segunda-feira, 27 de abril de 2015

IRMÃO LOBO EM AVEIRO


Para a semana, a convite do Departamento de Línguas e Cultura da Universidade de Aveiro, vou falar sobre a concepção e escrita do Irmão Lobo (Planeta Tangerina), livro que está desde o ano passado em estudo nas aulas de Literatura para a Infância e Juventude, conduzidas pela professora e investigadora Ana Margarida Ramos. Não será uma conferência, mas uma espécie de «oficina de escrita pessoal» em que tentarei explicar o percurso sinuoso que vai desde a miragem de uma história até ao ansiado dia do imprimatur. Vou abrir o armário e mostrar alguns esqueletos, que é como quem diz: imagens, fotografias, rascunhos, pontas soltas. Há sempre uma grande curiosidade pela ilustração e, neste caso, falarei também do que distinguiu o processo de trabalho com o António Jorge Gonçalves. «A melhor maneira de dizer é mostrar», como alguém afirmou. Por estas aulas já passaram obras de Richard Zimler (Ilha Teresa), Afonso Cruz (Os Livros que Devoraram o meu Pai), Ana Saldanha (Para Maiores de Dezasseis) e Alice Vieira (Os Olhos de Ana Marta), entre outros títulos; e a partir daqui creio que não é preciso dizer mais nada. A não ser isto: a aula é aberta a todos os alunos e a quem quiser assistir, e realiza-se no dia 7 de Maio, às 14h30. Uma quinta-feira, na boa tradição dos lobisomens.

domingo, 26 de abril de 2015

O COMEÇO DE UM LIVRO É PRECIOSO, 4


«Se realmente estão interessados nisto, a primeira coisa que desejarão saber é o local onde nasci, o modo como passei a minha estúpida infância, a ocupação dos meus pais, o que faziam antes de eu nascer, e tudo o mais, como se se tratasse de David Copperfield. Mas eu não estou com disposição para isso, se, de facto, querem que vos conte a verdade.»

J.D. Salinger, Uma Agulha no Palheiro, Livros do Brasil, sem data, tradução de João Palma-Ferreira. Originalmente publicado em 1951.

sábado, 25 de abril de 2015

O COMEÇO DE UM LIVRO É PRECIOSO, 3


«Sempre imaginei que a história da minha vida, se e quando a escrevesse, teria uma primeira frase grandiosa: uma coisa lírica como "Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade", de Nabokov; ou, caso eu não tivesse queda para o lírico, então uma coisa epopeica como "Todas as famílias felizes são iguais, mas as famílias infelizes são-no cada uma à sua maneira", de Tolstoi. São palavras que as pessoas não esquecem, mesmo que já não se lembrem do resto dos livros. No que diz respeito a primeiras frases, porém, a melhor, na minha opinião, é sem dúvida a que inicia O Bom Soldado de Ford Madox Ford: "Esta é a história mais triste que alguma vez ouvi." Já a li dezenas de vezes e continua a deixar-me de rastos. Ford Madox Ford era dos Grandes.»

Sam Savage, Firmin, Planeta, 2009, tradução de Sofia Gomes. Originalmente publicado em 2006.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

MAURICE SENDAK: O QUE ESTÁ LÁ FORA


Era só para avisar o clube de fãs de Maurice Sendak que chegou ontem às instalações da Kalandraka mais um título deste maldito, maravilhoso, complexo, irritante, genial, rompe-cabeças, inimitável escritor e ilustrador. Pronto. Ainda não o tenho em mãos (já tremo...), mas aqui fica, em primeira mão, a capa de O Que Está Lá Fora (Outside Over There), sobre cuja génese e efeitos secundários falei neste post. Sem dúvida, foi um dos livros mais difíceis de traduzir de toda esta saga, mas também um dos mais estimulantes. E não, a saga ainda não chegou ao fim.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

