terça-feira, 30 de setembro de 2014

O QUE TEM UM BOM LIVRO PARA CRIANÇAS?


- Tem uma boa ideia e um conceito global forte.
- Tem uma linguagem verbal cuidada, estimulante e adequada ao destinatário infantil, abrindo para o literário, com possibilidades plurisignificativas, múltiplas, com um carácter aberto.
- Tem ritmo e musicalidade na leitura em voz alta.
- Tem ilustrações criativas e adequadas ao texto, acrescentando-lhe significado. Põe cuidado no design gráfico, formato e edição.
- Tem valores humanistas e intemporais. Está em sintonia com o seu tempo. É progressista, muitas vezes.
- Tem uma marca autoral forte.
- Tem emoções associadas à infância e significativas para a criança (humor, gozo, fantasia, devaneio, justiça, segurança…).
- Tem pensamento. Questiona. Permite reflectir.


(Esta é uma síntese a que cheguei - discutível, certamente - e que costumo transmitir nas minhas formações, sabendo de antemão que os livros «perfeitos» são aqueles que cada leitor escolhe. Fica a partilha, a pedido de várias famílias.)

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

CURSO DE LIVRO INFANTIL BOOKTAILORS


Convidados especiais do meu próximo Curso de Livro Infantil para a Booktailors, a começar no dia 13 de Outubro. Informações e inscrições aqui.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

QUEM ROUBOU O TOY?


Na capa da edição actual, põe-se a questão de saber qual dos cães é o Ziguezague. Lembremos que o Toy é um puro e genuíno golden retriever.

(Correcção: não percebo nada de cães, mas tendo por guia o texto em inglês (Hodder, 2006), trata-se antes de um golden spaniel.)

terça-feira, 23 de setembro de 2014

THE KIDS ARE ALRIGHT: PIERRE



Versão cantada de Carole King para Pierre, um dos quatro títulos da adorável Nutshell Library, de Maurice Sendak, também já traduzida e a publicar pela Kalandraka em 2015. Um bocado chatota, digo eu (a música, não a colecção), tendo em conta que Pierre é um verdadeiro punk. Mais posts da série The Kids Are Alright: Alice, The Sisters of Mercy; Alice, Jefferson Airplane; The House That Jack Built, Metallica.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

CONTA-ME FÁBULAS


Assinado por Catarina Araújo, Fábulas começou por ser um blogue, mas «rebaptizou-se» recentemente como «revista online de literatura infantil e juvenil», com mais arrumação e mais conteúdos. A designação não é assim tão importante, porque o essencial está lá. Nas categorias «Infantil», «Juvenil» ou «Jovem Adulto», Fábulas continua a sugerir boas pistas de leitura e divulgação do mercado editorial português e estrangeiro. Também no Facebook, com título homónimo.

domingo, 21 de setembro de 2014

DON'T LOOK BACK IN ANGER





Dois filmaços que vi este fim-de-semana: Gimme Shelter e Joe. Etiquetas: adolescentes, violência, famílias disfuncionais, amor, lealdade, traição, trabalho duro, cobras, bons polícias & maus polícias, cães perigosos, cidades, drogas, causas perdidas, árvores, esperança, sobrevivência, náufragos, porte de armas, cicatrizes, maternidade, gótico americano e por aí fora.

MAIS UM SENDAK


Terminada hoje mais uma tradução de Maurice Sendak para a Kalandraka (e, para variar, nada fácil). Publicado em 2011, Bumble-Ardy pôs fim ao seu interregno de dez anos como autor do texto e das ilustrações, o que é apenas uma demonstração do tempo não-linear da escrita e da arte em geral. Nesta entrevista à Paris Review, aos 83 anos, Sendak fala da incerteza do amor familiar e da propensão humana para o caos, temas que tratou também em livros como Where the Wild Things Are e Outside Over There. Como seria de esperar, Bumble-Ardy não é um livro amável nem superficial. Pode incomodar quem não tiver sentido de humor, por exemplo. E isso para dizer o mínimo.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

PALAVRA DE INÊS


É uma estreia na literatura para crianças, vinda de quem nunca escondeu grande sensibilidade e conhecimento de causa. Inês Fonseca Santos, jornalista cultural e um dos rostos do saudoso Diário Câmara Clara, desenvolveu uma tese de mestrado sobre a poesia de Manuel António Pina, que não anda longe deste livro (e mais não dizemos porque não o lemos, ainda). Com edição da Arranha-Céus, uma chancela da editora Abysmo, A Palavra Perdida tem ilustrações de Marta Madureira, das edições Tcharan. Para quem está no Porto, será mais fácil assistir ao lançamento já no próximo sábado, 20 de Setembro, às 17h00, na livraria Papa-Livros, onde também vão estar expostas as ilustrações. Em Lisboa, haverá uma segunda oportunidade para encontrar A Palavra Perdida no dia 18 de Outubro, em local a anunciar. Estejam atentos.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

BIBLIOTECAS PARA SEMPRE


«Pode a resposta estar na biblioteca?» É uma boa pergunta. É também a designação da comunicação de José Pacheco Pereira, o primeiro interveniente no debate que inaugura o seminário «Nós nas Bibliotecas», dias 3 e 4 de Outubro, em Torres Novas. Numa época em que o essencial passa a supérfluo muito rapidamente, como convém a uma minoria, temos de lembrar que o papel das bibliotecas públicas é insubstituível. E quanto trabalho já feito se está a perder por «falta de meios»...

