quinta-feira, 28 de abril de 2011
AFONSO CRUZ E O IRMÃO INSEPARÁVEL
Lembramo-nos mais de Afonso Cruz como escritor ou como ilustrador? Nascido em 1971, na Figueira da Foz, o autor de A Contradição Humana (Caminho) é também músico e realizador de filmes de animação. Ganhou o prémio Maria Rosa Colaço 2009, na modalidade juvenil, com Os Livros Que Devoraram o Meu Pai (Caminho). Ao vencer o prémio SPA/RTP para melhor livro infanto-juvenil de 2010, demonstrou que escritor e ilustrador podem ser irmãos inseparáveis. «Foi o primeiro trabalho do género que fizemos em conjunto e acho que correu bastante bem», contou à LER.
Nota-se uma grande evolução no seu trabalho, desde os primeiros livros, muito próximos do registo do André Letria. Agora é mais fácil descolar do texto para apresentar a sua visão de autor?
Acho que essa proximidade ao André – um dos nossos melhores ilustradores – se deve ao modo como ambos tratamos as imagens, com pinceladas. Por curiosidade, os meus primeiros livros tinham umas ilustrações bastante diferentes, como é exemplo Elvis, O Rei do Rock. Depois, também me parece outra coisa: quando surge um autor novo, tenta-se sempre arrumá-lo na gaveta de alguma coisa conhecida. Passados uns anos, ele pode continuar a fazer exactamente a mesma coisa, mas já não é referenciado e colado a outros, tornando-se uma referência ele próprio. Espero que me aconteça a mim.
Com A Contradição Humana sentiu-se mais livre para fazer o que quisesse, por comparação com as dezenas de livros em que ilustrou o texto de outros autores?
Sim. Acho que pude conciliar melhor o texto e a imagem. O próprio texto é uma ilustração. Tentei que as letras chamassem a atenção para as contradições, quase de um modo panfletário. É que algumas das coisas estranhas à nossa volta escondem-se nas maiores trivialidades. A banalidade é o melhor esconderijo para as coisas extraordinárias.
Quando escreveu «com o devido espírito de contradição» na capa – um elemento peritextual raro nos picture books – qual era a intenção?
O ilustrador achou que dava uma nova dimensão à caça das contradições que andam à nossa volta. E lá dentro há alguma intertextualidade, como aliás acontece na maior parte dos meus livros. Por exemplo, a senhora Agnese, aquela que, apesar de estar grávida projectava apenas uma sombra, é uma personagem de Enciclopédia da Estória Universal, autora de três livros: A Borboleta Taoísta, Comédias Modernas e Filosofia Doméstica para Serviçais. Também aparece em A Boneca de Kokoshcka. Tem uma livraria em Paris e uns óculos com lentes sujas.
Acharia justo que os ilustradores dividissem com os escritores o prémio de Melhor Autor de Livro Infantil da SPA? Ou, pelo menos, que fossem nomeados?
Claro, acharia justo. A categoria é de literatura e deixa de lado as ilustrações, que são parte fundamental destes livros. Deveria ser, talvez, Melhor(es) Autor(es) de livro Infanto-juvenil, em vez de Melhor Literatura Infanto-juvenil. Isso permitiria que vencesse um conjunto escritor/ilustrador ou apenas o ilustrador, no caso de não ter texto, ou apenas o escritor, no caso de não haver imagens.
Que qualidades são necessárias a um bom picture book?
Acho que é muito importante ter uma boa ideia, daquelas que chegam a lugares onde nenhum homem pisou. Depois executá-la com eficiência, tanto com a ajuda das palavras como das ilustrações. Devemos saber deixar ambas respirarem e saber que a ilustração consegue, muitas vezes, descrever situações com mais eficiência do que as palavras e que em outras ocasiões é exactamente ao contrário.
Peter Hunt, uma das sumidades nesta matéria, diz que a
literatura infantil «define-se exclusivamente em termos de um
público que não pode ser definido com precisão.» Não sei se
subscreve, mas um livro como A Contradição Humana é um bom exemplo disso. Como foi trabalhar nessa linha indefinida?
Concordo, claro. A literatura infantil tem a particularidade de poder chegar aos avós tanto quanto aos netos. Mas, na verdade, quase tudo o que escrevi anda nessa linha indefinida. É onde me sinto melhor.
(Entrevista publicada na edição nº 101 da LER. Para recuperar alguma informação que se perdeu na paginação, a entrada foi modificada e aumentada. Ilustração do autor, retirada daqui.)
quarta-feira, 27 de abril de 2011
HOJE HÁ TERTÚLIA PEQUENAS LEITURAS
Ok, já estamos em cima da hora, mas queremos lembrar que a Tertúlia Pequenas Leituras, dinamizada mensalmente na Livraria Bulhosa Campo de Ourique (Lisboa) acontece HOJE, dia 27 de Abril, às 18h30. O mote é "o muito pequeno e o muito grande", o que pode apontar para a dimensão física do livro, para a ilustração ou para o próprio tema abordado no texto. Escusado será dizer que todos estes saberes são partilhados com muitos livros em cima da mesa.
FEIRA DO LIVRO DE LISBOA COMEÇA AMANHÃ
Feira do Livro com frio e chuva – como aconteceu o ano passado, em Lisboa – não tem graça nenhuma. Para já, o tempo está uma maravilha, por isso é de aproveitar, a partir de amanhã (no Porto, a Feira do Livro começa a 26 de Maio). Há um site para acompanhar a programação, do qual destacamos dois debates, ambos no auditório, já no próximo fim-de-semana: “Leitura à Rasca”, com moderação de Teresa Sampaio (dia 30, às 16h30), e “Os Melhores Livros do Ano – Infantil e Juvenil”, com moderação de Sara Figueiredo Costa (dia 1, às 17h30). Siga os acontecimentos aqui.