NAMORA UMA RAPARIGA QUE LÊ


Este é, sem dúvida, um dos posts mais namorados do Jardim Assombrado. O texto, originalmente em inglês, é atribuído a Rosemarie Urquico, escritora filipina de quem pouco se sabe. Deu origem a muitas reproduções e algumas réplicas curiosas, incluindo a versão oposta masculina, sarcástica, despudorada e também convincente: «Namora Uma Rapariga que Não Lê» (You Should Date an Illiterate Girl, por Charles Warnke). Porque todos os dias são dias do livro e todos os dias são bons para namorar, recupero o post, ligeiramente revisto mas não aumentado:


«Namora uma rapariga que lê. Namora uma rapariga que gaste o dinheiro em livros em vez de roupas. Ela tem problemas de arrumação porque tem demasiados livros. Namora uma rapariga que tenha uma lista de livros que quer ler, que tenha um cartão da biblioteca desde os doze anos.

Encontra uma rapariga que lê. Vais saber que é ela, porque anda sempre com um livro por ler na mala. É aquela que percorre amorosamente as estantes da livraria, aquela que dá um grito imperceptível ao encontrar o livro que procurava. Vês aquela miúda com ar estranho, cheirando as páginas de um livro velho, numa loja de livros em segunda mão? É a leitora. Nunca resistem a cheirar as páginas, especialmente quando ficam amarelas e usadas.

Ela é a rapariga que lê enquanto espera no café ao fundo da rua. Se espreitares para a chávena, verás a espuma a pairar à superfície, porque também ela está enlevada. Perdida num mundo feito pelo autor. Senta-te. Ela pode ver-te de relance, porque a maior parte das raparigas que lêem não gostam de ser interrompidas. Pergunta-lhe se está a gostar do livro.

Oferece-lhe outra chávena de café.

Diz-lhe o que realmente pensas do Murakami. Descobre se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade do Anel. Entende que, se ela disser ter percebido o Ulisses de James Joyce, é só para soar inteligente. Pergunta-lhe se gosta da Alice ou se gostaria de ser a Alice.

É fácil namorar com uma rapariga que lê. Oferece-lhe livros no dia de anos, no Natal, em datas de aniversários. Oferece-lhe palavras como presente, em poemas, em canções. Oferece-lhe Neruda, Pound, Sexton, cummings. Deixa-a saber que tu percebes que as palavras são amor. Percebe que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade – mas, caramba, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco com o seu livro favorito. Se ela conseguir, a culpa não será tua.

Ela tem de arriscar, de alguma maneira.

Mente-lhe. Se ela compreender a sintaxe, vai perceber a tua necessidade de mentir. Atrás das palavras existem outras coisas: motivação, valor, subtileza, diálogo. Nunca será o fim do mundo.

Desilude-a. Porque uma rapariga que lê compreende que falhar conduz sempre ao clímax. Porque essas raparigas sabem que todas as coisas chegam ao fim. Que podes sempre escrever uma sequela. Que podes começar outra vez e outra vez e continuar a ser o herói. Que na vida é suposto existir um vilão ou dois.

Porquê assustares-te com tudo o que não és? As raparigas que lêem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem. Excepto na saga Crepúsculo.

Se encontrares uma rapariga que lê, mantém-na perto de ti. Quando a vires acordada às duas da manhã, a chorar e a apertar um livro contra o peito, faz-lhe uma chávena de chá e abraça-a. Podes perdê-la por um par de horas, mas ela volta para ti. Falará como se as personagens do livro fossem reais, porque são mesmo, durante algum tempo.

Vais declarar-te num balão de ar quente. Ou durante um concerto de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Pelo Skype.

Vais sorrir tanto que te perguntarás por que é que o teu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Juntos, vão escrever a história das vossas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos ainda mais estranhos. Ela vai apresentar os vossos filhos ao Gato do Chapéu e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos da vossa velhice e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto tu sacodes a neve das tuas botas.

