quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

SHE'S THE ONE


Um dos mais completos e interessantes sites sobre "as Alices" encontra-se aqui. Acima, uma ilustração da verdadeira Alice Liddell, desenhada por Lewis Carroll.

PRESENÇA REEDITA ALICE


A Editorial Presença vai relançar a edição de Alice no País das Maravilhas, publicada originalmente em 1986, com tradução de Carlos Grifo Babo. Uma vez que a obra está em domínio público, há muitas traduções do texto original de Lewis Carroll (fora as mil e uma versões truncadas e pretensamente destinadas a crianças). Assim de repente, há a registar as da Relógio d’Água, Gailivro, Europa-América, Ambar, Leya - Bis, Dom Quixote, Edições Nelson de Matos, Biblioteca Editores Independentes, Vega, Estampa, Civilização e… mais alguma? E já agora, qual a melhor?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

ALICE, O SCRIPT


Tão cedo não cometerei novamente o erro de ver o filme primeiro e ler o livro depois, mas o inverso também tem os seus quês. Por razões de trabalho, fui “obrigada” a ler a adaptação do argumento cinematográfico de Alice no País das Maravilhas, o que desencadeou uma espécie de projecção mental paralela da primeira à última página. Vou entrar no cinema com a sensação de déjà vu, o que é chato. As piscadelas de olho a Matrix (filme em que os espectadores se divertem a anotar as múltiplas referências a Alice) são muito mais do que isso; a especulação sobre o facto de Alice ser ou não ser a “The One” atravessa toda a versão de Tim Burton. A cena da resposta do oráculo é… enfim, não quero estragar a surpresa. O resto é Mr. Burton tal como o estamos habituados a ver. Por exemplo, nesta revisitação (ainda mais) lúgubre do Jardim das Flores Vivas, um dos cenários vitorianos de Alice do Outro Lado do Espelho:

“O seu olhar pousou sobre uma fila de flores e, então, deu um salto. Tinham mesmo caras humanas, mas como é que ela já sabia que teriam? Por outro lado, não eram aquelas que, por qualquer razão, ela esperava. Estas caras eram esqueléticas e fantasmagóricas, como se as flores estivessem a morrer à fome. Os olhos delas olhavam, inexpressivos, para além dela e as suas pétalas pendiam, murchas, com as cores pálidas e desvanecidas mal se distinguindo contra o fundo castanho e acinzentado. Nenhuma lhe disse nada, embora duas deixassem o seu olhar errar devagar pela cara dela, e depois os desviassem de novo para o chão.”

(Alice no País das Maravilhas, adaptação de T. T. Sutherland, baseada no argumento cinematográfico de Linda Wooverton para o filme de Tim Burton, edição Dom Quixote)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

FINDAGRAVE.COM


Find a Grave: um site sobre campas e monumentos funerários de pessoas famosas (ou nem por isso), cujo slogan é: “Let your friends and co-workers know about your enthusiam for cemeteries!!!”. Registado o humor negro, acrescenta-se que a imagem acima pertence ao escritor Hilaire Belloc (1870 - 1953), autor das Cautionary Tales for Children. A família dos “Tragic Toys for Girls and Boys”, de Tim Burton, também encontra aqui as suas raízes. Para quem não conhece, eis a história exemplar (embora trágica) de Matilda. Também pode ser lida aqui.

"Matilda told such Dreadful Lies,
It made one Gasp and Stretch one’s Eyes;
Her Aunt, who, from her Earliest Youth,
Had kept a Strict Regard for Truth,
Attempted to believe Matilda:
The effort very nearly killed her,
And would have done so, had not she
Discovered this Infirmity.
For once, towards the Close of Day,
Matilda, growing tired of play,
And finding she was left alone,
Went tiptoe to the telephone
And summoned the Immediate Aid
Of London’s Noble Fire Brigade.

Within an hour the Gallant Band
Were pouring in on every hand,
From Putney, Hackney Downs and Bow,
With Courage high and Hearts a-glow.
They galloped, roaring through the Town,
‘Matilda’s House is Burning Down.’
Inspired by British Cheers and Loud
Proceeding from the Frenzied Crowd,
They ran their ladders through a score
Of windows on the Ball Room Floor;
And took Peculiar Pains to Souse
The Pictures up and down the House,
Until Matilda’s Aunt succeeded
In showing them they were not needed;
And even then she had to pay
To get the Men to go away!