SITE DEDICADO A SOPHIA
Estamos na última semana para visitar a exposição “Sophia de Mello Breyner Andresen – Uma Vida de Poeta”, comissariada por Paula Morão e Teresa Amado, e patente na Biblioteca Nacional desde Janeiro. Retardatários, apressem-se. A última das visitas guiadas por Maria Andresen acontece na próxima sexta, 29 de Abril, às 11h00. Se ainda houver lugar, as inscrições fazem-se pelo telefone 217 982 167. Entretanto, para quem não pode mesmo ver a exposição – ou quer prolongá-la na memória –, acaba de ser divulgado um site que reproduz muitos dos objectos, imagens e textos presentes, acabando por ampliar o itinerário da vida e obra de Sophia. A não perder, aqui.
UM LIVRO É UM LIVRO É UM LIVRO
“Assim que recebi este volume, li-o aos meus dois filhos, de seis e quatro anos. O entusiasmo foi imediato. Chegados ao fim, pediram em uníssono: «Pai, Pai, lê outra vez.» E eu li outra vez. E outra vez. E outra vez. À quinta leitura, já sabiam os diálogos de cor. Depois, foram os dois para o quarto e eu ouvi-os a folhear as páginas, para trás e para a frente, enquanto fingiam, ora um, ora outro, as vozes do macaco e do burro. «Precisa de palavra-passe?» «Não!» «Isto é um livro, Burro!»”
(É Um Livro, do escritor e ilustrador norte-americano de Lane Smith, passou num dos testes mais difíceis. Para quem não conhece – ainda... – recomenda-se a crítica do José Mário Silva, publicada no Bibliotecário de Babel. Ler na íntegra aqui.)
terça-feira, 26 de abril de 2011
I'M BACK IN THE USSR
Era a época em que a Praça Vermelha tinha mais graça do que O Capuchinho Vermelho. Muitos livros para crianças eram impressos na antiga União Soviética, traduzidos do russo. Caso das Edições Malich, que chegaram cá no final dos anos 1970 e 80. Moscovo de todos nós.
Os hábitos de leitura mudaram com a Revolução dos Cravos. Passada a era dos heróis beatos e das gestas patrióticas, os adultos aplicaram-se a decifrar obras como a Economia e Organização da Agricultura na Bulgária, ao mesmo tempo que difundiam os contos tradicionais russos pela sua prole. Histórias de fadas e princesas pareciam agora disformes à luz do socialismo, e apareceu todo um manancial de livros portadores de novas influências e valores. As crianças eram apanhadas a ler adaptações de contos de Tolstoi, Gorki, Tcheckov, Lermontov ou outro grande escritor cuja obra «se caracterizava por um profundo pessimismo». De repente, despontou uma estranha curiosidade infantil à volta de certas palavras («que quer dizer samovar?», «que é um tártaro?», «que é um cossaco?»), a que só alguns crescidos sabiam responder. No meio desta estimulante dinâmica geracional, surgiram livros irresistíveis em formato pop-up, mostrando os monumentos da Praça Vermelha a três dimensões, uma coisa formidável. Moscovo, de Eveguéni Ossetrov, faz parte da mesma colecção que deu a conhecer os feitos de V. Sevastianov, piloto cosmonauta da URSS. Falava das estrelas rubis nas torres do Kremlin, das óperas no Teatro Bolshoi, dos ícones de Andrei Rubliov e de um lugar ao sol nas colinas Lénine, o Palácio dos Pioneiros, conhecido como «o mundo das crianças alegres». Aí se podia «observar a Lua e as estrelas pelo telescópio, ou construir um robot falante». Soava melhor do que contos de fadas, é certo.
(Texto publicado na edição de 24 de Abril da Notícias Magazine, revista de domingo no Diário de Notícias e Jornal de Notícias, na secção "Nostalgia". O título deste post só podia vir daqui.)
quinta-feira, 21 de abril de 2011
NAMORA UMA RAPARIGA QUE LÊ
«Namora uma rapariga que lê. Namora uma rapariga que gaste o dinheiro em livros, em vez de roupas. Ela tem problemas de arrumação porque tem demasiados livros. Namora uma rapariga que tenha uma lista de livros que quer ler, que tenha um cartão da biblioteca desde os doze anos.
Encontra uma rapariga que lê. Vais saber que é ela, porque anda sempre com um livro por ler na mala. É aquela que percorre amorosamente as estantes da livraria, aquela que dá um grito imperceptível ao encontrar o livro que queria. Vês aquela miúda com ar estranho, cheirando as páginas de um livro velho, numa loja de livros em segunda mão? É a leitora. Nunca resistem a cheirar as páginas, especialmente quando ficam amarelas.
Ela é a rapariga que lê enquanto espera no café ao fundo da rua. Se espreitares a chávena, vês que a espuma do leite ainda paira à superfície, porque ela já está absorta. Perdida num mundo feito pelo autor. Senta-te. Ela pode ver-te de relance, porque a maior parte das raparigas que lêem não gostam de ser interrompidas. Pergunta-lhe se está a gostar do livro.
Oferece-lhe outra chávena de café com leite.
