segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O OSCAR QUE NÃO FOI UM ACIDENTE



À partida, sou devota de qualquer filme que tenha acento very british e Colin Firth no elenco, mas o Oscar que me deu mais satisfação foi para o melhor longo documentário: Inside Job – A Verdade da Crise, uma reconstituição do megaprocesso de engenharia financeira, económica e política que, desde os anos 1980, perpetrou a desregulamentação e o colapso do sistema bancário tal como o conhecíamos, originando a famosa “crise”. Não, não foi uma crise acidental, como pensa a minha mãe. Sim, houve culpados, desde altas figuras de Estado e eméritos professores de Harvard e Columbia até aos patos-bravos de Wall Street; gente sem consciência nem vergonha na cara que ontem coleccionava jactos privados e hoje responde com a maior cara de pau às perguntas que lhes fazem, apalpando no bolso as carteiras recheadas de indemnizações chorudas. Money, money, money. Dirty money. Sabiam que experiências científicas demonstram que ganhar dinheiro e consumir cocaína activa a mesma parte do cérebro? Curiosa coincidência. Como escreveu um crítico do Boston Globe, o filme é “mais assustador do que qualquer coisa que Wes Craven e John Carpenter já tenham feito”. Para que serve? Por exemplo, para que o Zé-pagante comece a pensar duas vezes antes de aceitar um folheto de propaganda de qualquer coisa e assinar de cruz. Subscrevo o que diz Eduardo Pitta no Da Literatura: era bom que o Oscar trouxesse o filme de volta às salas de cinema. Que passasse na televisão a horas decentes. Que fosse dado nas escolas. Infelizmente, o programa vigente é o da idiotização geral. Dá muito jeito, pois claro. Segurem-se e vejam o trailer.

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