Namora uma rapariga que lê, porque tu mereces. Mereces uma rapariga que te pode dar a vida mais colorida que consegues imaginar. Se só lhe podes oferecer monotonia, horas requentadas e propostas mal cozinhadas, estás melhor sozinho. Mas se queres o mundo e os mundos que estão para além do mundo, então, namora uma rapariga que lê.

Ou, melhor ainda, namora uma rapariga que escreve.»

quarta-feira, 22 de abril de 2015

FORMAÇÕES, 2


Disse Italo Calvino que a única razão por que valia a pena estudar os contos de fadas se devia ao facto de estes serem «verdadeiros», na sua recriação simbólica das etapas fundamentais da construção do indivíduo. Em Sobre o Conto de Fadas (ed. Teorema), resumiu:

«Vistos todos juntos, na sua repetida e sempre variada casuística de acontecimentos humanos, são uma explicação geral da vida, nascida em tempos remotos e conservada até nós no lento ruminar das consciências camponesas; são o catálogo dos destinos que se podem dar a um homem e uma mulher, sobretudo para a parte da vida que é justamente o fazer um destino (...).»

Vem isto a propósito de uma formação intensiva sobre «contoterapia» (ou, se preferirem o original, «storytelling therapy» e «fairy-tale therapy») que decorreu recentemente em Sintra, por iniciativa de Adriana Jurczyck (Moonluza) e com o apoio de várias entidades, entre as quais o IELT - Instituto de Estudos de Literatura Tradicional da Universidade Nova de Lisboa. Foram quatro dias de grande aprendizagem para um grupo de cerca de 50 pessoas - entre estudiosos e público participante -, algumas vindas da Dinamarca, Canadá, Holanda e Israel.

A primeira comunicação pertenceu a Ana Rodrigues, investigadora do IELT, e teve como tema o poder terapêutico da narração de Sharazad e das Mil e Uma Noites (saber mais aqui). Um excelente começo para o núcleo de comunicações e workshops que se seguiriam, pontuadas por uma sessão espontânea de storytelling e um jantar num cenário de conto de fadas, o Palácio de Seteais. No conjunto, o trabalho produzido foi muito consistente e profundo, apenas com uma excepção à regra: uma criatura vinda dos Estados Unidos que se apresentou com um não-workshop esquizofrénico, provocando a perplexidade geral e testando a boa educação dos presentes. A bit of a joke, really...

O poder terapêutico e performativo da palavra, a sua capacidade implícita de deslocar o leitor/ouvinte de um lugar interior para outro lugar (sempre no sentido ascendente, como bem notou Bruno Bettelheim), depende muito da autenticidade e da adesão simbólica desse mesmo leitor/ouvinte no momento e nas circunstâncias artificialmente recriadas em que a palavra do conto é retomada. Os dois workshops realizados por Gerdi Tuender (Holanda) e Shai Karta Schwartz (Israel), onde se recontaram, respectivamente, as histórias de A Princesa e a Ervilha (Andersen) e O Príncipe Sapo (Irmãos Grimm) foram, creio bem, momentos inesquecíveis para todo o grupo.

Fica o fundamental: dado o sucesso deste primeiro seminário, está já em preparação uma segunda edição para 2016, novamente com a belíssima serra de Sintra como cenário. Até lá, podem ver na página da Moonluza um resumo e as fotografias do evento. Aqui.