Diz-lhe o que realmente pensas do Murakami. Descobre se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade. Entende que, se ela disser ter percebido o Ulisses de James Joyce, é só para soar inteligente. Pergunta-lhe se gosta da Alice ou se gostaria de ser a Alice.
É fácil namorar com uma rapariga que lê. Oferece-lhe livros no dia de anos, no Natal e em datas de aniversários. Oferece-lhe palavras como presente, em poemas, em canções. Oferece-lhe Neruda, Pound, Sexton, cummings. Deixa-a saber que tu percebes que as palavras são amor. Percebe que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade – mas, caramba, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco com o seu livro favorito. Se ela conseguir, a culpa não será tua.
Ela tem de arriscar, de alguma maneira.
Mente-lhe. Se ela compreender a sintaxe, vai perceber a tua necessidade de mentir. Atrás das palavras existem outras coisas: motivação, valor, nuance, diálogo. Nunca será o fim do mundo.
Desilude-a. Porque uma rapariga que lê compreende que falhar conduz sempre ao clímax. Porque essas raparigas sabem que todas as coisas chegam ao fim. Que podes sempre escrever uma sequela. Que podes começar outra vez e outra vez e continuar a ser o herói. Que na vida é suposto existir um vilão ou dois.
Porquê assustares-te com tudo o que não és? As raparigas que lêem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem. Excepto na saga Crepúsculo.
Se encontrares uma rapariga que leia, mantém-na perto de ti. Quando a vires acordada às duas da manhã, a chorar e a apertar um livro contra o peito, faz-lhe uma chávena de chá e abraça-a. Podes perdê-la por um par de horas, mas ela volta para ti. Falará como se as personagens do livro fossem reais, porque são mesmo, durante algum tempo.
Vais declarar-te num balão de ar quente. Ou durante um concerto de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Pelo Skype.
Vais sorrir tanto que te perguntarás por que é que o teu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Juntos, vão escrever a história das vossas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos ainda mais estranhos. Ela vai apresentar os vossos filhos ao Gato do Chapéu e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos da vossa velhice e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto tu sacodes a neve das tuas botas.
Namora uma rapariga que lê, porque tu mereces. Mereces uma rapariga que te pode dar a vida mais colorida que consegues imaginar. Se só lhe podes oferecer monotonia, horas requentadas e propostas mal cozinhadas, estás melhor sozinho. Mas se queres o mundo e os mundos que estão para além do mundo, então, namora uma rapariga que lê.
Ou, melhor ainda, namora uma rapariga que escreve.»
(Texto de Rosemary Urquico, encontrado no blogue de Cynthia Grow. Tradução livre de Carla Maia de Almeida para celebrar o Dia Mundial do Livro, 23 de Abril.)
VOLUNTÁRIOS DA LEITURA
Falta pouco para o Dia Mundial do Livro, este ano assinalado com o cartaz de um dos nossos mais prestigiados ilustradores, João Vaz de Carvalho. Porque estamos no Ano Internacional do Voluntariado, a Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLB) lançou o programa Voluntários da Leitura, com o intuito de incentivar o voluntariado "a nível de projectos concebidos para populações em situação de isolamento ou de exclusão social. Pretende-se, assim, chamar a atenção para a importância do livro e da leitura, mostrando que eles melhoram significativamente as condições de vida das populações.” Todas as informações sobre o regulamento e candidaturas podem ser consultadas no site da DGLB, aqui.
MESES QUE MUDAM VIDAS
E aconteceu esta coisa extraordinária. Cynthia Grow, a norte-americana que conheci em Can Serrat, durante a residência de escritores da DGLB (falei dela nest post), mudou-se para lá de armas e bagagens, no fim de Março, para ser uma espécie de “curadora” dos artistas. Da Carolina do Norte para Barcelona é um passo maior que a vidinha. Adoro quando somos capazes de fazer isso. Força, Cynthia. Aqui, o relato das aventuras: Cynthiagrow.com.
A FLOR DE ABRIL
Manuel António Pina vai apresentar A Flor de Abril, um livro de Pedro Olavo Simões e Abigail Ascenso, recentemente editado pela Quid Novi. É no próximo sábado, Dia Mundial do Livro, na FNAC Santa Catarina (Porto), às 16h00. Como estamos quase de partida para o Norte, somos bem capazes de aparecer. Aqui fica mais informação sobre os autores, enviada pela Quid Novi:
“Pedro Olavo Simões nasceu num Abril anterior à Primavera de 1974 na cidade do Porto, que ama e onde vive. É jornalista desde 1990, exercendo a sua actividade desde a primeira hora no Jornal de Notícias. Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tem, com frequente irregularidade, tentado combinar o registo jornalístico com os caminhos da historiografia, publicando, em páginas de jornal, trabalhos de divulgação do passado.”
“Abigail Ascenso nasceu em Leiria, em 1979. É licenciada em Design de Comunicação/Arte Gráfica pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto. Fundou em 2003, com Fedra Santos, o atelier Furtacores Design e Comunicação, onde tem desenvolvido trabalho nas áreas de design gráfico, fotografia e ilustração infantil. Entre os livros infantis que ilustrou, contam-se As Visitas do Pai Natal e Será que Sou Neto da Bruxa?, de José Viale Moutinho; A Minha Irmã e Eu, O Meu Irmão e Eu e O Abecedário Mágico, de Maria Teresa Maia Gonzalez; e Gaspar, o Dedo Diferente, de Ana Luísa Amaral. Como ilustradora, colabora também regularmente com a revista Pais & Filhos.”
quarta-feira, 20 de abril de 2011
HERVÉ TULLET, O PRÍNCIPE
Fiquei a saber pelo neozelandês Beattie’s Book Blog que Hervé Tullet é conhecido em França como “o príncipe dos livros pré-escolares”. OK. Certo, certo, é que este é um dos objectos mais estimulantes publicados recentemente em Portugal – graças à Edicare, que faz livros bem feitos a preços muito simpáticos. Para conhecer melhor “o príncipe dos livros pré-escolares” visitem o site e não se esqueçam de fazer uma vénia.
