terça-feira, 30 de março de 2010

PASSATEMPO PRINCESA POPPY NO JARDIM


Na próxima sexta-feira, 2 de Abril, comemora-se o Dia Internacional do Livro Infantil, simbolicamente associado ao nascimento de H. C. Andersen. Para festejar, O Jardim Assombrado e a editora Booksmile têm para oferecer cinco livros da colecção Princesa Poppy, apadrinhada pelo psicólogo Eduardo Sá e traduzida por Isabel Fraga. Para ganhar um dos novos títulos que chegarão às livrarias no dia 1 de Abril – no caso, Princesa Poppy Brilha no Palco –, os leitores só terão de responder às seguintes perguntas através da caixa de comentários:

- Como se chama a quinta onde vive a Poppy?
- Quem é a melhor amiga da Poppy?

Ganham os cinco primeiros leitores a responder certo. Posteriormente, devem enviar as suas moradas para o correio do jardim (no canto superior direito) e aguardar a chegada dos livros oferecidos pela Booksmile, via CTT. Tão fácil como saltar à corda.

O ANO DE MARIA ALBERTA MENÉRES


Em 2009, Alice Vieira e António Mota comemoraram 30 anos de carreira literária. No que toca à escrita para crianças, Maria Alberta Menéres leva-lhes uma década de avanço – e mais, se recuarmos a 1952, ano em que publicou o primeiro livro de poesia. Foi também professora, tradutora, revisora, jornalista e directora de programas infantis na RTP. Ancorada num olhar poético sobre o mundo, a criatividade é para ela um recurso tão natural como respirar.

Das lezírias do Ribatejo para Lisboa, o mundo deu uma grande volta. Maria Alberta Menéres tinha nove anos quando a professora do colégio interno anunciou que iam fazer uma redacção. Tema: a vida. Um adulto poderia sentir-se constrangido pelo peso dessas quatro letras, mas ela, desembaraçada e com os olhos já postos no recreio, pegou na caneta e escreveu: “A vida é muito fácil. É composta por princípio, meio e fim. O princípio é nascer, o meio é a continuação e o fim é a morte. Eu agora estou na continuação.”

Passaram-se 70 anos e a redacção sobreviveu intacta, tal como muitos outros textos de criança, figurando agora em letra manuscrita no seu mais recente livro: Camões, o Super-Herói da Língua Portuguesa. Quem se interessa por grafologia, o estudo da relação entre a escrita e a personalidade, poderá notar um certo espaçamento entre as palavras; a tendência para formar correntes “de ar”, essas linhas verticais que na gíria se designam por “chaminés”. Segundo a grafologia, significam propensão para a evasão, o sonho, o devaneio. É claro que pode ser tudo pura coincidência, mas na sala onde conversamos está agora uma das filhas de Maria Alberta Menéres, a cantora e compositora Eugénia Melo e Castro, que vai confirmar não andarmos longe da verdade.

“Na forma de estar da minha mãe há uma linha muito ténue entre a imaginação e a realidade”, afirma. “Ela manteve sempre aquele lado infantil e fantasioso; vive num mundo à parte que não é o mundo real das pessoas. À volta dela há sempre uma coisa maravilhosa a acontecer – ou então uma coisa terrível. Tudo a impressiona vivamente.” Por exemplo, o tempo que faz lá fora. Um dia de chuva torrencial ou um dia de calor insuportável têm o dom de lhe exaltar a imaginação. “Se ela sabe que há um incêndio em Braga telefona-me, apesar de saber que eu estou em Lisboa. Ou então, se há um incêndio em Braga e outro em Faro, ela telefona-me porque imagina que eu estou nos dois!”

Eugénia Melo e Castro lembra o clima de liberdade e de espontaneidade que viveu em criança, com um pai (o poeta, escritor e professor Ernesto Manuel de Melo e Castro) e uma mãe que se “encantaram um com o outro por causa da poesia”, na praia da Foz do Arelho. Juntos, foram responsáveis pela organização de várias edições da Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa. Juntos, eram os pais que muitas crianças sonhariam ter. Conta ainda Eugénia Melo e Castro: “O meu pai dava-me os parabéns quando eu era repreendida no colégio. E a minha mãe era diferente das outras, muito mais compreensiva, mais conversadora, mais tolerante…”. “Mas isso era bom, não?”, perguntamos. “Essa é a parte boa. A parte má é que havia certas coisas práticas, como estrelar um ovo ou fritar um bife, que ela não sabia fazer. Ainda hoje não sabe.”

Sentada no sofá da sala, numa das poucas casas de Lisboa que sobreviveram ao terramoto de 1755, Maria Alberta Menéres ouve e diz que sim com a cabeça, sorrindo e queixando-se – sem se queixar – de que as filhas a conhecem demasiado. Só por “prescrição familiar” deixou há pouco tempo de fazer visitas às escolas, sempre conduzindo sozinha e chegando a entrar em estradas por inaugurar... Em Agosto que vem completará 80 anos, mas o riso e a leveza do corpo ainda são os da miúda traquina que diz ter sido. A mesma que convenceu as colegas do colégio de que sabia voar. “Mas era só às sextas-feiras, às seis da tarde”, conta. “A certa altura mudei para as quartas-feiras, às quatro. Claro que tinha de arranjar maneira de nunca estar presente àquela hora, para disfarçar.”

Mas numa certa quarta-feira não encontrou desculpas e deu por si no meio de um coro de meninas e de freiras que gritavam: “Alberta, são quatro da tarde! Voa, voa, voa!” E a Alberta subiu uns metros acima do quadro negro e saltou para o vazio, terminando a sua ousadia renascentista com um pé partido e um mês de cama na enfermaria. Muito mais tarde, quando estava para se casar com E. M. de Melo e Castro, algumas amigas dele comentaram, divertidas: “Ah, mas vais casar com a Alberta-que-voa?!”. Nem mais.

