ver como as editoras, grandes e pequenas, cometem erros de palmatória. Estou a lembrar-me, por exemplo, de um livro de Anthony Browne, Os Três Porquinhos (Kalandraka), que consegue criar um verdadeiro efeito de anticlímax ao ter na última página “concerto” em vez de “conserto”. Há pouco tempo, citei na secção Leituras Miúdas (LER nº 76), um livro traduzido pela Sinais de Fogo, Fenómenos Arrepiantes. Na página 22, pode ler-se:

“Sempre se suspeitou que algumas pessoas eram capazes de causar o infortúnio a outras praticando bruxaria, sendo perseguidas ou mortas por isso. No tempo da Inquisição, as autoridades tentaram pôr cobro a esta situação, e tanto os mais esclarecidos como a Igreja defendiam não existirem tais práticas. Todavia, a crença popular permanecia intocável.”

Não conheço o texto original, mas parece-me que houve aqui uma falha de interpretação idêntica aos casos apontados por Hugo Xavier, no que resultou a imagem de uma Igreja convertida em “defensora da verdade e da razão”, como então escrevi. Não acho que sejam minhoquices, nem meros tropeções técnicos. É claro que sobra pouco espaço no – já limitado – espaço da crítica, mas ignorar este problema também me parece um caminho perigoso.

Enfim, como “alta míope”, também não pude deixar de me identificar com esta passagem do texto publicado no Blogtailors:

«Pois é», continuou, «todos os míopes adoram sempre os desafios de jogar com tudo o que envolva a maior dificuldade. Gostam de snooker, de bowling, de brincar com legos em vez de playmobils...»

Fiquei genuinamente interessada em saber mais coisas sobre a “teoria da leitura miópica”. Quando era miúda, além dos legos, tinha entre as minhas brincadeiras preferidas o Mikado, o View Master e aqueles tabuleiros de plástico cheios de furinhos onde se colocavam pinos coloridos (como se chamava isso?). Ou seja, tudo o que era bom para trocar os olhos e sucumbir à tentação da vertigem. Ainda hoje, nos meus devaneios, sonho aprender a jogar snooker e ser exímia nos matrecos, fulminando os adversários com pestanas aguçadas de jaguar.

(A ilustração acima é do André Letria, um pormenor das guardas do nosso Não Quero Usar Óculos)

JÁ FALTA POUCO PARA BOLONHA


Bilhete de avião marcado, acreditação garantida e um sofá-cama em casa do Stefano e Cecilia. Tudo o que é preciso para chegar à próxima Feira do Livro Infantil de Bolonha, a 46ª edição desde 1967. De 23 a 26 de Março, editores, agentes literários, distribuidores, ilustradores, escritores, jornalistas e outros profissionais interessados neste segmento encontram-se para avaliar as tendências actuais, aprofundar conhecimentos e, claro, fazer contactos e comprar direitos. O país convidado deste ano é a Coreia do Sul, que será alvo de uma grande exposição e de um programa especial. Entre outros pontos de interesse, haverá também uma mostra dedicada a Roberto Innocenti, um dos mais conceituados ilustradores actuais (publicado em Portugal pela Ambar), vencedor do Prémio Andersen para Ilustração em 2008. Quanto aos melhores livros de 2009, segundo o júri da Feira do Livro Infantil de Bolonha, também já foram anunciados nas diversas categorias: Ficção, Não Ficção, New Horizons e Primeira Obra. Para saber quais foram os títulos vencedores clique aqui e aqui.

Fotografia de Alessandro Salomoni.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

DO RATO MICKEY A ANDY WARHOL


Não são livros para crianças no sentido tradicional do termo. São obras de autor que partem do imaginário infantil, assinadas por artistas plásticos como Sol Lewitt, Christian Boltanski, Claes Oldenburg, Roy Lichtenstien, Richard Long, Keith Haring ou Andy Warhol. Em exposição na Biblioteca do Museu de Serralves, até 26 de Abril. Obviamente imperdível.

LITERATURA JUVENIL BRASILEIRA

Lamentavelmente, sei pouquíssimo do que se passa no Brasil em matéria de livros para crianças. E tenho curiosidade. Se vivesse em São Paulo, este seria um debate que não gostaria de perder. Espero que o Labirintos no Sótão – e outros blogues – façam um apanhado do que se passar no dia 4 de Março. As questões:

- a literatura juvenil está em extinção?
- a tevê e a internet são uma ameaça real à literatura juvenil?
- o jovem leitor brasileiro aprecia a literatura juvenil brasileira?
- quais são os grandes escritores brasileiros de literatura juvenil, da atualidade?
- qual será o futuro da literatura juvenil?

INVEJA DE ESCRITOR

Brian Keaney, autor de Gente Vazia, conta mais um episódio da vida de escritor: “Why I don’t like literary parties”. Honesto e divertido. No blogue Dreaming inText.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A NÊSPERA QUOTIDIANA


Não sei porquê, o caso do Magalhães censurado e agora o Courbet têm-me lembrado muito o Rifão Quotidiano, de Mário-Henrique Leiria. Não sei mesmo porquê. Já estamos outra vez no tempo delas? Das nêsperas. Quer dizer, das Velhas?

Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece

DOIS FILMES QUE NÃO VOU VER


Não tenho a menor curiosidade pela ética e pela estética de Quem Quer Ser Bilionário?, o filme dos oito Óscares. Just entertainment? Não, obrigada. Ainda me lembro da seca monumental que apanhei com Chicago, o “melhor filme” de 2002. Por motivos diferentes, Coraline vai aguardar pela versão em DVD. Porque não há paciência para ir aos cinemas do Colombo ou do Alvaláxia, os únicos em Lisboa que exibem o filme em inglês, sem dobragem. No primeiro caso, porque nem com uma pistola apontada lá vou; no segundo, porque na última vez que lá fui só faltou apontarem-me uma pistola. Paciência. Não se pode ter tudo.

DIRECTO DE CABANAS DE VIRIATO

“Sambar nunca. Uma gravidez repentina, uma dor de barriga, partam o salto da sandália ou tranquem-se na casa de banho e comecem aos berros. Mas sambar? Sambar nunca. Ousaram um sambinha? Um passinho minúsculo e desengonçado de tuga, e saibam que se deram à morte.”

Ok, Mónica, nós não temos aquelas “bundas inacreditáveis”, mas temos a “dança dos cus” em Cabanas de Viriato. E como dizia uma velhota com ar ladino, “pode não valer nada para os outros, mas para nós vale muito”. Quem fala assim não tropeça.

DIRECTO DA MEALHADA

Em matéria de festividades sazonais, o Carnaval consegue ganhar o troféu da depressão nacional. As televisões desdobram-se em directos para mostrar “a festa, a música e a alegria” que vai por esse país fora, de Loulé à Mealhada, de Sesimbra a Ovar, de Loures a Torres Vedras. É um espanto. Até um cemitério em Dia de Finados consegue ser mais animado.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

IMAGINAÇÃO E STIFF UPPER LIP


Quando regresso aos livros em que cresci, se é que alguma vez os deixo, há sempre um que sobressai e cuja memória conservo praticamente intacta – ao contrário do exemplar tão maltratado da Colecção Azul, impresso em 1950. Chama-se A Princesinha (A Little Princess, no original) e foi escrito por Frances Hodgson Burnett, um nome mantido durante anos em grande mistério, já que ignorava se pertencia a um homem ou a uma mulher. Frances seria “Francisco”? Podia bem ser.

Já conheci muitas pessoas para quem este livro foi importante; mulheres, todas entre os 40 e os 70 anos, o que diz algo sobre afinidades literárias entre gerações. Basta um breve lapso de tempo para que Sandokan se torne imortal e o Dartacão um boneco desconhecido.

Gostava de saber se ainda há quem o leia em português. As edições indicadas pela pesquisa na rede de Bibliotecas de Lisboa são todas anteriores a 1988, o que me parece sintomático. Tornou-se um clássico da literatura para crianças, tal como outros dois títulos de Frances Burnett – O Pequeno Lorde e O Jardim Secreto –, mas raramente o vejo nas nossas livrarias. A história dickensiana de Sara Crewe, de herdeira em promessa a criada num sinistro colégio vitoriano será “demasiado inglesa”? Demasiado datada? Desinteressante para os pequenos leitores de agora, sempre apresentados a novas e sofisticadas possibilidades de magia? Talvez o nome do livro não ajude: A Princesinha. É cor-de-rosa e meio piegas, ao contrário da história e da personagem principal. O diminutivo da versão portuguesa pode ser irritante. Mas que querem? Nem sempre se arranjam títulos brilhantes como To Kill a Mockingbird.

No fundo, acho que prefiro não saber muito sobre o que este livro hoje representa. Prefiro que Sara Crewe continue a ser a minha heroína favorita, maior do que Jane Eyre, Tigerlily, Jo March ou a Zé dos Cinco. Sara tem um sentido de sobrevivência animal, uma imaginação alucinada e a convicção apurada de ser quem é, independentemente das circunstâncias. Além de um stiff upper lip extraordinário que a salva da neurose.

Até que ponto lhe devo a minha anglofilia, não sei; mas agradeço a Maria Lamas por não ter traduzido buns por “pãezinhos com passas” ou bungalow por “casa de campo”. Aceito até, que remédio, a mudança de nome do ratito que vive na mesma mansarda de Sara Crewe (palavra impressionante, “mansarda”), rebaptizando-o de Melchisedec para Rodilard. E, lendo uma e outra vez, este começo continua a ressoar como se eu tivesse sete anos ou oito anos:

“Num desses dias tristes de Inverno, em que o nevoeiro, amarelado e espesso, invade a tal ponto as ruas de Londres, que é preciso conservar acesos os focos eléctricos e as lâmpadas dos estabelecimentos como durante a noite, uma carruagem avançava lentamente através das espaçosas ruas da grande cidade, transportando uma pequenita, muito aconchegada ao pai.”