LITERATURA INFANTIL E NOVAS TECNOLOGIAS
Estão abertas as inscrições para o I Congresso de Literatura Infanto-Juvenil e Novas Tecnologias, marcado para os dias 7 e 8 de Maio (Braga). Programa e todas as informações aqui.
terça-feira, 19 de abril de 2011
DO PAPEL AO DIGITAL NA LIVRARIA ARQUIVO
Deste sábado a uma semana, a convite da Livraria Arquivo, em Leiria, participo num debate intitulado “Do papel ao digital: Fim do Livro? Novas Oportunidades de Leitura?”. Ora bem, olhando para o painel dos convidados – e especialmente para o nome de José Afonso Furtado, recentemente considerado pela Time como um dos 140 utilizadores do Twitter mais interessantes do mundo –, uma pessoa “normal” sente-se um bocado intimidada. Uma pessoa “normal” é, no meu caso, aquela que não nutre qualquer fascínio pelas tecnologias de informação, não dispensa a Internet mas tem nostalgia do tempo sem Internet, continua a comprar livros como se vivesse no século passado, acredita que não há tecnologia que substitua a capacidade de pensar, tem sérias dúvidas sobre os livros para crianças mediados por um ecrã, e quando obrigada a comprar certos gadgets costuma perguntar aos vendedores coisas como “e não tem nada menos complicado?”. Posto isto, tentarei não fazer o papel de Velho do Restelo, embora considere o Restelo uma zona agradável de Lisboa e também faça parte das minhas ambições tornar-me uma velha sábia. Pois, ainda falta muito. Para já, Leiria connosco.
NOVOS AUTORES PORTUGUESES NA BULHOSA
A próxima sessão das Conversas de Bairro, na Livraria Bulhosa de Campo de Ourique, acontece já amanhã, dia 20 de Abril, pelas 18h 30. Tema "Novos Autores Portugueses". Com a presença de Afonso Cruz (A Boneca de Kokoschka), Pedro Vieira (Última Estação: Massamá), João Tordo (O Bom Inverno), David Machado(Deixem Falar as Pedras) e moderação a cargo de Sérgio Lavos. O Jardim Assombrado “adverte” que dois dos presentes são também autores de literatura para crianças.
NOVIDADES DA OQO
Eis os lançamentos da editora OQO nos meses de Fevereiro e Março: O Coração do Alfaiate, O Casamento do Galo Pinto e Quando Não Encontras a Tua Casa. Clique nos títulos para mais informações.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
YARA KONO: PRÉMIO NACIONAL DE ILUSTRAÇÃO
O Papão no Desvão, um picture book ilustrado por Yara Kono, com texto de Ana Saldanha (Caminho), é a obra vencedora do 15º Prémio Nacional de Ilustração. Parabéns, Yara! Parabéns a Marta Madureira (A Crocodila Mandona) e Afonso Cruz (A Contradição Humana), pelas duas Menções Especiais, e aos restantes sete ilustradores que mereceram destaque do júri pela qualidade do seu trabalho. A lista completa pode ser consultada no site da DGLB, aqui.
IBBY EM PORTUGAL
A Andreia Brites já disse quase tudo neste post d'O Bicho dos Livros. Na passada sexta-feira, o IBBY (International Board on Books for Young People) promoveu uma reunião em Lisboa – a Sociedade Portuguesa de Autores cedeu o espaço – com o objectivo de “ressuscitar” a secção portuguesa e integrá-la no actual grupo dos 73 núcleos activos em todo o mundo (neste momento, só o Brasil representa a língua portuguesa).
Isto significa muito – por exemplo, a possibilidade de nomear candidatos ao Prémio Hans Christian Andersen e à Lista de Honra, como já foi feito no passado. Há outras coisas mais low profile que não ficam tão bem na fotografia, mas são, pelo menos para mim, muito mais estimulantes. Falo dos programas Children in Crisis e Yamada Fund, que implicam os livros para crianças na sua dimensão (óbvia) de responsabilidade social e cultural, levando muito longe a ideia de “livroterapia”. O IBBY esteve presente nos terramotos do Haiti e do Chile, entre outros cenários calamitosos, para mostrar que a leitura é decisiva na (re)construção do indivíduo – isto para quem acredita que os livros salvam vidas –, tal como o cimento é importante na reconstrução de um país.
Por enquanto, ainda estamos no reinício. Na sala, entre cerca de 40 pessoas de várias as áreas (escrita, ilustração, jornalismo, promoção da leitura, bibliotecas, edição…), vi muitas caras novas, gente que com certeza tem contributos válidos para esta nova fase do IBBY em Portugal. Porque somos um país de talentos erráticos, parece-me importante que quem queira dar o seu contributo não fique de fora, e isso só se fará com uma secção forte e vitalizada, que acolha em vez de excluir, porque é assim, e só assim, que as coisas crescem e se multiplicam.