“Eu era tremenda. Nasci em Vila Nova de Gaia e fiz trinta por uma linha, num jardim muito grande que tínhamos. Depois vim para o campo, para a herdade que era do meu avô, perto de Coruche, e continuei a fazer distúrbios. Até nos colégios religiosos onde andei, nem que fosse só por espírito de contradição. Muito do que eu escrevi tem a ver com essas tropelias. Nunca fui capaz de escrever nada que não tivesse uma base vivida e verdadeira.” Estamos a falar de mais de 60 livros para crianças publicados desde o final da década de 1960, abarcando os géneros do conto, da poesia, do teatro, da novela e da banda desenhada – uma obra extensa que, em 1986, foi recompensada pelo Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças. Foi, talvez, o ponto alto no reconhecimento da qualidade que sempre procurou imprimir aos seus textos. “Foi importante, sim. Mas eu não ligo muito a prémios, porque há sempre um cerimonial nesse tipo de coisas a que eu não acho graça. Gosto mais de ser eu.” Ela, Maria Alberta Menéres. A Alberta-que-voa.


Camões, o herói que se segue

No mês em que se comemora o Dia Internacional do Livro Infantil (2 de Abril) chegará às livrarias o novo título da Biblioteca Maria Alberta Menéres: Camões, o Super-Herói da Língua Portuguesa (ASA). Dirigida ao público que fez de Ulisses um dos best-sellers da literatura infanto-juvenil em Portugal (600 mil exemplares vendidos e 35 edições desde 1989), Camões… é a biografia de um dos poetas de eleição da escritora. “Li muitos livros; uns diziam uma coisa e outros diziam outra, mas eu tive de chegar à minha versão, assumindo o que me parecia mais certo”, diz. Conciliando a narrativa de cariz biográfico com excertos da lírica camoniana, a obra é enriquecida pelos desenhos e aguarelas de dois irmãos, Fernanda e José Fragateiro, ambos ilustradores e artistas plásticos. Mas não é a única particularidade: há quatro ou cinco anos, Maria Alberta Menéres concluiu o manuscrito e guardou-o numa gaveta. Depois, esqueceu-se dele. Até que a família o descobriu, por acaso. É provável que haja mais tesouros escondidos. As buscas continuam.


De Vickie ao Dartacão

Lembram-se do Vickie, do Marco, do Verão Azul e do Dartacão? E de muitas outras séries que foram a razão de viver de tantas crianças, aos sábados e domingos? As gerações que estão agora entre os trinta e tal e os quarenta e poucos anos devem tudo a Maria Alberta Menéres, já que foi ela a Directora do Departamento de Programas Infantis e Juvenis da RTP, de 1974 a 1986. Juntamente com uma das equipas “mais motivadas e produtivas da casa”, não se limitava a escolher os programas, mas traduzia, escrevia os guiões, dava títulos e nomes às personagens. A julgar pelas legendas de um filme que esteve há pouco em cartaz, ainda hoje há quem pense que Dartacão é a tradução portuguesa de D’Artagnan, um dos mosqueteiros de Alexandre Dumas.

(Texto publicado na edição de 20 de Março da Notícias Sábado – revista do DN e JN. Também pode ser lido no site do DN e no blogue de Eugénia de Melo e Castro, respectivamente, aqui e aqui)

segunda-feira, 29 de março de 2010

NOVO LIVRO DE JOSÉ FANHA


Hoje, às 18h30, no piso 7 do El Corte Inglés, em Lisboa, Violante Magalhães apresenta o novo livro de José Fanha, Histórias para Contar em Noites de Luar. Eu bem que gostaria de lá estar, mas de momento os meus dias andam muito parecidos com o Quarto Minguante, como os leitores deste blogue já devem ter reparado. As minhas desculpas. O tempo da ressurreição não anda longe.

MAGIC AND LOSS

sexta-feira, 26 de março de 2010

LOSS AND MAGIC


Nunca acreditem numa pessoa que cresceu a dançar Boney M. em frente ao espelho, mas realmente acho que o sacana do Lou Reed nunca mais fez um disco tão bom desde que saiu o Magic and Loss; e já lá vão quase vinte anos, não se admite. Estávamos em 1992, o ano em que comecei a trabalhar como estagiária no SE7E e vestia camisas de flanela axadrezadas e sapatos Doc Martens. Pior: achava o Bret Easton Ellis o supra sumo da literatura e cultivava o niilismo com o mesmo jeito com que muitas mulheres regam vasos de salsa nas marquises de Queluz de Baixo, acreditando que aquilo lhes confere uma certa distinção. Anyway, o Lou Reed fez um disco fabuloso e lembro-me perfeitamente de uma crítica do João Lisboa no Expresso, cujo título era “Magic, no loss” (hoje está a dar-me para o name dropping, espero que passe depressa, ó Deus); um título que é perfeito em si mesmo, quase tão bom como “Faz-me festas mais avante” ou algo assim, de idêntica safra jornalística.

