sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
PERSÉFONE REINVENTADA
Talvez o leitor nunca venha a saber ao certo quem é Mina McKee. Dizer que se trata de uma menina de nove anos que lê William Blake («Era pintor e poeta e algumas pessoas diziam que era louco – tal e qual dizem de mim») já é desvendar algo sobre a «McKee Paradoxal», a «McKee Disparatada», a «McKee Esquisita». A McKee que responde aos testes inventando palavras à maneira de Joyce, sendo «retirada» da escola. Mas dizer isso é explicar quase nada. Goste-se ou não, entrar no diário de Mina McKee significa dar um passo no escuro, à procura das palavras que ressoam sob a superfície. Ao contrário de O Segredo do Senhor Ninguém, cuja narrativa se encadeava sem sobressaltos formais, O Meu Nome é Mina, passado num tempo imediatamente anterior, situa-nos numa escrita guiada pela corrente de consciência («stream of counsciousness»), em que o experimentalismo da linguagem atinge a própria composição gráfica e tipográfica. A história de Mina McKee, uma revisitação contemporânea do mito de Perséfone e Deméter – a princesa dos infernos e a sua mãe protectora e nutritiva –, é um dos romances juvenis mais extraordinários traduzidos em 2011.
O Meu Nome é Mina
David Almond
Tradução de Manuela Vaz
Presença
(Texto publicado na edição nº 109 da LER.)
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
AS CASAS JÁ MORAM AQUI
Este ano o Pai Natal chegou um pouco atrasado, mas chegou. Eis os primeiros exemplares do Onde Moram as Casas, cuja capa (ficou linda, Alexandre) em breve estará a fazer companhia às outras três que podem ver ali à vossa direita. Quando é que sai para as livrarias? No mês dos gatos, claro!
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
...E UM POSTALINHO TAMBÉM
Do Alex Gozblau, pois claro. O Jardim Assombrado vai passar o Natal ao norte, como manda a tradição. E ainda que de vez em quando gostasse de emigrar para a Nova Zelândia, levando atrás os seus metrosíderos, kauris, cabbage trees e restante flora endémica, promete que volta. Só para chatear. Boas Festas (e levem isto à letra)!
UMA PRENDINHA DE NATAL...
Seguindo a recente sugestão dada pelo nosso PM aos professores desempregados, inicialmente enviei este curioso item para uns happy few. Dado que a coisa começa a tomar proporções de concertação e estratégia nacional, parece-me que, mais tarde ou mais cedo, todos nós, detentores de passaporte português, seremos convidados a procurar melhor sorte noutras paragens. É bom termos governantes assim, que nos moralizam, que nos entusiasmam, que nos dão confiança e fé no futuro quando mais precisamos! O kit fica à disposição de todos os frequentadores do Jardim Assombrado, com a possibilidade de substituirem a Super Bock por Sagres e a sandocha de presunto por torresmos ou coisa parecida. (Imagem retirada do blogue Sud Express.)
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
A FADA QUE PERDEU AS GRAÇAS DO AR
Vindo da minha escritora portuguesa preferida, confesso ter ficado um pouco desiludida quando saiu a primeira aventura de Mopsos, o Pequeno Grego. Não sendo apologista do textinho-ligeiro-e-bacoco-para-criança-entender, não pude evitar achá-lo pesado e fastidioso, longe do encantamento imediato que se desprende das palavras de Hélia Correia. Reconciliei-me agora com A Chegada de Twainy, o primeiro volume de uma nova colecção para adolescentes que mergulha no imaginário anglo-saxónico das fadas e da little people, tão caro à autora de Lillias Fraser como era o da Grécia Antiga. “O que me fascina nas fadas é o facto de não serem criaturas morais. São imprevisíveis e caprichosas. São uns seres bravios e inumanos”, diz ela. Esperem pelo fim das festas para ler o artigo de três páginas que sairá na LER de Janeiro.
PLOFT!
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
DEZ BONS LIVROS DE 2011 E MAIS UM
- O Meu Nome é Mina, David Almond (Presença)
Do vencedor do Prémio Hans Christian Andersen 2010, um romance juvenil assente sobre um aturado trabalho de escrita.
- O Passeio da Dona Rosa, Pat Hutchins (Kalandraka)
Escrito em 1968, este é, provavelmente, um dos picture books mais perfeitos da segunda metade do século XX.
- A Contradição Humana, Afonso Cruz (Caminho)
Texto e ilustração potenciam-se para criar um verdadeiro livro de autor, que explica como todas as coisas têm o seu reverso.
- A Evolução de Calpurnia Tate, Jacqueline Kelly (Contraponto)
Um romance juvenil – e não só – que mostra como o saber científico tem o poder de revolucionar o indivíduo e a sociedade.
- Um Gato Tem 7 Vidas, Luísa Ducla Soares e Francisco Cunha (ilustrações) (Civilização)
No percurso de uma escritora com 117 livros publicados, este, sobre a morte, é com certeza um dos mais íntimos e comoventes.
- É um Livro, Lane Smith (Presença)
Um livro que parodia o conflito digital vs. analógico, escrito e desenhado com muito humor.
- Lulu e o Brontossauro, Judith Viorst e Lane Smith (ilustrações) (Gailivro)
Um daqueles livros raros que coloca adultos e crianças no mesmo patamar de divertimento, sem transigir na qualidade.
- Contos dos Subúrbios, Shaun Tan (Contraponto)
Exótico, inquietante, inclassificável. Um ilustrador de primeira água que também escreve foi finalmente publicado em Portugal.