terça-feira, 21 de abril de 2015

LIVROS MUITÍSSIMO DESEJÁVEIS


«As suas escolhas são singulares, refrescantes e nada sentimentais.» É assim que o The Guardian descreve a selecção de Martin Salisbury, professor de ilustração em Cambridge e autor do livro 100 Great Children's Picture Books, uma viagem pelos cem melhores álbuns publicados entre 1910 e 2014, e não só no Reino Unido. Se o anterior Illustrating Children's Books se ocupava sobretudo das questões técnicas e conceptuais que presidem à criação do picture book, um género que parece fácil até ao momento em que se percebe a imprevisível tensão criativa entre as imagens e as palavras, 100 Great Children's Picture Books, fresquíssimo, apresenta-nos a uma escolha assumidamente «subjectiva». No mesmo artigo, diz-se que «a selecção é uma revelação. Liga-nos a infâncias que nunca tivemos na Rússia, Itália, Espanha, França e Bélgica». Não nos devia surpreender a inclusão de Praia Mar, de Bernardo Carvalho (Planeta Tangerina), vinda de quem frequenta a Feira do Livro Infantil de Bolonha e sabe distinguir o trigo do joio. Martin Salisbury não dá para o peditório das fadas e dos escaparates cor-de-rosa e, noblesse oblige, adopta o olhar estético que observa o livro para crianças como «uma porta para as artes visuais». Daí, nota, a sua procura crescente como item de coleccionador. Indeed.

Para ver uma amostra desta selecção, com boa qualidade de reprodução e possibilidade de aumentar as imagens, é só clicar aqui.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

ACONTECE ÀS MELHORES FAMÍLIAS


Aviso à navegação: o lançamento no Porto do Amores de Família, meu novo livro e da Marta Monteiro, que estava marcado para dia 26 de Abril, no Mercado do Bom Sucesso, teve de ser adiado por razões futebolísticas de última hora. Com um jogo decisivo Benfica-Porto, à mesma hora, duvido mesmo de que a minha própria família aparecesse para fazer claque. Pronto. É assim a vida. Quando houver nova data e local avisarei pelos meios habituais. Obrigada a todos os que já tinham confirmado a sua presença. Viva o Leixões!

FORMAÇÕES, 1


Felizmente, o que investimos em nós próprios não depende do PSI-20 nem do índice Dow Jones, ou seríamos todos essencialmente pobres. Mesmo em tempos de vacas magras, nunca deixei de comprar jornais nem de inscrever-me em formações; raramente dei o meu tempo por perdido. Com tantos acontecimentos em mãos, distraí-me com as datas das próximas formações da Ana Mourato, especialista em literacia na infância e psicologia do desenvolvimento, cujo projecto Ouvir Falar das Letras tem sido amplamente reconhecido. Psicóloga educacional, a sua formação profissional e universitária, aliada a um saber estar raro e muito humano, fazem dela uma pessoa com quem é um gosto aprender. Dia 9 de Maio, em Moscavide, das 10h00 às 13h00, realizar-se-á o workshop «O livro no Pré-Escolar (3-5 anos), e as inscrições podem ser feitas pelo email ouvir.pensar@gmail.com.

O blogue Letra Pequena, de Rita Pimenta, fez um apanhado muito útil das formações na área da Literatura Infanto-Juvenil que ocorrem entre Abril e Junho. Vejam aqui.

domingo, 19 de abril de 2015

O COMEÇO DE UM LIVRO É PRECIOSO, 2


«Encontrei a minha Tia Augusta, pela primeira vez em mais de meio século, no funeral da minha mãe. A minha mãe estava à beira dos oitenta e seis quando morreu e a minha tia era uns onze ou doze anos mais nova. Eu tinha-me reformado do banco dois anos antes com uma pensão adequada e uma salva de prata. O banco fora absorvido pelo Westminster e o meu serviço passara a ser redundante. Todos me consideraram um felizardo, mas eu achei difícil ocupar o meu tempo. Nunca me casei, sempre vivi sossegadamente e, além do meu interesse pelas dálias, não tenho mais nenhuma mania.»

Graham Greene, Viagens com a Minha Tia, Livraria Bertrand, 1977, tradução de João Belchior Viegas. Originalmente publicado em 1969.

sábado, 18 de abril de 2015

O COMEÇO DE UM LIVRO É PRECIOSO, 1


«Aconteceu naquele Verão verde e absurdo quando Frankie tinha doze anos. Este foi o Verão em que, há muito, ela não era sócia de nada. Não pertencia a nenhum clube, não era sócia de nada no mundo. Frankie tornara-se uma pessoa que rondava pelas portas, e tinha medo. Em junho as árvores eram de um verde vivo estonteante mas, mais tarde, as folhas escureceram e a cidade tornou-se negra e encolhida sob o brilho ofuscante do sol.»

