segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A SENHORA LENINE


Bloco de análises do Hospital Curry Cabral, Lisboa, a semana passada. Uma jovem enfermeira procede à chamada junto dos utentes que aguardam a sua vez de entrar, enfileirados nas cadeiras de plástico:

– "A senhora Lenine da Encarnação Costa!"
Apoiado na bengala, levanta-se um senhor nos seus oitenta e muitos anos, baixinho, seco, de nariz adunco como os velhotes do Quino.
– "A senhora Lenine, se faz favor..." – contesta, pontualmente indignado. "Lenine foi um grande homem, nunca ouviu falar?"
A enfermeira sorri, atrapalhada. Pela cara, vê-se que não.

PS – Isto dos nomes é todo um mundo. Há uma data de anos, partilhei um lugar no comboio Intercidades com um homem chamado Avante. Fomos parte do caminho a falar sobre os problemas que tal lhe tinha trazido nos tempos da ditadura. A escolha do nome não se devera a uma declaração de amor político-partidário por parte dos pais, mas apenas ao facto de a vida do bebé ter estado em risco, discutindo-se entre médicos e família se o rapaz ia avante ou não ia avante. Assim foi e assim ficou: Avante.

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