It happened that a few Weeks later
Her Aunt was off to the Theatre
To see that Interesting Play,
The Second Mrs Tanqueray.
She had refused to take her Niece
To hear this Entertaining Piece:
A Deprivation Just and Wise
To Punish her for Telling Lies.
That Night a Fire did break out—
You should have heard Matilda Shout!
You should have heard her Scream and Bawl,
And throw the window up and call
To People passing in the Street—
(The rapidly increasing Heat
Encouraging her to obtain
Their confidence)—but all in vain!
For every time she shouted, ‘Fire!’
They only answered, ‘Little Liar!’
And therefore when her Aunt returned,
Matilda, and the House, were Burned."

O OVO DA SERPENTE


Forre o estômago com ensaios sobre o optimismo ou que bem lhe aprouver, mas não perca esse grande filme de Michael Haneke que dá pelo título de O Laço Branco. Realização, direcção de actores, cenários, figurinos, fotografia, argumento, narração - é tudo um primor. Um senhor filme.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O MEU LUGAR SEGURO


A psicologia fala do conceito de “lugar seguro” como um espaço físico associado a experiências positivas e marcantes do nosso passado; um espaço aonde não chegam a angústia, o desconforto ou a ameaça. Habitualmente, é na infância que o encontramos, nesse canto da casa onde os joelhos se encolhiam para abraçar um livro; ou no cimo de um penedo coberto de musgo e líquenes, se tivemos a sorte de crescer junto à natureza. Eu tive.

Mas, por estranho que possa parecer a quem tem pavor de andar de avião, a minha ideia de lugar seguro está a uns quantos milhares de metros de altitude, no final de uma viagem que abarcou três continentes e dois oceanos. É de madrugada, passaram-se mais de 26 horas de voo e, segundo a conspiração dos fusos horários, deixei Lisboa há dois dias, sem saudades nem despedidas. Estou no princípio daquela que vai ser a viagem da minha vida, mas ainda não o sei. Tal como não prevejo o momento decisivo, distraído pela falta de sono, em que vou deixar no tapete rolante as minhas botas Timberland novas, compradas pelo equivalente ao que hoje me pagam por um artigo de seis páginas (só para terem uma ideia da inflação). Mas também não posso prever isso, caso contrário teria tido mais juízo e ficado por lá. Da janela do Jumbo da Air New Zealand, a coberto da noite imensa, vejo apenas as mil luzes de Auckland unidas em filigrana, um tapete de luz onde estou prestes a cair, feliz e vulnerável, embora não na mesma proporção. Não há ninguém à minha espera mas tudo está à minha espera, tudo é provável mesmo que nunca aconteça, mesmo que exista apenas como pura possibilidade, pura especulação de incertezas.

Nunca mais estive tão alto como durante aquela viagem solitária à Nova Zelândia, o país onde gostaria de ter nascido. Inevitavelmente, tudo o que sobe deve descer. Quando agora quero evocar a minha ideia de lugar seguro, fecho os olhos e penso que estou num avião, sobrevoando as mil luzes de Auckland, apenas no início de uma viagem extraordinária que aconteceu faz agora sete anos. Às vezes, o truque funciona. Mas só às vezes.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O REGRESSO DE SAM SAVAGE


Depois de Firmin (um dos meus livros de 2009), a Planeta lança agora o segundo livro de Sam Savage, o escritor norte-americano que publicou a primeira obra aos 65 anos – e logo um best-seller. Embora a menção ao “senhorio negligente” me deixe algo apreensiva nesta altura do campeonato, a sinopse enviada pela editora dá para abrir o apetite:

“Sobrevivendo à custa de uma dieta de bolos embalados, sardinhas em lata e vodka, nos tempos difíceis da era Nixon, Andrew Whittaker é editor de uma revista literária, senhorio negligente e candidato a romancista. Com a sua revista, Andrew espera atear as chamas da excelência literária.

Mas a vida não é simples. Os inquilinos de Andrew começam a cansar-se dos canos entupidos e das ratazanas, a ex-mulher exige-lhe dinheiro, e há um escritor canadiano frustrado que o persegue. Depois de romper com toda a comunidade artística local, Andrew decide organizar um festival literário para ajudar a salvar a revista moribunda. Mas será esse o seu momento de glória ou a derrota final?”