(Só nunca consegui compreender por que razão a figura da capa era uma menina bonita de trancinhas loiras, tão diferente da Sara de cabelos pretos e olhos verdes, magra e morena, que nunca se deixaria enganar por truques desses…)

domingo, 22 de fevereiro de 2009

AMENDOEIRAS EM FLOR


É domingo, está um belo dia de sol, uma pontinha de calor, não há trabalho urgente para entregar e o Sporting ganhou ontem em Alvalade. Estão reunidas as condições para a prática descontraída da modalidade passeante. Se houvesse tempo, subia até ao Douro e ia dar umas voltas pelos lados de Mogadouro, Freixo de Espada à Cinta e Torre de Moncorvo, terras que neste momento fazem a festa habitual das amendoeiras em flor. Aproveitem, ó gentes do Norte.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

CONVERSAS NO VETERINÁRIO


Cada ida ao veterinário é um sacrifício. Não tanto pelo eterno festival que é enfiar os gatos dentro do transportador, nem pela factura directamente remetida para o cesto dos papéis, mas pelo suplício sempre renovado das conversas na sala de espera. A médica veterinária é uma espécie de S. Francisco de Assis aqui da zona, em versão cabelo solto e comprido e veículo todo-o-terreno. Para lá convergem as mais diversas raças de bichos e de gente, desde velhos solitários que fazem malabarismos com as pensões para dar mais qualidade de vida aos seus “animais de companhia” (porque é mesmo disso que se trata), até representantes de famílias numerosas que aproveitam a descontracção do momento para uma exibição gratuita de status. Começam por perguntar o nome do bicho a quem reconhecem um pedigree semelhante e dali a nada já estão nas quintas do Alentejo, na caça à lebre, nas viagens à Patagónia, nos netos que andam no Liceu Francês, na receita de empada de perdiz e sei lá que mais. Às vezes, o desconforto na sala é tão grande que algumas pessoas só não ladram por boa educação. Acho bem que cada um aproveite a vida que tem, mas em lugares públicos deve haver algum pudor na manifestação das desgraças e – vai dar ao mesmo – da prosperidade. E depois, convenhamos que nem toda a gente tem interesse em saber que aquela podenga anã de pêlo cerdoso tem antepassados desde o tempo do D. Afonso Henriques.

SENDO ASSIM, ESTAMOS EM PAZ

A benemérita Comunidade Vida e Paz demarca-se da organização das “touradas de beneficência”, mas não diz que não ao dinheirinho. A resposta dada à denúncia da ANIMAL candidata-se ao prémio “Como dar a volta ao assunto e ainda passar por gajos porreiros”:

“Venho esclarecer que nada temos a ver com a ideia, iniciativa, organização, promoção, marketing ou publicidade do evento. Também não foi organizado para obter fundos para a CVP [Comunidade Vida e Paz]. Depois de organizado o evento é que fomos contactados para sermos beneficiários da receita. Apenas e só aceitamos ser beneficiários de parte da receita da bilheteira em favor dos destinatários da nossa Instituição.”

Outra associação, a Ajuda de Berço, também fez que “sim” com a cabeça e assobiou para o lado. Só o Refúgio Aboim Ascensão recusou o dinheiro e proibiu qualquer utilização do seu nome em “beneficências” deste género. Pormenores a ter em conta na próxima volta do peditório, eventualmente.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O FIM DA CAMPO DAS LETRAS


A acontecer o que já se falou aqui e aqui, é uma notícia triste também para o livro infantil. A Campo das Letras é uma das editoras que mais tem apostado neste segmento, contribuindo para a sua expansão desde meados da década de 1990. Publicou muitos e bons autores, abarcando consagrados (Manuel António Pina, Ana Saldanha, António Torrado, Álvaro Magalhães, Ana Luísa Amaral, Mário Cláudio, Eugénio de Andrade e tantos outros) e estreantes, risco que as grandes editoras raramente se mostram dispostas a correr, preferindo os nomes que “vendem”. Cito apenas dois: Maria Leonor Barbosa Soares, no texto (O Cão Triangular) e Inês de Oliveira, na ilustração (A Montanha da Lua, Sopa de Pedra). Na tradução, as várias séries da Colecção Larousse adaptadas aos mais pequenos, bem ilustradas e divertidas, permanecem como referência. Mas não importa apenas fazer livros, é preciso saber divulgá-los, sem sovinices injustificadas, e isso é algo que a Campo das Letras também sabe fazer. Com o Nuno Seabra Lopes e depois com a Cláudia Abreu, tudo rolou naturalmente, até numa altura em que não era suposto: quando fui editora do Netparque, em 2000 e 2001, receber livros tornou-se um castigo (“Para a Internet não mandamos”, era a resposta mais comum), e até neste pormenor a editora de Jorge Araújo fez a diferença. Não há mesmo maneira de adiar o fim do mês?