Só que o Lou Reed trocou a ordem das coisas (volto a dizer, nunca acreditem numa pessoa que cresceu a dançar Boney M. em frente ao espelho), porque no meu modesto entender só pode haver magia quando há perda, e todos nós podíamos encher uma arca de tesouros com as coisas que fomos perdendo ao longo dos anos, desde berlindes rascas a melhores amigos ou amigas. Quem não consegue fazer isso é porque nunca deu nada de verdade. Perder é sempre doloroso, não por aquilo que se perde mas pelo valor atribuído à perda – e não vale a pena fazer comparações e juízos sobranceiros porque da nossa vida sabemos nós, ok? Ok. Uma vez perdi, ou julguei que tinha perdido, um porta-moedas em malha de prata, daqueles que se usavam antigamente; pus um anúncio no supermercado a dizer “gratifica-se” e chorei por tudo o que tinha perdido a vida inteira durante uma semana a fio, até que descobri o dito cujo na gaveta do frigorífico, dentro de um saco de plástico cheio de feijão verde para fazer sopa. Logo a seguir senti-me a pessoa mais feliz e sortuda do mundo, nem vos digo em que é que acreditei na semana seguinte. Mas estão a ver como são as coisas. Numa destas noites perdi um brinco enquanto pulava desvairadamente no Music Box e voltei a sentir-me miserável até à hora em que as senhoras da limpeza me atenderam ao telefone com uma simpatia notável e disseram “sim, achámos um brinco assim e assado, é seu?”. É meu, é (sorriso de orelha a orelha). E nesse mesmo dia fui buscá-lo ao Cais do Sodré, eu de ressaca e o brinco intacto, e então voltei a sentir-me a pessoa mais feliz e sortuda do mundo. O que eu quero dizer é isto: umas vezes vale a pena correr atrás do que perdemos, outras vezes não. Distingue-se facilmente uma coisa da outra pela força que vem de dentro, isso que nos faz levantar da cama sem a preocupação de reunir todas as partes – cabeça, coração e ossos, principalmente. E o fígado, que também dá muito jeito para saco de pancadas. Quando não vale a pena correr atrás do que perdemos, é preciso acreditar que depois da perda vem a magia. Sempre, sempre, sempre. Depois da perda vem a magia. Só é preciso arriscar perder.

domingo, 21 de março de 2010

NO LABIRINTO DOS LIVROS


Os Livros que Devoraram o meu Pai
Afonso Cruz
Caminho

Esta é a “estranha e mágica história de Vivaldo Bonfim”, homem com uma paixão por livros e a pouca sorte de trabalhar no 7º Bairro Fiscal (“A vida, muitas vezes, não tem consideração nenhuma por aquilo de que gostamos.”). Um dia, Vivaldo Bonfim – nome que guarda tudo o que existe entre a vida e a morte – desaparece na leitura de A Ilha do Dr. Moreau, o clássico de H. G. Wells. Inicia-se aqui a deriva fantástica de um rapaz de 12 anos em busca do pai que nunca conheceu, seguindo o único rasto possível: os livros. Cumprindo um legado genético com ressonâncias proféticas, Elias torna-se leitor compulsivo e faz da biblioteca do pai uma estação fantasma para mundos paralelos. Da Inglaterra para a Rússia, conhece o avatar sinistro de O Estranho Caso do Dr. Jekyll e de Mr. Hyde e o torturado Raskolnikov de Crime e Castigo, entre outras personagens. Com elas aprenderá a ambiguidade do bem e do mal, sem por isso se salvar da tragédia. Vencedor do Prémio Maria Rosa Colaço 2009, na modalidade juvenil, Afonso Cruz assina uma novela para todas as idades, cuja atmosfera evoca algo de A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón. Com uma escrita elegante, fluente e com grande capacidade de provocar imagens (ou não tivesse o autor obra feita no campo da ilustração), a evidente transversalidade do seu público apenas prova que “um bom livro deve ter mais do que uma pele, deve ser um prédio de vários andares. O rés-do-chão não serve à literatura.”

(Texto publicado na edição de 20 de Março da Notícias Sábado – revista do DN e JN)

sexta-feira, 19 de março de 2010

AS VANTAGENS DO PROTECTOR SOLAR



Nunca deixem de usar filtro solar.
Se eu pudesse dar uma só dica sobre o futuro, seria esta: use filtro solar. Os benefícios a longo prazo do uso de filtro solar estão provados e comprovados pela ciência; já o resto de meus conselhos não tem outra base confiável além de minha própria experiência errante.

Mas agora eu vou compartilhar esses conselhos com vocês.

Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da juventude. Ou, então, esquece... Você nunca vai entender mesmo o poder e a beleza da juventude até que tenham se apagado.
Mas, pode crer, daqui a vinte anos, você vai evocar as suas fotos e
perceber de um jeito que você nem desconfia hoje em dia
quantas tantas alternativas se lhe escancaravam à sua frente,
e como você realmente estava com tudo em cima.

Você não é tão gordo(a) quanto pensa.

Não se preocupe com o futuro.
Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que preocupação é tão eficaz quanto mascar chiclete para tentar resolver uma equação de álgebra. As encrencas de verdade de sua vida tendem a vir de coisas que nunca passaram pela sua cabeça preocupada, e te pegam no ponto fraco às quatro da tarde de uma terça-feira modorrenta.

Todo dia enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo de verdade.

Cante.

Não seja leviano com o coração dos outros.
Não ature gente de coração leviano.
Use fio dental.
Não perca tempo com inveja.
Às vezes se está por cima, às vezes por baixo. A peleja é longa e, no fim, é só você contra você mesmo.
Não esqueça os elogios que receber. Esqueça as ofensas.
Se conseguir isso, me ensine.

Guarde as antigas cartas de amor.
Jogue fora os extractos bancários velhos.
Estique-se.

Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida.
As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam,
aos vinte e dois, o que queriam fazer da vida. Alguns dos quarentões mais interessantes que conheço ainda não sabem.

Tome bastante cálcio.
Seja cuidadoso com os joelhos.
Você vai sentir falta deles.

Talvez você case, talvez não.
Talvez tenha filhos, talvez não.
Talvez se divorcie aos quarenta, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante. Faça o que fizer, não se autocongratule demais, nem seja severo demais com você. As suas escolhas têm sempre metade das chances de dar certo. É assim para todo o mundo.

Desfrute de seu corpo.
Use-o de toda maneira que puder. Mesmo.
Não tenha medo de seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele. É o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir.
Dance.
Mesmo que não tenha aonde além de seu próprio quarto.