Na tarde do segundo dia haverá oficinas de três horas; também lá estarei, para mostrar e falar de álbuns (prefiro a designação picture book, perdoem-me), o único contributo realmente original do livro infantil para o sistema literário, segundo um dos meus gurus, Peter Hunt. O programa completo pode ser consultado no site da Biblioteca Municipal Gustavo Pinto Lopes, aqui.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

PORTO ANTIGO E RAPIOQUEIRO


Raquel Patriarca (n. Benguela, 1974), bibliotecária, historiadora e contadora de histórias, apresentou o ano passado uma tese de doutoramento na área do livro infantojuvenil que, noutros tempos, seria rapidamente editada. É muito interessante e bem escrita, garanto. Valha-nos a possibilidade de a consultar em formato pdf nos arquivos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, mediante uma pesquisa no Google. Procurem pelo título: O Livro Infantojuvenil em Portugal entre 1870 e 1940 - uma Perspectiva Histórica. Agora, para os leitores mais novos e não só, Raquel Patriarca publicou uma história do Porto, «cidade antiga e orgulhosa, sábia e rapioqueira». Enquadra-se claramente no género «livro informativo», mas é contada sob um olhar muito pessoal e subtilmente literário. Além dos factos e da inclusão de um glossário final, há histórias de vida (o almocreve, o clérigo, a menina que vivia em Campanhã...) e textos que remetem para os géneros lírico e jornalístico. Como o livro se apresenta, logo no início, como «uma proposta de aventura pela cidade do Porto», há também uma espécie de guião de leitura com a remissão dos temas para as respectivas páginas. Era Uma Vez o Porto tem edição da Verso da História.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

ILUSTRAÇÃO NA FEIRA DO LIVRO DO PORTO


A Feira do Livro do Porto começou na sexta e vai durar até 21 de Setembro. Vou estar lá no sábado, dia 13 (ver aqui a notícia da Bookoffice) e de certeza que não perderei a exposição Outro Modo de Ler - Texto e Imagem na Ilustração para a Infância, patente na galeria da Biblioteca Almeida Garrett. De Alain Corbel a Yara Kono, são nada mais nada menos do que 36 ilustradores, desde «consagrados» como Teresa Lima. André Letria, João Fazenda, Bernardo Carvalho, Madalena Matoso ou António Jorge Gonçalves a outros nomes menos habituais nestes circuitos. Mesmo à distância, dá para perceber que a selecção foi cuidadosa e equilibrada. 

domingo, 7 de setembro de 2014

SINAIS


«Toda a gente devia parar junto de um pequeno riacho - e ouvir.» Ilustração de Maurice Sendak para o livro de Ruth Krauss, Open House for Butterflies (1960). Fonte: Brainpickings.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

FOI NAQUELE VERÃO EM QUE TUDO COMEÇOU A ARDER


Embora com muito atraso, queria mencionar a inclusão do Irmão Lobo na lista de títulos para crianças e adolescentes recomendados no jornal Público. Não sei se os leitores conseguem ver ou se é só para assinantes, mas está aqui e aqui. Tocou-me muito o título do texto de Rita Pimenta, «Quando tudo arde»... É que a primeira frase do livro (e quanto haveria a dizer sobre as primeiras frases dos livros...) esteve para ser outra: «Foi naquele Verão em que tudo começou a arder». Depois, mudei de ideias. Mas durante cerca de um ano, até começar a escrever, essa sequência de palavras foi o rastilho da história de Bolota e seus irmãos, do cão Malik, de Alce Negro e de Blanche. A história «de uma família a desagregar-se por motivos banais (menos dinheiro, menos amor), mas não por isso menos dolorosos», como se lê no texto. De vez em quando esta família volta para mim; não em cinzas, mas como um fogo que habita permanentemente a minha casa imaginária.

ZEN E A ARTE DO TIRO COM ARCO


«O ser humano é uma criatura pensante, mas as suas grandes obras realizam-se quando ele não pensa nem calcula. Após longos anos de treino na arte do esquecimento-de-si, o objectivo é o de recuperar o "estádio de infância". Uma vez atingido, a pessoa pensa, embora não pensando. Pensa como a chuva que cai do céu; pensa como as vagas que se levantam do mar; pensa como as estrelas que iluminam o céu nocturno; como a folhagem verde que rebenta sob a doçura da aragem primaveril. Na verdade, ele próprio é a chuva, o mar, as estrelas, o verde.»