Na imagem: Polegarzinho, de João Paulo Seara Cardoso, com ilustrações de Júlio Vanzeler (Campo das Letras, 2002)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

ISTO É JORNALISMO A SÉRIO


Na última Notícias Magazine, Ricardo J. Rodrigues escreve sobre o primeiro livro de Gay Talese – um dos decanos do Novo Jornalismo – publicado em Portugal: Honra o Teu Pai (Presença). E ainda teve o privilégio (aliás, bem aproveitado) de falar com o homem. O artigo já está no meu clipping. Aqui fica um parágrafo, ad usum delphini:

“Talese obedece a três rigorosas leis para fabricar a sua arte. «Em primeiro lugar está a investigação. É a arte de estar com as pessoas, de ser um parceiro na sua privacidade. Não basta ouvir o que o outro tem para dizer, porque nem sempre isso é a verdade. Tem de se perceber o que realmente pensam e isso requer tempo.» De seguida, a organização. «Escrever uma história é uma coreografia, cada passo tem de ser dado sem hipóteses de falhar. Para onde me dirijo? Qual é o próximo passo? Quando é que viajo no tempo com o meu argumento?» E por fim a escrita, «onde tudo o que organizaste pode ser posto em causa porque as palavras têm aquela curiosa tendência de ganhar vida própria e levar-te a locais inesperados. É o momento da magia, mas a magia tem de ser revista uma e outra vez, para estar apurada.» Gay Talese leva isto tão a peito que por vezes pendura algumas páginas escritas na sua velha máquina Xerox nas paredes do escritório e olha para elas através de um par de binóculos. Vistas pelas lentes, parecem impressas. E isso permite-lhe olhar para o texto com uma certa distância. «Vejo as coisas com um novo par de olhos.» Literalmente.”

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O RAPAZ DO PIJAMA ÀS RISCAS


Não há surpresas na adaptação ao cinema de O Rapaz do Pijama às Riscas. Um casting correcto, um décor cuidado, um argumento adaptado com liberdade q.b., sem grandes infidelidades nem rasgos criativos que as justifiquem. Para quem leu o livro de John Boyne, o filme não acrescenta nada; vê-se bem, como se costuma dizer, embora os minutos finais façam recear a pior das cedências: a negação da tragédia que funciona como corolário moral da obra. Além da estranheza de ouvir nazis a falar num inglês impecável, o que não ajuda à “suspensão da descrença”, tudo o resto é demasiado realista. Não sei como foi a solução encontrada para português, mas, no original, o campo de Out-With e o Fury (equivalentes fonéticos de Auschwitz e Führer) faziam com que a história ressoasse como uma terrível efabulação, sem equivalente possível na realidade. Não é por acaso que John Boyne termina assim o livro:

“Of course all this happened a long time ago and nothing like that could ever happen again.
Not in this day and age.”

Há finais infelizes que, mesmo assim, nos sossegam. Não é o caso.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

OS PERIGOS DA LITERATURA


“Se uma educação literária serve para alguma coisa, é para nos fornecer um sentido de fatalidade. Nada como uma imaginação fértil para sugar a coragem a uma pessoa. Se lia o diário da Anne Franck (sic), passava a ser a Anne Franck. Quanto aos outros, podiam ficar aterrorizados, esconder-se ao canto, transpirar de medo, mas assim que o perigo passava era como se ele nunca tivesse existido e retomavam alegremente as suas vidas. Retomavam-nas alegremente até ao dia em que eram esmagados ou envenenados ou alguma barra de ferro lhes partia o pescoço. Quanto a mim, sobrevivi a todos eles e em troca morri umas mil mortes.” (Firmin, Sam Savage, ed. Planeta, pág. 41)

Fernando Savater, no final dos encontros “Formar Leitores para Ler o Mundo”, preferiu falar sobre “os perigos da leitura”, comparando-a a uma droga dura. “A leitura pode ser um sucedâneo infernal do paraíso”, afirmou. Porque a todas as vidas falta algo. “Falta tempo, falta amor, falta justiça… E, no entanto, a leitura é algo que contrapesa, que faz esquecer tudo o resto.”