Leia as instruções, mesmo que não vá segui-las depois.
Não leia revistas de beleza. Elas só vão fazer você se achar feio.
Dedique-se a conhecer os seus pais. É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez. Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado e possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro. Entenda que amigos vão e vêm, mas nunca abra mão de uns poucos e bons.

Esforce-se de verdade para diminuir as distâncias geográficas
e de estilos de vida, porque quanto mais velho você ficar, mais você vai precisar das pessoas que conheceu quando jovem.

More uma vez em Nova Iorque, mas vá embora antes de endurecer.
More uma vez no Havai, mas se mande antes de amolecer.

Viaje.

Aceite certas verdades inescapáveis:
Os preços vão subir. Os políticos vão saracotear.
Você, também, vai envelhecer.
E quando isso acontecer, você vai fantasiar que quando era jovem,
os preços eram razoáveis, os políticos eram decentes, e as crianças respeitavam os mais velhos.

Respeite os mais velhos.
E não espere que ninguém segure a sua barra.
Talvez você arrume uma boa aposentadoria privada. Talvez case com um bom partido. Mas não esqueça que um dos dois pode de repente acabar.

Não mexa demais nos cabelos senão quando você chegar aos quarenta vai aparentar oitenta e cinco.

Cuidado com os conselhos que comprar, mas seja paciente com aqueles que os oferecem. Conselho é uma forma de nostalgia. Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale.

Mas no filtro solar, acredite!


(Filtro Solar, de Pedro Bial. Via SushiLeblon. Só podia.)

quinta-feira, 18 de março de 2010

I PUT A SPELL ON YOU EM NOME DO HAITI



Shane MacGowan, único e irrepetível vocalista dos The Pogues, reuniu uma fina estirpe de amigos à volta do clássico de Screamin’ Jay Hawkins, I Put a Spell on You, uma das canções mais glosadas da história do rock. Está para o amor à bruta tal como Ne Me Quites Pas, de Brel, está para o desconsolo do que sobra no fim, quando sobra alguma coisa. Um não se importa de ser “a sombra do cão” dela, o outro seria capaz de lançar uma matilha de cães raivosos só para não a deixar fugir. Não desabituados destes dramas domésticos, Nick Cave, Chrissie Hynde, Bobby “Primal Scream” Gillespie (a destoar completamente, acho eu), Johnny Depp e mais uns quantos assinam uma versão destinada a ajudar as vítimas do terramoto no Haiti. Quanto a Shane MacGowan, é evidente que já não tem salvação possível. Mas os amigos são para as ocasiões.

O SENHOR PALOMAR REGRESSA

O Senhor Palomar regressou à actividade na blogosfera, depois de nos últimos meses ter andado adormecido. Quem será a Bela que o conseguiu despertar?

terça-feira, 16 de março de 2010

ADEUS AOS MEUS LIVROS



As decisões administrativas costumam ser assim, implacáveis. Acabar com uma das poucas revistas especializadas em livros que existem em Portugal é mau. Acabar de repente, sem aviso aos leitores e sem uma palavra de justificação nem de despedida na edição derradeira, ainda é pior. Porque revela desconsideração por todos os que acompanhavam a revista inicialmente dirigida por Tereza Coelho e, depois de um interregno, por João Morales. No próximo mês, quem for às bancas perguntar pela Os Meus Livros vai receber respostas evasivas do género “está atrasada” ou “nesta altura já devia ter chegado”. Admito não ter sido uma leitora fiel da revista e confesso a minha irritação particular pelas páginas de “crítica” de livros para crianças, feitas com louváveis intenções pedagógicas mas pouco discernimento pela qualidade literária e ilustrativa, a par de uma tendência impenetrável para misturar alhos com bugalhos. Apesar de tudo, nesta altura do campeonato, era o suporte que mais páginas dava ao livro infanto-juvenil. Apesar de tudo, era uma revista feita por pessoas que gostavam (gostam) de livros e do que está à volta dos livros. Apesar de tudo, ficámos ainda mais pobres. Que fazer? Cingir os rins e continuar em frente. Outras ideias hão-de ganhar pernas para andar. A vida como de costume.

(Em cima: capa do número 1 da Os Meus Livros de Junho de 2002, e capa do número 85, de Março de 2010)

A ARANHA QUE FAZIA MEIA


O Jardim Assombrado está a levar a sério as limpezas da Primavera e, neste clima de mudanças, é difícil dar conta das notícias que vão chegando. Falhou-nos a apresentação do livro A História da Aranha Leopoldina, de Ana Luísa Amaral, que ocorreu no sábado passado, no Café-Teatro do Campo Alegre (Porto). Mas vale a pena lembrar que a peça de teatro encenada por João Cardoso e inspirada na vida de uma certa aranha que gostava de fazer meia vai ser reposta até ao dia 21 de Março, no mesmo teatro. E o livro – ou melhor, o audiolivro – também já está aí, com o texto da vencedora do Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores de 2008 e as ilustrações de Raquel Pinheiro, numa nova edição da Civilização. Recordamos que o título já havia sido editado antes pela Campo das Letras, com ilustrações de Elsa Navarro, mas estamos à espera de que nos chegue esta versão para descobrir as diferenças.

segunda-feira, 15 de março de 2010

BIBLIOTECA DE CLÁSSICOS QUIDNOVI


Com A Cidade e as Serras e Alice no País das Maravilhas, a QuidNovi começa uma nova colecção dedicada aos clássicos da literatura, intercalando autores portugueses com estrangeiros e obras infanto-juvenis com textos “para adultos” (definitivamente ambígua, esta expressão). Sob a designação QB, a colecção distingue-se ainda pela inclusão de um prefácio bastante pessoal que desvenda o sentimento de um certo leitor perante o livro em causa. Assim, Rui Zink fala sobre a sua experiência de leitura de Eça de Queirós, enquanto o crítico de cinema José Vaz Pereira prefacia a obra de Lewis Carroll, de quem foi tradutor, juntamente com Manuel João Gomes, numa edição dos anos 1970 dos Livros Afrodite (a mesma que é usada pela QuidNovi). A capa desta Alice é um original de Pedro Pires. As novidades que se seguem devem surgir no novo blog da QuidNovi. Aqui.