O grupo de trabalho recém-formado, que se encarregará de rever os estatutos e aferir as bases para a fundação de uma nova associação, é de peso e tem créditos bem firmados: Eduardo Filipe (comissário da Ilustrarte), Maria Carlos Loureiro (responsável da DGLB), André Letria (ilustrador), Leonor Riscado (professora universitária e investigadora) e António Torrado (escritor). Bom trabalho!
SMURFS, SCHTROUMPFS, ESTRUNFES
Podem chamar-lhes Smurfs, mas para mim e para muitos leitores serão sempre os Schtroumpfs. Continuando a vaga dos revivalismos (agora vamos ter a Abelha Maia em 3D na TV, e o filme dos Smurfs lá para o Verão, também em 3D), regressam às livrarias em português, pelas edições Asa, que enviou a seguinte informação sobre o autor, Peyo:
“Peyo, cujo verdadeiro nome é Pierre Culliford, nasceu em Bruxelas em 1928 e morreu, na mesma cidade, em 1992. Designer e escritor de banda desenhada, ficou conhecido mundialmente por ter criado Os Smurfs, que se deram a conhecer em livros e em séries de animação na TV. Conhecidos em todo o mundo, estes personagens azuis acabaram por dar origem aos mais diversos produtos, nomeadamente brinquedos, bem como a um parque de diversões. As origens dos Smurfs estão na série Johan et Pirlouit , que Peyo publicava nos anos 50 nas páginas do “Journal de Spirou”.”
SIMPÓSIO SOBRE VERGÍLIO ALBERTO VIEIRA
O Instituto da Educação da Universidade do Minho e a Associação Tropelias & Companhia organizaram um simpósio à volta da obra do escritor Vergílio Alberto Vieira, um nome de referência da literatura infanto-juvenil, com obra disseminada pelo texto dramático, poesia e narrativa. Começa às 14h30 do dia 20 de Maio, com uma comunicação de José António Gomes (de quem se recomenda a leitura deste texto sobre o escritor) e encerra às 18h00, com uma intervenção do próprio homenageado, que este ano completa quatro décadas de carreira. Pelo meio, comunicações de João Manuel Ribeiro, Ana Margarida Ramos, Sara Reis da Silva e ainda de três ilustradoras: Teresa Lima, Marta Madureira e Anabela Dias. Quem puder, passe pelo auditório da Universidade do Minho.
OS MONSTRINHOS DA ROUPA SUJA
Depois do recente lançamento de Saudade, um conto para sete dias (a que faltámos, com grande pena… mas ficámos contentes por saber que tinha corrido muito bem), a Cabeçudos convida a assistir à segunda apresentação de um livro para crianças: Os Monstrinhos da Roupa Suja, de Ricardo Adolfo e Jessica Kersten. É já na próxima quarta-feira, às 18h. Para além da presença do autor e da ilustradora, haverá uma encenação da história a cargo do Teatro do Biombo. A Cabeçudos fica na Rua Comandante Cousteau, ao Parque das Nações, em Lisboa.
quinta-feira, 14 de abril de 2011
ESPAÇO PUBLICITÁRIO COM BOAS CORES
quarta-feira, 13 de abril de 2011
SIGAM ESSA MALA
O quinto livro para crianças de David Machado já está pronto e a capa é a que podem ver aqui. O lançamento está marcado para próxima terça-feira, na Bertrand do Picoas Plaza, às 18h30, com apresentação de Rui Zink. Uma das razões por que estou muito, mas mesmo muito curiosa, prende-se com o ilustrador, João Lemos, que tem feito um percurso notável para um dos gigantes da banda desenhada norte-americana, a famosa Marvel Comics. Talvez nem toda a gente saiba que o João Lemos já foi livreiro – um excelente livreiro, por sinal. Conheci-o por causa de uma reportagem para a LER, intitulada “Livros Pedidos”. Falava do árduo trabalho de atendimento a leitores hesitantes ou, pelo contrário, extremamente exigentes. Foi publicada nesse mesmo Verão, no número 63. Se a tiverem ou conseguirem encontrar, vão confirmar tudo o que estou a dizer.
PALHINCÓCEGAS
SEM METER ÁGUA
Domingo, 17 de Abril, comemora-se o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios. O município de Oeiras decidiu elegeu a água como símbolo desse valor patrimonial e, a propósito, vai lançar dois novos guias “Descobrir e Colorir!” para crianças dos sete aos 12. No mesmo dia, também na Fábrica da Pólvora, em Barcarena, realiza-se um atelier para crianças dos três aos seis anos, às 15h00. As inscrições podem ser feitas pelos números 210 977 422/3/4.
Falta dizer que o autor das ilustrações dos guias – bem como do convite acima – é o Alexandre Esgaio, que está a trabalhar com todo o seu habitual brio e incomensurável afinco (esta é a parte do “reforço positivo”, “estímulo”, “encorajamento” ou, se preferirem, “graxa”) nas ilustrações do nosso próximo livro, que deverá estar pronto para a rentrée. Sim, o tal sobre as casas.
À ATENÇÃO DOS CONTADORES DE HISTÓRIAS
"Narração Oral: uma prática renovada" é o tema que o actor, contador de histórias e IELTsador Luís Carmelo levará às III Jornadas de Investigação em Artes e Comunicação, evento promovida pelo Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC) da Universidade do Algarve, que se realiza na próxima sexta-feira, dia 15 de Abril, na Biblioteca Central da Universidade do Algarve, entre 9h30 e as 18h. A entrada é gratuita.