É verdade. Tive a minha última dose desta “droga dura” hoje à tarde, quando acabei de ler Firmin, de Sam Savage. Só agora começo a lembrar-me de tudo o resto.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

AMOR É… ASSINAR DE CRUZ


Eu disse que não havia “minúsculas no amor”? Foi só uma força de expressão, adequada ao tema do post anterior. Isso a que também chamam amor está cheio de miudezas, até no sentido visceral do termo. Veja-se como o medo primitivo da fome e da carência irrompeu neste caso patético de que tomei conhecimento pelo Mar Salgado: o casal de vinte anos que se separou depois do prémio do euromilhões e anda agora às avessas nos tribunais. Decidir quem teve o toque de Midas – se ele, porque registou o boletim, se ela, porque pôs a cruz no sítio certo – tornou-se uma questão de vida ou de morte para os contemplados e respectivas famílias desavindas. Dir-me-ão que não é um caso de carência, mas de ganância. Tenho dúvidas. Os medos primitivos vão-se sofisticando; e o que antes era o pavor de não aforrar comida suficiente para o Inverno transformou-se na vergonha de não mudar de carro de dois em dois anos, ou de não passar férias na República Dominicana para vizinhança ver. Por mim, encantada. Acho bem que estes dois se separem antes de se terem casado. Que vão morrer longe um do outro. Sempre é menos uma família que se estraga. Porque quem não se entende por causa de 15 milhões de euros é capaz de pedir o divórcio por muito menos. E depois andar ao estalo para decidir quem fica com o estúpido casal de passarinhos de louça comprado nas Festas da Nossa Senhora da Agonia, naquele dia em que o amor se derretia na boca como um farrapo de algodão-doce.

PAPER CUTS


Veio da antiga China a arte de recortar papel, até hoje uma das mais apuradas técnicas de ilustração. Em Portugal, Gémeo Luís (na foto) tem dado exemplos notáveis dessa tradição que foi seguida por Hans Christian Andersen, entre muitos outros. Pistas para uma leitura sobre o assunto no blogue O Livro Infantil.

NÃO HÁ MINÚSCULAS NO AMOR


José António Gomes, professor, escritor, crítico literário e director da revista Malasartes, escreveu ontem sobre o amor na literatura para a infância:

“De facto, o amor, nas suas múltiplas dimensões (e já nem falo do amor materno, do amor paterno ou do amor entre irmãos), é um tópico com expressão tudo menos negligenciável nos livros para os mais novos. E apraz-me dizer isto, pois, numa sociedade mercantil e ferozmente individualista como a nossa, que tantas vezes incute nos seus filhos o culto da competição e é indulgente para com as suas pulsões egocêntricas, a presença desta temática indicia, pelo menos, que a educação dos afectos não é menosprezada pelos autores e ilustradores da literatura infantil e juvenil.”

Ler o texto completo no blogue A Inocência Recompensada.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

JANET E OS POETAS


“Onde estão os poetas?”, perguntava-se Janet Frame nas suas deambulações pelo velho cemitério de Dunedin, cidade da ilha Sul da Nova Zelândia, a favorita dos colonizadores de origem escocesa. Em viagem, gosto sempre de visitar cemitérios, pela mesma razão que gosto de visitar mercados. Na coincidência dos opostos encontra-se muito do que define um lugar que nos é estranho. Via Beattie’s Book Blog, descobri um site excelente com vídeos da NZ, incluindo o trailer de Um Anjo à Minha Mesa e um (raro) documentário com Janet Frame, onde se conta que a mãe vendia poemas de porta em porta nos tempos da Depressão. A escritora tem agora uma nova colectânea de contos – a melhor, segundo o Bookman Beattie:

Prizes: Selected Short Stories is the most comprehensive selection of Janet Frame’s stories ever published, taken from the four different collections released during her lifetime and featuring many of her best stories. Written over four decades, they range from stories from her classic prize-winning collection The Lagoon and Other Stories, first published in 1952, right up to the volume You Are Now Entering the Human Heart, published in the 1980s.
This new selection also includes five works that have not previously been collected.

RETRATOS DA INVERNIA, POR CARLOS ROMÃO

Sei que estava toda a gente a desejar o sol, mas apesar de tudo acho que o Porto tem mais encanto assim. Não me batam. Especialmente com o guarda-chuva.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

ENFRENTA O TEU INIMIGO


Parafraseando Tristan Tzara, devo dizer que, em princípio, sou contra as mensagens em cadeia, venham elas do Dalai Lama, dos mais expeditos agentes da PSP ou dos detractores do Actimel. Agradeço a todos a preocupação, mas troco a miragem de um aumento exponencial de sorte e felicidade por um prato de lentilhas, que é como quem diz, por um pouco de sossego. No entanto, sendo em princípio contra as mensagens em cadeia, também sou contra os princípios. Por isso aqui fica a minha resposta ao desafio do Spark, leitor habitué que justifica excepções. Ah, mas fiz batota: como o livro que tinha mais à mão não era lá muito recomendável, fui buscar outro à estante: o segundo volume de Varjak, de SF Said (com ilustrações de Dave Mckean), sem dúvida das coisas mais interessantes que por cá se têm traduzido, mérito da Gailivro. Uma história de luta e sobrevivência entre gatos vadios, com o zen e a arte do tiro ao arco à mistura. Da página 161:

“– Às vezes, meu filho, tu não podes vencer o inimigo.
Varjak recuou ao ouvir estas palavras. Agora tinha a certeza: o seu antepassado sabia que ele perderia contra Sally Bones. Uma vez mais, sentiu a vergonha da derrota a mordê-lo.
– Depende de onde, quando e como lutas – continuou o mestre. – Depende dos teus pontos fortes e das fraquezas do teu inimigo.
– Fraquezas? – perguntou. – Como é que posso saber quais são as fraquezas de alguém?
– Como qualquer outra coisa: tu observas os defeitos dos outros. Enfrenta o teu inimigo e verás as suas fragilidades verdadeiramente, sem medo e sem ódio. Só quando o fizeres, poderás conhecê-las.”