domingo, 14 de março de 2010

VISTO DO UMBIGO


Não li o best-seller de Alice Sebold, The Lovely Bones (por cá traduzido como Visto do Céu, na edição da Casa das Letras). É a história do assassínio de uma adolescente de 14 anos que ascende a um universo paralelo post-mortem, passando a observar desde aí as transformações familiares e afectivas ocorridas naquele subúrbio de uma cidadezinha da Pensilvânia, onde se oculta o psicopata disfarçado de bom vizinho. Não li, mas agora estou mais curiosa. Custa a crer como é que Peter Jackson conseguiu fazer um filme tão mau. Parece que depois da saga de O Senhor dos Anéis, o homem não consegue trabalhar sem o botox dos efeitos especiais. Visto do Céu é uma mistura de thriller com drama familiar (que vira comédia quando não deve e estraga tudo), enquadrado num registo fantástico com laivos de new age, uma estética alucinogénia de postal piroso (com “mensagem”) e cenários virtuais de fazer inveja aos inventores do My Little Pony. Os actores vão muito bem, mas não chegam para salvar o filme do desastre. Peter Jackson conseguiu dar de cabo de tudo sozinho. Que fantochada.

quinta-feira, 11 de março de 2010

A CULPA FOI DO ARGANAZ


Isto só podia mesmo ter acontecido com este trabalho. O País das Maravilhas está cheio de criaturas – algumas delas deveras irritantes – que gostam de nos trocar as voltas, ou trocar as voltas ao texto. Vai daí, subtraíram uma caixa às páginas referidas no post abaixo, e que falava exactamente do audiolivro recém-publicado pela 101 Noites. Sairá numa próxima edição da Notícias Magazine, com um pedido de desculpas aos leitores, mas bastante cortado, por razões de espaço. Não é a mesma coisa, mas aqui fica o texto completo, com as minhas desculpas (especialmente dirigidas à Mafalda Lopes da Costa e à Sandra Silva, da 101 Noites) em nome dos poltergeists que às vezes actuam nas páginas dos jornais e revistas, por muita cautela que se tenha. Entretanto, vale a pena lembrar que a apresentação de Alice no País das Maravilhas acontece amanhã, sexta-feira, no Magnólia Café da Avenida de Roma, em Lisboa. Quem levar uma chávena de chá e um chapéu divertido habilita-se a ganhar um bilhete para o filme e um audiolivro. O “Chá Maluco” tem hora marcada para as 19h00. E agora, a caixa transviada:

De ouvido colado ao País das Maravilhas
Destinada a adultos e crianças, a primeira aventura de Alice já pode ser ouvida em português no formato de audiolivro.

A editora 101 Noites tem apostado num produto do mercado livreiro ainda relativamente novo em Portugal: o audiolivro. Iniciada em 2007, a colecção «Livros para ouvir» integra contos de Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco e Fernando Pessoa, entre outros, lidos por actores tão conhecidos como Alexandra Lencastre ou Eunice Muñoz. Com Alice no País das Maravilhas, a 101 Noites envereda por outro género literário que não o conto, dividindo a novela de Lewis Carroll em dois CD áudio com narração da jornalista Mafalda Lopes da Costa, uma voz que muitos identificarão com os microfones da TSF. «O meu trabalho foi pegar no texto original e pô-lo em português, o que colocou problemas, porque há muitos jogos de palavras que partem de uma base fonética e se perdem na tradução. Ainda por cima, não se podem explicar em rodapé», declarou à nm. Depois, houve que fazer a adaptação do texto ao registo de audiolivro, sem preocupações de dramatização, apenas com a necessária expressividade a uma leitura em voz alta destinada a crianças e adultos. Optou-se por cortar «algumas especificidades que não prejudicam a narrativa», caso de algumas partes da Quadrilha da Lagosta ou do jogo de cróquete, o que representa não mais do que 15 minutos no tempo total dos dois CD (1h47 minutos). Os leitores que adquiram o audiolivro, à venda nas livrarias a partir de Março, podem aceder com uma password à versão integral do texto através do site das 101 Noites, onde está também disponível para audição um excerto da obra.”

quarta-feira, 10 de março de 2010

ALICE E COMPANHIA


Com o título “Alice no País das Quê?”, saiu na Notícias Magazine do último domingo um breve guia das personagens das “Alices”, do qual deixo aqui um extracto e o link para a página do Scribd, onde pode ser lido o texto completo e profusamente ilustrado pelo senhor John Tenniel.

(…)

Coelho Branco
Tal como a lebre, o coelho é considerado um dos tricksters do mundo animal, uma figura ambígua no seu carácter e comportamento. Não admira, por isso, vê-lo como ajudante da terrível Rainha de Copas, mostrando-se subserviente, quando antes fora arrogante com os seus empregados, Pat e Bill. Mais importante, talvez, é lembrar que os tricksters actuam muitas vezes como mensageiros junto dos homens, conduzindo à mudança e ao crescimento. Sem o impulso não racionalizado de seguir o Coelho Branco na sua correria atrasada, Alice não teria entrado na toca, caído no túnel e conhecido o País das Maravilhas. Assim lhe foi apresentado, pelo menos.