(Informação enviada pelo IELT - Instituto de Estudos de Literatura Tradicional, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Informações pelo telefone 217 908 300. www.ielt.org)
(Informação enviada pelo IELT - Instituto de Estudos de Literatura Tradicional, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Informações pelo telefone 217 908 300. www.ielt.org)
terça-feira, 12 de abril de 2011
À VOLTA DE ALICE
A partir de hoje e até ao final do mês, os capítulos de Alice no País das Maravilhas serão objecto de leituras integrais pelo actor André Gago e convidados, depois de feitas as devidas apresentações por Ana Paula Guimarães, do Instituto de Estudos de Literatura Tradicional. Há ainda desenhos e pinturas de João Concha, também à volta da obra de Lewis Carroll. Tudo no Espaço Instável, à Calçada Sant'Anna, perto da praça homónima, também conhecida por Campo dos Mártires da Pátria. Imagem e notícia retirada do Blog’Operatório, onde se encontram todas as informações.
IV PREMIO INTERNACIONAL COMPOSTELA
El Camino de Olaj, de Martín León-Barreto Johnson (Montevideu, 1973) é a obra vencedora do IV Prémio Internacional Compostela para Álbuns Ilustrados, organizado pelo Departamento de Educação do Município de Santiago e pela Kalandraka. Al Otro Lado, de Moisés Yagües Fernández (Múrcia, 1972), foi finalista do certame, enquanto ¿Quién Querrías Ser?, de Arianna Papini (Florença, 1965), recebeu a menção especial do júri.
Ao IV Prémio Internacional Compostela para Álbuns Ilustrados apresentaram-se 374 trabalhos procedentes de 19 países, a maioria de Espanha. Também concorreram ao galardão projectos enviados de Portugal, Itália, Argentina, Brasil, Chile, Alemanha, Estados Unidos, México e França. Em menor quantidade, apresentaram-se também candidatos do Equador, El Salvador, Holanda, Húngria, Perú, România, Rússia, Sérvia, Suíça e Uruguai. O vencedor da presente edição receberá 12 000 euros, entendidos como adiantamento de direitos de autor, e a sua obra será publicada em espanhol, galego, português, catalão e basco.
(Informação da editora Kalandraka.)
IX CAMINHOS DE LEITURA EM POMBAL
Nos próximos dias 6 e 7 de Maio decorre o Caminhos de Leitura - IX Encontro de Literatura Infanto-Juvenil de Pombal, promovido pela Biblioteca Municipal de Pombal desde 2003. O programa completo (incluindo acções de formação), preços, contactos e ficha de inscrição podem ser consultados aqui ou aqui.
domingo, 10 de abril de 2011
UM CORAÇÃO PORTUGUÊS
Mesmo com a nova tampa de plástico vermelha, a embalagem do limpa metais Coração ainda é das coisas mais bonitas que este país produziu. Olha-se para ela e dá vontade de comprar logo uma baixela de prata ou uma colecção de medalhas, mesmo que não encaixem na casa-tipo-Ikea, onde vivemos cercados por móveis em chapa de bétula e puxadores de alumínio niquelado. Quem lhe deu esse nome, fosse homem ou mulher, sabia do que falava. Já tinha vivido o suficiente para desconfiar do «brilho incomparável e de longa duração» que o amor promete. Sabia que o coração é muito mais do que um músculo oco, composto por duas aurículas e dois ventrículos, batendo ao ritmo de 60 a 70 vezes por minuto. As revistas científicas explicam-nos que o amor está no cérebro, concentrado num cocktail bioquímico de dopamina, oxitocina, vasopressina e outras hormonas, mas nenhuma destas ideias nos consola ou emociona. A única explicação lógica para o nome do limpa metais Coração reside no facto de não ter lógica nenhuma, tal como o amor à primeira vista. Atentem às instruções na embalagem: «Em caso de contacto com os olhos, lavar com muita água». Mas o aviso já vem tarde, porque as paixões são devoradoras: «Em caso de ingestão, ligar 217950143», insistem. É provável que do outro lado da linha haja uma voz reconfortante, do género locutora de continuidade da televisão dos anos 1970; uma voz capaz de dar conselhos de sobrevivência para estados de alma inflamados. Às vezes, muito corrosivos.
(Texto publicado na edição de 10 de Abril da Notícias Magazine, revista de domingo do Diário de Notícias e Jornal de Notícias, na secção "Nostalgia".)
sexta-feira, 8 de abril de 2011
quinta-feira, 7 de abril de 2011
SAUDADE: HOJE, NA LIVRARIA CABEÇUDOS
A Livraria Cabeçudos, em Lisboa, acolhe o lançamento do mais recente livro da Bags of Books: Saudade, um conto para sete dias, de Claudio Hochman (texto) e João Vaz de Carvalho (ilustrações). Os autores estarão presentes e a apresentação será feita por Eduardo Filipe, comissário da Ilustrarte. A Cabeçudos fica na Rua Comandante Cousteau, ao Parque das Nações, muito perto da Torre Vasco da Gama.
PRINCIPEZINHO EM MIRANDÊS
Como já se divulgou (por exemplo, aqui) O Principezinho foi editado em mirandês; que, convém lembrar, tem o estatuto de segunda língua oficial de Portugal. O lançamento está marcado para sexta-feira, 15 de Abril, às 19h00, no Instituto Franco-Português (Lisboa), e terá a apresentação do professor Domingos Raposo. Uma edição da Asa.