Last but not least: vale a pena ver algumas preciosidades em matéria de curtas-metragens de animação que o Spark seleccionou no lado direito do blogue. Por exemplo, esta história de tricot e obsessão: The Last Knit. Ou vasculhar nos arquivos da Velha Jukebox e descobrir relíquias como "Echo Beach", uma daquelas músicas que lembram como a vida passa a correr. Dancemos, pois.

NOVÍSSIMA LITERATURA BRASILEIRA


Nem todos temos a sorte de estar neste momento na Póvoa de Varzim, a acompanhar o programa das Correntes d’Escritas. Longe de ser um prémio de consolação, preparam-se em Lisboa vários encontros de alguns dos representantes da novíssima literatura brasileira com homónimos seus portugueses. Em comum, além da língua, o facto de todos serem representados pela Leya (Caminho). A apresentação dos escritores brasileiros começa mais a norte, em Coimbra, na Bertrand do Centro Comercial Dolce Vita, às 17h00 de domingo, 15 de Fevereiro. São eles: Amílcar Bettega, João Paulo Cuenca e Daniel Galera. Quanto aos portugueses: Ondjaki, José Luís Peixoto e Gonçalo M. Tavares. Estava a preparar-me para deixar aqui o programa completo, mas os Blogtailors já se adiantaram. Ora veja.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

DA INVEJA


Tenho muitos e terríveis defeitos, dolorosamente aperfeiçoados ao longo da vida. Fico de péssimo humor quando tenho fome (ninguém tente falar comigo nessa altura). Esqueço-me de comer fruta durante o dia. Tenho dificuldade em esconder estados de espírito melancólicos, coisa que na perspectiva do darwinismo social só me tem trazido problemas. Praguejo facilmente em determinadas situações; por exemplo, quando o computador começa a sobreaquecer e o blogger se torna lento como um comboio de torresmos. Consigo ser estupidamente picuinhas, hipercrítica e impaciente, tudo ao mesmo tempo. Mas há pelo menos um defeito que não tenho, desde logo porque me é difícil compreendê-lo: a inveja. Como é que se pode ser uma pessoa e querer ser outra, sem que isso provoque uma espécie de náusea existencial e um sentimento de absurdo? Como é que se pode invejar outra pessoa, sem pensar nos problemas que ser essa pessoa pode acarretar? Ter inveja é, para mim, um autêntico paradoxo ontológico.

Fico sempre sem jeito quando ouço comentários do género: “O quê, já foste duas vezes à Nova Zelândia? Bem, que inveja…”. Se disser que andei de mochila às costas durante um mês e meio, que trabalhei em quintas a tosquiar ovelhas e que vivi com gente para quem o almoço consiste em chá e torradas, é ver como a inveja começa logo a esmorecer. “Ah, é só uma maneira de falar”, dizem. Só uma maneira de falar? Por favor. Não é preciso ter lido Wittgenstein nem livros de auto-ajuda para saber que a nossa “maneira de falar” traduz aquilo que somos, o que os outros pensam que somos e o que nós próprios pensamos que somos. Tenho cada vez mais cuidado com a minha maneira de falar. Na dúvida, prefiro calar-me a maior parte do tempo.

A inveja contém outro paradoxo: quanto mais se alimenta, mais ridícula e mesquinha se torna. Transforma-se na invejazinha. O que começa por ser “só uma maneira de falar” rapidamente descamba na invejazinha pelo carro do vizinho ou da colega que tem liberdade de sair mais cedo para ir buscar o filho ao infantário. Defeito por defeito, mais vale ter uma boa inveja, por mais bacoca que possa ser. Por exemplo, a Kristin Scott Thomas. Olhem bem para ela. Não é uma mulher absolutamente invejável? É linda, elegante, talentosa e de uma classe irrepreensível. Contracenou com Ralph Fiennes em O Paciente Inglês, como se tudo isso não bastasse. Quando penso na Kristin Scott Thomas, imagino-me numa casa no british countryside, a beber um gin tónico no jardim, ao fim da tarde, com um cardigan sobre os ombros e as últimas novidades em literatura para crianças mesmo à mão de semear. O telefone toca. É a minha amiga Helena Bonham Carter, a convidar-me para jantar hoje em casa dela. O Tim (Burton) é um grande cozinheiro.