Dodó
É quase certo que o célebre pássaro das Ilhas Maurícias, perseguido pelos marinheiros europeus até à extinção, no século XVII, seja uma projecção de Lewis Carroll/Charles Lutwidge Dodgson, que sofria de gaguez («Do-do-Dodgson» fazia parte do seu cartão de visita). Uma das explicações etimológicas de «dodó» vem do português «doudo», ou seja, «doido», o que também não lhe assenta mal. O dodó é um dos animais que cai dentro do lago formado pelas lágrimas de Alice, no segundo capítulo de Alice no País das Maravilhas. Sendo a água um elemento que simboliza as emoções, por excelência, uma leitura psicanalítica deste episódio notará a «perdição» de Lewis Carroll por Alice Liddell, a menina de dez anos para quem escreveu as histórias.

Duquesa
É a personagem mais feia de Alice no País das Maravilhas, além de agressiva com o bebé-porco, obcecada pela moral e partidária do «cortem-lhe a cabeça!». Há quem veja nela uma representação da mãe da Rainha Vitória, o que explica o pouco talento para a maternidade, bem como o seu antagonismo final com a Rainha de Copas.

Gato de Cheshire
Um dos raros habitantes do País das Maravilhas que não hostiliza Alice, mesmo não sendo de fiar. O gato sorridente (alarvemente sorridente) que aparece e desaparece tem uma explicação para a sua assumida loucura: «o cão rosna quando está zangado e abana a cauda quando está contente. Já eu, rosno quando estou contente e abano a cauda quando estou zangado. Por isso, sou maluco». Não há prova de que os gatos do condado de Cheshire sejam diferentes dos outros, nem qual a origem da expressão «sorrindo como um gato de Cheshire», mas Lewis Carroll gostou da ideia e contribuiu para a fama do felino tigrado.

Humpty Dumpty
Vaidoso, susceptível e bastante ridículo, o Humpty Dumpty é o intelectual redondo como um ovo que insiste em dar a Alice lições de gramática e semiótica, em Alice do Outro Lado do Espelho. Sentado num muro alto, em equilíbrio precário, o Humpty Dumpty não foi inventado por Lewis Carroll, que decerto terá convivido com espécimes igualmente incomodativos. Curiosamente, a personagem está ausente do filme de Tim Burton. Que pena.

Jabberwocky
«Era acendefogoahora e os plantuosos taxugantes/Girandavam e furandavam na passerva/Todos infláveis os burugaves/Foralar os xuralecos dentafidavam.» A tradução da Europa-América pode não ser das mais consistentes, mas não é fácil compreender "Jabberwocky", um poema original de Lewis Carroll que figura em Alice do Outro Lado do Espelho e hoje é dado nas escolas como um dos melhores exemplos do nonsense na literatura inglesa. No livro, Alice não o consegue decifrar. O próprio autor confessou-se incapaz de explicar muitos dos cruzamentos de palavras inventadas (brillig, slithy, gyre, wabe, etc.) para descrever o dragão horrendo que, no filme, cabe a um decano dos papéis de vilão: Christopher Lee, o mago Saruman de O Senhor dos Anéis. Nesta charada linguística em verso surgem as primeiras referências à Espada Vortal e ao monstruoso Bandersnatch, também recuperadas pela versão de Tim Burton.

(…)

terça-feira, 9 de março de 2010

1º ENCONTRO DE LITERATURA INFANTIL DA SPA


A designação completa é 1º Encontro de Literatura Infanto-Juvenil da SPA e tem por mote “Palavras para que vos quero”. Acontece nos dias 23 e 24 de Abril, na Biblioteca Municipal Almeida Garrett (Porto), e consta de um programa que incluirá sessões de poesia, teatro, música, debates e encontros com escritores e ilustradores. António Torrado, Manuel António Pina e Jorge de Sousa Braga são algumas das presenças garantidas, mas há mais (clique na imagem para ler o programa completo). As inscrições e informações podem ser feitas através da delegação da Sociedade Portuguesa de Autores no Porto, pelo telefone 22606192.

ILUSTRAÇÃO EM FOCO

A oitava edição dos Encontros de Investigação em Leitura, Literatura Infantil e Ilustração, que tem como objectivo principal dar a conhecer os estudos que se produzem nestas áreas, em Portugal e lá fora, terá como tema central a Ilustração. Excelente pretexto para agendar uma visita a Braga, mais propriamente ao Instituto de Educação da Universidade do Minho, nos dias 9 e 10 de Julho de 2010. As propostas de comunicações são aceites até ao fim deste mês. Mais informações aqui.

QUINZENA DO LIVRO INFANTIL NA RIBEIRA

No Mercado da Ribeira, em Lisboa, diariamente entre as 10h00 e as 19h00, há milhares de livros para crianças (e menos crianças) à venda até 21 de Março, também a preços de saldo. Eu vou tentar manter-me afastada, nem que seja preciso pôr um papel na porta do frigorífico: "Vais mudar de casa por falta de espaço, lembras-te?"

sábado, 6 de março de 2010

EM OUTUBRO, AQUI



Ser jornalista freelancer também tem vantagens, sendo uma delas a possibilidade de uma pessoa pegar num mês de vida e investi-lo em si própria, sem medo de perder o emprego. Em Outubro vou estar em Can Serrat, uma residência para artistas e escritores próxima de Barcelona – mas não tão próxima que me distraia do essencial: escrever, escrever cada vez mais. Nem romances nem ensaios, mas o que já afirmei aqui. É a primeira vez que a Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLB) concede apoio para uma residência a um autor de literatura infantil e confesso que nestas ocasiões emotivas só me apetece escrever à maneira do Irmão Lúcia, mas porque até uma mulher do Norte se deve conter em certos e determinados contextos vou só dizer que estou mesmo contente, caraças, e muito obrigada. Mesmo.