Carson McCullers, Frankie e o Casamento, Edições Cotovia, 1995, tradução de Daniel Gonçalves. Originalmente publicado em 1946.

(Com as devidas reverências a Maria Gabriela Llansol, por um desses títulos que irradiam pelos poros do animal-leitor.)

sexta-feira, 17 de abril de 2015

ALICE E CATARINA


Hoje, o Ensaio Geral, um programa da jornalista Maria João Costa (Rádio Renascença) realizado em parceria com a Livraria Ferin e a Booktailors, vai ter como convidadas Alice Vieira e Catarina Sobral. Duas autoras, duas gerações, duas vozes originais (e amplamente premiadas) que prometem uma conversa estimulante sobre o que é isso de escrever e ilustrar belos livros para leitores mais novos. Ou, simplesmente, para leitores de bom gosto. Apareçam a partir das 18h45 na Livraria Ferin (Rua Nova do Almada, 70-74), em Lisboa.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

BORBOLETA NO JARDIM


Que uma alemã de 21 anos se faça passar por jornalista e se infiltre numa reunião do Banco Central Europeu, espalhando confettis e gritos de rebeldia por cima dos «donos disto tudo», é de uma coragem e de uma graça extraordinárias. Pouco importam as vozes cínicas que vão comentar a ingenuidade da carta ou a tanguinha insolente da miúda. Gestos simbólicos como o de Josephine Witt contêm um potencial tremendo de consciencialização colectiva (como o punho levantado dos atletas negros nos Jogos Olímpicos de 1968, como a recusa de Rosa Parks em ceder o lugar no autocarro a um branco, como tantos outros que não ficaram para a História) e nunca ninguém pode prever as suas repercussões. Josephine Witt, ex-membro do movimento feminista FEMEN e «activista freelancer», como agora se define, fez-me lembrar uma outra Josephine, Freda Josephine McDonald, mais conhecida como Josephine Baker, que além de cantar e dançar com a graça própria de quem estava bem na sua pele, também fez parte da Resistência francesa e lutou pelos direitos de cidadania. Oxalá houvesse mais Josephines com fibra semelhante. O mundo, tal como o conhecemos (podre, violento e corrupto), está por um fio. Ou melhor, por uma tanguinha.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

FALAR DOS LIVROS NO CCB


Começa hoje, no Centro Cultural de Belém, o fórum “O Lugar da Cultura – Modelos e Desafios”, prolongando-se até sexta-feira, 17 de Abril. Nesse dia, há duas conferências relacionadas com a promoção do livro e da leitura, nas quais se destaca o papel da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas. 

A primeira começa às 10h00, na Sala Fernando Pessoa, e intitula-se «A internacionalização da literatura e da ilustração portuguesas». Participam Dulce Maria Cardoso (escritora), Harrie Lemmens (tradutor de português para neerlandês), Federico Bertolazzi (professor da Universidade de Roma Tor Vergata e tradutor de português para italiano), Isabel Minhós Martins (editora da Planeta Tangerina), António Jorge Gonçalves (ilustrador), Fernando Pinto do Amaral (escritor e comissário do Plano Nacional de Leitura), José Manuel Cortês (Diretor-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas). Às 11h30, serão entregues o Prémio Nacional de Ilustração (António Jorge Gonçalves) e as duas Menções Especiais (João Fazenda e Yara Kono) referentes a 2014. Já durante a tarde, às 14h30, a segunda conferência debaterá a «Política dos Livros e das Bibliotecas». 