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

LET'S LOOK AT THE TRAILER


Já só faltam duas semanas para a estreia de um dos filmes mais aguardados do ano (de sempre?). Now, let's look at the trailer. Aqui.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

ALICE EM AUDIOLIVRO


Alice no País das Maravilhas é o novo título da colecção Livros Para Ouvir, os audiolivros da 101 Noites que já deram voz a obras de Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco e, entre outros, Oscar Wilde, já citado aqui no jardim. Gosto muito de audiolivros, desde que não demasiado teatralizados e dar para o tom pomposo, dois males que tendem a andar juntos. Este não deverá ser excepção, porque simplesmente adoro a voz da jornalista Mafalda Lopes da Costa (sou suspeita, eu sei...). Esta edição da 101 Noites inclui dois CDs com o texto integral adaptado para a versão áudio, mais um pequeno livro-guia com as ilustrações de John Tenniel. “Lagarta”, “nursery” e “Tom Waits” são algumas das entradas. Tal como o filme de Tim Burton, Alice no País das Maravilhas chega às livrarias no mês de Março. Quer ouvir o início da história? Entre aqui.

NICK CAVE CONTA UMA HISTÓRIA DE GATOS



Com realização de Eddie White e Ari Gibson, The Cat Piano é uma curta-metragem de animação made in Australia, já premiada nos festivais do género. Uma história delicadamente perversa (e, a avaliar pela reacção assustada da minha gata num certo momento dramático, bastante realista), à qual Nick Cave emprestou a voz e uma narração soberba, com as palavras e a música equilibradas no justo ponto de tensão. Descobri-a recentemente no Papel de Lustro e não me canso de a rever, também aqui, no blogue The Cat Piano.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

DESESPERADAMENTE À PROCURA DE MIQUELRIUS


O problema dos rituais é que nos trazem cativos das nossas inseguranças. Ao cabo de quase nove anos a tomar notas nestes cadernos da Miquelrius – marca catalã com pergaminhos remontantes a 1839, diz o site –, a ideia de ter de encontrar uma alternativa é assustadora. Sobram-me apenas três míseras folhas em branco, poupadas como um indecente salário mínimo à portuguesa. Não me apetece mudar para os recorrentes Moleskines, nem para os nossos cadernos de merceeiro que o Paul Auster tornou fashion – acho o papel demasiado branco, as linhas demasiado azuis, tudo muito ofuscante. Gosto dos cadernos quadriculados tamanho A6 da Miquelrius porque cabem no bolso e ganham aquele aspecto surrado ao fim de alguns meses, mantendo-se resistentes e maleáveis ao mesmo tempo, o que é todo um programa de vida. A lombada de tecido azul nunca se desfaz, os cantos não se amachucam, a etiqueta de fundo branco suja-se apenas o suficiente para se tornar ilegível à distância. Habituei-me a eles, nada a fazer.

O problema é que desapareceram do único sítio de Lisboa onde os encontro à venda: a loja Arte Periférica, no CCB, onde foram avistados pela última vez na Primavera de 2009. Voltei lá antes do Natal e não havia. Telefonei a meio de Janeiro e continuavam ausentes ("Talvez em Fevereiro, depois do inventário", prometeram-me por telefone). Insisti esta semana e a sorte foi a mesma. O empregado que invariavelmente me atende parece-me um rapaz pouco expedito (a dar para o morcão, diria mesmo), insensível às mais básicas noções comerciais. A palavra "encomenda" fará parte do seu léxico? A última réplica deixou-me virada do avesso: "Os cadernos não chegam de um dia para o outro". Já deu para perceber que não, pelo menos desde Dezembro. Também não chegam de uma semana para a outra, nem de um mês para o outro. Caso para perguntar: chegarão de um ano para o outro? Peço encarecidamente aos visitantes deste jardim o favor de me informarem, se conhecerem outros pontos do país onde se vendam os inigualáveis cadernos quadriculados Miquelrius. É que estou quase à beira de um ataque de nervos.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

ILUSTRAÇÃO NA CENTRAL TEJO


Começa hoje a 4º edição da Ilustrarte, ou IV Bienal Internacional de Ilustração para a Infância, uma oportunidade de ver e rever (a entrada é gratuita) os trabalhos originais dos melhores ilustradores que concorreram à selecção deste ano. Ao todo, foram 1400, número que impõe respeito. Ficaram apenas 50, presentes num dos núcleos da exposição com 150 trabalhos inéditos e esteticamente muito diferentes. Os outros dois núcleos são dedicados a Wolf Elbruch e a Luísa Ducla Soares. Até 4 de Abril, no Museu da Electricidade/Central Tejo (um dos edifícios mais carismáticos de Lisboa, como meio mundo concordará), a exposição pode ser vista das 10h00 às 18h00, de terça a domingo, livremente ou com visita guiada. A inauguração é logo à noite, às 21h30. Para mais informações ver aqui.

