terça-feira, 31 de janeiro de 2017

AHAB REVISITADO



«Sou o mais hábil caçador de baleias de todos os mares, capitão do barco Pequod e habitante da ilha de Nantucket. Tratem-me por Ahab.» Uma releitura fabulosa do clássico Moby Dick por um dos mais premiados ilustradores atuais.

Ahab e a Baleia Branca
Manuel Marsol
Orfeu Negro

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O MUNDO É ESTRANHO


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Costumes estranhos, ideias absurdas, lugares que não parecem deste mundo e curiosidades da natureza fazem parte dos ingredientes deste atlas muito original. Os martelinhos das festas de São João, usados para bater na cabeça das pessoas, também interessaram os autores. 

Atlas de Curiosidades
Clive Gifford
Tracy Worrall (ilust.)
Nuvem de Letras

sábado, 28 de janeiro de 2017

HERMANO LOBO DISTINGUIDO PELA FUNDACIÓN CUATROGATOS


Começar o dia com esta notícia que me faz sentir muito grata: a prestigiada Fundación Cuatrogatos, sediada em Miami, EUA, incluiu a edição em espanhol do Irmão Lobo na sua selecção dos melhores livros de ficção para crianças e jovens publicados no mercado iberoamericano, nos últimos dois anos. São 20 livros «altamente recomendados pelos seus valores literários e plásticos», de todos os géneros e para vários tipos de leitor, e que este ano integraram os catálogos de editoras sediadas na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Espanha e México. Desta lista constam também os 90 livros finalistas; entre os quais um dos meus álbuns favoritos, A Contradição Humana, de Afonso Cruz. Não nos iludamos, porém. Pelo menos no que ao mercado português diz respeito, estas distinções prestigiam autores, tradutores e editoras, mas não fazem vender mais livros... directamente. Mas essa é outra conversa.

Agrada-me muito que Hermano Lobo tenha sido classificado na categoria «Para os que se atrevem com livros desafiadores». Ou seja: «livros para leitores valentes, que não se deixam intimidar pela complexidade das obras ou pela sua extensão. Propostas que exigem um maior compromisso do leitor na sua condição de co-criador do texto literário». Foi assim que a equipa de seleccionadores da Fundación Cuatrogatos descreveu o livro:

«Através de dois planos narrativos, que se alternam em páginas de branco e azul, este romance de grande profundidade psicológica e agilidade expositiva retrata a vida de uma família disfuncional, através de um puzzle de memórias evocadas pela sua jovem protagonista. Com a sua precária estabilidade física e emocional, Bolota, Alce Negro, Blanche, Fóssil e Miss Kitty são personagens poliédricos, de grande verosimilhança e humanismo, chamados a enfrentar situações complexas. Obra comovedora, que explora com subtileza as paisagens humanas e nos fala, com extraordinária sinceridade e acutilância, de desmembramentos, sobrevivência, redenção e amor.»

Com ilustrações de António Jorge Gonçalves e edição portuguesa do Planeta Tangerina, Hermano Lobo foi traduzido por Jerónimo Pizarro e publicado inicialmente na Colômbia (Taller de Edición Rocca, 2014), seguindo-se a edição no México pela El Naranjo, em 2015, com distribuição extensiva à Argentina, Chile, Perú, Uruguai e Guatemala. No Brasil, foi publicado pela Rovelle, depois de uma cuidadosa adaptação ao português do Brasil. Na Europa, depois da Alemanha e Sérvia, a próxima tradução será em italiano e acho que se vai chamar Lupo Sorello.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

BIBLIOTECA INDISPENSÁVEL


Segundo volume do projeto Save the Story, organizado pelo escritor italiano Alessandro Baricco. Desta vez, os clássicos da literatura recontados aos mais novos são a epopeia de Gilgamesh, O Nariz, Rei Lear, Cyrano de Bergerac e Os Noivos. Imprescindível.

Histórias Inesquecíveis 2
AA.VV.
Nuvem de Letras

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

SÍLVIO E O AR EM MOVIMENTO



Um regresso inesperado da dupla que assinou Sílvio, Domador de Caracóis (Caminho, 2010). O diálogo entre mãe e filho recupera as mesmas dúvidas, medos e anseios da parentalidade, mas também a insistência no lado curioso e arriscado do crescimento. 

Francisco Duarte Mangas
Madalena Moniz (ilust.)
Caminho

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

KÉ IZ TUK? MEI TAPU ENA PLONTE



Escrito e ilustrado pela norte-americana Carson Ellis, Ké Iz Tuk? é uma das traduções mais divertidas e originais de 2016. «Ké iz tuk?», pergunta um insecto, ao deparar-se com o broto de uma planta na terra. «Mei nazê», responde o outro. Para ler em voz alta, de preferência.