Mas não há vidas perfeitas, pois não? Não. Quando estou a um passo de sentir inveja da Kristin Scott Thomas, começo a pensar nos defeitos que ela poderá ter. Ou nos problemas por que estará a passar. Estará triste ou deprimida? Será que lhe morreu alguém querido há pouco tempo? Terá um namorado ciumento e parvo? Grita com a empregada? Não convive bem com os espelhos? Lava as mãos 300 vezes por dia? Sei lá, tudo é possível. A partir de uma certa idade, perde-se a paciência para descobrir novos defeitos; viver com os nossos e os de mais algumas pessoas já dá trabalho bastante. É nesta altura que regresso ao meu apartamento sem varanda em Lisboa e vou limpar o caixote de areia dos gatos, contente por não ser a Kristin Scott Thomas e mais os seus defeitos e problemas. Porque não há pessoas perfeitas, pois não? Não.

O que é preciso é que cada um faça o melhor que pode com a vida que tem.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

COMO DECIDIMOS


“Como decidimos?”: eis a pergunta a que tenta responder Jonah Lehrer, autor de Proust Was a Neuroscientist (Proust Era um Neurocientista), que será publicado em Março pela Lua de Papel (ver notícia na LER). Lehrer esteve nos estúdios Comedy Central para falar do novo livro, How We Decide, e esforçou-se para dar uma entrevista minimamente séria, algo impossível quando o anfitrião se chama Stephen Colbert. É verdade que não foi dito nada que António Damásio não tenha já explicado, mas deve haver mais para descobrir no livro e o efeito cómico é o que interessa aqui.

Além da passagem pelo Colbert Report, Jonah Lehrer tem um outro vídeo no blogue que vale a pena ver. Trata-se do registo das percepções de um miúdo depois de uma ida ao dentista, onde terá sido submetido a uma anestesia forte. No carro, enquanto o pai (?) o vai tentando sossegar, sem histerias nem pânicos, os efeitos do medicamento fazem sentir-se sob a forma de alucinações e outros impulsos que o deixam visivelmente confuso e perturbado. “Isto é a vida real?”, pergunta, a dado momento. O pai ri-se e diz que sim. Mas o miúdo não está a achar graça. “Sinto-me esquisito. Por que é que isto está a acontecer? Isto vai ser assim para sempre?”. À mesma hora, noutro lugar, há quem esteja a desejar que uma experiência semelhante nunca mais acabe. E que continua a empenhar a vida real a troco disso. Qual era a pergunta, mesmo? Ah, sim: “Como decidimos?”. Pois.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

MICHAEL ROSEN COMBATE A 'EXCERTITE'


Michael Rosen, um dos nomes mais conceituados da escrita para crianças no Reino Unido, diz que há muitas iniciativas governamentais para ensinar a ler, mas “virtualmente nada” sobre gostar de livros. O autor de Vamos à Caça do Urso denuncia a pressão a que os professores estão sujeitos e nomeia uma “doença” dos manuais escolares (também comum em Portugal), a “excertite”, que mais não é do que a amputação dos textos e a sua condensação em meros excertos. “É absolutamente patético – nem sequer contam a história toda”, afirma. Para contrariar este estado de coisas e devolver os livros ao lugar que merecem, Rosen vai iniciar amanhã um programa na BBC Four, chamado “Just Read With Michael Rosen”. A proposta é levar os alunos de uma escola primária de Cardiff “a apaixonarem-se pela literatura em dez semanas”. Podem dizer que é pouco, ou que é muito, ou que é impossível, mas uma coisa é certa: conquistar uma criança para o mundo da literatura implica saber do que se fala.

Ler a notícia completa no The Guardian.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

FIRMIN, UM RATO DE BIBLIOTECA


Ansiosamente à espera que o correio apareça com dois dos cinco livros da recém-chegada Planeta ao meio editorial português, cuja apresentação à imprensa decorreu ontem num restaurante do Chiado. Muita curiosidade com Firmin, inesperado best-seller de Sam Savage, ilustrado por Fernando Krahn. Parece-me ser um daqueles casos de “crossover fiction”, capaz de agradar a adultos e a adolescentes, digamos, com mais maturidade leitora. Para terem uma ideia:

“Nascido na cave da Pembroke Books, uma livraria da Boston dos anos 60, Firmin aprendeu a ler devorando as páginas de um livro. Mas uma ratazana culta é uma ratazana solitária. Marginalizada pela sua família, procura a amizade do seu herói, o livreiro, e de um escritor fracassado. À medida que Firmin desenvolve uma fome insaciável pelos livros, a sua emoção e os seus medos tornam-se humanos. É uma alma delicada presa num corpo de ratazana e essa é a sua tragédia.
Num estilo ora sarcástico ora enternecedor, Firmin é uma história sobre a condição humana em que a paixão pela literatura, a solidão e a amizade, a imaginação e a realidade, fazem parte de um mundo que acarinhava os seus cinemas de reprise, os seus personagens únicos e a glória amarelada das suas livrarias. Firmin é divertido e trágico. Como todos nós.
Uma história surpreendente que apela à doçura e magia da leitura, acompanhada pelas ilustrações de Fernando Krahn.”

