quarta-feira, 26 de outubro de 2011

PORTUGAL VIAJA ATÉ À FEIRA DE BOLONHA


É oficial. Portugal vai ser o país convidado da próxima Feira do Livro Infantil de Bolonha, marcada para os dias 19 a 22 de Março de 2012 (esperamos arranjar maneira de voltar lá...). O que há para saber, de momento, está no blogue de Sílvia Borges Silva, jornalista de cultura da Lusa, O Palácio da Lua.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

SWISS COUNTRYSIDE


Tínhamos seis, sete, nove anos, por aí. A Heidi só tinha cinco quando a Tia Dette a deixou com o Avô, no alto da montanha. Ao princípio achámos que aquilo não ia correr bem, as sobrancelhas dele estremeciam quando falava, era mau sinal. Depois, passou. A Heidi usava sempre o mesmo vestido cor-de-rosa com corpete e cordões à frente, cruzados; nós tínhamos botões e fecho éclair, era diferente. Vestíamos casacos de lã feitos à mão e pullovers de gola em «V» com a camisa a aparecer por baixo, estilo orelhas do Dumbo. As mães não se preocupavam em mandar-nos para a escola com as meias a condizer com as calças, nem sabiam o que era roupa de marca, de modo que nas fotografias de grupo parecíamos todos iguais, apesar da sobreposição de riscas, losangos e xadrez. Estávamos em 1976 quando a Heidi passou na televisão, a moda era terrível, os Natais sucediam-se e não havia maneira de as mães nos darem um Kispo. Algumas insistiam em cortar-nos o cabelo em casa, com a franja à Mireille Mathieu, e tínhamos de nos conformar com aquilo, e também com camisolas interiores que picavam, sobretudo depois de correr muito. E então? A Heidi teve de calçar sapatos quando foi viver para Frankfurt – e a Menina Rottweiler, ou Rottenmeier, fez-lhe a vida negra. Também, com um nome daqueles, estava-se mesmo a ver. Coisas boas: os adultos não achavam estranho que andássemos à bulha com outros miúdos, sabiam que aquilo passava depressa. Deixavam-nos picotar com alfinetes em cima de uma placa de esferovite sem ficarem logo histéricos. Brincávamos na rua e no quintal, sozinhos. As mães queriam-nos limpos, alimentados e com as vacinas em dia, a partir daí que tratássemos de ser felizes. E éramos. Éramos, pois.

(Texto publicado na edição de 23 de Outubro da Notícias Magazine, revista de domingo do DN e JN, na secção "Nostalgia".)

sábado, 22 de outubro de 2011

PRÉMIO MARIA ROSA COLAÇO 2011

Só quem desconhece por completo a história da imprensa pode ter preconceitos contra a escola do jornalismo desportivo, que tem produzido muita pena ágil, segura e certeira. É por isso (e também por ter feito parte do júri...) que não me surpreende a atribuição do 6º Prémio Maria Rosa Colaço (este ano, na modalidade Infantil; para o ano, na Juvenil) a Joaquim Semeano, jornalista há mais de vinte anos e actual editor do jornal Record. A cerimónia de atribuição decorreu ontem, no Fórum Municipal Romeu Correia, em Almada. Notícia no Record.

TERTÚLIA PEQUENAS LEITURAS


“Há livros, que estão no princípio de tudo: são livros de mitologia, religião, mas também cartas de direitos, constituições. Servem para organizar, reger, construir. Criam linhas temporais. Dizem-nos de onde vimos e para onde ambicionamos ir. Como são apresentados às crianças estes textos? Como são ilustrados?”

Este é o mote da próxima Tertúlia Pequenas Leituras, que acontece na próxima quarta-feira, 26 de Outubro (18h30), na Bulhosa de Campo de Ourique, como é habitual. Pelo sugerido no excerto acima, que nos chegou por email, esta poderá ser uma excelente oportunidade de se discutirem as implicações político-ideológicas contidas nos livros para crianças (neste caso, no género informativo). Entre muitas outras coisas.

MAIS UMA ALICE


Desta vez com ilustrações de Tiago Albuquerque e Adriano Lameira. Uma edição Casa das Letras, a publicar em Novembro.

WORKSHOP DE LIVRO INFANTIL

De hoje a uma semana, no Hotel Tryp (Parque das Nações, Lisboa) Ana Mourato conduz mais um workshop de “Selecção do livro infantil adequado às diferentes etapas do desenvolvimento”. É um tema que dá azo a grandes dúvidas por parte de quem trabalha, de alguma forma, com livros para crianças. Destina-se ao público em geral, mas interessa sobretudo a professores, educadores, estudantes, psicólogos e a todos os que se preocupam em fazer escolhas acertadas nesta matéria (dizemos nós, que já o fizemos e recomendamos). Ana Mourato é psicóloga educacional, doutoranda em Psicologia da Educação, mestre Educação e Leitura e pós-graduada em Livro Infantil, além de coordenadora do projecto Ouvir o Falar das Letras (http://ouvirfalarletras.blogspot.com/). O workshop realiza-se das 9h30 às 17h45, custa 55.35 € e as inscrições podem ser feitas pelo telefone 93 780 71 61.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