UM PLANETA SOLITÁRIO EM BOLONHA
(…) “É verdade que nesta nossa atividade não pensamos muito se somos ou não portugueses. Fazemos livros (matutados, escritos, ilustrados e, por acaso, impressos em Portugal), mas o país (ou, dizendo melhor, o estado do país) não é para aqui chamado. Mas temos algumas "penas" (não fossemos nós portugueses, pois então):
Por exemplo, que a DGLB não tenha estado presente na edição deste ano. A representação custa dinheiro ao país, mas potencia negócios e pode ser motor de arranque de muitas edições.
Que apenas uma jornalista (Sílvia [Borges] Silva da LUSA) tenha acompanhado os trabalhos da Feira. Há ali tanta matéria prima, a tantos níveis, e temos pena (lá está) que seja tão difícil aos media dar prioridade a um evento deste tipo.
Que não haja outros editores portugueses representados (e a representar os seus livros e autores) porque há muita coisa boa que merecia conhecer edições noutros países.
E, por fim, temos pena que, seguindo o exemplo de outros países, ainda não tenha sido possível aos editores portugueses organizarem-se na partilha de um espaço comum. Os pequenos editores franceses, os galegos e até os brasileiros dividem um amplo stand, poupando, certamente um dinheirão. Porque o investimento na feira ainda é grande, merecia ser estudado com sageza por todos, para daí ser possível recolher bons frutos.” (…)
Ler o texto completo de Isabel Minhós Martins, sobre a incursão da Planeta Tangerina à Feira do Livro Infantil de Bolonha, no blogue da editora. Aqui.
Por exemplo, que a DGLB não tenha estado presente na edição deste ano. A representação custa dinheiro ao país, mas potencia negócios e pode ser motor de arranque de muitas edições.
Que apenas uma jornalista (Sílvia [Borges] Silva da LUSA) tenha acompanhado os trabalhos da Feira. Há ali tanta matéria prima, a tantos níveis, e temos pena (lá está) que seja tão difícil aos media dar prioridade a um evento deste tipo.
Que não haja outros editores portugueses representados (e a representar os seus livros e autores) porque há muita coisa boa que merecia conhecer edições noutros países.
E, por fim, temos pena que, seguindo o exemplo de outros países, ainda não tenha sido possível aos editores portugueses organizarem-se na partilha de um espaço comum. Os pequenos editores franceses, os galegos e até os brasileiros dividem um amplo stand, poupando, certamente um dinheirão. Porque o investimento na feira ainda é grande, merecia ser estudado com sageza por todos, para daí ser possível recolher bons frutos.” (…)
Ler o texto completo de Isabel Minhós Martins, sobre a incursão da Planeta Tangerina à Feira do Livro Infantil de Bolonha, no blogue da editora. Aqui.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
SOPHIA E OS LIVROS PARA CRIANÇAS, 1975
“Um dos problemas do povo português e dos povos modernos ocidentais é a alienação cultural. De certa maneira, do ponto de vista da cultura, nós estamos divididos em castas. E nenhuma democracia real é possível enquanto não houver uma plataforma comum de cultura a que todos os homens tenham acesso. Porque a cultura não é só saber, não é só erudição, é uma interrogação do homem para a consciência.”
(…)
“Por mim, há um ponto em que eu sempre trabalhei com uma consciência política, que foi o facto de escrever para crianças. Sempre me doeu e me magoou profundamente pensar que havia livros que eu escrevia e artigos que eu escrevia e que se dirigiam, de uma forma geral, salvo raras excepções, e só podiam ser entendidos por um pequeno número privilegiado de homens que desde a sua infância tinham sido educados para compreender uma moldura muito evoluída. Isto é, para o escritor, como uma doença, como uma ferida. Um escritor que só pode ser compreendido por algumas pessoas não chega a ser inteiramente um escritor.”
(…)
“Há um problema nos livros para crianças que sempre me preocupou muito e que é um problema que dentro de uma organização capitalista é muito difícil de resolver, que é este: o livro para crianças deve ser um livro aberto, que abre o horizonte da criança para uma cultura literária, mas também deve abrir o horizonte da criança para uma cultura plástica. Aliás, as crianças, e eu já várias vezes em reuniões com crianças perguntei isso, querem um livro cuja ilustração seja bela. Ora, a ilustração dos livros é muito cara, e acontece esta coisa terrível – acontecia, no regime em que nós vivemos. É que um livro com ilustrações belas era um livro caro, que só podia ser comprado por crianças privilegiadas.”
(Declarações de Sophia de Mello Breyner Andresen à RDP, em 1975, recuperadas para o programa de Luís Caetano, “A Força das Coisas”, dedicado ao Dia Internacional do Livro Infantil, 2 de Abril. Para ouvir o programa completo clique aqui.)
(…)
“Por mim, há um ponto em que eu sempre trabalhei com uma consciência política, que foi o facto de escrever para crianças. Sempre me doeu e me magoou profundamente pensar que havia livros que eu escrevia e artigos que eu escrevia e que se dirigiam, de uma forma geral, salvo raras excepções, e só podiam ser entendidos por um pequeno número privilegiado de homens que desde a sua infância tinham sido educados para compreender uma moldura muito evoluída. Isto é, para o escritor, como uma doença, como uma ferida. Um escritor que só pode ser compreendido por algumas pessoas não chega a ser inteiramente um escritor.”
(…)
“Há um problema nos livros para crianças que sempre me preocupou muito e que é um problema que dentro de uma organização capitalista é muito difícil de resolver, que é este: o livro para crianças deve ser um livro aberto, que abre o horizonte da criança para uma cultura literária, mas também deve abrir o horizonte da criança para uma cultura plástica. Aliás, as crianças, e eu já várias vezes em reuniões com crianças perguntei isso, querem um livro cuja ilustração seja bela. Ora, a ilustração dos livros é muito cara, e acontece esta coisa terrível – acontecia, no regime em que nós vivemos. É que um livro com ilustrações belas era um livro caro, que só podia ser comprado por crianças privilegiadas.”