[O post anterior remete, obviamente, para o clássico de Eugen Herrigel (Alemanha, 1884-1995), Zen e a Arte do Tiro com Arco, que li pela primeira vez há uns dez ou quinze anos (não percebi nada). Apesar da controvérsia que rodeia o autor, acusado de fortes ligações ao nazismo, é um livro que permanece «fora do tempo» e actualizável por quem o lê; essa é uma das marcas dos «clássicos». Esta edição é da Cotovia, porque não encontrei na net uma imagem da capa da Assírio & Alvim, mas ambas têm a tradução de Patrícia Lara.]

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A ESCRITA E A ARTE DO TIRO COM ARCO


A única guerra que um escritor deve esforçar-se por vencer é contra o seu próprio ego. Só assim poderá adoptar uma atitude simultanemente crítica, activa e observadora, indispensável à percepção do mundo sem a influência dos anões devoradores da criatividade: o narcisismo, a insegurança, a vaidade e a autocondescendência, entre outros. Nessa batalha terá como principal aliado o conhecimento armazenado no seu corpo (inconsciente, em grande parte), que lhe chegará através das palavras e das imagens mentais, nesses momentos de grande «dilatação psíquica» de que falava Bachelard. O medo de que o corpo se antecipe à mente e fale o que preferiríamos calar é uma das razões da nossa esmagadora solidão. Proibimo-nos de ser naturais e damos rédea curta à nossa presença animal, ligada ao instinto, à harmonia e ao afecto. A deseducação do corpo será, creio, a principal causa das doenças degenerativas individuais e sociais. Um escritor comprometido com o seu tempo e a sua arte tem a obrigação de trabalhar diariamente para curar essa ferida colectiva. Para isso, deve deixar que o corpo o guie na direcção escolhida, com estratégia, mas sem demasiado esforço e absolutamente nenhum calculismo.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

LEITURAS DE AGOSTO - II




Em Agosto, segui o rastro luminoso de Herberto, um picture book escrito e ilustrado quase de raiz para a editora Bruaá (digo «quase» porque a autora, Lara Hawthorne, tinha apenas algumas páginas esboçadas), tão bonito que só mesmo visto. Da Gatafunho, li mais uma tradução da grande Jutta Bauer, O Anjo da Guarda do Avô, delicadíssimo na sua arte de convocar a transcendência da vida. Mal vi a capa, demorei tempo (é verdade) a decifrar a primeira palavra do livro de Isabel Minhós Martins e Madalena Matoso, Com o Tempo (Planeta Tangerina), mas também isso mudou com o tempo porque, explicam-nos, e é assim mesmo, «o difícil torna-se fácil». Agosto foi um mês de muitas leituras (estas e mais estas entram na LER de Setembro, a sair em breve). Agora vêm coisas novas.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

RECADO A MAURICE SENDAK


Maurice, meu herói, meu rebelde, meu amor. Na Europa cavam-se trincheiras outra vez e as crianças desaparecem sob os escombros. Os homens não aprendem nada e eu também estou em guerra. Sonho com uma insurreição temperada pela doçura. Era só isto. Muito tua, C.

LEITURAS DE AGOSTO - I




Em Agosto corri ao lado do Edgar, um rapaz de 16 anos que é «um conjunto de erros, um boneco estragado, um relógio de bolso», entre inúmeros desejos e contradições. «É preciso muito caos interior para poder parir uma estrela que dança», disse Nietzsche, e esta ideia atravessa o segundo livro de Ana Pessoa, Supergigante (Planeta Tangerina). Li Momo, um clássico contemporâneo em boa hora reeditado pela Presença, do mesmo autor de A História Interminável (The Neverending Story), o alemão Michael Ende. É a história de uma menina (Momo, justamente) capaz de entender o segredo do tempo, uma distopia publicada numa época (1973) em que as distopias não estavam na ordem do dia e, por conseguinte, um consolo para leitores vagarosos e dados a imaginar o que lêem. Quase a terminar o mês, mergulhei no imaginário dos heróis aventureiros de Cristina Carvalho com Quatro Cantos do Mundo (Planeta), um livro a ser descoberto por leitores adolescentes e adultos, com muitas pistas para explorar pelos mediadores de leitura. Criativa e aventurosamente.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

ACABOU-SE A BRINCADEIRA


Recém-chegada das Palavras Andarilhas e de outras andanças estivais, apresento-me para o regresso às aulas com o espírito tonificado e os índices de motivação bem calibrados. O Jardim Assombrado reabre as portas com a retoma dos trabalhos: um workshop de Livro Infantil (versão curta do equivalente para a Booktailors, também já com datas a anunciar em breve) que vou dar na Biblioteca Municipal de Sintra, a convite da Divisão de Educação da Câmara de Sintra, organizadora dos encontros ETerna Biblioteca. Vai ser daqui a uma semana, nos dias 8 e 9 de Setembro; 12 horas intensivas cujo programa pode ser consultado aqui. Inscrições e informações pelo telefone 219236063/6.

(a imagem do folheto foi recuperada da minha inesquecível visita às escolas do Agrupamento de António Feijó, em Ponte de Lima, sobre a qual deixei este post)