- Um Dia, um Guarda-chuva, Davide Cali e Valerio Vidali (ilustrações) (Planeta Tangerina)
Narrativa habilmente engendrada, assente na lógica sequencial do picture book, cujas ilustrações ganharam o Prémio Ilustrarte 2012.
- Se Eu Fosse um Livro, José Jorge Letria e André Letria (ilustrações) (Pato Lógico)
Um livro pode ser uma casa, uma ilha, um aeroplano, um navio… Não há limites para a imaginação de André Letria neste livro de todos os livros.
PS – Estas foram as minhas escolhas para a lista dos melhores livros infanto-juvenis de 2011, tal como saiu na última LER. Podiam ser doze. Podiam ser vinte. Mas já se sabe como funciona a ditadura das listas. A última remessa de livros da Kalandraka chegou depois do fecho da edição, mas é claro que não podia deixar de incluir a obra-prima de Shaun Tan, Emigrantes, um dos mais gratos presentes de Natal que posso desejar a toda a gente.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
BOAS ARTES
Matilde Rosa Araújo faz capa do número 21/22 da Malasartes, que homenageia a escritora (1921-2010) com uma entrevista inédita conduzida por José António Gomes. Nesta edição dupla, maioritariamente escrita em português mas com um forte «braço» galego, há muito para ler. Os álbuns de capa mole da colecção Borboletras (Caminho), a revisitação de João Sem Medo, de José Gomes Ferreira, e a influência do haiku na escrita poética para crianças são alguns dos temas tratados. Ah, e há também um generoso artigo de Sara Reis da Silva sobre uma certa e determinada escritora cuja obra se encontra “ainda em crescimento” (adivinhem quem é… o nome começa por “C”).
Publicada desde 1999, a Malasartes destina-se sobretudo a professores, bibliotecários, escritores, ilustradores, editores, livreiros, estudantes e todos os que se interessam pela crítica e divulgação da literatura infantil e juvenil, portuguesa e traduzida. Com este vasto público, devia vender imenso, o que não acontece (um daqueles fenómenos cuja compreensão me ultrapassa). São precisos mais assinantes, particulares e institucionais. A assinatura para Portugal e Galiza, dois números numa só revista, custa dez euros. As informações podem ser pedidas através deste email: malasartes@portoeditora.pt.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
NA HORA DE DORMIR
O Jardim Assombrado gostaria de poder justificar a sua preguiça por mor de boas razões, como seriam a leitura deste B.I. da Rede de Dormir, de Paulo Moreiras. Autor dos romances A Demanda de D. Fuas Bragatela, Os Dias de Saturno e o recente O Ouro dos Corcundas, dedicou-se ao estudo do objecto que Pêro Vaz de Caminha conheceu pela primeira vez em Abril de 1500 e apelidou de «rede de dormir». Na colecção «Bilhetes de Identidade», Paulo Moreiras publicou já o B.I. da Cereja e da Ginja, o B.I. do Palito, o B.I. do Tremoço, o B.I. da Perdiz, o B.I. da Morcela e o B.I. da Rede de Dormir. E explica: «Este bilhete de identidade aborda a temática da rede de dormir, tendo como base de trabalho, única e exclusivamente, a obra de antropólogo e etnógrafo brasileiro Luís da Câmara Cascudo, Rêde de Dormir – uma pesquisa etnográfica, obra notável e que não poderia permanecer durante mais tempo desconhecida no nosso país.»
sábado, 10 de dezembro de 2011
DANUTA & CIA
Danuta Wojciechowska, ilustradora que dispensa apresentações, vai lançar um novo livro com desenhos seus e aguarelas de pequenos artistas de Viana do Alentejo: Ribe-bé-béu! Laréu-ao-léu! A contadora de histórias Joaninha de Cabeção empresta a voz ao CD musicado por Sónia Mendes. A edição do livro é da Lupadesign e a apresentação decorre no dia 15 de Dezembro, na Livraria Ler Devagar, em Lisboa, com apresentação de Vítor Quelhas. Também haverá música ao vivo de Xavier Llonch e Nuno Rocha. Tudo boas razões para aparecer, a partir das 19h00.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
VOZES NO AR
Bastou um livro à dupla Raul Malaquias Marques e Yara Kono (De Sol a Sonho, Caminho) para se perceber a harmonia criativa entre dois autores destinados a entenderem-se. Se a primeira experiência foi uma das surpresas de 2009, O Ar Está Cheio de Vozes representa o regresso à melhor poesia de autor para crianças e à afirmação da ilustradora associada à Planeta Tangerina e vencedora do último Prémio Nacional de Ilustração. O estilo de Yara Kono está agora mais alinhado com a «constelação Tangerina», tendo aqui abandonado algumas das suas peculiaridades, mas a intenção de autonomizar e dilatar o significado das ilustrações também é notória. De quem são estas vozes que andam no ar? De pessoas e de animais, mas também de geradores eólicos no meio de moinhos quixotescos ou de palavras insatisfeitas com o novo acordo ortográfico. Não há temas banais, maiores ou menores, quando se trata de fazer uma reconstrução poética da realidade. É também disso que se ocupa a literatura.
O Ar Está Cheio de Vozes
Raul Malaquias Marques
Ilustrações de Yara Kono
Caminho
(Texto publicado na edição da LER nº 108, secção “Leituras Miúdas”.)
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
CITY-BREAKS: PORTO
Depois dos Encontros Luso-Galaico-Franceses do Livro Infantil e Juvenil, acontece isto. Felizes coincidências geográficas. Até já!
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