SERENIDADE ESTÁTICA


Tantos anos de exposição à mira técnica não serviram para ensinar a maioria dos telespectadores a afinar a imagem, como era a intenção, mas foram suficientes para criar a memória de um mundo mais lento, com actividades limitadas entre a «abertura da emissão» e o «fecho da emissão». A mira técnica existia entre uma coisa e outra, ou fazia a sua aparição súbita em caso de avaria, precedendo o anúncio que também se tornou célebre: «Pedimos desculpa por esta interrupção. O programa segue dentro de momentos». Que sossego. Os dias eram largos e as noites primordiais. De certo modo, em versão espartana, a mira técnica foi a antecessora do canal MyZen TV, com a sua câmara imóvel durante horas seguidas a filmar a rebentação das ondas numa qualquer praia tropical. Onde hoje há compactos de televendas a impingir-nos espanadores anti-estáticos e faixas queima-gordura para o abdómen, não havia nada; a não ser um padrão geométrico indecifrável e a expectativa de que algo de bom estava para acontecer. Por exemplo: desenhos animados, tardes de cinema, variedades, hóquei em patins e, maravilha das maravilhas, telejornais que duravam apenas meia hora. O pesadelo da programação ininterrupta, da televisão acesa de manhã à noite, dos três aparelhos ligados em cada parede do restaurante de bairro, estava longe de ser realidade. E embora os verdadeiros motivos da mira técnica fossem insondáveis aos olhos do vulgo, a memória dessa presença estática parece-nos, hoje, tranquilizante. Tal como a expectativa de que algo de bom estava para acontecer.

(Texto publicado na edição de 16 de Outubro da Notícias Magazine, revista de domingo do DN e JN, na secção "Nostalgia".)

NOVO LIVRO DE MARGARIDA FONSECA SANTOS


Amanhã, 19 de Outubro, pelas 19hoo, Maria Tereza Maia Gonzalez apresenta o livro Uma Questão de Azul-Escuro, de Margarida Fonseca Santos e Sandra Serra (ilustrações), uma abordagem ao tema do bullying. O lançamento decorrerá na Sede da APAV - Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (Rua José Estêvão 135-A, Lisboa).

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

COISAS ACERTADAS

“Estamos num tempo com muito poucas narrativas. Creio que é isto que falta às gerações mais novas.” (Ler aqui a entrevista certeira de Dora Batalim à Pública. Via La Double Vie de Veronique.)

ONDE VIVE O MONSTRO


"I'm totally crazy, I know that. I don't say that to be a smartass, but I know that that's the very essence of what makes my work good. And I know my work is good. Not everybody likes it, that's fine. I don't do it for everybody. Or anybody. I do it because I can't not do it."

(Um artigo imperdível sobre Maurice Sendak publicado no The Guardian, onde se demonstra que alguns escritores de livros para crianças são gente pouco recomendável para se convidar para um churrasco ou coisa parecida. Via O Palácio da Lua).

HÁ TONTOS E TONTOS


"O Sr. Tonto vive na Terra dos Disparates, que é um sítio muito engraçado para se viver. Na Terra dos Disparates é tudo disparatado até mais não." Há tontos inofensivos e há tontos perigosos. Os segundos ganham eleições, os primeiros votam neles. É uma grande anedota, pois é.

domingo, 9 de outubro de 2011

OS GIGANTES INGLESES


Os primeiros autocarros de dois pisos chegaram a Portugal em 1947, poucos anos depois de a Carris ter iniciado o serviço de carreiras regulares. Traziam ainda a cabine do motorista do lado direito, sinal da ascendência inglesa comprovada pela marca Leyland, modelo Titan, um nome apropriado para gigantes de sete toneladas. Diz a tradição dos mitos e contos de fadas que os gigantes são mal compreendidos pelo vulgo – e estes não foram excepção. Recebidos com um misto de admiração e desconfiança nas ruas de Lisboa, tinham lugares sentados para 56 passageiros, sem por isso ocuparem mais espaço de via. Com este trunfo irrecusável venceram medos, curvas e solavancos, chegando também às sinuosas artérias do Porto, em 1960. Por onde quer que tenham passado, o tempo foi suficiente para integrá-los nas memórias mais felizes de várias gerações de passageiros. Quem foi criança e repetiu a aventura de subir ao primeiro piso com o autocarro em andamento, sempre na esperança de encontrar vazios os lugares da frente, pôde ver o mundo com os olhos bem abertos. Embalados por aquele equilíbrio instável e pelo motor trepidante, sentimo-nos invencíveis, dentro dos gigantes ingleses. Foi assim até 1995, ano em que desapareceram de vez das ruas de Lisboa, excepção feita para a inconstante versão turística. No Porto, ficaram até 1991, tendo regressado este ano, muito frescos e modernos, mas irreconhecíveis face à imagem que deles guardámos. É o progresso, dizem. No piso de cima, as crianças vêem agora o mundo com outros olhos.