REGRESSO À GULBENKIAN, COM SAVATER


Cansaço, interrupções extemporâneas, falta de lugar no auditório e problemas técnicos de som na transmissão para outras salas. Foi assim que mal consegui ouvir as comunicações de Fernando Savater e José Barata-Moura no congresso “Formar Leitores para Ler o Mundo”. A oportunidade repete-se amanhã à tarde com o programa de Luís Caetano, “A Força das Coisas”. E há uma entrevista com o autor de A Infância Recuperada. Uma boa notícia dada pelos Blogtailors.

LER Nº 77


Torna-se cada vez mais difícil adivinhar qual vai ser a capa da próxima LER. Isso é bom.
O MUNDO NUM SEGUNDO
O SushiLeblon mudou de morada. O Origem das Espécies mudou de visual. O Rio de Janeiro continua lindo e Charles Darwin está em alta em 2009. Há aqui qualquer coisa que bate certo.

ALOHA FROM HELL


Morreu Lux Interior, vocalista dos Cramps, uma das bandas mais divertidas (e “licenciosas”, como diria o outro…) dos meus soturnos anos 80. Ficam os vinis e, agora, os vídeos do You Tube. Entre as pérolas à disposição, a escolha vai para a versão do clássico imortalizado por Peggy Lee, “Fever”. Ouçam aqui.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

ROCK E LITERATURA, 4


"The Musical Box", o longo tema de abertura de Nursery Cryme (1971), refere uma personagem do imaginário infantil, semi-lendária, que dá título a uma famosa nursery rhyme: Old King Cole. A expressão “velho como o Old King Cole” atesta a antiguidade desse rei que surge nas ilustrações de várias épocas com um aspecto bonacheirão e dado à folia, longe da atmosfera inquietante da canção dos Genesis. Com ressonâncias do conto de terror vitoriano e de Alice no País das Maravilhas, "The Musical Box" conta a história sobrenatural de duas crianças de oito e nove anos. Num jogo de croquet, a menina, Cynthia Jane De Blaise-William, arranca a cabeça a Henry Hamilton-Smith, cujo fantasma aparecerá duas semanas depois, quando ela abre a caixa de música que pertenceu ao rapazinho. Lá dentro, está a canção Old King Cole. Atraída pelo barulho, a nanny aparece e põe um fim ao que ameaça tornar-se num jogo muito pouco inocente…

Play me old king cole
That I may join with you,
All your hearts now seem so far from me
It hardly seems to matter now.

And the nurse will tell you lies
Of a kingdom beyond the skies.
But I am lost within this half-world,
It hardly seems to matter now.

Há uma fabulosa interpretação de "The Musical Box", com Peter Gabriel, no You Tube. (Até me esqueço da presença de um dos meus três ódios de estimação musicais, o senhor Phil Collins)
NO DOMINGO NÃO FUI ÀS ANTAS
Nos tempos que correm, um domingo de manhã já não garante aquela atenta ociosidade que permite ouvir rádio. No seguimento deste post, aqui fica o registo do dia em que O Jardim Assombrado esteve no programa de Pedro Rolo Duarte, na Antena 1. Para ouvir, clique no podcast de 01-02-2009.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

ANIMAIS DE HÁBITOS


No blogue Comunidade de Leitores, Helena Vasconcelos escreve: “Reparei que há várias pessoas que seguem a ‘leitura em comunidade’ e, ao tentar conhecê-los, apercebi-me de que há grandes fãs da leitura e também de animais, cães, gatos, etc. Uma paixão que partilho. Poderão dizer-me que esse facto nada tem a ver com a leitura. Nada de mais errado. Tanto para ler como para escrever, é indispensável ter um animal por perto.” Ler o resto aqui.

Concordo com a Helena: os animais dão-se bem com os rituais da escrita e da leitura. Porque vivemos rodeados de sombras e artifícios, ainda são eles que representam uma última hipótese de ligação diária à natureza. Essa natureza que nos é cada vez mais estranha, de tão humana.

Fotografia de Guto Ferreira. (Radar, o gato laranja, no seu/meu lugar preferido de leitura)

BEST-SELLERS DA NOVA ZELÂNDIA


Quais são os maiores best-sellers da Nova Zelândia? Segundo o palpite do Beattie’s Book Blog, são estes os quatro magníficos: The Bone People, Keri Hulme (Booker Prize 1985); The Whale Rider, Witi Ihimaera; Once Were Warriors, Alan Duff; e Mr. Pip, Lloyd Jones. Só este último se encontra traduzido em português pela Editorial Estampa. The Whale Rider e Once Were Warriors passaram nas nossas salas de cinema, com relativo sucesso, sob os títulos A Domadora de Baleias (argh!) e A Alma dos Guerreiros. Talvez com as comemorações dos 25 anos de The Bone People, em 2010, alguém arrisque uma tradução.