As conferências são gratuitas, mas de inscrição obrigatória, e podem ser feitas aqui.

terça-feira, 14 de abril de 2015

LIVROS DE MÃO EM MÃO


Há títulos que se desdobram em tantos sentidos que se tornam matéria viva e fervente, irradiando entre a capa e a contracapa. O Leitor Escreve Para que Seja Possível, livro que reune os textos de Manuel Gusmão e Eduardo Prado Coelho com as fotografias de Duarte Belo, faz parte dessas obras que perturbam ao primeiro olhar, à primeira leitura. Perdoem-me a ousadia, mas não encontrei outra forma de transmitir, por palavras semelhantes, a minha ideia de «mediação leitora», tema do segundo Encontro de Literatura para a Infância e Juventude, organizado pela Escola Superior de Educação de Lisboa e marcado para o dia 23 de Maio, na ESE. Onde se pretende reflectir sobre «os diferentes modos de dar a conhecer a literatura infantil aos mais novos» e dar a palavra a quem continua, de muitas formas, «a tradição ancestral de contar e partilhar histórias.» Cristina Taquelim, António Fontinha e Álvaro Magalhães são alguns dos nomes presentes; para ler melhor o programa acima é só clicar aqui. As inscrições para o público em geral custam apenas 10 euros e podem ser feitas aqui, até 20 de Maio. Até lá, permitamos que tudo seja possível:

«Que significa ler? Etimologicamente, aquele que lê é aquele que escolhe, que vai colher na árvore dos textos os frutos escolhidos: ler é eleger, escolher as palavras que emergem do fio do discurso, dar-lhes o brilho e a cor que lhes convêm, e por isso todo o leitor é um eleitor, e não há leitura sem uma política de leitura, e não há verdadeira leitura sem uma democracia da leitura.»

(in O Leitor Escreve Para que Seja Possível, de Manuel Gusmão, Eduardo Prado Coelho e Duarte Belo, Assírio & Alvim, 2001)

sábado, 11 de abril de 2015

EU TAMBÉM ACREDITO


Há encontros felizes. Há encontros que dão certo. Há encontros nos fazem acreditar no poder das boas ideias. Eu Acredito, de David Machado (texto) e Alex Gozblau (ilustrações) é um deles. Com edição da Alfaguara, o lançamento acontece hoje, na Casa Independente, em Lisboa, às 16h00. Se quiserem ver melhor, espreitem no Deus me Livro as imagens que o Pedro Miguel Silva «postou», a par da crítica.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

ESTE GALO JÁ CÁ CANTA


Em equipa que ganha não se mexe. O projecto «Galo Gordo», de Inês Pupo e Gonçalo Pratas, chega amanhã às livrarias com um novo livro/CD. São dez novas canções para aprender, de preferência em coro (mas também se admitem cantores de banheira...), em sintonia com as ilustrações de Cristina Sampaio. O Mundo é Redondo vem juntar-se aos dois livros anteriores: Poemas e Canções para Todo o Ano (2009), também agora reeditado pela Porto Editora, e Este Dia Vale a Pena (2012), vencedor do livro SPA/RTP para Melhor Livro Infantojuvenil.

terça-feira, 7 de abril de 2015

QUE ESTREASTES NA PÁSCOA?


Nini era a minha Anita. Traços finos, guarda-roupa de princesa, uma casa cor-de-rosa com jardim algures em Friestas ou Troporiz, protegida por persianas douradas e fenêtres de inspiração emigrante. Nini, de seu verdadeiro nome Maria Augusta, ocupava o topo da pirâmide social na nossa turma de miúdos pobres e remediados, numa posição inversamente proporcional à da Lurdinhas, que chegava à escola com as roupas sujas e rotas, as mãos feitas numa chaga pelas frieiras invernais. Era linda, a Lurdinhas, louríssima e sardenta, de olhos verdes, uma minhota típica, descendente dos genes celtas de antanho. Era linda, mas por baixo do ranho e da porcaria não dava para perceber grande coisa. Nini, pelo contrário, sempre impecável, todos lhe queriam dar a mão nos jogos de roda. Um dia, perguntou-me, «o que estreastes na Páscoa?», e eu, que nem um boi a olhar para um palácio, não soube o que lhe responder. Não sabia do que ela falava. Em minha casa estreava-se roupa no Natal e no dia dos anos, lá vinha uma camisola interior que picava quando fazia falta, um par de meias, um casaco, nada que justificasse tamanha solenidade: «O que estreastes na Páscoa?». Nunca me esqueci da pergunta da Nini nem do meu silêncio envergonhado.