(Texto publicado na edição de 9 de Outubro da Notícias Magazine, revista de domingo do DN e JN, na secção "Nostalgia".)

sábado, 8 de outubro de 2011

ALTERNATIVAS À INDIGNAÇÃO


O cartaz é inspirado no best-seller Indignai-vos! e foi bem achado. De Outubro a Dezembro, a Booktailors oferece um desconto de 50 por cento a todos os desempregados e recém-licenciados à procura do primeiro emprego que queiram frequentar os próximos cursos (Livro Infantil incluído, para puxar a brasa à nossa sardinha). É boa ideia. É de aproveitar. É saber mais aqui.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

HOJE HÁ HISTÓRIAS


Hoje, às 21h00, no Espaço Geraldine, aos Restauradores (Tv. da Glória, 18, 1º), um serão de contos que promete: "Histórias de se Tirar do Chapéu". Com Ana Lage e Bruno Batista. Tudo aqui.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

VERSOS DESALINHADOS


Daniil Harms, pseudónimo de Dannil Ivánovitch Iuvatchov, foi alvo das perseguições do regime estalinista, que não se interessou apenas por escritores nobelizáveis como Boris Pasternak ou Aleksandr Solzhenitsyn. A educação das crianças sempre preocupou os sistemas totalitários; e daí a desconfiança pelos textos infantis de Daniil Harms, aqui ilustrados por Gonçalo Viana, cujas geometrias e sequências repetitivas não são estranhas ao construtivismo russo. Longe do realismo doutrinário e da celebração dos feitos e figuras gratas à nação, estes textos espelham, na sua brevidade e permanente autoirrisão (a começar pelo título, Esqueci-me Como se Chama), a incongruência e o absurdo da realidade, a par de um sentido lúdico totalmente desfasado dos imperativos moralizantes da cartilha política. Histórias nonsense com animais exóticos, episódios grotescos envolvendo a realeza ou viagens ao Brasil dos aborígenes e bisontes – tudo isto era mais do que a máquina do estado poderia tolerar. Daniil Harms morreu de fome, aos 37 anos, durante um dos encarceramentos onde terá sido convidado a reflectir sobre o alimento adequado à formação dos jovens cérebros.

Esqueci-me Como se Chama
Daniil Harms
Ilustrações de Gonçalo Viana
Tradução de Nina e Filipe Guerra
Bruaá

Texto publicado na edição da LER nº 106, secção “Leituras Miúdas”. Fora do registo infantil, Daniil Harms (S. Petersburgo, 1905) encontra-se publicado em português pelas editoras Hiena (Crónicas da Razão Louca, 1994) e Assírio & Alvim (A Velha e Outras Histórias, 2007).

domingo, 2 de outubro de 2011

É TERÇA-FEIRA


Apesar de o DN Jovem ter continuado na internet, do que os leitores a sério sentem saudades é sempre do «seu jornal»: o suplemento do Diário de Notícias que existiu entre 1983 e 1996, lançado por Mário Mesquita e coordenado por Manuel Dias. Saudades do papel, do cheiro oficinal do papel e das pontas dos dedos tingidas de letras, isso que faz algumas pessoas dizer logo «ai, que nojo». Saudades das terças-feiras, o dia em que a rapariga descia «as escadas quatro a quatro», como na canção do Sérgio Godinho, para sair à rua e comprar o DN, só por causa do seu suplemento favorito. Nessas terças-feiras a rapariga podia sentir-se especialmente importante, não só porque era bom ser «jovem» e ter um cartão catita que dava direito a seguro de acidentes pessoais e aconselhamento jurídico (e havia até um Ministério da Juventude, olha a excentricidade), mas sobretudo porque um texto seu podia ter sido publicado, com o nome por baixo, a idade e a terra onde vivia, fosse cidade ou uma aldeola qualquer perdida no mapa. Naquela página e nas páginas seguintes havia outros textos de quem tinha idade para ter Cartão Jovem e, muitas vezes, também se sentia perdido no mapa e no território. E sentir isso também era bom, era chegado, partilhado, generoso, é como ver alguém no comboio a ler um livro que também já lemos e ficar logo com vontade de meter conversa. Hoje, a rapariga ainda desce as escadas quatro a quatro, mas do que tem mesmo saudades é de marcar encontro com o «seu jornal» na tabacaria, todas as terças-feiras de manhã.

(Texto publicado na edição de 2 de Outubro da Notícias Magazine, revista de domingo do DN e JN, na secção "Nostalgia". De Helena de Sousa Freitas, DN Jovem Entre o Papel e a Net, em edição da Esfera do Caos, conta toda a história do suplemento. Ver o post anterior.)