A ilustração acima pertence à autora belga Isabelle Vandenabeele, que venceu a Ilustrarte deste ano, depois de já ter ganho uma menção honrosa em 2007. Naturalmente, é ela quem abre a montra que o Público colocou ontem on-line, com banda sonora dos Danças Ocultas. Aqui.

A BRUXA ARREGANHADENTES


Com texto de Tina Meroto e ilustrações Maurizio A. C. Quarelo, A Bruxa Arreganhadentes, um livro deliciosamente assustador, é uma das reedições da OQO para o início de 2010. Na calha, vêm também A Princesa que Bocejava a Toda a Hora (Carmen Gil e Elena Odriozola) e A Princesa de Aljustrel (Patacrúa e Javier Solchaga). Para quem não conhece esta bruxa nascida nos bons velhos tempos, aqui fica um extracto do texto enviado pela editora:

"Os contos e lendas acerca de bruxas constituem um repertório vivo e abundante, praticamente universal. É frequente as crianças personificarem os seus medos em personagens malvadas com aparência humana. Para ganhar confiança e superar os medos, nada como escutar contos onde os protagonistas triunfam sobre esses seres aterradores, criados na imaginação.

A personagem da bruxa devoradora de crianças que vive numa casinha no meio do bosque aparece na tradição oral comum a muitos povos (Turquia, Rússia, Europa...) e conta com antigos antecedentes literários. A Bruxa Arreganhadentes tem um carácter híbrido, com elementos narrativos recolhidos de diversas culturas.

Nesta ousada aventura, o mais pequeno é o único capaz de ver com clareza (reconhecer a casa da bruxa, desconfiar da aparente afabilidade da desconhecida...), sem se deixar levar pelos impulsos e pela satisfação dos desejos.

Se no princípio do relato, os mais velhos troçavam do irmão por o considerarem medroso e pequeno, no desenlace transmite-se a ideia de que, ainda que alguém seja considerado insignificante, também será capaz de superar as dificuldades; finalmente será o mais pequeno que, com astúcia e inteligência, toma iniciativas e enfrenta a grave situação."

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

AINDA OS PRÉMIOS SPA


Ainda a propósito do Prémio SPA/RTP, confesso a minha perplexidade por ver incluído O Gato de Uppsala, de Cristina Carvalho, nos nomeados da categoria infanto-juvenil. Primeiro, as coisas não se deviam misturar - escrever para crianças e escrever para adolescentes é muito diferente e premiar um livro em detrimento de outro, nestes moldes, pode ser algo tortuoso. Depois, porque O Gato de Uppsala, "apesar" das ilustrações de Danuta W., tem uma estrutura narrativa demasiado complexa, feita de avanços e recuos no tempo, para ser considerado um livro para adolescentes... e muito menos para crianças. Na minha opinião, é um livro para adultos e não "para todas as idades", como se pretende na capa. Mas isto, claro, é só a gente a falar.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

PARABÉNS, DAVID E PAULO


Já dei os parabéns ao David Machado pelo prémio de Autor de Melhor Livro de Literatura Infanto-Juvenil atribuído pela SPA. Se não gostasse do livro não tinha assinado por baixo daquela rodela picotada azul no canto superior direito (com uma frase subtraída da crítica que saiu na LER de Outubro de 2009). E também gostei muito do que ele disse sobre essa ideia de a literatura para crianças "ficar em casa com a baby-sitter", quando se trata destes prémios, e mais ainda do gesto de ele ter chamado o ilustrador Paulo Galindro ao palco – porque um livro deste género tem sempre dois autores, é claro. Um dia talvez os senhores dos regulamentos percebam isso. Last but not least, fartei-me de rir com o "Oooh" decepcionado da Catarina Furtado, quando perguntou a ambos se eram pais e o David respondeu que sim, mas que o livro tinha sido escrito antes de o bebé nascer. "Então espero que ao menos tenha inspirado!". Mutatis mutandis, gostava de saber se a apresentadora perguntaria a um escritor de policiais se alguma vez matou alguém. Ou se pensa matar, só para ficar mais inspirado. Que grande confusão vai na cabeça de certas pessoas.

PEQUENOS CIENTISTAS



A última edição da LER é dedicada (e muito bem) à ciência. Não, não há nenhum artigo sobre livros para crianças nesta matéria, o que é pena. Mas a Casa da Leitura publicou um artigo intitulado "Ciência e Literatura para a Infância: leituras em diálogo", com uma lista de sugestões de títulos que pode ser consultada aqui.