Ké Iz Tuk?
Carson Ellis
Orfeu Negro

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

ALL CREATURES GREAT AND SMALL



Éramos quatro menos um. Vivíamos com pouco, mas havia sempre quem tivesse menos do que nós. Os invernos eram duros e nunca mais acabavam. Chovia o tempo todo. A água gelava nos canos, doía na garganta e nos dentes. Saíamos de manhã, entorpecidas pelo frio, a geada feita em cristais sobre as folhas e o ar limpíssimo, de cortar a pele. Acendíamos a lareira para nos aquecermos. Sentávamo-nos junto daquele coração de fogo a pulsar, tecendo fios e nós invisíveis. Porque nós éramos invisíveis, sobretudo quando nos juntávamos para fazer as contas do mês: quatro menos um (não dava certo). Comíamos iscas de fígado, ovos com mioleira, mão de vaca com grão, fanecas e carapaus; comidas de panela e de sertã. Felicidade era quando a nossa Mãe fritava bolo do tacho em banha derretida, só com farinha de milho, água e toucinho. Felicidade era receber um livro ou um jogo fora do Natal ou do aniversário. Felicidade era ter cinco anos e andar à solta nos pinhais, como um cabrito, iludindo o medo dos cães e dos lobisomens. Felicidade era quando ligávamos o televisor e víamos juntas a série Veterinário de Província na televisão a preto e branco. Bezerros acabados de parir, cavalos com cascos infectados, cães de pêlo dourado e doenças melancólicas: alguém cuidaria deles, alguém chegaria a tempo de os curar, sim. O Yorkshire dos anos 30 não era assim tão diferente do Alto Minho. As estradas com ravinas tão verdes e as quintas cinzentas onde se queimava carvão, os montes e os vales profundos, animais e pessoas partilhando o mesmo quotidiano, a mesma comunidade dos sobreviventes. Estávamos em finais dos anos 70 e eu não sabia o que era o estilo arquitectónico jorgiano, mas gostava de ter uma casa assim, cheia de quadros e chávenas de chá; e gostava de ter alguém por perto que usasse chapéus e casacos de tweed; que fosse bondoso, tranquilo, bem-disposto e um pouco desajeitado como a personagem de James Herriot, alguém que tivesse olhos claros e um sorriso franco. Sempre admirei quem tem o poder de curar, curar com paciência e amor todos os seres vivos, all creatures great and small.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

RECOBRO


Templo dos Quatro Ventos, Castelo Howard (Yorkshire, Inglaterra), cenário de rodagem da série Reviver o Passado em Brideshead. Foi construído entre 1699 e 1726, sob a égide de John Vanbrugh, que deixou uma carreira militar, a escrita e a espionagem para se dedicar à arquitectura. Não quero morrer sem ver este lugar com os meus olhos.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

MARY JOHN: SALTO DE GIGANTE



Mary John, nome evocativo da rebeldia pirata, conduz-nos ao conhecimento de uma personagem de carne e osso, Maria João, também ela confrontada com os mares turbulentos e conflituosos da adolescência. Por aqui tem navegado o universo criativo de Ana Pessoa, sabemo-lo pelos seus livros anteriores: O Caderno Vermelho da Rapariga Karateca (2012) e Supergigante (2014), editados na mesma coleção da Planeta Tangerina, Dois Passos e um Salto. Para quem tem seguido o percurso da escritora, é óbvio que Mary John representa um salto de gigante, um golpe certeiro feito de risco e ousadia, quer no domínio da linguagem estilística quer na incursão por temas tidos como tabu. Raro, muito raro um romance juvenil que se aventura pelos temas da sedução amorosa, da descoberta do corpo e da sexualidade sem nunca resvalar para o lugar comum nem para a moralidadezinha. O registo epistolar (Mary John escreve ao rapaz que quer esquecer) serve de suporte à estrutura narrativa, ao mesmo tempo que rasga folhas em branco onde se inscreve uma outra vida da protagonista; uma vida feita de mudanças, de equilíbrios precários, de passos de bailarina torpe num arame esticado, correndo em direção a algo de novo. Seguríssima, a voz da narradora agarra o leitor pelas vísceras e pelo coração, cortando rente quaisquer artifícios. Não surpreende que a última palavra seja um monossílabo: «Zás.»

Mary John
Ana Pessoa
Bernardo P. Carvalho (ilust.)
Planeta Tangerina