O MASSACRE DOS LIVROS

Não, não acho normal que as editoras sejam massacradas com centenas de cartas e emails a pedir livros para bibliotecas, escolas, jardins-de-infância, associações, instituições ou qualquer outro tipo de ajuntamento com louvável interesse pela leitura. As editoras não dão livros porque isso é mau para o seu negócio; preferem destruí-los e receber o IVA de volta, sempre é dinheiro que se recupera. Também não acho normal que a larga maioria dos livros desapareça dos escaparates ao fim de pouquíssimo tempo, nem que andem continuamente a saltar das livrarias para os armazéns, com prejuízo dos autores e leitores – sempre os elos mais fracos. Tudo isto é estranho e paradoxal e não parece melhorar com o tempo. Se a Ministra da Cultura está preocupada com o “massacre” dos livros, pois que reclame orçamento para comprar livros para escolas e bibliotecas em quantidades que não envergonhem ninguém – de preferência, quando são editados, não quando chegam ao fim da linha. É prática corrente em muitos países com planos nacionais de leitura, inclusive do chamado “terceiro mundo”. Já estamos tão perto deles, que diabo. É só mais um esforço.

KEVIN WALDRON: REVELAÇÃO DE BOLONHA 2009



“Descendente indirecto de Buster Keaton e outros ícones do cinema mudo, o Sr. Pancas (Mr. Peek, no original) é um desses personagens tocados pelo sentido tragicómico da existência. Impressionável, fatalista, cismático, tem no emprego de vigilante do jardim zoológico a garantia de um mundo governado por rotinas.” O resto do texto virá na LER de Abril, mas o que podemos desde já garantir é que o livro é muito bom, ou não tivesse conquistado o prémio de melhor primeira obra na última Feira do Livro Infantil de Bolonha. Foi editado pela Livros Horizonte, que talvez considere a hipótese de trazer para cá o seu sucessor, The Owl and The Pussycat, um poema de Edward Lear ilustrado por Kevin Waldron. Pode ser lido aqui.

DATAS E NÚMEROS


O 100º livro de Luísa Ducla Soares, publicado recentemente pela Civilização. Para saber o essencial e mais do que isso sobre a escritora distinguida pelo Grande Prémio Calouste Gulbenkian pelo conjunto da sua obra, em 1996, é imprescindível consultar o texto (e os links) assinado por José António Gomes, no blogue A Inocência Recompensada.

DAQUILO DO JUNG


Janeiro foi um mês aziago, sobretudo entre os dias 1 e 31. Tenho que me penitenciar aqui por não ter lido a secção do Provedor dos Leitores da LER com a mesma atenção com que Nuno Costa Santos esmiuçou as Leituras Miúdas e escreveu sobre o assunto. O texto que se segue só há pouco foi detectado no Melancómico, via blogsearch do Google.

"Daquilo da literatura infantil

Como pai que sou, como provedor que vou tentando ser, tenho-me revelado relativamente atento a algumas obras da chamada “literatura infantil”. Devo dizer que vou encontrando mais desilusões do que motivos de felicidade – apesar das pérolas, há, parece-me, muita rima forçada, muita palavra obscura, muita trama sem interesse. Falo pela minha estante, é claro. Às vezes pergunto-me: quem somos nós, adultos, para criticarmos a livralhada que as crianças consomem? No outro dia quase chorei ao ler, na Fnac Chiado, um livro sobre uma criança a quem morre a avó. Mas, se calhar, isto é matéria que não impressiona os miúdos – e até solidifica a sua maneira de sentir e o seu crescimento. Deslizo nestas considerações para chegar à secção da responsabilidade de Carla Maia de Almeida, “Leituras Miúdas”. Tenho-a seguido com interesse. Já adquiri um livro, “Burros”, da autoria de uma dupla austríaca, por ter sido uma sugestão sua. Faz falta quem oriente os pais no angustiante momento de decidir qual o livro certo para oferecer ao seu petiz ou ao petiz do amigo. E a prosa de Carla Maia de Almeida é muito boa – além de que as suas observações são, em geral, incisivas e pertinentes. Inquietou-me apenas ter encontrado na última edição desta publicação a seguinte passagem sobre o livro infantil “Onde Vivem os Monstros”, de Maurice Sendak: “tem como tema o ‘processo de individuação’, para usarmos a célebre expressão de Carl Jung”. Processo de individuação? Ok, preocupou-me um pouco esta inesperada referência psiquiátrica no contexto em questão, mas há-de passar, com certeza.”

(Caro Nuno Costa Santos, muito obrigada pelo elogio tão simpático. Quanto às referências psiquiátricas, já passaram, fique descansado. Por outro lado, é provável que voltem. Aquilo da literatura infantil, sabe como é... Tem dias.)

SEMPRE



and if you bury me, add
three feet to it
one for your sorrow, two
for your sweat
three for the strange
things we never forget

("The Light Will Stay On", The Walkabouts, in Devil's Road, 1995)

quinta-feira, 4 de março de 2010

ELEFANTE É ELEPHANT


Inglês com Rimas – Animais
Marta Cancela
Ilustrações de Alberto Faria
Texto

Destinado a crianças que se iniciam no inglês, a intenção deste livro é ensinar com rimas, como o título sugere. Mas será que o alinhamento de frases afirmativas em quadra pode ser considerado "rima", no sentido poético do termo? Temos dúvidas. Eis um exemplo retirado dos animais do deserto: "Serpente é snake, abutre é vulture/ Dromedário é dromedary/ Escorpião chama-se scorpion/ Serpentário é secretary bird." Ou, mais à frente: "Leão é lion, girafa é giraffe/ Elefante é elephant/ Hipopótamo diz-se hippo/ E formiga diz-se ant". Sempre preso a este esquematismo, o texto não descola do registo informativo, o que em si não é um defeito, mas também não chega a ser virtude. Sobretudo porque, ao assumir a não-ficção, é preciso ter cuidado. Que se saiba, não há orangotangos na Austrália, a não ser no Jardim Zoológico. Mais: uma formiga deve parecer pouco menor do que um antílope? Uma ratazana é um "animal de estimação"? Justifica-se incluir um macaco nos "animais da quinta" só para fazer rimar donkey com monkey? Não são pormenores de somenos. As ilustrações de página dupla, a lembrar um diário de campo, com os animais e seus habitats desenhados e coloridos a traço grosso, são bem mais apelativas do que o texto.