TRÊS BICHOS


Lagartixa

Sacerdotisa da seita de sangue frio.
Adora o sol.

Bacalhau

Nunca percebi por que razão
há cento e uma maneiras
de trair um fiel amigo.

Camelo

Dunas ambulantes
com muita água dentro.
Este animal é uma miragem.

(O noitibó, a gralha e outros bichos, de Francisco Duarte Mangas, ilustrações de José Feitor, Caminho)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A QUEDA DE CHARLOTTE USHER


Ghostgirl – a rapariga invisível
Tonya Hurley
Ilustrações de Craig Phillips
Tradução de Rosa Amorim
Contraponto

Esta é a incrível história de Charlotte Usher, brilhante aluna do Liceu Hawthorne, que morre sufocada ao engolir um urso de goma e passa para o outro mundo. Aí conhece uma turma de miúdos zombies, tão (literalmente) desintegrados como ela: Kim Liga-me, que desfez o cérebro por excesso de exposição ao telemóvel; CoCo, vítima da moda e quase anoréctica; ou DJ, um obcecado por música que se recusou a passar bandas populares na festa de um gangue. Com eles, vive uma existência paralela numa mansão assombrada, antecâmara da eternidade que todos desejam. Mas Charlotte Usher não se conforma com o destino e faz tudo para voltar atrás. Fenómeno recente nos EUA, onde entrou para a lista de best-sellers do New York Times, Ghostgirl é um romance juvenil revelador da imaginação de Tonya Hurley, um nome ligado aos circuitos do cinema independente. Aqui se cruzam o humor negro à la Tim Burton (há alturas em que só nos lembramos de Beetlejuice), a filosofia da auto-ajuda, os conselhos da revista Teen Vogue, citações de Emily Dickinson ou Ian Curtis, e o elenco das bandas góticas/alternativas que começaram nos anos 1980. É fácil rendermo-nos à mistura, mas por baixo da embalagem bem composta – é um livro que também se devora com os olhos – há aqui uma moral ubíqua que nos deixa algo incomodados, sobretudo no twist final.

(Texto publicado na LER nº 88)

UMA SENHORA DA LITERATURA


Parabéns a Luísa Dacosta, recém-contemplada com o Prémio Vergílio Ferreira. E com um novo livro publicado na colecção da Asa, belissimamente ilustrado por Cristina Valadas. Ver mais aqui.

ANITA REJEITA O BOTOX



Como fã habitual do Teatro Praga e vítima da Anita quando era pequena, pressinto que gostaria de ver este espectáculo no Maria Matos, em cena no próximo fim-de-semana. Reza assim: "Anita ama a montanha, o mar, a natureza e também gosta de brincar às bonecas. Anita é sociável, fiel companheira, dinâmica, jovial, amorosa. Anita é mesmo perfeita. Anita nasceu em 1954 mas será sempre jovem e bonita e nunca precisa de botox nem de prozac, nem de apoio moral. Anita tem sempre lingerie de bom gosto comprada na petit bateau. E brinquedos muito caros."

(As imagens pertencem a uma colecção politicamente incorrecta que de vez em quando circula por e-mail. Quem viu, sabe que estas são das capas mais soft. Para não ferir espíritos sensíveis como a minha mãe, que também lê este blog.)

O TEMPO NÃO ESTÁ BOM PARA A JARDINAGEM

Excesso de trabalho e uma mudança de casa iminente são a causa da instabilidade do Jardim Assombrado nos últimos dias. Que os leitores me desculpem, mas faz-se o que se pode.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

WILD THING


"Se já viram o filme, hão-de reparar que a história se aproxima muito do filme em certos pontos, e se afasta dele noutros. Quando me sentei para escrever este livro, pensei inicialmente que iria mais ou menos fazer uma transcrição do filme. Mas pelo caminho, enquanto me perdia, tal como Max, no matagal do enredo, descobri outros caminhos dentro e fora da ilha, e em geral acrescentei as minhas próprias interpretações da história de Max. O Max do livro infantil é, afinal, uma versão de Maurice, e o Max do filme é uma versão do Spike. O Max deste livro é portanto uma qualquer combinação de Max de Maurice [Sendak], do Max de Spike [Jonze] e do Max da minha infância." (Dave Eggers, O Sítio das Coisas Selvagens, Quetzal, p. 280)

PS – depois de ver o filme, ler o livro é quase sempre redundante. É melhor começar pelo segundo.