sábado, 4 de abril de 2009

O PÓ DOS LIVROS


Seguindo conselho avisado, passei pela Livraria Portugal, na Rua do Carmo, à caça de raridades que deixaram de ter lugar nas livrarias mais frequentadas, onde somos rapidamente despachados com um lapidar “está esgotado”. E encontrei-as. No piso de cima, a secção de livros para crianças está repleta de antigas edições (antigas com dez ou quinze anos, note-se….) da Verbo, Contexto, Edinter, Desabrochar e afins, à mistura com as novidades. De lá trouxe A Lenda da Pétala de Rosa, de Clemens Brentano e Lisbeth Zwerger, um único exemplar já com a capa ferida, mas nem por isso negligenciável.

Encontrei também pó, muito pó. Sedimentado, cristalizado, engordurado, nojento. Pó acumulado há semanas, meses (anos?), que deixa um trilho preto nos dedos quando se puxa por uma lombada, impedindo-nos de continuar a mexer nas folhas – por respeito, é claro. Ao nível do chão ou nas prateleiras intermédias, a desgraça era a mesma. Eu sei que o “pó dos livros” tem o seu charme, mas isto é outra coisa: chama-se desleixo e imundice. Ao fim de cinco minutos, se tanto, desci do escadote e dirigi-me ao balcão, onde três empregados tricotavam conversa mole. Protestei, de mãos no ar. Dois deles olharam para o lado, literalmente, e só uma senhora simpática me ofereceu água, sabão e um pedido de desculpas. Aceitei tudo. Voltei à carga e voltei a lavar as mãos. E depois queixam-se.

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