(Declarações de Sophia de Mello Breyner Andresen à RDP, em 1975, recuperadas para o programa de Luís Caetano, “A Força das Coisas”, dedicado ao Dia Internacional do Livro Infantil, 2 de Abril. Para ouvir o programa completo clique aqui.)
JEFF KINNEY MOSTRA OS SEUS LIVROS FAVORITOS
Jeff Kinney, autor do best-seller O Diário de Um Banana, leva-nos pela Borders numa visita aos seus livros favoritos. O primeiro é The Arrival, de Shaun Tan. O rapaz não é nenhum banana.
terça-feira, 5 de abril de 2011
DIÁRIO DOS MEDOS
Não, André Cabelo-em-pé não é um miúdo como os outros. Se o cabelo branco espetado e os olhos como duas bolas de ping-pong lembram os Tragic Toys de Tim Burton, o seu imaginário está mais próximo de Ed Wood, cruzando «zombietês» com «barrinhas dedos-de-peixe», dessas que se compram na secção dos congelados. Na sua tendência obsessivo-compulsiva, André Cabelo-em-pé guarda outra particularidade: tem fobia de quase tudo, incluindo parques de diversões, microfones, telefones, nódoas no tapete, carnes estragadas e palavras cruzadas inacabadas (isso ficámos a saber no primeiro volume). Mas não tem medo dos amigos que se escondem debaixo da cama: um esqueleto, um fantasma e um monstro, a Companhia dos Medos. Guy Bass, autor do texto e da ilustração, parodia o mundo dos comics e dos filmes de ficção científica Série B, sendo especialmente hábil na gestão dos twists narrativos. Das últimas colecções que a Booksmile tem destinado aos leitores a partir dos sete anos, nomeadamente João Pastel e Uma História Mesmo Bestial, esta é a que mais se afasta da previsibilidade das fórmulas e também a que mais arrisca no plano linguístico. E a editora escolhe com cuidado os tradutores, o que é de louvar.
André Cabelo-em-pé – A Vingança dos Homens-Peixes
Guy Bass
Tradução de José Pires
Booksmile
(Texto publicado na edição da LER nº 101. Na imagem, as duas capas da colecção. A crítica diz respeito ao segundo volume, A Vingança dos Homens-Peixes.)
André Cabelo-em-pé – A Vingança dos Homens-Peixes
Guy Bass
Tradução de José Pires
Booksmile
(Texto publicado na edição da LER nº 101. Na imagem, as duas capas da colecção. A crítica diz respeito ao segundo volume, A Vingança dos Homens-Peixes.)
segunda-feira, 4 de abril de 2011
1º ANIVERSÁRIO NA ANTIGA BUCHHOLZ
Faz agora um ano que abriu a Livraria Leya na CE Buchholz, depois de uma longa temporada de indecisão quanto ao destino do nº 4 da Rua Duque de Palmela, em Lisboa. Por isso, há festa na próxima sexta-feira, 8 de Abril, mesmo a calhar ao fim de uma semana de trabalho (pelo menos para alguns). Inaugura-se a exposição “Palavras Pintadas”, uma selecção de trabalhos originais de ilustração de Danuta Wojciechowska, que depois fica até 7 de Maio; ouvem-se as “Leituras no Final da Tarde”, com Juva Batella, Inês Meneses e Afonso Cruz; e ainda as novas canções de Viviane, antiga vocalista dos Entre Aspas, agora em formato de trio no terceiro álbum a solo. A partir das 18h00.
CATA-LIVROS: É JÁ AMANHÃ
Cata-Livros, o novo projecto da Casa da Leitura/Gulbenkian, é apresentado ao público amanhã, às 15h00, na sala infantil da Biblioteca de Oeiras. Não faltem. Mais informação aqui.
domingo, 3 de abril de 2011
LIVRO PARA CRIANÇAS NO SOCIEDADE CIVIL
Direitos dos animais, ciências do cérebro e Dia Mundial do Livro Infantil. Eis as "Notícias Positivas" que escolhi levar aos primeiros dez minutos do programa "Sociedade Civil". Seguiu-se um debate onde esteve presente Fernando Pinto do Amaral, actual comissário do Plano Nacional de Leitura. Para ver e ouvir a gravação do programa, é só clicar aqui.
DIA INTERNACIONAL DO LIVRO INFANTIL, 7
Os livros levam-nos por caminhos imprevisíveis; e um bom exemplo disso foi a comemoração do Dia Internacional do Livro Infantil, ontem, em Lisboa. Um pouco por instinto, um pouco por falta de organização, as pessoas preferiram seguir a animação de rua, “recusando” a imobilidade que exigiria a formação de um “cordão humano de leitura”, como era do programa. Por isso, como dizia Susana Silvestre, chefe de divisão das Bibliotecas de Lisboa, a meio da descida da Rua do Carmo, “o cordão transformou-se numa arruada”. Afinal, o livro é quem mais ordena. Para a festa contribuíram em muito os alunos da EB 2,3 Fernando Pessoa, com os seus bombos, timbalões e caixas. Aqui estão eles, no início do percurso, ao Chiado, e depois no fim, em frente à estação de comboios do Rossio.
Subscrever:
Mensagens (Atom)