Nini, onde quer que estejas, fica a saber que esta Páscoa estreei uma écharpe de pirata, um jardim de crisântemos, uma rosa do deserto, um baloiço na cerejeira, um túnel secreto, uma lua cheia, um punhado de dólares, um duelo em OK Corral, sete sultões do swing, um verão passado, algumas coisas selvagens, um coração quase novo, um relógio avariado, um teclado AZERT, um boulevard de Eugène Atget, vinte colchões e uma ervilha, um gato azul e outros de cor incerta, e assim de repente é do que me lembro. Tua amiga, C.

sábado, 4 de abril de 2015

O OURO DO DIA


O desejo de luz produz luz.
É realmente a luz que se deseja
quando qualquer outro móbil está ausente.
Embora os esforços de atenção
fossem durante anos aparentemente estéreis,
um dia, uma luz exatamente proporcional
a esses esforços
inundará a alma.
Cada esforço acrescentará um pouco mais de ouro
a um tesouro que nada no mundo poderá roubar.

Simone Weil, pensadora e activista política francesa (1909-1943)

quinta-feira, 2 de abril de 2015

AOS AMORES


Foi mais ou menos há um ano. Tinha voltado a um dos meus livros de cabeceira, As Deusas em Cada Mulher, de Jean Shinoda Bolen, um clássico da psicologia junguiana, quando a ideia surgiu com aquela inquietação feliz que logo se transmite à circulação sanguínea e levanta uma revoada de imagens e palavras à nossa volta. Gosto quando as ideias se fazem acompanhar de alegria, é bom presságio. Então, seria mais ou menos assim: fazer um livro (um álbum ou picture book) sobre famílias de todo o mundo, das tradicionais às recompostas, das monoparentais às adoptivas, sem excluir famílias com pais do mesmo sexo, e tudo isto à luz dos arquétipos mitológicos greco-latinos. Não é propriamente uma novidade, no que ao tema familiar diz respeito; e, contudo, não se parece com nenhum outro livro que tenha escrito antes. Interessa-me correr riscos, provocar desvios, cruzar linguagens. Amores de Família é literário e jornalístico ao mesmo tempo, com a ilustradora Marta Monteiro e eu feitas globe-trotters, num périplo que não se esgota naquelas 32 páginas. Poderá haver um Amores de Família II e um Amores de Família III, tantas são as formas possíveis de nos sentirmos em casa: amados, compreendidos e respeitados pelo que somos. Ao longo das últimas semanas, fui falando do livro aqui no Jardim Assombrado. Faltava mostrar a capa. A edição é da Caminho. E já falta pouco para chegar às livrarias. 

DIA INTERNACIONAL DO LIVRO INFANTIL


Comemora-se hoje, dia 2 de Abril, homenageando o nascimento de Hans Christian Andersen em Odense, Dinamarca, em 1805. A ideia partiu do IBBY (International Board on Books for Young People) e remonta a 1967. Desde então, o livro infantil passou por muitas mudanças, sem nunca perder um dos seus traços genéticos: ser portador de linguagens cruzadas que mobilizam a vida interior das crianças e aprofundam a sua relação com o mundo, ajudando a explicá-lo, questioná-lo ou, simplesmente, a usufruí-lo e imaginá-lo. É o que parecem dizer estes dois cartazes: o primeiro, do «nosso» António Jorge Gonçalves, vencedor do Prémio Nacional de Ilustração 2014, a convite da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas; e o segundo, cuja autoria não consegui identificar, do próprio IBBY. Hoje estaremos atentos à passagem de unicórnios e borboletas pelos locais menos habituais.