(Texto publicado na LER nº 89)

quarta-feira, 3 de março de 2010

WOULD YOU CARE FOR A CUP OF TEA?


O Chapeleiro Louco e a Lebre de Março haviam de gostar do “bule sem norte”, uma produção exclusiva do Vasco Baltazar e da Noélia Patrício, passe a publicidade aos amigos. A piada consiste em não se saber por onde é que vai sair o chá.

A.S. BYATT SOBRE ALICE


No The Guardian, A. (Antonia) S. (Susan) Byatt escreve sobre a sua experiência de leitura de Alice no País das Maravilhas e outros protagonistas da literatura infantil:

“The Harvard academic Maria Tatar has observed wisely that children do not usually "identify" with fictional children – they stand a little apart inside the fictional world and intensely observe the people and the action. But Wonderland and the world through the Looking Glass were, I always knew, different from other imagined worlds. Nothing could be changed, although things in the story were always changing. There was, so to speak, nothing going on in the hinterland of the clearing with the Mad Hatter's tea party, or beyond the Red Queen's garden gate. Carroll moves his readers as he moves chess pieces and playing cards. This is not to say that the reader's experience of the world is not vivid, enthralling and ¬entirely memorable. It is just different.”

terça-feira, 2 de março de 2010

BOLONHA FORECAST


O crescimento do livro para adolescentes e young adults e o declínio dos romances juvenis em forma de saga interminável são duas das tendências avançadas pela Feira do Livro Infantil de Bolonha, a decorrer de 23 a 26 de Março:

“There are positive signs for the children's market. The Young Adult sector, driven by Stephenie Meyer's success, is busy and the outlook for picture books is more optimistic than for several years. There is also more interest in one-off fiction deals as publishers shy away from committing to longer series. The Americans, too, are returning to Bologna, although not yet in pre-recession numbers.”

Ler o texto completo no Bookseller.com.

PRÉMIOS DE EDIÇÃO LER/BOOKTAILORS

A lista completa dos vencedores está aqui. Registo, com especial agrado, a inclusão do prémio de Melhor Design de Livro Escolar, sempre arredado destes convívios. Mais ainda, porque tem a mão da Silva! Designers, rapaziada de quem gosto muito.

segunda-feira, 1 de março de 2010

INTERMITÊNCIAS


Este blogue está como o tempo: intermitente. Em Março, com a anunciada revolução doméstica, prevêem-se largos períodos de ausência de posts, alternados com chuva fraca e aparições intempestivas de letras sobre fundo negro. As mudanças climáticas afectam-nos a todos.

FELIZARDOS DE BOLONHA 2010


É a vida. Este ano não vamos poder repetir a ida à Feira do Livro Infantil de Bolonha, como sucedeu em Março de 2009 (demos conta do caso na crónica para o Blogtailors, entre outros posts). Mas há outros motivos de contentamento, de que em breve falaremos. Para já, é grande a curiosidade acerca dos recém-anunciados vencedores deste ano e, muito especialmente, em relação ao livro de Fabián Negrín, premiado na categoria de não ficção: The Riverbank, editado pela norte-americana The Criative Company. O texto é de Charles Darwin, como se lê nos comentários do júri, remetendo para as suas primeiras descobertas de criança. Sabendo da arte de Fabián Negrín para desenhar e pintar a natureza (conferir em Boca de Lobo, já citado aqui), é lícito esperar uma pequena maravilha. Agora só é preciso encontrar uma alminha caridosa que não se importe de nos trazer este livro na bagagem. Pagamos em avanço, com juros e garantia de fiador, se for preciso.

TRADUÇÃO DE LITERATURA INFANTO-JUVENIL

De visita ao blogue da Planeta Tangerina, ficámos a saber de um evento que nos interessa sobremaneira, embora ainda não se possa aqui explicar porquê… Mas a realização, em Coimbra, destas Jornadas Internacionais de Tradução de Literatura Infanto-Juvenil leva-nos a crer que se começa a considerar um aspecto da edição frequentemente negligenciado, tal como aponta Isabel Minhós Martins. Ler aqui.

TRICOTADEIRAS DE PRÉMIOS


Apesar do último temporal, o clima de Oeiras está em alta. Diríamos mesmo: radiante. A Planeta Tangerina foi à Póvoa de Varzim e às Correntes d’Escritas buscar dois Prémios de Edição LER/Booktailors: Editora Revelação e Projecto Gráfico de Infanto-Juvenil, pelo livro de Dulce Sousa Gonçalves e Madalena Matoso, Trava-Línguas (todo feito com carimbos, uma lindeza). Para ajudar à festa, prepara-se o lançamento de mais um picture book, que "por acaso" ganhou a Menção Honrosa do Júri no I Prémio Internacional Compostela para Álbuns Ilustrados (percebem agora o título do post?). Chama-se Ovelhinha Dá-me Lã e tem texto de Isabel Minhós Martins e ilustrações de Yara Kono, mas foi editado pela Kalandraka. O lançamento está marcado para o próximo sábado, às 16h00, na Livraria Trama, em Lisboa. Além da equipa da equipa da Planeta Tangerina e dos muitos amigos que se adivinham presentes, vão lá estar contadores de histórias e uma coisa extraordinária que dá pelo nome de Tricotadeiras de Oeiras. O que é? Não sabemos. Mas parece fascinante.